Nos é ensinado na escola que a civilização nasceu na Mesopotâmia há seis mil anos atrás. Na “terra entre os rios”, onde hoje se encontra o atual Iraque, antigamente a Babilônia, surgiam os primeiros regimentos armados, supostamente escolhidos pelos deuses para serem reis e dominarem as primeiras cidades do mundo.
Os séculos se passaram e com eles multiplicaram os reis e as cidades. Da Mesopotâmia nasceria a Babilônia e a forma de governo mais popular da história da humanidade: o Imperialismo. A receita era simples, um rei dominava outro e a cidade perdedora cedia recursos e soldados para a cidade vencedora. No processo de dominação cidades e povos inteiros se submetiam aos desejos do grande rei imperador. Ao lado da Babilônia surgiam os impérios do Egito e da Assíria, os três reinos formavam um triângulo em cujo centro estava a terra de Canaã, hoje chamada de Palestina.
Do ponto de vista dos grandes impérios da região essa encruzilhada era estratégica e seu povo sempre foi uma pedra no sapato dos reis.
A terra hoje chamada de Palestina já foi dominada por egípcios, babilônicos, persas, gregos, romanos, bizantinos, vários impérios muçulmanos, otomanos e ingleses, dentre outros. Para esses Estados o território da Palestina foi valioso por sua condição geográfica, os povos que ali habitaram eram peças no quebra-cabeças dos poderes imperiais.
Chamada de sagrada por inúmeros povos, a Palestina marcou a história por ser objeto de cobiça e por habitar o imaginário e a fantasia de diversos religiosos, das mais variadas tradições e crenças. No meio desses povos estão os judeus, um grupo que traça suas raízes a partir da terra de Canaã há pelo menos 2500 anos.
Os judeus, antigos habitantes da Palestina, se tornaram um povo desligado de qualquer território, desde o início da era cristã e, apesar de muitos terem vivido na assim chamada terra sagrada, a maioria se dispersou ao redor do mundo, principalmente Europa, Oriente Médio e Magreb.
Tendo sido perseguidos ao longo dos séculos, os judeus sonhavam em fazer da Palestina novamente sua morada e, no século 19, esse sonho tomou a forma da nova moda política que varria o continente europeu e, por força da dominação européia, iria se tornar a norma no mundo inteiro. Estamos falando da instituição dos Estados-Nacionais.
É importante lembrar que a maior parte da humanidade não vivia sob a tutela absoluta de nenhum Estado anteriormente ao século 19. Mesmo quando submetida a algum dignitário, a regra era de uma população estar sujeita a um regime imperialista, com uma nação oprimindo outra, convivendo com a existência de Estados imperiais débeis e informais, mesmo nos grandes territórios civilizados da Europa, Oriente Médio, Continente Indiano e no Leste Asiático. Os povos de diversas nações sempre viveram juntos, misturados em territórios fracamente controlados por Estados de situação, com povos em constante movimentação migratória, imiscuídos em guerras genocidas, trocas culturais e acordos comerciais.
O Estado-Nação é um delírio gerado na Europa fruto de séculos de colonização e dominação levadas às últimas consequências, onde se imagina que um Povo e sua Terra seriam dois pólos de uma mesma entidade. O poder político, antes disputado a ferro e fogo entre as cidades e suas esferas de influência, passa a almejar estar cristalizado em fronteiras devidamente riscadas em um mapa. A partir daí um soberano — seja ele a côrte de um rei ou o parlamento de uma república burguesa — teria direitos supremos sobre os habitantes de dentro das fronteiras riscadas num papel. Esses habitantes seriam os nacionais de cada Estado, renunciariam qualquer pretensão de se identificarem como pertencentes a algum outro povo ou tradição e seriam todos colocados no mesmo balaio, fazendo nascer a ficção de que para cada Estado deve existir somente uma Nação. A ficção seria sedimentada nos corações e mentes das pessoas através do Nacionalismo, ou Patriotismo (igualando a Pátria à figura do grande Patriarca, dono da terra e do sangue ancestral).
No caso do disperso povo judeu, esse delírio Estado-Nacional recebeu o nome de Sionismo. Um movimento que esperava formar um Estado na encruzilhada Palestina, remetendo a lendas e histórias que povoavam o coração dos judeus pelo mundo afora.
Antes do Sionismo e do delírio imperialista do Estado-Nação, os judeus que desejavam viver perto de seus lugares santos se mudavam para o território palestino e lá faziam morada ao lado de outros povos que ali viviam, principalmente árabes palestinos. Contudo, no delírio Sionista, aquela terra estaria reservada por Deus à criação de um Estado-Nacional judeu.
Após o terrível episódio do Holocausto, perpetrado pelo delírio Estado-Nacional alemão conhecido como Nazismo, os ventos políticos de um mundo dominado pela Europa se tornaram favoráveis ao Sionismo e esse movimento foi capaz de tomar de assalto parte do território palestino. Se aproveitando, inclusive, dos judeus que já viviam ali, em paz com seus vizinhos árabes.
Como sabemos, a humanidade hoje está imersa na fantasia Estado-Nacional, mas suas raízes vêm principalmente da ancestral utopia Estatal. Não nos enganemos, os Estados têm sua própria lógica e razão de ser.
Em nome de seu “povo”, os seres nacionais israelenses se agregam há mais de 70 anos com o objetivo de consolidar o domínio estatal e, portanto, militar, do território palestino. Na lógica da sobrevivência estatal posições estratégicas devem ser ocupadas e o controle dos fluxos sobre essas posições devem ser assegurados.
No cálculo Estatal não há espaço para erros e a paz significa supremacia militar e total domínio ideológica de seus nacionais, que devem ser obrigatoriamente patriotas (no Estado-Nação não há pecado maior do que ser anti patriota). No delírio Sionista a consolidação do Estado passa, necessariamente, ao aniquilamento do povo não-judeu da Palestina.
Nesse momento em que mais uma vez o Estado de Israel se lança na tática de brutalização de palestinos, é importante lembrar que israelenses e demais palestinos ocupam o mesmo espaço. Não existe a menor possibilidade histórica de populações inteiras desaparecerem do território. A cada dia que passa, o Estado de Israel nada mais faz do que cavar sua própria cova, empurrando famílias para o desespero e criando as condições para uma guerra eterna com inimigos cada vez mais ferozes e obstinados, dentro e fora do território palestino.
Assim como o delírio Estado-Nacional não funcionou para a Alemanha Nazista, também não funcionará para o Israel Sionista.
Israel é hoje a demonstração cabal da catástrofe humana chamada Estado. Esse edifício criado para sustentar hierarquias econômicas e políticas entre habitantes de um mesmo território, a fim de preservar os privilégios de alguns às custas do sofrimento de muitos.
É fundamental nesse momento lutar contra o delírio nacionalista, pelo imediato cessar fogo na região e pela construção de uma organização política que integre todos os povos habitantes da Palestina. Sem separação artificial entre judeus e árabes, ou seja, pelo fim do Apartheid israelense e pela coexistência pacífica e humana na região. Pela abolição do Estado policial, sem vigilância, sem muro, sem deslocamentos forçados e, principalmente, sem a inadmissível agressão militar que tira a vida de idosos e crianças.
Isaque Oiticica
agência de notícias anarquistas-ana
Chove mansinho.
Na borda do precipício
uma moça cega.
Manuela Miga
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!