Crime e Estado: amigos íntimos

A notícia divulgada pela mídia burguesa brasileira de que policiais estão sendo investigados por envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital) evidencia uma verdade frequentemente mascarada: o vínculo profundo e estrutural entre o Estado, o crime organizado e o capitalismo.

A polícia, que oficialmente deveria servir à “segurança pública”, na prática, atua como um braço armado de proteção aos interesses das elites, enquanto reproduz as dinâmicas de violência e corrupção que caracterizam o sistema capitalista. A relação promíscua entre agentes do Estado e organizações criminosas não é uma aberração ou exceção; é, sim, uma manifestação do funcionamento sistêmico de um modelo econômico e político que legitima e se alimenta do crime.

No capitalismo, a linha entre a “lei” e o “crime” é constantemente borrada. O mesmo sistema que criminaliza a pobreza e marginaliza trabalhadores precarizados, principalmente os pretos, sustenta estruturas que permitem a lavagem de dinheiro, a corrupção e a exploração violenta, seja por meio de organizações criminosas como o PCC, seja por corporações que exploram mão de obra de forma análoga à escravidão. A polícia, longe de ser uma entidade neutra, funciona como agente desse ciclo, seja pela repressão aos pobres, seja pela aliança com as máfias para lucrar com o controle territorial e econômico. Assim, o crime não é um desvio, mas um elemento intrínseco do próprio sistema que se organiza para concentrar poder e riquezas.

O Estado, enquanto sustentáculo do capitalismo, também é cúmplice nesse cenário. A legalidade estatal é utilizada para proteger privilégios e interesses corporativos, enquanto a ilegalidade, frequentemente atribuída ao crime organizado, opera como uma extensão das mesmas dinâmicas de exploração. Não é por acaso que esquemas de corrupção, como os relatados na operação contra policiais suspeitos de envolvimento com o PCC, envolvam diretamente aqueles que deveriam “combater” o crime. O Estado e as máfias são, de fato, duas faces de uma mesma moeda, promovendo e perpetuando a desigualdade e a violência de maneiras complementares.

A denúncia dessa ligação estrutural entre o Estado, o crime e o capitalismo é essencial para entender que a repressão e as operações policiais não têm como objetivo eliminar o crime, mas reorganizar suas hierarquias e fluxos de poder. Qualquer solução que busque superar essas contradições não virá do próprio aparato estatal, mas da construção de alternativas coletivas e anticapitalistas, baseadas na autogestão, na solidariedade e na luta contra todas as formas de opressão. Sem romper com o capitalismo e seu braço armado, o Estado, continuaremos reféns de um sistema que normaliza o crime como parte de sua lógica interna.

Liberto Herrera.

agência de notícias anarquistas-ana

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