Carta | Comunidade Autônoma Temucuicui ante à mega-operação da Polícia de Investigações do Chile

Nossa comunidade mapuche, através da presente, e ante à gigantesca agressão por parte do Estado do Chile assinalamos o seguinte:

Na manhã da quarta-feira [07/01/2021], uma força de 800 agentes da Polícia de Investigações arrombou e quebrou a tranquilidade da comunidade Temucuicui, justamente no momento em que na cidade de Angol, uma força composta por carabineros (polícia) e membros do exército impediu à família do weichafe [guerreiro mapuche] Camilo Catrillanca entrar na cidade para conhecer o veredicto contra os carabineros assassinos.

Esta força da PDI, numa enorme caravana, entrou a vários Lof [organização social do povo mapuche] do território, comunidade Huañaco Millao Chacaico, Pancho Curamil, butaco e o setor de Pidima, além de diferentes moradias na cidade de Ercilla, fortemente armados, com equipes militares e apoiados por dois helicópteros. Não se tinha conhecimento sobre qual era o motivo de tão frenética agressão do Estado contra as comunidades. Durante o desenvolvimento das agressões e a violência exercida pelos funcionários da PDI, resultaram mortos vários animais que são parte do gado da comunidade, destruição de cercas e de casas, mulheres e crianças feridas, incluindo a detenção da mãe, da companheira e da filha de Camilo Catrillanca ao tentar voltar para a comunidade.

No desenvolvimento da violência perpetrada pelo Estado resultou morto um agente da PDI, sem que se saibam maiores detalhes. Foi informado para o jornal que a razão dessa violência e terrorismo era para cumprir com uma ordem da Promotoria de Alta Complexidade que pesquisa sobre tráfico e plantação de marijuana, tráfico de armas e munições, homicídios, e, segundo eles, essa ação de violência foi planejada há 8 meses. A questão desse fato é: qual foi o resultado? Na tarde, o rufião que oficia como chefe da PDI, assinalou o sucesso ao apreender umas mudas de marijuana e uma submetralhadora UZI, sem que se tenham mais antecedentes nem certeza que isso ocorreu como foi dito.

O Estado, que está ao serviço do modelo neoliberal, vem desenvolvendo teorias de conspiração desde o ano 2002 quando foi afirmado que as organizações mapuche eram financiadas pelo dono de um molinho na cidade de Collipulli, logo disseram que um número de mapuche recebeu instrução das FARC, na Colômbia, depois vem a operação Huracán onde hoje tem no alvo a vários carabineros por mentir e implantar supostas provas, e o assassinato de Camilo Catrillanca pelo qual declarou-se culpado ao funcionário policial que tirou sua vida. É uma soma de fatos onde se confabulam as mentiras, o racismo e o abuso policial. Nessa violência, mesmo na Operação Huracán, estão organizados e atuando em coordenação com a promotoria de alta complexidade, o tribunal de garantia de Collipulli, e o governo, especialmente o parasita burocrata Cristian Barra, que foi designado como coordenador da macro-zona do sul, pelo ministério do interior. Todos eles atuam sob as ordens das empresas florestais e da oligarquia latifundiária, que vê com espanto como o território de Temucuicui tem conseguido controlar um grande espaço do território, tem conseguido dar bem viver às famílias, reconstruir o mapuche mogen [vida mapuche] fora de todo domínio e tentáculo do Estado e dos partidos neoliberais.

Essas ações de terrorismo de Estado continuarão devido a que as comunidades continuarão com mais força e convicção a recuperação e o controle territorial para que nossas futuras gerações vivam em liberdade e dignidade.

Todos os que estão na cabeça dessa gigantesca operação, estão assinalando que existiu um arrombamento só em Temucuicui, porém, essa operação foi realizada em diferentes comunidades já citadas. É de notar, contudo, que não existe nenhum detido em Temucuicui por essa operação policial, mas foram 9 casas arrombadas e destruídas em Temucuicui, e outras 10 nas outras comunidades. Em grande parte delas não acharam nada. Duas mulheres detidas da comunidade Huañaco Millao Chacaico anunciaram que hoje passaram a controle e formalizações por acusações, ficando ambas em prisão preventiva.

Rejeitamos energicamente as ameaças do Diretor da Polícia de Investigações de continuar entrando e agredindo a comunidade com mais força; nós temos sido vítimas históricas de múltiplas violações e assassinatos, e eles isso sabem muito bem, por quanto nossa gente ficará a defender de qualquer agressão a todos os membros da nossa comunidade. As declarações desse nefasto e racista burocrata só vêm para fomentar a estigmatização das práticas coloniais contra Temucuicui, que o Estado abertamente tem declarado guerra.

Finalmente assinalar que Temucuicui vai se manter alerta e não permitirá a entrada a nenhum meio de comunicação.

Justiça para Camilo Catrillanca

Liberdade aos presxs políticxs mapuche

Não mais arrombamentos e agressões a nossa gente. 

COMUNIDAD AUTÓNOMA DE TEMUCUICUI

agência de notícias anarquistas-ana   

a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins