[São Paulo-SP] Fronteiras e Encruzilhadas: O anarquismo em debate

por Torta | 16/03/2019

Na semana de luta das mulheres, sábado, 9 de março, aconteceu, na Casa do Povo em São Paulo, o lançamento do sexto número do Jornal de Borda 06. A edição possui como mote Fronteiras e Encruzilhadas, e leva consigo dois fac-símiles de jornais editados por mulheres anarquistas nos anos 1920, O Nosso Jornal e Nuestra Tribuna (pesquisados no AEL e no Cedinci, dois importantes arquivos latino-americanos). Na plateia estava presente cerca de 60 pessoas que enfrentou chuva e bloco de carnaval para chegar até o evento e prestigiar o debate com artistas, professoras, historiadoras, feministas e anarquistas colaboradoras do jornal, as debatedoras foram elas: Ana Gagliardo, Bruna Kury, Edith Derdyk, Fernanda Grigolin, Lucia Parra, Rafaela Jemmene, Paula Monterrey e Samanta Colhado Mendes.

O Jornal de Borda é um periódico de arte contemporânea, editado em português e espanhol, com distribuição latino-americana. Ele é um lugar de pesquisa da artista-editora Fernanda Grigolin, que convida colaboradores dentro de um tema estabelecido em cada edição. Na atualidade o Jornal é atravessado por participações anarquistas, tomando as urgências postas no periódico; conduzindo o seu ritmo também. O Borda (como é carinhosamente chamado o Jornal de Borda) começou a ser publicado no ano de 2015, como um projeto autônomo, e já contou com a colaboração de mais de 140 pessoas de diversos países da América Latina, entre eles: Brasil, México, Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Nicarágua. O projeto gráfico do Jornal de Borda é de Lila Botter desde a primeira edição. O número seis marca a mudança no projeto, aumentando na altura, e tendo 48 páginas, talvez venha a ser o último Jornal de Bordaem alta tiragem, já que os custos de pesquisa, edição e circulação são altíssimos. E mesmo com a campanha realizada na Benfeitoria, apenas 20% dos custos foram cobertos.

Bella Ciao

Quem chegou no horário, teve uma gratíssima surpresa, ao menos para os anarquistas. Enquanto a roda se organizava, ouvia-se as notas ao piano de Bella Ciao. Era a atriz Cibele Troyano, que encontrando um piano no espaço sentou junto a ele e presenteou o lançamento com seu talento.

Vamos à roda!?

Aconchegadas as pessoas presentes – público,  e  colaboradoras –  foi a vez de Fernanda Grigolin tomar a palavra na apresentação do Jornal. Ela iniciou sua apresentação agradecendo a Casa do Povo e as pessoas presentes. Comentou sobre a história do jornal e como desde a edição 04, que teve a edição fac-símile de A PlebeO Borda é construído com participações de anarquistas e sobre o anarquismo. Ela folheou o jornal e comentou sobre a edição atual e as participações. Uma questão que ela trouxe foi que O Borda convocou pessoas que escrevem sobre diversas mulheres de forma profunda.

Por mais que circulem na internet biografias de mulheres anarquistas e antologias importantíssimas sobre elas, ainda há um desconhecimento sobre a vida dessas mulheres e desencontros de informações. Por exemplo, as anarquistas  Juana Rouco, da Argentina, e Maria Lacerda de Moura, do Brasil, escreveram suas autobiografias. Juana em 1964, já velhinha, Maria Lacerda em 1929, ainda jovem. O  projeto autobiografias cruzadas é uma página dupla do Jornal de Borda, com desenho de Flor Pastorella, tradução de Fernanda Grigolin e Valéria Mata, trechos autobiográficos falando de luta, amor e vida, de Maria Lacerda, traduzido ao espanhol, e Juana Rouco, ao português. Muito cuidado e pesquisa envolveram o projeto. Nas páginas também selecionamos trechos pequenos de militantes e pesquisadoras que se debruçaram nas duas importantíssimas anarquistas, como os de Juliana Vasconcelos, Cristina Guzzo, Ingrid Ladeira e Angela Roberti, alguns traduzimos, outros estão na língua original. Juana Rouco também está presente no jornal com a edição fac-símile de Nuestra Tribuna e no texto de Laura Fernández Cordero sobre o periódico.

As participantes Samanta Colhado Mendes  e Lucia Parra estiveram presentes trazendo para o debate suas experiências de pesquisa em anarquismo, ambas juntamente com Laura Fernández Cordero foram consultoras da edição e acompanharam o processo das edições dos fac-símiles. Samanta Colhado, em sua apresentação, contextualizou a luta das mulheres anarquistas, suas atuações anarcossindicalistas na Primeira República e suas produções  textuais e de luta. Em especial, comentou sobre  as mulheres que realizaram O Nosso Jornal, uma das  edições fac-símiles contidas no Jornal de Borda. Lucia Parra conversou com os presentes sobre educação anarquista, produção de conhecimento, combate ao analfabetismo e a construção de espaços autônomos anarquistas, como o Centro de Cultura Social, ativo até hoje.

A artista anarcotransfeminista Bruna Kury, que  também é colaboradora do jornal, trouxe a roda uma reflexão sobre sua performance, um debate sobre as fronteiras do corpo com questões raciais e da transgeneridade. Seguida pelas falas da artista Paula Monterrey, que nesta edição entrevistou a feminista ativista nicaraguense Marlen Chow Cruz sobre o movimento #SoyPicoRojo e da designer Laura Daviña, parte do projeto Vamos mais Longe! Vamos más lejos! de respostas a um trecho de A mulher é uma degenerada de Maria Lacerda de Moura. A artista Edith Derdyk, convidada especial desta edição intervindo nos miolos de 16 páginas, trouxe ensinamentos sobre o processo de construção de livros e publicações, as fronteiras da linha que inspiraram sua intervenção artística no jornal, o espaço entre e comentou sobre as falas anarquistas anteriores a dela, Edith destacou a importância de trazer o anarquismo ao primeiro plano do diálogo e seus ensinamentos não institucionais. Por fim, tivemos os comentários da artista Rafaela Jemmene com sua participação imagética, fruto de sua pesquisa em site-specific, e Ana Gagliardo sobre seu texto que mescla português e espanhol, a fronteira da língua.

Após as apresentações, a roda esteve aberta ao debate e as perguntas. O evento também marcou o lançamento de um novo livro, Matilde Magrassi. uma libertária no Brasil e na Argentina, pesquisa e edição de Fernanda Grigolin com projeto gráfico de Laura Daviña e Flor Pastorela e apoio deLa Paternal Espacio de Proyectos. O próximo lançamento do Jornal de Borda 06 será realizado ainda em Campinas (SP), no espaço de cultura independente Torta no dia 21 de março às 19h, e no Rio de Janeiro, sem data até o momento mas com grandes possibilidades de ser no Primeiro de Maio.

>> Lançamento Jornal de Borda 06 em Campinas (SP), dia 21/03:

https://www.facebook.com/events/311471359516745/

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2019/03/05/sao-paulo-sp-neste-sabado-09-03-lancamento-do-no-6-do-jornal-de-borda/

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Na pétala da flor.

Rodrigo de Almeida Siqueira