No dia 1º de Maio, 2017, manifestações massivas contra o capitalismo e a violência de Estado ocorreram em Paris. Logo após, a imprensa veiculou matérias sensacionalistas ao redor do mundo, mostrando a polícia sendo atacada por coquetéis molotov. Porém, esses vídeos não mostram o contexto mais amplo. Eles não mostram a repressão policial cada vez maior contra a sociedade francesa como um todo, nem os ataques da pol&iacut e;cia que provocaram tais atos desesperados de autodefesa. Neste relato da França, nossos correspondentes parisienses descrevem os acontecimentos do dia e oferecem um panorama maior do confronto.
A marcha anarquista partiu da Praça dos Fêtes até a Praça da République para se juntar à manifestação do 1º de Maio. Nós chegamos à Praça da République sem obstáculos e assumimos nosso lugar na Cortége de tête, o grupo combativo que marchou na linha de frente das manifestações desde o movimento contra a reforma trabalhista (Lei do Trabalho) em 2016.
Nós estávamos esperando a polícia empregar a mesma estratégia que usaram em resposta a muitas manifestações no ano passado: cortar o ato em dois, separando a cabeça do corpo, com o intuito de isolar o bloco autônomo dos outros manifestantes. A polícia usou essa estratégia no 1º de Maio em 2016, mas na armadilha que criaram, prenderam um número considerável de “manifestantes comuns” – famílias, idosos e crianças. Isso provocou indignação ao restante das pe ssoas na mobilização e criou uma hostilidade destes em relação à polícia que até então não havia se expressado.
Isso aconteceu porque no ano passado, as técnicas da polícia falharam. As manifestações durante o movimento contra a lei trabalhista, especialmente as do dia 14 de Junho, em 2016, alertaram para uma reestruturação da estratégia policial, com a colaboração do serviço de segurança da CGT, o sindicato majoritário: o serviço de segurança do sindicato, armado com capacetes e bastões, empurrou o movimento autônomo para as mãos da polícia, para que a polícia mais facilmente desarticulasse o black bloc. Obviamente, isso permitiria a CGT e a polícia reforçarem uma distinção entre manifestantes bons e ruins: entre aqueles que se dispõem a caminhar ao redor de uma jaula cercada pelo batalhão de choque e os políticos profissionais de um lado, e os vândalos malvados de outro.
Mas neste ano, havia outro objetivo não-declarado: desta vez, o intuito era, acima de tudo, esconder a violência policial que nos esperava, para que não fosse visível para o principal corpo da manifestação, para que ninguém pudesse testemunhar tanta violência sem ficar horrorizado. De acordo com muitos participantes, o 1º de Maio de 2017 viu a repressão policial mais violenta ocorrida em muitos anos. A polícia aplicou metodicamente, gradualmente utilizando mais e mais armamentos.
Primeiro, após desarticular o bloco autônomo, a polícia realizou ataques de gás lacrimogêneo para nos empurrar para a Boulevard Beaumarchais, para nos manter fora de alcance. Quando isso ocorreu, começaram a usar bombas de efeito moral e balas de borracha, enquanto atiravam gás lacrimogêneo continuamente. Foi uma verdadeira avalanche, uma barreira incessante.
Em resposta, atiramos pedras. Fogos de artifício também. Alguns coquetéis molotov. A polícia nos empurrou implacavelmente para a Praça da Bastille, atirando contra nós sem pausa. Assim que chegamos, formaram uma armadilha nas proximidades da Ópera da Bastille, onde haviam mais ou menos 200 pessoas no interior. Para essas pessoas, parecia uma cena de tragédia digna do Encouraçado Potemkin. A polícia forçou as pessoas para as escadas enquanto as cobria de gás lacrimogêneo. Nós não conse guíamos ver nada, não havia para onde correr, as pessoas se chocavam contra as escadas, se empurrando e caindo umas sobre as outras como na Sequência de passos de Odessa.
Felizmente, não estávamos neste grupo. A polícia nos forçou para a Avenida Daumesnil, e então a Boulevard Diderot.
Se imagine nesta cena. Granadas de gás lacrimogêneo estão explodindo incessantemente. As vezes você acha que pode escapar por uma rua, então você corre até lá – em todo caso, não existem escolhas, porque é preciso respirar – mas a polícia está esperando em cada uma das ruas. Logo que você passa pela esquina, eles te cercam, atirando bombas de concussão no meio da multidão, sabendo perfeitamente que não há espaço para evitá-las.
Dezenas de pessoas foram feridas nessas situações. Uma de nossas amigas teve fragmentos de bomba presos entre sua mochila e suas costas, queimando a mochila completamente e deixando marcas profundas na sua pele.
Nós formamos círculos para deixar que as pessoas vestidas de preto mudassem suas roupas fora das câmeras e da polícia. A polícia começou a liberar-nos, um por um, provocando tiros aleatórios enquanto íamos embora.
Nossa amiga que foi ferida estava com muito medo neste momento, não por causa de seus ferimentos, mas em função de uma questão burocrática: visto que não era francesa, ela tinha todas as razões para temer que sua prisão significasse expulsão da França.
Aqueles que temem que Marine Le Pen se eleja devem entender que a polícia francesa já está carregando um programa fascista. Não só a maioria dos policiais admitem votar na extrema-direita, como também o Estado já está os empregando para implementar condições totalitárias contra imigrantes e refugiados.
Neste intervalo de duas semanas entre as duas etapas da eleição, está ficando claro que a real tomada de poder não está acontecendo através das eleições, mas nas suas bordas, mais ou menos conciliadas, para crescente autonomia da força policial. Em nosso último relato, exploramos as formas que o estado de emergência em ascensão pavimentou o caminho para o Estado policial e o tornou visível. Desde a chegada de Le Pen no segundo turno das eleições, vimos a polícia se comportando como se ela já tivesse ganho as eleições.
Durante a tarde dos primeiros votos, ocorreu uma chamada anarquista para reunião na Praça da Bastille, para uma “Noite das Barricadas”. Dezenas de pessoas foram feridas pela polícia nesta tarde, humilhadas, despidas na rua, e jornalistas agredidos com suas câmeras.
Dois dias depois, refugiados legais (que oficialmente deveriam receber benefícios da “proteção estatal”) foram expulsos de suas casas e jogados na rua pela polícia, sem nenhuma razão, por puro racismo. No dia seguinte, uma casa-okupa foi atacada pela polícia. Nossos camaradas foram jogados para o chão com granadas de efeito moral no templo. Uma de nossas amigas foi assediada no carro que a levou para a delegacia. Coincidência ou não, alguns dias antes, a casa-okupa havia hospedado uma projeção de v&i acute;deos que realizamos em Paris nos últimos meses, documentando a violência policial contra imigrantes.
Tudo isso torna evidente que lutar contra a extrema-direita significa lutar contra o Estado. É algo que devemos tornar cotidiano.
Radical Cinema
> Vídeo (A grande manifestação do 1º de Maio): https://www.youtube.com/watch?v=wMe1DClPX-8
Fonte: https://crimethinc.com/2017/05/04/may-day-2017-in-paris-a-report-from-the-streets-the
Tradução > Yanumaka
agência de notícias anarquistas-ana
Poema em flor,
raiz de uma poesia
que viceja em mim
António Barroso Cruz
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…