A propriedade no capitalismo é um dos principais pilares que sustenta a classe dominante. Historicamente tem sido a executora das maiores opressões, tais como a desapropriação em massa dos povos, genocídios, aniquilação da vida silvestre, assassinato ou prisão de militantes, mas a que consideramos mais perigosa, foi colocada em nossas mentes, fazendo-nos acreditar que podemos possuir terras e imóveis e que a obtenção de um espaço físico para o desenvolvimento da vida dependerá da capacidade monetária de cada indivídux. É aqui que o irônico se torna absurdo, pagando pelo que originalmente foi roubado por eles. Aceitando e naturalizando esse conceito de propriedade, nos tornamos agentes que reproduzem a mesma mesquinhez de pequena escala, acreditamos que somos seres livres para possuir tudo o que tenha preço e também o que não tenha, passando acima de tudo para satisfazer nosso desejo de pertencer. É por isso que vemos como necessário a sabotagem e a expropriação, a defesa dos recursos naturais, a recuperação de imóveis para lazer e desenvolvimento coletivo.
26 de julho ficou registrado como o dia em que o processo político da Okupa Casa Naranja termina, é por este meio que manifestamos com grande dor que fomos superadxs pela burocracia e a aliança dxs “proprietárixs” com o estado. Desta forma, queremos expor que a okupação para nós foi sempre uma ferramenta e não o fim da luta antiautoritária e anticapitalista. Conhecemos as características desses espaços, como a efemeridade de sua temporalidade, a ilegalidade, a metamorfose continua devido à mobilidade dxs seres que ali habitam.
Negamos um processo jurídico para determinar quem são xs donxs ou quem poderia ser, assim como esquivamos de sua proposta de lutar colocando a vida no meio. Com a mesma intensidade que isso nos atinge, caminhamos sorridentes porque não empacamos em pertences, mas aprendizagens, amizades, redes, carinho.
Estas linhas não são para nos vitimizar, exigir justiça, nem pretendemos criar uma ideia heroica de Casa Naranja. Reconhecemos as contradições políticas, teóricas e práticas, bem como as violências que exercemos em um determinado momento em relação a uma banda afim, cabe apontar que não pretendemos nos redimir nem carregaremos a culpa cristã por isso, nem vamos esconder as baixezas de pessoas que ali convergiram.
A casa é um mais um imóvel dentro da infraestrutura urbana, a qual nasceu como centro social pelxs seres que ajudaram a liberá-la. Durante treze anos enfrentou batalhas internas e externas, foi partícipe de lutas sociais, atividades solidárias para presxs, ocupada na circulação de teoria e prática libertária, geriu encontros e atividades para isso, foi um espaço para ligar trabalho de diferentes latitudes, aproveitamos este texto para agradecer infinitamente às pessoas que ajudaram a existência do projeto, a todxs aquelxs que se solidarizaram em momentos de contingência, a quem colocaram o corpo e mente para construir, a todas as coletividades e individualidades ao redor do globo que habitaram lá.
Fechando este capítulo, motivamos e nos solidarizamos com qualquer proposta de sabotagem contra a propriedade, da ilegalidade, anticapitalista, antiautoritária e anárquica.
Okupa Casa Naranja
Tradução > keka
agência de notícias anarquistas
O frêmito cessou.
A árvore abre-se
para conter a lua.
Eugenia Faraon
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!