Os nove trabalhadores da editora sediada em Barcelona reduziram sua jornada de trabalho para 28 horas sem alterar seus salários. Uma medida que visa promover o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e uma nova cultura de produção.
Por Àlex Romaguera | 06/12/2024
Desde outubro do ano passado, os funcionários da editora Descontrol, sediada em Barcelona, estão trabalhando 28 horas por semana. Isso foi acordado após um longo debate que chegou ao ápice há alguns meses, quando eles receberam um pequeno subsídio do Ministério da Indústria para implementar essa medida.
Ao concentrar o trabalho em sete horas durante quatro dias por semana, eles sentem que têm mais descanso e podem administrar melhor suas necessidades diárias, sem afetar o desempenho da empresa. Pelo contrário: longe de reduzir a produção, eles criaram um sistema rotativo em que as máquinas da prensa, e o atendimento ao público, são mantidos os cinco dias da semana.
Cinco anos de pensamento crítico
A Descontrol Editorial i Imprenta SCCL nasceu em 2019, fruto da confluência de pessoas do mundo editorial, do design e da impressão digital. Essa equipe começou a estabelecer relações com diferentes livrarias, distribuidores e outros setores da cultura independente. Não apenas na Catalunha; seu catálogo de ensaios e ficção já chega a centenas de pontos de venda na Espanha.
“Nós nos definimos como um guarda-chuva para aqueles autores que não têm voz na grande comercialização do pensamento e da cultura”, explica a cooperativa, convencida de que o projeto abriu uma brecha para promover a ‘socialização de ideias e práticas autônomas, anarquistas e revolucionárias, investigando as origens e o desenvolvimento das lutas contemporâneas’.
Apesar da dificuldade de sobreviver no mercado literário atual, os membros da Descontrol nunca quiseram perder os princípios cooperativos que emanam da economia social e solidária. Eles tomam decisões em assembleia, produzem seus livros com materiais ecologicamente corretos, procuram iniciativas semelhantes com as quais possam cooperar e, ao mesmo tempo, colocam as necessidades dos envolvidos na cadeia de produção no centro.
De acordo com essa abordagem, a empresa localizada no edifício 85 do bloco 11 de Can Batlló, o antigo local industrial em Sants convertido em uma colmeia cooperativa, decidiu compactar sua atividade para reduzir a carga de trabalho de seus funcionários.
Uma mudança de paradigma
A redução da jornada de trabalho não foi uma decisão tomada de improviso. “Nos debates internos que tivemos sobre condições de trabalho, sempre falamos em reduzir a jornada de trabalho, porque somos pessoas que querem fazer outras atividades”, diz um de seus gerentes.
Mesmo assim, foi decisiva a chamada de propostas que o Ministério da Indústria abriu há dois anos para subsidiar as empresas que aspirassem à redução. “Estava de acordo com o imaginário do projeto, além do fato de incluir um contrato, que também nos interessava para compensar a redução da jornada de trabalho”, acrescenta.
O subsídio do Ministério demorou mais do que o esperado, quando a Descontrol já havia investido parte de seus recursos na renovação do maquinário, de modo que os 25.000 euros que eles finalmente receberam em outubro os ajudaram a ser mais ambiciosos do que o esperado.
“Se não tivéssemos feito o corte e, portanto, ficado de fora desse esquema piloto, teríamos aplicado a redução de qualquer forma. Mas, com esse dinheiro, reduzimos ainda mais a jornada de trabalho, já que das 32 horas que havíamos proposto, concordamos em fazer 28, o equivalente a sete horas por dia durante quatro dias”, comentam.
Uma redução drástica com a qual os nove funcionários estão muito satisfeitos, pois, por meio de um sistema de revezamento compensatório, a empresa não obriga a empresa a fechar nenhum dia. “Uma semana é segunda-feira, outra semana é terça-feira e assim por diante para cada um de nós. Concordamos em fazer dessa forma para evitar que alguém sempre tenha que trabalhar às segundas ou sextas-feiras”, explicam, o que lhes permite ampliar a produtividade das máquinas, que não param de trabalhar cinco dias por semana.
Rumo à eficiência e ao decrescimento
Na Descontrol, que passou de cinco para nove funcionários, esse esquema de trabalho está associado a uma maneira diferente de conceber a produção e outras áreas ligadas à atividade editorial. Assim, por exemplo, em termos de sua presença em feiras e conferências literárias, eles decidiram selecionar as melhores para participar e, caso não possam comparecer, procurar coletivos locais dispostos a expor seus livros. “No final, trata-se de fazer menos, mas melhor”, diz um dos funcionários.
Além disso, em termos de produção de livros, eles concordaram há algum tempo em publicar menos livros do que faziam quando criaram a empresa, a ponto de terem passado de 25 títulos em 2021 para uma média de 12 a 15. “Certamente poderíamos publicar mais, mas não queremos seguir a dinâmica do mercado capitalista, baseada em um sistema de arrasto, que consiste em lançar muitos na esperança de que um cubra o resto”. Diante dessa lógica, sua receita vai na direção oposta: “Não queremos jogar recursos fora, mas sim cuidar de cada obra e garantir que todas tenham um significado”.
Impressionados com a expectativa gerada por sua última medida, a Descontrol está iniciando uma nova etapa na qual o objetivo é demonstrar, quando fizerem um balanço daqui a alguns anos, que a redução da semana de trabalho foi benéfica em todos os sentidos. E ainda mais em seu caso, porque, ao contrário de outras empresas, ele tem a vantagem de ter sua própria gráfica. “Sabemos que é mais fácil investir em maquinário do que na contratação de novos funcionários ou em outros aspectos, o que nos facilita ter um nível mais alto de eficiência”, afirma.
No entanto, só o tempo dirá se essa aposta, que os movimentos sociais vêm reivindicando como um pilar da lógica de decrescimento, será ótima e satisfatória. Por enquanto, tudo indica que a editora de Sants tem tudo sob controle, não apenas para garantir sua sustentabilidade ao longo do tempo, mas também para inspirar muitas outras cooperativas e empresas a favor de trabalhar menos para trabalhar melhor.
Tradução > Liberto
agência de notícias anarquistas-ana
Amanhece em flor
e anoitece pelo chão
— efêmero ipê
Marba Furtado
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!