Repressão contra antifascistas na Áustria

Buscas armadas e prisões em Graz após protesto contra baile de associações estudantis de direita

Rob Latchford ~

A polícia de Graz, na Áustria, prendeu sete antifascistas nas últimas duas semanas por ordem do Ministério Público. A operação começou na madrugada de 14 de março, quando cerca de 30 policiais fortemente armados, incluindo membros da unidade especial Cobra, invadiram um apartamento, apontaram armas para os moradores e obrigaram uma mulher seminua a deitar no chão. Celulares e roupas foram confiscados.

A polícia procurava especificamente pessoas envolvidas na organização de uma ação contra o tradicional Baile Acadêmico. O evento reúne associações estudantis (“Burschenschafts”) de perfil conservador ou de extrema-direita. Algumas dessas entidades defendem a unificação da Áustria com a Alemanha e a restauração do Reich Alemão, o que é explicitamente proibido pela constituição austríaca e foi uma das condições impostas para o fim da ocupação aliada após a Segunda Guerra Mundial.

Todo mês de fevereiro, as Burschenschafts celebram o Baile Acadêmico num edifício na praça central de Graz, sob proteção da polícia austríaca, enquanto manifestantes protestam nas ruas. A repressão recente veio após um episódio, no mínimo, estranho: um homem de 60 anos, membro de uma Burschenschaft, alegou ter tido o chapéu roubado e ter sido empurrado ao chão. Nenhum chapéu foi encontrado, e tudo indica que o sujeito talvez estivesse bêbado.

Mesmo assim, a polícia austríaca indiciou ao menos dois dos antifascistas detidos por “roubo agravado” associado a uma “organização criminosa”, acusação que pode levar a até 15 anos de prisão. Isso apesar de a definição legal de roubo agravado exigir intenção de enriquecimento, o que claramente não se aplica.

O advogado de defesa, Florian Dablander, vê a ação como uma “criminalização do antifascismo”. Com o uso da acusação de “organização criminosa”, uma tipificação normalmente usada contra o crime organizado, as autoridades podem aplicar medidas especiais de vigilância e expandir as investigações para os círculos dos suspeitos.

Essa ampliação pode ser justamente o objetivo da repressão, suspeita Dablander. As Burschenschafts são um pilar do cenário de direita na Áustria. Mais de 30 políticos de alto escalão do partido FPÖ, que venceu as eleições deste ano, foram membros dessas associações. Na Estíria, estado onde fica Graz, o governador também é do FPÖ. “É preciso perguntar se certos grupos internos não se formaram dentro do próprio aparato de segurança”, disse o advogado.

Os presos seguem sob custódia.

>> Foto em destaque: A Federação Anarquista Tcheca manifestou solidariedade com os detidos.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/04/07/crackdown-on-anti-fascists-in-austria/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Tudo levou o fogo –
Mas pelo menos as flores
Já haviam caído.

Tachibana Hokushi

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