Durruti sin mitos ni laberinto y otras estampas, de Agustín Guillamón, editado em Madri (janeiro de 2022) pela Fundación Aurora Intermitente y Sueños de Sabotaje. Colabora: Queimada.
O livro é constituído por sete gravuras, absolutamente autônomas e independentes entre si, que unidas no formato de um livro conformam um conjunto estruturado que amplia, transforma e multiplica as imagens e o conteúdo de cada uma dessas figuras.
Entendemos por “estampa” uma ilustração precisa e detalhada de uma paisagem, de uma pessoa ou de uma cidade, desenhada pelo traço ágil do lápis magistral de um desenhista (como Sim) ou pela foto mecânica de uma engenhoca. Há escritores que escrevem gravuras com dois ou três frases, como Mary Low ou George Orwell. Não sobra uma palavra, não falta uma vírgula ou um parêntese. Com quase nenhum meio, definem e enquadram uma situação, retratam uma personalidade ou sintetizam uma vida. Fazem “estampas”.
Estas ilustrações, estas imagens, eternizam um instante, uns dias ou meses, captando sua essência mais profunda. Entretanto, o conjunto das sete gravuras produz uma sensação de movimento telúrico, de encaixe final das peças do quebra-cabeça e explicação de todas e cada uma das figuras numa estrutura firme e exata, que explica o breve e luminoso estouro da revolução, assim como sua dolorosa escuridão e morte.
Apenas três ilustrações são dedicadas a desenhar o perfil do revolucionário Buenaventura Durruti; as outra quatro expõem o terremoto coletivo, maciço e popular do feito revolucionário e, logo, a horrível e sangrenta investida da contrarrevolução stalinista e republicana.
Estas quatro gravuras demonstram e explicam que Durruti não se perdeu em nenhum labirinto. Guillamón nos apresenta um Durruti sem mitos, para além da divinização de alguns e de sua demonização por outros; ou de sua banalização pelos demais. Durruti não foi um deus, nem um herói do povo. Foi um revolucionário a mais entre milhares de outros.
Este livro de sete ilustrações termina com a inclusão de dois importantes anexos documentais: o primeiro é o protesto de Durruti contra a militarização de sua coluna; o segundo se trata da ordem dada a Durruti em 9 de novembro de 1936 para que marchasse a Madri.
O conjunto de sete imagens e dois anexos nos oferece a essência da figura de um revolucionário, esculpido com a ética do conhecimento e o combate pela história, em formato de livro.
O passado escorre como água pelas mãos; é o rosto desfigurado por um profundo grito mudo do anjo horrorizado da história diante da destruição, arrastado de costas ao futuro por um vento de furacão, asas paralisadas enquanto tudo morre sob seus olhos e se desmorona impreciso, seco, decrépito, irreconhecível e arruinado. Tudo o que é sólido se desmancha no ar. Durruti, santificado e mumificado, é assassinado duas vezes, promovido a tenente-coronel do Exército Popular, e o fazem dizer que renuncia tudo, exceto a vitória. A revolução se esvai como um sonho bonito, quase sem deixar rastros. Nada permanece imutável, salvo a aniquilação de todo o existente. Como contar isso sem citar Walter Benjamin e seu Angelus Novus?
A documentação encontrada nos arquivos é a condição sine qua non da ciência histórica. Os arquivos são os lugares onde investigadores como Guillamón obtêm a maioria dos documentos que sustentam seu relato, vimes com os quais o narrador tenta construir uma cesta (ou relato histórico) capaz de ordenar e conter essas gravuras da Revolução e da Guerra. Às vezes, esses arquivos, muitos e variados, e não importa de que lugar do mundo, são raros e avarentos, pois apenas deixam vislumbrar o que realmente aconteceu. Nesses transes a cesta fica inacabada, apenas esboçada, mas os contornos construídos e os vazios existentes oferecem um conjunto global que permite intuir a forma da cesta e, em raras ocasiões, seu conteúdo.
Historiadores acadêmicos, doutorandos em busca de abrigo, mitômanos nacionalistas, nostálgicos stalinistas reciclados e ridículos charlatães de uma obsoleta ortodoxia de cartão-pedra confeccionam sempre a mesma cesta, a que têm em sua cabeça ou que compraram; não importam os documentos obtidos.
Costumam ser cestas absolutamente perfeitas, mas falsas.
Os trapeiros e colecionadores de papéis velhos, como Guillamón se define, fabricam a cesta que podem com o material encontrado e, se algo faz falta, remexem o lixo descartado – por ser considerado inútil – e se alimentam com os suculentos desperdícios encontrados. Os métodos do trapeiro e do universitário são contrários e distantes, que se repelem e se combatem. Mas o sistema selvagem do trapeiro não é somente infinitamente melhor que o acadêmico; na realidade, é o único digno, verdadeiro e eticamente possível.
Eis aqui umas bonitas ilustrações de Durruti, da Revolução Social e de seu fracasso, que se fundamentam sempre num rigoroso e sólido trabalho prévio de investigação, sem amos nem subsídios, nem outras servidões materiais ou ideológicas que condicionem os resultados.
Balance. Cuadernos de historia
Fevereiro de 2022
Durruti sin mitos ni laberinto y otras estampas
Ano de publicação: 2022
Autor: Agustín Guillamón
Editora: Sueños de Sabotaje
ISBN: 978-84-124417-0-3
Páginas: 92
Tamanho do livro: 190 cm × 125 cm × 0 cm
Web: https://www.traficantes.net/libros/durruti-sin-mitos-ni-laberinto
Tradução > Erico Liberatti
agência de notícias anarquistas-ana
Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?
Mario Quintana
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!