Por Steve Welzer
O movimento por mudança social deve ser compreensivo e multidimensional. Não há uma Solução simples ou um único Melhor Caminho para chegar daqui até ali.
Mas recentemente houve uma mudança de sentimento relativa a onde e como nossos esforços por mudança social são mais prováveis a serem recompensados. Indivíduos e famílias, cada vez mais atomizados dentro da sociedade de massa, não têm os recursos e a influência necessária para ter um impacto significativo. No outro extremo do espectro, as instituições dominantes (corporações, agências do governo, grandes universidades, ONGs etc.) possuem uma inércia institucional em um nível que impede a mudança.
O ambiente mais construtivo à atividade transformativa pode ser então aquele nível intermediário de associação humana que chamamos de comunidade.
Duas Diferentes Formas de Vida Humana
Até um período relativamente recente da perspectiva da história natural, a vasta maioria de humanos morava em contextos sociais comunitários — tribos ou vilas ou cidades pequenas caracterizados pela familiaridade com/interdependência entre vizinhos e identidade, com um lugar-no-mundo particular. Domínios de vida social e territorial eram locais, vinculados, de dimensão humana e gerenciáveis; sob essas circunstâncias, a responsabilidade costumava ser mais imediata e direta. O poeta Gary Snyder se refere a isso como os Antigos Costumes.
Por volta de dez mil anos atrás, por razões debatidas por historiadores e antropólogos (ainda que haja consenso de que o aumento da dependência de uma forma mais intensiva de agricultura foi um fator), uma alteração radical de estilo de vida ocorreu em áreas selecionadas da diáspora humana. Culturas agressivas orientadas pelo desenvolvimento e expansionismo de repente confrontaram vilas e tribos autônomas como uma força externa desestabilizadora. Os indígenas tentaram resistir aos agressores e à pressão de transformar seu estilo de vida, mas as comunidades aborígenes foram quase sempre, eventualmente, derrotadas pelos criadores de impérios.
Com a propagação desse fenômeno, a cultura Neolítica em geral pendeu para Novos Costumes — para uma organização intensiva do trabalho e da vida, preocupada com aquisição e produtividade. A ascensão do Estado, patriarcado e conceito de propriedade privada seguiram essa organização. As sementes do Leviatã moderno podem ser traçadas para essa transição momentânea de um estilo de vida a outro.
O Definhamento da Comunidade Dentro do Leviatã
Durante os milênios que se passaram desde a Revolução Neolítica, recursos sociais foram alocados gradualmente para fora das comunidades locais, em direção às instituições centradas em regiões urbanas e desenvolvimento/comércio/militarismo patrocinados pelo Estado.
O filósofo da tecnologia Lewis Mumford escreveu sobre como, desde a antiguidade, interesses comerciais e o Estado constituíram uma força bruta interligada, sempre promovendo uma ideologia de progresso e desenvolvimento tecnológico. Agora, chegamos ao ponto em que a vida se tornou quase totalmente dominada por instituições hipertrofiadas e tecnologias da sociedade industrial de massa.
As grandes empresas e multinacionais se tornaram centros de poder remotos que se auto-engrandecem. No que é chamado de democracias de livre mercado, as pessoas são reduzidas a participar ao votar em representantes ou comprar ações no mercado, mas o controle efetivo se dá pelas elites beneficiárias de uma concentração sem precedentes de riqueza e poder.
Sob essas circunstâncias, a comunidade definhou. A vida pessoal se tornou atomizada e hiperindividualista. Famílias residem em cidades-dormitório orientadas pelo consumo, caracterizadas por altos índices de mobilidade. Padrões materiais de vida cresceram com as pressões competitivas. O capital social diminui enquanto o estresse nas pessoas e no planeta aumenta.
É imperativo que se reconheça as alternativas absolutas que estamos confrontando agora: um caminho continua o status quo insustentável e insatisfatório, um outro nos leva à direção de recuperar o equilíbrio e a sanidade social. Este último significa diminuir a escala e o ritmo, aprender a viver de forma mais leve. Indivíduos e famílias podem fazer sua parte, mas uma transformação tão grande de formas de vida requer o poder agregado de movimentos socais e esforços coletivos.
Nós Precisamos Construir a Mudança Juntos
Um aspecto chave do movimento por uma nova sociedade está em encorajar a emergência de comunidades intencionais comprometidas com ter uma abordagem integrada ao tratar de problemas de degradação ecológica e disfunção social.
As pessoas precisam construir a mudança em conjunto; idealmente, em uma escala na qual se sintam empoderadas e consequentes. Todos poderíamos nos beneficiar de ter inspiração e apreço de Outros valiosos que são simultaneamente colegas, camaradas e vizinhos.
Precisamos ter o prazer da companhia e da coparticipação, a motivação da aprovação entre seus pares (e enaltecimento!), a sensação de que estamos engajados em empreendimentos significativos comuns e alcance de objetivos compartilhados. É na comunidade, por ação conjunta, que temos a maior chance de melhorar nossa qualidade vida enquanto avançamos significativamente em direção da sustentabilidade.
Saúde psicológica e de caráter é dependente de ter um lugar e um status dentro de um mundo social compreensível. A desorientação resulta da tentativa de negociar dentro de domínios que efetivamente não têm limites, e de tentar ter sucesso enquanto confronta padrões associados com íngremes hierarquias de status piramidais.
Dão-nos a impressão de que temos sorte de sermos apresentados a fontes quase intermináveis de estímulos, escolhas e oportunidades, mas psicólogos estão descobrindo que tal ambiente operacional nos deixa confusos, distraídos e ansiosos. Em nossa realidade globalizada de produção/consumo/comunicação em massa, a dimensão humana há muito tempo deixou de ter valor.
Tudo se tornou hiper. Demais; rápido demais, longe demais, grande demais. Sintético demais e complexo demais. A nossa é agora uma civilização de desorientação e descontentamento.
A lição a ser aprendida é que a patologia social invariavelmente resulta de quando uma sociedade se torna desatracada de um aterramento básico em sensibilidades de limites e equilíbrios. Evitar um curso de colisão com a loucura requer mais do que panaceias tecnológicas, entraves corporativos ou mudanças de regime governamental. Precisamos restaurar a dimensão humana em todos os aspectos da vida, precisamos reconstituir a comunidade real.
A solução eco-comunitária a pontos críticos modernos é estilos de vida localmente orientados, escalados humanitariamente e caracterizados pela familiaridade, estabilidade, interdependência e relação com o local. Essa é a base do respeito, amor e cuidado, tanto de uns com os outros quanto para com a Terra.
Cohousing e comunidades de ecovilas podem servir como modelos e campos de base para um movimento global amplo que trabalha para que nossa civilização seja verde e se encaminhe para a sustentabilidade.
Precisamos encontrar nosso caminho de volta ao Lar.
>> Steve Welzer é ativista do movimento verde há mais de 30 anos. É editor da Green Horizon Magazine e organizador do projeto Altair Ecovillage em Kimberton, Penn. Steve escreveu a introdução do livro de David Watson, Beyond Bookchin: Preface for a Future Social Ecology. Mora em East Windsor, N.J.
Fonte: Fifth Estate # 409, Summer, 2021
Tradução > Sky
agência de notícias anarquistas-ana
Regato tranqüilo:
uma libélula chega
e mergulha os pés.
Anibal Beça
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!