O outro acusado fica absolvido de todas as acusações e a defesa tem uma semana para apresentar recurso contra a sentença condenatória. Esta tarde (07/06) uma manifestação partirá às oito da noite da praça Lesseps de Barcelona para rechaçar a sentença e mostrar solidariedade com as retaliadas.
A sala de vistas dos tribunal de Aachen (Alemanha) foi o cenário da última sessão do julgamento contra as duas anarquistas acusadas de assaltar uma instituição bancária em 2014, na qual foi lida a sentença. Ambas haviam sido detidas em Barcelona, na primavera de 2016 e fazia doze e catorze meses, respectivamente, que estavam na prisão preventiva em centros penitenciários – primeiro da Espanha e posteriormente da Alemanha – após sua extradição.
Há que recordar que um dos elementos chaves da investigação foi o cruzamento entre as mostras de DNA recolhidas no lugar dos fatos com outras subtraídas às escondidas – por parte dos Mossos d’Esquadra [polícia catalã] – às acusadas. Segundo o tribunal, as gravações das câmeras de segurança do banco demonstram que a mulher acusada havia usado durante o assalto a mesma indumentária e utensílios que posteriormente encontrou a polícia alemã em uma mochila abandonada no exterior do banc o de Aachen. Destes utensílios se extraíram quatro mostras de DNA, um dos quais seriam da ativista, e daí se desprende a sentença condenatória.
No caso do homem foi uma absolvição in dubio pro reo (em caso de dúvida, a favor do preso). O tribunal considera que não podem assegurar que não estivera no lugar dos fatos e participara da ação, mas tampouco podem prová-lo. Seu DNA foi encontrado no interior da sucursal em um uma chave de fenda, mas se considera que não se pode condená-lo só por este fato porque, ainda que demonstra que tem relação com a ação, poderia ser que simplesmente houvesse emprestado o objeto deixando nele seu rastro genético. Em último caso, a sentença avalia como atenuante o fato de que não houve lesões e que a todo momento os empregados do banco foram tratados corretamente.
Finalmente, o tribunal condenou a mulher a sete anos e meio de prisão ao considerar provada sua participação no assalto. Ao contrário, o homem foi absolvido de todas as acusações. Segundo testemunhas presenciais, no momento de divulgar a sentença houve bastante rebuliço na sala, pelo que a polícia procedeu rapidamente a levar a condenada. Ao contrário, o homem ficou livre de imediato. A defesa das ativistas tem uma semana para apresentar recurso contra a decisão do jurado e esta tarde uma manifestação partirá às oito da tarde da praça Lesseps de Barcelona para rechaçar a sentença e mostrar solidariedade com as retaliadas.
Este caso saltou à luz pública no passado 13 de abril, quando os Mossos realizavam uma operação policial contra o movimento libertário na cidade de Barcelona. O operativo estava coordenado pelo magistrado Eloy Velasco desde o Tribunal Central de Instrução número 6 da Audiência Nacional (AN) espanhola, para responder a uma ordem de detenção europeia derivada de uma comissão rogatória tramitada desde um tribunal alemão, a raiz das investigações da Polizei Landeskriminalamt Nordrhein-Westfalen (polícia cri minal do Estado de Renânia do Norte-Westfalia) para localizar aos presumíveis autores de vários assaltos a instituições bancárias consumados no território alemão.
Naquela ocasião, a operação dos Mossos finalizou com uma detenção em um domicílio de Carmel e doze horas de registro no centro okupado Blokes Fantasma. O segundo processado foi detido meses mais tarde também na cidade de Barcelona. No passado 21 de junho, os Mossos derrubaram a porta de seu domicílio no bairro de Eixample. Nesta ocasião, a polícia prescindiu da encenação midiática e não emitiu nenhuma nota de imprensa nem avisou os meios de comunicação. Após trilhas de detenções, os dois ativistas passaram pelo mesmo procedimento. Em primei ro lugar, foram transladadas a Madrid, onde a AN ditou seu encarceramento preventivo em Soto del Real. Posteriormente, de acordo com uma Ordem Europeia de Detenção e Entrega emitida desde a Promotoria de Aachen, foram extraditadas à Alemanha, que as mantiveram encarceradas sob a acusação de haver assaltado uma sucursal bancária da instituição Pax Bank – vinculada ao Vaticano -, de onde haveriam levado uma grande quantidade de dinheiro sem causar feridos nem danos pessoais.
Durante todos estes meses de cativeiro, a mulher detida no Carmel esteve em regime de isolamento em uma cela individual, saindo uma hora no pátio e com as comunicações com o exterior fortemente restringidas. Esperou a data do julgamento na prisão de JVA Köln, enquanto que o homem arrestado no Eixample o fez em condições similares, mas no centro penitenciário de Aachen, ambos localizados no oeste do país. A promotoria sustentava a tese de que este assalto seria o último de uma série de três ações a escritórios bancários ocorridas nesta mesma cidade em um período de pouco mais de um ano. A primeira se produziu no ano de 2012 e a segunda no verão de 2013 em uma sucursal da Aachener Bank, ação que ocasionou a detenção e posterior processamento de uma ativista anarquista de Amsterdam, capital dos Países Baixos [Holanda]. A jovem foi julgada antes de finais de ano e a sentença foi absolutória, porque o tribunal não considerou demostrada sua participação nos fatos que lhe imputavam. O grupo de apoio das jovens, articulado mediante a campanha Solidariedade Rebelde, teve conhecimento dos fatos que lhes imputavam mediante a imprensa alemã. Desde então, foram atualizando as informações que transcendiam, uma vez que organizaram atos solidários para divulgar o caso e arrecadar fundos assim como mobilizações para exigir a liberdade das acusadas.
Tradução > Sol de Abril
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