Ferrer e a educação operária em Sorocaba (SP)

ferrer-e-a-educacao-operaria-em-sorocaba-sp-1Por Valdelice Borghi Ferreira

O convite recebido da Fundació Ferrer i Guàrdia, de Barcelona, para participar da a “ofrena floral“, realizada anualmente no dia 13 de outubro, junto ao monumento em homenagem ao educador catalão Francesc Ferrer i Guàrdia, no Parc de Montjuic, nos lembra que, nesse local, há 106 anos, Ferrer foi fuzilado, acusado de instigar o atentado contra o rei Affonso XIII, em 1906. De acordo com estudiosos, ele foi preso, sem provas, no Cárcere Modelo de Madri, onde escreveu orientações aos professores das escolas racionalistas, difundidas a partir da Escola Moderna de Barcelona, fundada por ele. O convite nos remete à reflexão sobre quantos de nós, educadores, conhecemos um pouco de sua vida e obra, a influência exercida em estudiosos ou operários de nossa cidade, no início do século 20, quando Sorocaba começava a se destacar pela concentração de indústrias têxteis e a formação do operariado. Ferrer foi um educador republicano, anticlerical, maçom e anarquista, e suas ideias o colocam no contexto da “pedagogia racional” e, mais amplamente, na “educação anarquista”.

Pregava um movimento revolucionário, não pelas armas, mas, norteado pela educação, visando transformar a sociedade. Suas propostas pedagógicas foram basicamente: formar pessoas livres de preconceitos; estudo racional; educação integral, desenvolvendo na criança os aspectos afetivo e racional; coeducação entre os sexos e entre as classes sociais, evitando preconceitos e privilégios. As Escolas Modernas não adotavam castigos, prêmios ou exames. Ferrer foi pioneiro na valorização da mulher, incentivando-a a estudar e receber os mesmos ensinamentos científicos dispensados aos homens. Suas ideias chegaram a Sorocaba (que teve uma Escola Moderna) e foram defendidas pelo Jornal “O Operário”, que circulou entre 1909 e 1913. O jornal veiculava a realização de palestras de líderes anarquistas estrangeiros que aqui aportavam; defendia a educação das crianças operárias, a diminuição da jornada de trabalho, denunciava os abusos contra as mulheres cometidos pelos chefes das oficinas das indústrias têxteis, aconselhava os operários a levar uma vida saudável, evitando a bebida e outros vícios, como ensinava Ferrer. Tratava de política, educação, religião, greves, procurando informar e orientar os trabalhadores no conhecimento das realidades não só local, mas, também, mundial, procurando conscientizá-los da necessidade de lutar por sua liberdade e emancipação.

Não cabe, neste espaço, discutir as posições contraditórias de seus articulistas, políticas e religiosas, os apoios políticos e financeiros. Entretanto, é preciso ressaltar que o jornal foi combatido pelos líderes do Partido Republicano Paulista, pela “sociedade burguesa” e, também, pela Igreja Católica, por suas publicações anticlericais. O jornal transformou Ferrer em personagem emblemático, procurando preservar sua memória, promovendo homenagens na data de sua morte. Cumprindo seu papel de instrumento de informação e de mobilização, organizou protestos contra a prisão de Ferrer. Em 17/10/1909, os editores promoveram passeata pelas ruas da cidade e registraram a indignação pelo fuzilamento do educador no artigo “Comício de Protestos”: “Enquanto aqui nesta cidade tratamos de fazer chegar ao conhecimento dos operários as ideias liberais, lá fora, pratica o governo despótico de Affonso XIII, um crime bárbaro, mandando fuzilar pelos seus lacaios uma das maiores glorias desse século – Francisco Ferrer”. Para além das vozes oficiais, o “Operário” desvela facetas de uma Sorocaba participativa daquele agitado momento histórico do início do século 20.

Tese de Doutorado: O movimento operário e a educação na imprensa sorocabana na Primeira República.

Fonte:

http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/648363/ferrer-e-a-educacao-operaria-em-sorocaba

Conteúdo relacionado:

http://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2014/09/23/lancamento-a-escola-moderna-de-francisco-ferrer-y-guardia/

agência de notícias anarquistas-ana

Eu acordo
contando as sílabas;
o haikai ri

Manuela Miga