Nosso Anarquismo

Nosso movimento é frequentemente criticado por sua falta de conteúdo ideológico e essa objeção talvez não seja sem fundamento. No entanto, somos vítimas de uma falta de entendimento e má interpretação.

Se compararmos nosso movimento com aqueles de outros países, acredito sinceramente que suas “teorias” não são brilhantes. Mas se o proletariado espanhol não é educado no nível europeu, ele tem, para equilibrar as coisas, uma riqueza de percepção e uma intuição social muito superior. Nunca supus ou aceitei que o problema do aprimoramento intelectual pode ser resolvido acumulando mentalmente um grande número de fórmulas teóricas ou conceitos filosóficos que nunca serão levados a um plano prático. As teorias mais bonitas só têm valor se estiverem enraizadas em experiências práticas de vida e se influenciarem essas experiências de forma inovadora. É assim que operamos, e é isso que nos permite esperar muito do nosso movimento.

Não pretendo, longe disso, que a mediocridade intelectual seja uma vantagem. Pelo contrário, gostaria que todo proletário, todo camarada, esgotasse todas as fontes de aprendizado. Como não é o caso, devemos então agir, levando em conta as possibilidades reais de cada pessoa.

O anarquismo passou por várias fases durante sua história. Em seu período embrionário, era o ideal de uma elite, acessível apenas a algumas almas cultas que o usavam como uma crítica severa ao regime sob o qual viviam. Nossos predecessores não se saíram tão mal, pois é por causa deles que estamos hoje onde estamos. Mas camaradas, o tempo da crítica já passou. Estamos em processo de construção, e para construir, também é necessária energia muscular, talvez mais do que a agilidade mental necessária para exercer o julgamento. Concordo que não se pode construir sem saber de antemão o que se quer fazer. Mas acho que o proletariado espanhol aprendeu mais com as experiências práticas que os anarquistas os fizeram viver, do que com as publicações publicadas por estes últimos, que os primeiros não leram.

Deve-se tentar aumentar, tanto quanto possível, o conteúdo teórico de todas as nossas atividades, mas sem o ‘doutrinalismo seco e enrugado’ que poderia destruir, em parte, a grande ação construtiva que nossos camaradas estão levando adiante na luta implacável entre os que têm e os que não têm. Nosso povo defende a ação em marcha. É indo adiante que eles ultrapassam. Não os segure, mesmo para ensinar-lhes ‘as mais belas teorias’.

Título: Nosso Anarquismo. Autor: Francisco Ascaso. Data: 1937. Notas: Publicado pelo Comitê Peninsular da FAI em 1937.

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é só um instante:
o beija-flor no ar, sugando
flor de laranjeira

Otávio Coral

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