Ontem (30/07) à noite foi a última função da obra “Canción de cuna para un anarquista” do dramaturgo chileno Jorge Díaz e a direção de Roberto Vigo.
Pudemos presenciar uma história realmente envolvente, intensa e comovedora. Tudo transcorre em um mausoléu dentro de um cemitério, onde se encontram, em aparente casualidade, Balbuena e Rosaura; o primeiro, um velho anarquista transformado em peculiar vagabundo e preso nos labirintos de suas recordações e temores de uma guerra interminável contra a tirania e toda autoridade, e a segunda, uma viúva contrariada pelo marido ausente e a vida violentada que viveu junto a este.
Entre a chuva de outono que cai e os goles de café que se convida, se tece uma trama cativante, cheia de diálogos poéticos e bucólicos, com resplendores de uma loucura lúcida e frases de antologia como “Basta un espíritu libre para incendiar el mundo”, “Nosotros morimos muchas veces durante la vida, y no nos damos cuenta”, “Dios es mi enemigo”, “Hay una gran diferencia entre un soldado y un revolucionario”, entre outras (como o blasfemo e hilariante “rezo” a Bakunin).
Tem passagens cruas quando Balbuena se envolve em recordações próprias e de seu “querido avô anarquista” ou quando Rosaura conta a miséria que lhe coube viver por causa dos golpes de seu pai, de seus professores, de seu marido, da vida.
Tudo isto vai acontecendo enquanto Balbuena narra os episódios dramáticos da Guerra Civil Espanhola, de seus camaradas da CNT, do Quinto Regimento, do servilismo do PC, das bestas fascistas, da reunião entre Franco e Hitler, dos campos de concentração, dos obreiros armados em 36, etc.
É interessante o metafórico da dinamite que mantêm Balbuena e a reação negativa inicial de Rosaura de participar na “loucura do anarquista de atentar contra Hitler e Franco para terminar a guerra”, mas que logo apoiará sem restrições.
A história tem um desenlace humano trepidante. Rosaura, que havia ido ao mausoléu para “viver” morrendo, supera os lastros da eterna depressão e se libera impulsionada pelo anarquista. Se subleva contra a morte e se abraça a um hálito de vida. A obra é um apelo pelo amor, a beleza e a vida mesma, contra a desesperança, a miséria e o esquecimento.
No início nos advertiram que a encenação duraria 80 minutos como avisando que seria longa e talvez tediosa, ao final ficou a sensação de que foi demasiado curta e que a história deveria seguir sendo contada por muitas horas mais. O público de pé aplaudindo a uma genial Haydeé Cáceres (Rosaura) e a um versátil Augusto Mazzarelli (Balbuena), reconheceu o excesso de ternura e paixão mostrada por ambos.
A emoção era tanta que só faltou o eterno grito de “Viva a anarquia!” para fechar uma magnifica obra e uma encantadora noite de teatro.
Franz García
Tradução > Sol de Abril
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