O perdão como instrumento de controle do colonialismo

Por Reté Poty

Desde a invasão em 1500 nós indígenas das aldeias e periferias de Pindoretà estamos sofrendo com a colonização.

Muitos de nós não somos considerados humanos, mas sim sub-humanos, improdutivos, incivilizados. Somos considerados indignos de respeito por aqueles que exploram a Terra, com a conivência dos não indígenas que dão as mãos para nós apenas para garantir quatro ou mais anos no poder através da democracia representativa (eleições).

O fato é que apenas indígenas que acessam algum tipo de poder:(cargos políticos) conseguem garantir direitos, enquanto outra parte não. Isso tudo acaba hierarquizando quem vai acessar políticas públicas e quem não vai acessar nada.

Muitos indígenas por necessidade fazem o pacto, votam e aceitam cargos, já outros entram para a disputa eleitoral, por consequência um verdadeiro apagamento ocorre nas aldeias quilombos e periferias porque por mais boa vontade que se tenha políticas públicas não chegam a todos nós, e depois ninguém garante que esses indígenas que fizeram o “pacto” construirão nossa autonomia, ou criarão algo sólido que não se desfaz como por exemplo um auto governo como buscam muitos povos por Abya Yala, até porque a politica não indígena abre brechas demais para a corrupção e serve apenas aos interesses econômicos da nação.

Mas digo isso tudo para mostrar como o PERDÃO tem sido uma ferramenta de controle desde a invasão para nos sensibilizar e manipular, e que devemos ficar atentos as “migalhas” que o Estado nos oferece, quando nos pedem esse perdão cristão, com tentativas apenas verbais de fazer reparos que não são efetivos, e que não vão corrigir os crimes cometidos pelo estado, pois tudo que tem acontecido não passa de um teatro com o intuito de comover parte dos indígenas e outra parte de eleitores, do que propriamente garantir direitos a população originária.

O PECADO, a CULPA e o MEDO vieram através das caravelas, e é evidente que nada pode apagar que 60 milhões de pessoas indígenas morreram a partir da invasão e a partir do projeto da colonização, e reitero que esse projeto continua de pé, atualmente alternando entre a esquerda ou à direita f4c1sta através da democracia representativa.

Assim como o pecado, a culpa e o medo são utilizados pela religião institucionalizada, dentre outras formas e métodos colonizadores.

As nossas necessidades quanto indígenas estão acima do que a política não indígena e branca pode nos oferecer.

E perdão nenhum Demarca Terras Indígenas, peço mais efetividade e menos conciliação pelo bem de todos nós Povos Originários de Pindoretà.

agência de notícias anarquistas-ana

criança traquina
saltita atrás dos pássaros
natureza em flor.

Helena Monteiro