Revolta na Indonésia: “Erupção coletiva de raiva”

Os protestos continuam militantes, já que líderes estudantis e sindicais não conseguem controlar as bases

Cristina Sykes ~

Manifestantes em toda a Indonésia iniciaram mais um dia de manifestações confrontadoras, com a revolta que tomou conta do país nos últimos dias sem dar sinais de abrandar. Inicialmente contra os aumentos acentuados de impostos e contra generosos salários e despesas dos membros do parlamento, os protestos tomaram rumo militante depois que imagens brutais mostraram a polícia paramilitar atropelando um motorista de entrega na manifestação de 28 de agosto.

No dia seguinte, rebeliões eclodiram espontaneamente na capital, Jacarta, e diversas outras cidades, incluindo Makassar, Bandung, Yogyakarta, Medan e Pontianak. Os manifestantes atacaram postos policiais, delegacias e a sede da Câmara de Representantes (DPR). No fim de semana, os protestos também se espalharam para as casas particulares de membros da DPR e sedes de partidos políticos.

Desde então, mais seis manifestantes foram mortos, pelo menos, mais de 700 foram presos e houve centenas de feridos. No entanto, também surgiram imagens da polícia recuando rapidamente diante dos projéteis da multidão que avançava. Embora o governo não tenha recorrido a cortes totais de energia, tem havido cortes do sinal de telefone nos locais das manifestações, e interrupções no acesso à internet e ao fluxo de informações digitais.

“As manifestações surgiram organicamente do próprio povo, não mais da consolidação de organizações estudantis formais e sindicatos”, afirmaram anarquistas indonésios em correspondência online. “Além disso, o apoio a ações violentas aumentou, enquanto, no passado, nós, anarquistas, éramos sempre bodes expiatórios e o público, a imprensa e o governo nos culpavam”. 

Desde 2019, a Indonésia tem passado por ondas de revoltas que vão e vêm. Os anarquistas sempre estiveram na vanguarda das batalhas de rua, além de serem influentes na organização da resistência a despejos e lutas por terras, movimentos estudantis e escolares, torcidas de futebol e na cena musical underground. 

A grande mídia noticiou que o presidente indonésio Prabowo Subianto cancelou viagem à China, enquanto partidos políticos concordam em cortar os benefícios dos legisladores, numa tentativa de acalmar a rebelião. 

“Não é só um protesto, é uma explosão coletiva de raiva contra o aumento dos impostos de habitação, a corrupção sem fim e os cães militares e policiais do Estado”, afirma outra declaração anarquista. “Normalmente, algum sindicato liberal ou partido da oposição controla as narrativas, mas não desta vez. Deixamos isso para os jovens. Só podemos estimulá-los a serem mais incontroláveis.” 

À medida que a situação continua a se agravar, os anarquistas arrecadam fundos¹ para estabelecer uma rede de abrigos seguros para manifestantes e ativistas da linha de frente em risco. Uma página mantida pelos amigos da Organise Magazine² reúne as últimas declarações dos manifestantes, além de artigos com informações sobre o contexto todo. 

[1] https://www.firefund.net/indonesiansafehousenetwork 

[2] https://safenet.or.id/2025/08/statement-on-digital-repression-during-the-august-2025-indonesian-protests/ Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/09/01/indonesia-uprising-a-collective-eruption-of-rage/ 

Tradução > CF Puig

 agência de notícias anarquistas-ana 

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 Liberto Herrera

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