Estamos em um momento decisivo para o nosso futuro político. Chegou a hora de decidir e tomar uma posição; não é mais suficiente nadar e depois guardar as roupas. É urgente porque disso dependerá o que seremos nas próximas décadas, e é nosso dever interromper essa deriva histérica que nos relega a seres passivos, espectadores das decisões em que nossas vidas estão em jogo, que nos condena a ser explorados sem fim, que nos desumaniza e nos rouba a vida.
Temos de escolher uma de duas opções: o Estado ou o povo. E, por mais que a mídia ou aqueles cujos salários dependem dela possam nos martelar, não se trata de uma dialética entre pagar ou não pagar impostos, não se trata de saber se estes ou aqueles são incompetentes, pois todos são – eles mesmos reconhecem sua negligência ao entregar a administração de empresas públicas, para as quais foram eleitos, a empresas privadas que eles reconhecem que administram melhor -, ou que o que é necessário é uma mão firme e uma liderança clara, como propõem a ultradireita e a esquerda radical. O que importa é quem elegemos para tomar decisões e por que e como essas decisões são tomadas, porque quando as decisões precisam ser tomadas em uma emergência – mas também em questões econômicas ou educacionais, por exemplo – não deveríamos ter que recorrer a pessoas/personagens que não sabem nada sobre o assunto, o que precisamos é que especialistas que sabem sobre nossos objetivos, que conhecemos e reconhecemos, assumam a liderança.
Precisamos dar um passo à frente e demitir todos os fantoches que tomaram conta de nossas decisões, mandá-los para lugares onde não possam causar danos e repensar tudo desde o início. E o começo não é outro senão os seres humanos, as pessoas que habitam o mundo ao lado de outras espécies animais e vegetais, mas também ao lado de rios e montanhas, ao lado de pomares e campos de grãos e mares e nuvens. Começar a partir daí, do básico da existência: comida, moradia, roupas, amor… e também poesia, filosofia, arte, ciência… e construir um sistema que valorize o outro, que enfatize a interdependência e o apoio mútuo (solidariedade, se você quiser usar uma palavra menos politizada), a diversão e o prazer. Vamos criar uma sociedade que nos faça felizes, onde haja tempo para brincar, para o desenvolvimento pessoal e também, é claro, para o trabalho como algo necessário para manter a vida.
Uma vez que tenhamos pensado nisso e colocado em preto e branco, teremos que ver como nos organizaremos, mas nada de comissões de charlatães ou vendedores ambulantes pagos, nada de recriar o Estado de uma forma mais humana ou de trabalhadores para trabalhadores. Vamos pensar nas pessoas mais válidas ao nosso redor e vamos dar a elas a responsabilidade de serem nossos porta-vozes, evitando que rompam com sua comunidade, que se desconectem para se tornarem mais profissionais, e vamos acompanhá-las contribuindo com nosso conhecimento – que as empresas têm conseguido explorar tão bem. Ninguém poderia ser responsável por nada porque todos nós seríamos responsáveis e, se algo desse errado, teríamos a capacidade de corrigi-lo e, juntos, aprender com ele. Seria difícil fazermos algo pior.
O capitalismo teve séculos de tentativas e erros, várias guerras mundiais e conflitos permanentes, pilhagem e repressão, milhões de inocentes mortos, baseia-se em incentivar o que há de pior em cada ser humano, seu individualismo e egocentrismo, cada um por si e, em suma, chegar a esse ponto em que apenas alguns, cada vez menos, se beneficiam. Chegou a nossa hora, a hora dos outros, aqueles de nós que são mais e têm mãos e pernas e produzem e consomem e sem os quais esse sistema não funcionaria. Só precisamos romper o véu que foi colocado sobre nós para podermos ver claramente que há outras maneiras de nos organizarmos, um novo sistema criado à nossa imagem, no qual não haverá acumulação por poucos.
Vamos nos organizar em bairros, em ateneus, em centros sociais, em grupos habitacionais que lutam contra a gentrificação e a turistificação, em grupos feministas, em qualquer espaço que funcione horizontalmente e, se não houver nenhum, vamos criá-los. Não deixemos os lugares para serem reconstruídos, organizemo-nos também em nossos locais de trabalho em sindicatos combativos e de classe. Vamos criar nossos próprios espaços para mostrar que não queremos os deles, vamos tornar o Estado desnecessário. O tempo está se esgotando e está se tornando cada vez mais urgente.
Será hoje ou amanhã, mas será. Tenho a sensação de que será com sofrimento, mas não precisa ser, é fácil se pensarmos nisso. Hoje é melhor do que amanhã.
Fonte: https://www.elsaltodiario.com/alkimia/solo-pueblo-salva-al-pueblo-reflexiones-torno-una-catastrofe
Tradução > Liberto
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Maria Fátima A. V. da Silva
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!