Agência de Notícias Anarquistas - ANA
Browse: Home / 2017 / Março / 06 / [Alemanha] 1963: Peça “O vigário” denuncia omissão do Vaticano no nazismo

[Alemanha] 1963: Peça “O vigário” denuncia omissão do Vaticano no nazismo

By A.N.A. on 6 de Março de 2017

alemanha-1963-peca-o-vigario-denuncia-omissao-do-1

 

No dia 20 de fevereiro de 1963, a peça “O vigário” estreava em Berlim, despertando a Alemanha do belo sono do milagre econômico e gerando indignação internacional, ao denunciar a omissão do Vaticano no nazismo. A obra de Rolf Hochhuth é uma prova do potencial político da literatura. Sua primeira obra, a peça teatral O vigário, que escreveu aos 31 anos, teve efeito explosivo em nível nacional e internacional. Estreada em 20 de fevereiro e 1963, com grande repercussão pública, a peça denunciava a restauração da Alemanha no pós-guerra, e despertou a era do chanceler federal Konrad Adenauer do belo sono do milagre econômico.

Apesar de todas as explicações dadas pelo autor, O vigário (Der Stellvertreter) gera mal-entendidos e protestos de natureza política e religiosa até hoje. Acima de tudo, Hochhuth rejeita uma qualificação que lhe tentam imputar há décadas, a de moralista: “Rejeito a palavra moralista, ela me incomoda muito. Gosto de racionalista imparcial. O moralista é um ditador de regras. Outra coisa seria dizer que os meus temas são morais. Isso é correto”.

O vigário em encenação de Piscator

O drama sobre o papa Pio 12 estreou no teatro Freie Volksbühne de Berlim. O diretor Erwin Piscator foi um representante da vanguarda berlinense dos anos 1920. Sua montagem rompia tabus e gerou grande escândalo.

A peça acusa Pio 12 e toda a Igreja Católica de terem feito um acordo tácito com os nazistas. Hochhuth põe o dedo na ferida: milhares de judeus foram deportados da Praça de São Pedro, em Roma, para as câmaras de gás dos nazistas, e o papa, a grande instância moral, assistiu a tudo em silêncio. O Vaticano e seus dirigentes justificaram assim a omissão: Pio 12 só silenciou para impedir uma perseguição ainda mais drástica dos judeus e também do clero.

Hochhuth demonstrou de forma convincente que o papa era constantemente informado sobre a proporção das deportações e do extermínio de judeus. Tal acusação tem uma dimensão profunda: o representante de Deus na Terra, a Cúria e a maioria dos bispos tinham uma certa simpatia pelo nazismo, pois Adolf Hitler e seu exército faziam um bom trabalho no combate ao bolchevismo ateu. A Igreja católica via a doutrina comunista como uma ameaça terrível.

Álibi para os alemães?

Hochhuth rejeitava também as críticas de que teria tirado conclusões errôneas sobre a culpa dos alemães: “O público alemão não saudou O vigário como álibi para os crimes nacionais, pois na Alemanha Ocidental a peça foi levada a no máximo 10% dos palcos. Só em Paris foi mais que o dobro e em Nova York também. Provavelmente os alemães teriam recebido a minha peça de braços abertos, se tivessem enxergado nela um perdão para os próprios crimes ou uma possibilidade de jogar a culpa sobre o Vaticano.”

O autor nascido em 1931 prestou um incômodo trabalho pioneiro em relação à memória do nazismo. Sua polêmica peça foi seguida de publicações históricas sobre a culpa do papa no extermínio dos judeus. Hochhuth assumiu a responsabilidade de historiador. “Lessing disse que o poeta é o senhor da história. Eu não concordo com isso: digo que o poeta é o servo da história. E não tenho a ilusão de que uma peça possa mudar ativamente as pessoas. Ao contrário de Lessing, eu acho que, quando o autor leva a história ao palco, ele tem de se ater à verdade histórica o máximo possível, para que a sua obra não comprometa ou manipule a verdade.”

Em 2002, o diretor grego Constantin Costa-Gavras filmou a peça de Rolf Hochhuth sob o título Amen.

Fonte: https://noticias.terra.com.br/1963-peca-o-vigario-denuncia-omissao-do-vaticano-no-nazismo,c25b98f136d74e400c6d62d4d2f099b0jpf08gin.html

agência de notícias anarquistas-ana

Neblina sobre o rio,
poeira de água
sobre água.

Yeda Prates Bernis

Compartilhe:

Posted in Arte, Cultura e Literatura, Geral, Mundo, Religião | Tagged Alemanha

« Previous Next »

Sobre

Este espaço tem como objetivo divulgar informações do universo anarquista. Notícias, textos, chamadas, agendas…

Assine

Leia a A.N.A. através do feed RSS ou solicite as notícias por correio eletrônico através do endereço a_n_a[arroba]riseup.net.

O blog também possui sua versão Mastodon.

Participe

Envie notícias, textos, convocatórias, fotos, ilustrações… e colabore conosco traduzindo notícias para o português. a_n_a[arroba]riseup.net

Categorias

  • América Latina
  • Arte, Cultura e Literatura
  • Brasil
  • Discriminação
  • Economia
  • Educação
  • Espaços Autônomos
  • Espanha
  • Esportes
  • Geral
  • Grécia
  • Guerra e Militarismo
  • Meio Ambiente
  • Mídia
  • Mobilidade Urbana
  • Movimentos Políticos & Sociais
  • Mundo
  • Opinião
  • Portugal
  • Postagens Recentes
  • Religião
  • Repressão
  • Sexualidades
  • Tecnologia

Comentários recentes

  1. Lila em “Para os anarquistas, é a prática que organiza a teoria.”4 de Junho de 2025

    UM ÓTIMO TEXTO!

  2. Lila em [Espanha] IX Aniversário do Ateneu Llibertari de Gràcia4 de Junho de 2025

    COMO FAZ FALTA ESSE TIPO DE ESPAÇO NO BRASIL. O MAIS PRÓXIMO É O CCS DE SP!

  3. Lila em [Espanha] Comunicado contra a revogação da suspensão da pena de Las 6 de La Suiza4 de Junho de 2025

    ESSE CASO É O CÚMULO DO ABSURDO! A JUSTIÇA ESPANHOLA NÃO TENTA NEM DISSIMULAR SEU APOIO AO PATRONATO, AO FASCISMO!

  4. João em Do Púlpito Acadêmico às Trincheiras Vazias: A Encruzilhada do Anarquismo Contemporâneo25 de Maio de 2025

    Excelente

  5. yana em Cadê os anarquistas esquerdistas que fizeram o duplo L de Lula Liberal?23 de Maio de 2025

    Esquerdistas não são anarquistas. Lulistas muito menos. Uma publicação desacertada que não colabora com a coherencia anarquista.

Copyleft © 2025 Agência de Notícias Anarquistas - ANA. RSS: Notícias, Comentários