A Ilusão da Divisão: Esquerda e Direita no Capitalismo Brasileiro

A dicotomia esquerda versus direita, tão presente no debate político burguês brasileiro, frequentemente mascara uma realidade mais complexa e interligada. A afirmação de que no atual sistema capitalista “democrático” brasileiro, ambos os espectros ideológicos acabam no fim por convergir, especialmente na hora de apoiar determinados candidatos, encontra respaldo em diversos fatores. Vejamos alguns:

Nas eleições ocorridas neste ano de 2024, dos 85 candidatos no país que tinham no seu palanque tanto o PT (Partido dos Trabalhadores), do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto o PL (Partido Liberal), do ex-presidente Jair Bolsonaro, 58 conseguiram se eleger prefeitos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Somente este fato aponta que as supostas divergências entre ambos os espectros políticos não são tão grandes assim quando o tema é a disputa pelo poder do Estado. Apesar de PARECEREM inimigos, Lula e Bolsonaro formam alianças sem qualquer pudor para alcançar dividendos políticos mútuos.

Registre-se que o sistema político brasileiro, marcado por uma forte personalização da política e por um sistema partidário fragmentado, favorece a formação de alianças pragmáticas, nas quais as ideologias de fundo sempre são secundárias em relação aos interesses imediatos. Essa dinâmica permite que tanto partidos de “esquerda” quanto de direita se unam em torno de candidaturas que prometam benefícios concretos a seus partidos, independentemente da orientação ideológica declarada.

Ademais, a própria dinâmica do capitalismo, com sua busca incessante por acumulação de capital e sua tendência a concentrar riqueza, exerce pressão sobre os partidos políticos, independentemente de sua posição no espectro ideológico. A necessidade de atrair investimentos e garantir a estabilidade econômica muitas vezes leva tanto a “esquerda” quanto a direita a adotarem políticas econômicas convergentes, com ênfase na redução de gastos públicos e na flexibilização das leis trabalhistas. Assim, no contexto brasileiro, onde o oportunismo político é regra suprema, as fronteiras entre esses espectros ideológicos se tornam ainda mais fluidas, permitindo que partidos e candidatos se apropriem de discursos e propostas que transcendem as divisões tradicionais entre esquerda e direita.

Os fatos acima citados deixam claro para nós, explorados e oprimidos, que o caminho para a liberdade e justiça não passa pela disputa do poder do Estado, braço simbiótico do Capital.  Ao contrário, entender que todos os partidos políticos, no discurso e/ou na prática cotidiana, são defensores do Estado e do Capitalismo e que, portanto, devem ser enfrentados, combatidos e repelidos do tecido social é um grande passo na longa jornada da emancipação humana.

Liberto Herrera

agência de notícias anarquistas-ana

Mamonas estalam.
Os cachos da acácia
Parecem imóveis.

Paulo Franchetti

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