Desde o início, parece óbvio que seria impossível reduzir as práticas eco-anarquistas ao que pode ser escrito e registrado para qualquer pessoa ler, da mesma forma que é impossível para qualquer indivíduo visitar um rio e escrever tudo o que há nele. Dessa forma, mesmo como uma “breve introdução”, este texto não consegue fazer justiça ao assunto em questão. Também é importante afirmar que não existe um monólogo coletivo ideológico totalizante, ao qual todas as anarquias ecológicas possam ser reduzidas. As tentativas de reduzir as práxis anarquistas ecológicas a monólogos menores, como anarcoprimitivismo, anarquia verde, anarquismo indígena, anarquismo decolonial, veganarquismo, ecologia social, anarquismo pagão, anarco-naturismo, anarco-niilismo, anarquia primal e qualquer outro que eu tenha deixado de mencionar, podem muito bem refletir muitas tendências gerais semelhantes que fazem parte da maioria das práxis; e, da mesma forma, nenhuma delas explica a singularidade e as diferenças individuais de cada habitat e da vida de cada ser vivo.
Assim como a maioria dos animais que vivem nos oceanos do mundo pode nadar e a maioria dos animais que vivem nos bosques e florestas do mundo pode caminhar, embora sejam totalmente diferentes e não assimilados em um grande monólogo, sendo a diversidade e a diferença uma característica fundamental dos habitats saudáveis, não há uma práxis ecoanarquista totalizante, nenhum “ismo” redutor e singularizante que tenha de fato reduzido as práxis ao verdadeiro caminho único – embora certamente existam indivíduos que pretendem ter encontrado esse caminho e sustentam que todos devem se conformar à sua ideologia. Essa afirmação da diversidade de anarquias ecológicas coexistentes é uma afirmação que faço de forma totalmente positiva, ao mesmo tempo em que mantenho um pessimismo inevitável em relação à minha capacidade (ou de qualquer outra pessoa) de afirmar adequadamente “tudo isso” – só posso falhar aqui, e isso é maravilhoso.
Uma das semelhanças habituais que observei nas praxes anarquistas ecológicas é a revolta e a rebelião contra a expansão colonialista beligerante do império da agricultura totalitária, embora isso certamente difira em intensidade entre os indivíduos, suas perspectivas e praxes. Essa vontade de resistir ao totalitarismo e ao império é algo que vejo nos esforços de rewilding, cull-resistance, liberação da terra, liberação dos animais e preservação do habitat e das culturas indígenas. Esses esforços diferem totalmente entre indivíduos e lugares, com base nas diferenças geográficas e nas diferenças de vida dos indivíduos.
Talvez o assunto mais divisivo nas conversas eco-anarquistas seja a questão da tecnologia, e sinto afirmar que abordo esse assunto com uma orientação profundamente tecno-pessimista, embora menos purista do que muitos daqueles que se autodenominam anarcoprimitivistas, com os quais tenho me encontrado. Observo que aqueles que se sentem otimistas em relação à progressão tecnológica e ao que a expansão da tecnosfera tem feito, geralmente estão mais inclinados à socioecologia e às ideologias socialistas que buscam conservar as estruturas e práticas industriais dessa cultura por meio de tecnologias “sustentáveis” e “ecologicamente corretas”. Para mim e para o que parece ser a maioria dos indivíduos tecno-pessimistas que encontrei, a revolta contra a tecnologia parece estar enraizada no fato de reconhecê-la como despótica, mediadora e ecologicamente violenta.
Outra semelhança de hábitos e habitats que noto é a das práticas eco-anarquistas, que se preocupam mais com a saúde e o bem-estar, pessoal, relacional, ambiental, corporal e mental, do que com a propriedade ou com as tentativas de construir socialmente futuros para os outros viverem. Essas orientações em relação à saúde e ao bem-estar, em minha experiência, vêm de perspectivas que cuidam da carne, com sentimentos de amor pela vida e pelos vivos. Refletindo sobre isso, percebo dois grandes desafios: a dificuldade de qualquer indivíduo superar as doenças da civilização e, ao mesmo tempo, viver sem se separar do Leviatã, sendo essa separação ecologicamente impossível; e a dificuldade de qualquer medicina-práxis sobreviver sem ser, de certa forma, assimilada pela indústria e pela máquina do trabalho.
O último hábito das práxis eco-anarquistas que noto, que em grande parte tem a sensação de tentar curar, é o da ecdise. O que quero dizer com ecdise é o desprendimento da pele que contém as toxinas dessa cultura, tornando-nos os animais que de fato somos e uma experiência de ser feral; como viver entre a cidade/império/colonialismo/estatismo/civilização/Leviatã e o habitat selvagem/anarquia/tribo; que não são ecologicamente separados, embora sejam presenças muito diferentes dentro do corpo deste mundo. Talvez em sua forma mais simples, isso pode ser experimentado na nudez.
Como esta breve introdução é e só poderia ser um fracasso, sugiro que qualquer pessoa que queira uma introdução melhor às eco-anarquias vá até onde crescem as ervas daninhas e viva a vida selvagem.
Julian Langer
Fonte: https://www.freespiritanarchist.com/post/a-brief-introduction-to-ecological-anarchies
Tradução > Contrafatual
agência de notícias anarquistas-ana
Brisa de outono
Como flechas de sombras
Os pássaros voltam.
Jorge Lescano
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!