Benjamin Zephaniah fala a Anu Shukla sobre poesia, policiamento e a luta atual contra o racismo.
Benjamin Zephaniah continua furioso. O lendário romancista, ator, dramaturgo, poeta e músico despendeu uma carreira com sua fúria contra a máquina racista – e não pretende parar tão cedo. Como um jovem negro que cresceu entre os anos 70 e 80, presenciou mais do que sua parte de violência policial – e esteve ele próprio na prisão também. Estas experiências formaram um corpo de trabalho que não mede esforços na crítica ao racismo institucional.
Para Benjamin, o sucesso não veio fácil. Ele largou a escola aos treze anos, ganhou reputação com sua habilidade com as palavras na cena de poesia dub antes de publicar seu primeiro livro de poesias quando tinha apenas 22 anos. No ano seguinte, a brutalidade policial deu origem as Revoltas de Brixton em 1981. Benjamin estava no meio delas, e fez uma crônica destas experiências no álbum de 1983, Rasta.
“Quando fui pego por policiais brancos disse a eles que estavam sendo racistas, e então eles mandaram um oficial negro me bater no lugar. Eu poderia dizer a um policial negro que ele estava sendo racista? Ele estava com a instituição. Aconteceu muito naquela época. Eles simplesmente pulavam do carro, me espancavam e saíam fora. Por isso tivemos montes de revoltas”. O Scarman Report da época concluiu que a polícia não era racista – e ao invés, que a comunidade negra nutria a perigosa crença de que estavam sendo tratados injustamente pela instituição.
Benjamin fala sobre este incidente na faixa do álbum, Dis Policeman Keeps Kicking me to Death (Lord Scarman Dub) com as letras:
“Estou vivendo no gueto / tentando fazer meu melhor / quando este policial me diz / que estou preso / Ele me espanca tanto / estou no chão / ele disse que se não me confessasse culpado / ia me bater mais / Eu me sentia mal, declarei que era um ATAQUE RACISTA / outro policial veio para acabar comigo, e este era negro. Nesta guerra temos traidores que não pensam antes de te vender. Nesta guerra existem pessoas que se recusam a ouvir o grito para que os direitos humanos sejam considerados um direito básico. Este policial ainda me espanca dia e noite.”
Ele percebe que o recente influxo de histórias de deportação circulando nos noticiários ingleses demonstram o quão pouco mudou desde aqueles tempos. Dos parentes de migrantes vítimas de Grenfell Tower lutando para estender seus vistos para que possam ver além do inquérito público – a membros antigos das nações Commonwealth vivendo sob o radar do medo da deportação: o racismo institucional, diz ele, continua aqui.
O próprio Benjamin é patrono da UK Chagos Support Association, que foi lançada em apoio a pessoas “ilegais” que viveram a maior parte de suas vidas na Inglaterra. Ele diz que o tratamento que o país dá a eles é “vergonhoso” e prova que o sistema foi construído para começar e prosseguir desta forma. Outra razão, diz, para que seja desmontado e reconstruído.
“Acho realmente espantoso e deprimente que o racismo ainda esteja aí. Tivemos movimentos em torno de Thatcher, racismo e sexismo nos anos 80. Nos 90, acho que ‘se acalmou um pouco’. Mas de repente, se tornou pior. Nós retrocedemos. É inacreditável.”
“É louco quando as pessoas dizem que o sistema não é racista, porque é construído sobre racismo, é construído sobre o império, e sua riqueza veio do racismo. E quando existem pessoas que estão na defensiva e dizem que não existe, talvez seja porque, as vezes, elas mesmas sejam culpadas?”
Quando revoltas eclodiram pela Inglaterra em 2011, muitos traçaram paralelos à era dos anos 80 experimentada pelo jovem Zephaniah: uma época em que manifestantes citavam a violência policial e discriminação como razões chave para sua participação. Mas quando o Channel 4 pediu a ele que escrevesse um poema sobre porque as pessoas se revoltam, ele decidiu fazer o oposto: “Decidi escrever, ao invés, sobre porque as pessoas não se revoltam, e então disse a eles:
“Você não se revolta se tem um bom trabalho e uma casa para ir a noite. Não se revolta se está bem alimentado e o desemprego não pressiona sua cabeça. Não se revolta se vive na cidade mas tem uma casa de campo com uma vista tão bela. Você não se revolta. A revolta aconteceu tarde demais. E isso é África do Sul, a Inglaterra é ótima.”
