Os serviços secretos dos EUA realizaram um monitoramento detalhado das reuniões e ações dos membros da CNT e do PCE. As tarefas de controle se estenderam pelo menos até os primeiros anos da Transição e também foram direcionadas contra a CCOO.
Por Danilo Albin | 29/04/2023
A longa noite franquista estava sob os olhos da CIA. Enquanto a ditadura torturava e fuzilava militantes políticos, os serviços de inteligência dos EUA colocavam seu radar nas atividades do sindicato CNT e do Partido Comunista, dentro e fora da Espanha.
Como o [jornal] Público pôde verificar por meio de vários documentos da CIA parcialmente desclassificados, a CIA produziu vários relatórios sobre as reuniões e conversas realizadas por grupos anarquistas e comunistas, todos eles proscritos e perseguidos até a morte pela ditadura.
Os relatórios compilados por este jornal têm, em vários casos, trechos ocultos, o que torna impossível conhecer seu conteúdo integral. Esse é o caso, inclusive, de documentos que datam da década de 1940.
Em um desses relatórios, elaborado em fevereiro de 1947, a CIA revela que havia monitorado uma conversa entre líderes exilados do POUM e membros da liderança da CNT. A agência de inteligência alegou que o sindicato havia empreendido a “reorganização” de “ações terroristas”.
Seus informantes na Espanha também disseram que os “esquadrões” da organização anarcossindicalista haviam assumido o controle dos “grupos guerrilheiros nas áreas da Galícia, Astúrias e Catalunha”, e até mesmo afirmaram que ela havia “colocado especialistas em sabotagem em várias fábricas”.
Algumas semanas antes, outro relatório já havia alertado Washington de que “o proletariado espanhol pertence às duas grandes organizações sindicais: a CNT, de tendência anarquista, e a UGT, de tendência socialista”.
“Atos de violência”
No entanto, o Partido Comunista também estava entre suas grandes obsessões quando se tratava de realizar ações de acompanhamento no país. “Os comunistas e simpatizantes do comunismo estão preparados para realizar atos de violência na Espanha, embora não tenham ilusões quanto aos resultados de tais ações. Eles acreditam que movimentos grevistas, explosões e sabotagem confirmarão a existência de elementos comunistas ativos na Espanha”, declarou um agente da CIA em um documento enviado aos EUA em 23 de janeiro de 1947.
Nesse e em outros relatórios, a agência de inteligência dos EUA descreveu a estrutura do PCE em detalhes: nesses documentos, os agentes deram os nomes daqueles que realizaram várias atividades nos órgãos clandestinos do partido.
Paraquedas com armas comunistas
Em janeiro de 1949, a CIA foi ainda mais longe e afirmou que os líderes do Partido Comunista estavam supostamente preparando uma “primavera” cheia de ações, embora “a dificuldade de obter armamentos” fosse sua “principal preocupação”. “Eles têm um grande depósito de armamentos na Itália e têm estudado possíveis maneiras de lançar esses suprimentos na Espanha”, disse ele em outro parágrafo.
Em outro documento datado de 18 de junho de 1949, que também tem vários parágrafos censurados, os agentes da CIA na Espanha e na França detalharam as atividades realizadas pelas “facções” da CNT tanto em Toulouse quanto nesse lado da fronteira. Ele até mesmo forneceu números sobre o número de militantes da CNT e da Federação Ibérica da Juventude Libertária em ambos os países na época: cerca de 15.000 na França e outros 30.000 na Espanha.
A espionagem americana contra a resistência antifranquista não cessou. Em julho de 1951, informantes da agência dos EUA afirmaram que, embora “o exército espanhol e as forças de segurança tenham sido capazes de lidar com a atividade de guerrilha comunista até agora, os grupos comunistas existentes poderiam, em caso de guerra, aumentar com cerca de 100.000 simpatizantes e alguns dos membros mais fervorosos das organizações sindicais clandestinas”.
“Com o grupo mais eficientemente organizado e os grupos guerrilheiros mais bem disciplinados da Espanha, o PCE poderia fornecer quadros prontos para uma expansão imediata das atividades de sabotagem”, argumentou a agência.
Espionagem sobre La Pasionaria
Em outubro de 1959, a CIA produziu um documento ultrassecreto que revelava o conteúdo de uma reunião em Moscou entre a líder comunista espanhola Dolores Ibarruri, La Pasionaria, e um representante do Partido Comunista dos EUA.
“Dada a natureza extremamente sensível de algumas das fontes de informação, solicita-se que o conteúdo desta comunicação seja tratado com o máximo de segurança e que seu uso seja restrito ao estritamente necessário”, dizia uma nota que acompanhava o relatório, endereçada a Allen W. Dulles, então diretor da CIA.
De acordo com o documento, Ibarruri declarou naquela reunião na capital russa que “as circunstâncias e condições atuais na Espanha são tais que, quando o PCE faz uma proposta, as pessoas ouvem e acreditam nos comunistas porque os comunistas são conhecidos como um partido de luta. Por outro lado, se o Partido Socialista tentasse fazer propostas semelhantes, as pessoas as rejeitariam porque desconfiariam dos motivos dos socialistas”.
Preocupação com o CCOO
O rígido controle sobre as atividades dos comunistas espanhóis continuou pelo menos até os primeiros anos da Transição, já sob governos democráticos em Madri. Isso é demonstrado por um relatório produzido em dezembro de 1953 pelo Escritório de Análise Europeia da CIA sobre “o papel comunista no sindicalismo no sul da Europa”.
Os autores do documento observaram que “os sindicatos na Espanha sob Franco” eram caracterizados como organizações “patrocinadas” pela ditadura. Nesse sentido, eles destacam que, “ao permitir que apenas grupos oficialmente aprovados participassem de sindicatos”, o regime de Franco “buscou controlar o trabalho e destruir a capacidade dos comunistas e de outros oponentes de influenciar as políticas trabalhistas”.
O relatório prossegue observando que “as organizações comunistas formaram clandestinamente Comisiones Obreras (CCOO) dentro dos sindicatos para servir como centros de treinamento e recrutamento”. “A reputação adquirida pelos comunistas como apoiadores das reivindicações dos trabalhadores lhes foi muito útil após o estabelecimento de sindicatos livres em 1977”, acrescenta o documento.
De acordo com seus dados, a CIA afirmou, na época, que os “pró-soviéticos” constituíam “minorias” tanto no PCE quanto no CCOO, mas eram “proporcionalmente mais fortes” no centro sindical. Esse documento, que descreve as atividades do sindicato, contém vários parágrafos censurados.
Fonte: https://www.publico.es/politica/cia-espio-anarquistas-comunistas-espanoles-franquismo.html
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Neblina? ou vidraça
que o quente alento da gente,
que olha a rua, embaça?
Guilherme de Almeida
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!