[Wallmapu] Comunicado público da nação Mapuche em solidariedade com a resistência do povo do Equador

As Comunidades Mapuche em Resistência da zona de Malleco, com as comunidades e pu lof Mapuche em Resistência da faixa de Lafkenche, emitimos a seguinte declaração pública ante a sociedade nacional e internacional dos povos indígenas do mundo.

1- Como povo-nação Mapuche, que lutamos por território, autonomia e a autodeterminação, seguindo a linha do Weichan, frente aos Estados Chileno e Argentino, viemos manifestar nosso apoio político aos distintos povos indígenas que hoje lutam contra as políticas abusivas do governo do Equador- Lenín Moreno, presidente de direita e viés capitalista neoliberal, cujo governo defende os interesses das corporações capitalistas que investem nos territórios indígenas e que são os responsáveis diretos da usurpação e devastação desses territórios. Observamos que as medidas adotadas pelo governo do Equador para responder aos protestos legítimos dos povos indígenas liderados pela CONFENIAE (Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana) e CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), são medidas erradas, paternalistas e violentamente repressivas. Situação que, como povo Mapuche, repudiamos fortemente, pois estamos muito familiarizados com esse tipo de ações e medidas violentas que os governos realizam para afrontar as demandas dos povos indígenas que reivindicam seus territórios e seus direitos políticos. O povo Mapuche considera legítimo se defender da violenta agressão factual do Estado Chileno contra nosso povo, também é legítimo que os povos indígenas do Equador usem os mecanismos necessários para se defenderem contra as políticas e medidas econômicas que prejudicam ou restrinjam seus direitos sobre seus recursos naturais do solo e do subsolo. Como povos irmãos, nos une a luta pela existência, a luta pela resistência cultural e política, pela defesa, respeito e libertação de nossos territórios, nos une a mesma história de violenta espoliação, à qual fomos objeto pelos Estados que hoje ocupam nossos territórios. Valorizamos profundamente suas ações políticas e consideramos que o que está sendo feito de sua parte é uma evidência irrefutável de que os povos indígenas que alguma vez os Estados acreditaram estar derrotados, estão plenamente vigentes. Somos Povos com memória, com capacidade organizacional e o lógico é que os governos não podem tomar determinações sem o consentimento de nossos povos. Lamentamos que os custos da luta sempre tragam sangue, morte e encarceramento, sofremos isso ao longo de centenas de anos de brutalidade, discriminação racial, desapropriação territorial e crimes contra a humanidade que permanecem em nossa memória. Valorizamos sua coragem em desenvolver um nível de mobilização política e social que hoje são um exemplo para outros Povos Indígenas do continente e do mundo. Uma demonstração de valor para nossas legítimas e justas causas diante da opressão que os Estados exercem contra nossos povos.

2- Como exposto anteriormente, exigimos que o governo do presidente Lenín Moreno, respeite os direitos dos povos indígenas do Equador, seus direitos humanos, civis e políticos. É totalmente razoável e decisivo manifestar-se contra as iniciativas de políticas públicas impostas pelo governo do Equador – chamadas de “Paquetazo” (pacotes de medidas econômicas). Medidas políticas e administrativas que, em vez de resolver as desigualdades econômicas, as aprofundam e as consequências sempre acabam prejudicando os povos indígenas. Para uma possível solução para o problema fundamental, é evidente que o governo de Lenín Moreno deve necessariamente acabar.

3- Pedimos ao governo chileno a depor suas ações de intervencionismo político nos assuntos do Equador, entendendo que seu governo não tem toda legitimidade moral para se intrometer em situações e tensões nas políticas dessas características. O governo chileno tem as mãos manchadas de sangue, é responsável política e materialmente pelo recente assassinato de Camilo Catrillanca e pelos crimes anteriores contra Alex Lemun, Matías Catrileo, Jaime Mendoza Collio, entre outros irmãos caídos em weichan, uma vez que suas políticas repressivas contra o movimento Mapuche consistem em intensificar a perseguição política e judicial, o que levou ao aumento da militarização do território Mapuche. Chile é um país que ocupa o território Mapuche sem nosso consentimento e aplica constantemente políticas colonialistas e extrativistas. Hoje, tanto Chile como Equador, pretendem instalar o plano IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional da América do Sul) para continuar o saque da Indoamérica com suas políticas extrativistas, promovendo indústrias florestais, mineração, hidroelétricas, fazendas de salmão e agronegócios com base na extensão da conexão rodoviária através de nossos territórios para fomentar o saque. Seu afã econômico é destruir, o nosso é defender a vida. É assim como as políticas impostas pelo governo chileno contra os povos indígenas são igualmente abusivas, violentas e economicamente desfavoráveis do que as políticas que o mal governo do Equador pretende impor. O Chile não é um exemplo para América Latina ou o mundo, Chile é o exemplo da negação e criminalização dos direitos dos povos indígenas. Suas políticas Indígenas se baseiam em uma constituição política elaborada na ditadura militar e que nenhum governo teve a coragem para mudar essa Carta Magna antidemocrática e racista.

Por último, reiteramos nossa admiração pelo processo revolucionário dos povos indígenas do Equador, por sua coragem e firme determinação política em conseguir mudar a história de abuso e negação que o Estado do Equador e seu governo pretendem realizar.

Desde Wallmapu, Território Mapuche em Resistência, Marrichiweo – “Se um cai, mais dez se levantarão”.

Amulepe Tain Weichan – Sigamos adiante com a luta.

Weowain Peñi, Weowain Lagmien – Vamos vencer irmão, vamos vencer irmã.

Comunidades Mapuche em Resistência da zona de Malleco.

Comunidades e pu lof Mapuche em Resistência da faixa de Lafkenche.

Wallmapu; Nação Mapuche, 12 de outubro de 2019.

Tradução > keka

agência de notícias anarquistas-ana

Canto da araponga.
Bebezinho se espreguiça
e volta a dormir.

Zuleika dos Reis