Ele observa que esta propaganda anti-imigrante produzida pela grande mídia joga pessoas brancas de classe trabalhadora necessitadas contra comunidades BAME (negras, asiáticas e de minorias étnicas). É por isso que, diz ele, a unidade tem o poder de desafiar estas divisões e evitar o empoderamento das estruturas institucionalmente racistas.
“Comunidades brancas marginalizadas são aquelas com as quais deveríamos nos unir. Fazer com que nos odiemos é um método consciente de dividir e dominar. Significa que aqueles no poder não precisarão fazer exércitos negros e brancos, porque já nos dividimos. Então a última coisa que eles querem é que pessoas pobres de comunidades negras e brancas se unam e digam, “merda, temos o mesmo opressor”.
“Mas quando você fala para pessoas do BNP e National Front, percebe que são apenas pobres garotos brancos. E quando pergunta a eles “o que você quer?”, respondem “só queremos algum lugar para sair e jogar, como um centro comunitário – e estes caras por aí dizem que se os seguirem, teremos”. Isto é exatamente o que Hitler fez. Ele disse: olhe o quão oprimida está a Alemanha; sigam-me e farei vocês grandes novamente”.
De fato, diz, um antigo neonazi que lutou contra ele nas ruas de East London entrou em contato uma vez para dizer que havia se tornado um monge budista – uma espiritualidade que ecoa do próprio Rastafarianismo de Benjamin. Mas quando se trata de se unir contra um inimigo comum, ele diz que racistas também podem ser reformados em outros modos construtivos.
“Quando eu medito, me sinto conectado com as árvores, os animais e tudo ao nosso redor. Sinto como se fosse parte deles, que somos todxs um. Mas quando você está discutindo politicamente, não pode exatamente dizer a alguém, ‘você precisa meditar porque é um racista de merda’. Reformar racistas é mais efetivo quando vem de alguém que costumava ser um. É um pouco como quando vou às prisões. Eu não prego para os prisioneiros. Eu os conto que também era um prisioneiro. E como uso minha energia para lutar contra o sistema.
“Pensando seriamente, a solução para livrar-se do racismo sistemático é derrubá-lo. Sou um revolucionário e estas instituições, incluindo a polícia, precisam ser desmanteladas, dilaceradas, e precisamos recomeçar”.
“Poucas pessoas falam sobre revolução como eu, a maioria é reformista. Mas existem muitas formas diferentes de se ter uma revolução, embora ninguém possa realmente imaginar como é até que aconteça. Olhe para a Primavera Árabe: algumas coisas ali tiveram êxito, algumas coisas menos, e começou na Tunísia de todos os lugares.
“As revoluções começaram por causa de poetas ou porque alguém falou na hora certa, quando todo mundo já estava farto. O que precisamos é um aumento da quantidade de pessoas falando, ok, reconhecemos que todas as outras coisas que tentamos não estão funcionando.
“Mas eles continuam falando em reformas. As reformas não fizeram nada. Por isso sou anarquista. Eu realmente acredito sinceramente nisso – nós teremos uma revolução na Inglaterra um dia.”
A autobiografia de Benjamin Zephaniah,’The Life and Rhymes of Benjamin Zephaniah’, será publicado por Simon and Schuster em 3 de Maio, e ele fará uma tour por 19 cidades em Maio e Junho.
Fonte: https://www.redpepper.org.uk/reforming-has-done-nothing-thats-why-im-an-anarchist/
Tradução > Imprensa Marginal
agência de notícias anarquistas-ana
podem tirar tudo da gente
menos a beleza
dessa lua crescente
Ricardo Silvestrin
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...