Quando Irmela Mensah-Schramm desceu do trem em Buch, uma localidade combativa no norte de Berlim que é uma linha divisora na crise dos refugiados, sua agitação era visível. Da última vez que a mulher de cabelos brancos de 70 anos esteve ali, um neonazista local lhe deu um forte empurrão. Agora, ela diz, ela não se aventura na cidade, por medo de que alguém a reconheça e alerte o agressor.
Mas ela não tinha com que se preocupar, pois havia muito o que fazer na estação para essa professora aposentada. Em um corredor, meia dúzia de adesivos verde e branco de aparência inócua exibiam, ao serem vistos de perto, o símbolo da espada e martelo de um virulento grupo neonazista.
Durante as pausas no trânsito de pessoas, Mensah-Schramm, que é conhecida na Alemanha por sua campanha obstinada para remoção de mensagens neonazistas de lugares públicos, começou rapidamente a trabalhar com um raspador.
Enquanto se equilibrava tremulamente sob um corrimão, Mensah-Schramm arrancou um cartaz neonazista declarando que “nós” nunca celebraríamos o fim da Segunda Guerra Mundial. Ela também cuidou rapidamente de uma suástica do tamanho de um punho, desenhada à mão, com um frasco de removedor de esmalte que ela mantém de prontidão.
De volta em segurança ao trem, ela anotou o número de símbolos removidos (cerca de 30 ao todo) em seu caderno. “Isso soma 72.354 ao longo dos anos”, ela disse com um senso de satisfação pesarosa. “É um bocado pesado.”
Nas últimas três décadas, tendo começado muito antes do atual barulho em torno do afluxo de refugiados que está revigorando a extrema-direita alemã, Mensah-Schramm passa seu tempo livre (atualmente, vários dias por semana) percorrendo as ruas de Berlim, onde vive, assim com as de outras cidades por toda a Alemanha.
Carregando uma bolsa de lona com a mensagem manuscrita “Contra os Nazistas”, ela checa estações de trem, máquinas de venda de preservativos, máquinas de venda de cigarros, playgrounds, postes de luz e becos à procura de símbolos nazistas proibidos, frases contra os imigrantes e adesivos políticos. Os itens ofensivos costumam estar entre as mensagens de boas-vindas aos refugiados, adesivos de clubes de futebol e propagandas de circo, com frequência com slogans codificados como “Queremos viver” ou “Puna aqueles que abusam de crianças com máximo rigor”, e com endereços de Internet de grupos da direita radical.
Quando ela encontra algo condenável, o que ela diz que ocorre quase sempre, ela pode tirar uma foto, arrancar um adesivo para seus arquivos ou simplesmente anotar a descoberta, acompanhada de data e local. Então ela remove aquilo, seja raspando o adesivo ofensivo ou, no caso de grafite, apagando ou simplesmente pintando por cima. “Tenho um forte apreço pela dignidade humana”, disse Mensah-Schramm. “Quando vejo a dignidade de alguém ser ferida, eu sinto como se fosse comigo.”
Ao longo dos anos, ela acumulou aquela que pode ser a maior coleção de adesivos e grafites da direita radical na Alemanha. “Ela possui mais que qualquer arquivo público”, disse Isabel Enzenbach, que é curadora de uma exposição no Museu Histórico Alemão, que exibe os mais de 80 fichários de material de Mensah-Schramm, que remonta a antiga tradição alemã de cobrir paredes com mensagens de ódio, assim como contra-argumentos mais longos, engraçados e mais profundos.
Notando que os adesivos antissemitas da era nazista são considerados precursores da violência, Enzenbach, cuja exposição também exibe uma réplica da bolsa de lona “Contra os Nazistas” caseira, assim como o removedor de esmalte, o raspador e a lata de tinta spray, considera Mensah-Schramm um exemplo de ajuda na promoção de mudança social.
“Ela é um pouco obsessiva”, disse Enzenbach. “Mas todos os colecionadores são.”
Mensah-Schramm concorda que a documentação é importante. Mas ela diz que sua prioridade é a remoção dos símbolos de ódio que podem prejudicar grupos vulneráveis. “Isso me segue em meu sono”, ela disse. “Não acho que poderia parar mesmo se quisesse. Se vejo algo, tenho que removê-lo.”
Nascida em Stuttgart em 1945, Mensah-Schramm, como outros de sua geração, aprendeu sobre a era nazista de forma fragmentada. “Em casa, o princípio era: ‘É melhor não falar a respeito'”, ela disse. Quando se tornou uma mulher jovem, ela se distanciou de sua família e passou a considerar o sudoeste da Alemanha conservador demais para seu gosto. Após se mudar para Berlim em 1969, ela passou a lecionar para crianças com deficiências severas e se tornou envolvida no movimento antinuclear.
Mensah-Schramm disse que atingiu um ponto de virada no início dos anos 80, quando visitou um campo de concentração pela primeira vez. Quando voltou para casa, ela vomitou, mas também resolveu repetir a jornada todo ano para lembrar os mortos. Ela disse que poucos anos depois, em 1986, ficou chocada ao ver um adesivo em seu ponto de ônibus exigindo a soltura de Rudolf Hess, o criminoso de guerra nazista preso. O adesivo a perturbou o dia inteiro no trabalho. Quando ela voltou para casa naquela noite, ele ainda estava lá. “Ninguém o removeu”, ela disse.
Ela usou seu chaveiro para arrancá-lo e se sentiu melhor. Poucos dias depois, ela disse que passou a noite toda caminhando pelas ruas de seu confortável bairro em Berlim e ficou estupefata com a grande quantidade de mensagens discretas de extrema-direita que encontrou. “Após algumas poucas semanas, os adesivos pararam de voltar”, ela disse. “Isso mostrou aos neonazistas que alguém não concorda com eles.”
As atividades de Mensah-Schramm envolvem alguns riscos. Em seus mais de 30 anos raspando, dissolvendo e pintando sobre slogans de extrema-direita, ela estima que já foi agredida três ou quatro vezes. Mas, ela disse, também já recebeu abraços e agradecimentos de estranhos.
E também há as possíveis consequências legais: “Ela caminha por uma linha tênue, se você olhar para as leis alemãs a respeito de grafite e danos a propriedade”, disse Martin Gegenheimer, o coordenador de um arquivo de grafite em Berlim. “Ela já teve problemas algumas vezes. Mas a posição dela é que, moralmente, é mais importante eliminar essas coisas.”
À medida que crescem as tensões em torno dos refugiados na Alemanha, outros estão seguindo o exemplo dela. No ano passado, Ibo Omari, proprietário de uma loja em Berlim que vende tinta para grafite e itens relacionados, fundou uma organização que patrocina artistas para converter cerca de 20 suásticas em arte de rua: cubos mágicos, mosquitos e corujas.
“Ela é a avó deste projeto”, disse Omari, cujo vídeo de símbolos reabilitados se tornou viral, sobre Mensah-Schramm. “Ela é muito mais experiente do que nós. Ela não está conectada digitalmente como nós, mas deveria ter recebido apoio anos atrás.”
Mesmo assim, graças às oficinas e visitas a salas de aula, Mensah-Schramm consegue engajar os mais jovens. “Ela está assumindo uma responsabilidade pela sociedade”, disse Julia Reidl, uma professora de inglês e geografia no Goethe-Gymnasium, em Karlsruhe.
Os alunos da 6ª, 7ª e 11ª série de Reidl redesenharam cópias de grafites reais que dizem “Eu amo Hitler” para oferecer mensagens mais positivas, como “Eu amo gatos”, em oficinas com Mensah-Schramm. “Eles se envolvem plenamente”, disse Reidl. “Alguns dos pequenos disseram: ‘Queremos sair para ajudar você!’ É muito importante, especialmente agora, com todo esse ódio contra os refugiados e o Islã.”
agência de notícias anarquistas-ana
canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri
Carlos Seabra
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…