
Tudo o que eu quero para o Natal é a abolição do Natal.
Não apenas neste ano, 5784, ou no chamado 2023, mas especialmente neste ano.
Não há como separar o Natal e seus símbolos da supremacia cristã branca, do cristofascismo e do sionismo cristão, entre outros nomes para uma lógica que remodelou brutalmente o mundo inteiro desde 1492.
É uma supremacia tão poderosa, tão hegemônica, que pode parecer invisível. Ela estrutura tudo e, ao mesmo tempo, faz-se passar pelo ar que “nós” respiramos, ou como se partes dela pudessem ser benignas ou usadas em solidariedade para promover “boa vontade e paz” entre aqueles que ela despojou, deslocou, assassinou/genocidou e apagou das terras às línguas, calendários, rituais, culturas e corpos. Nem mesmo os mortos encontram boa vontade ou paz.
É uma supremacia inseparável das histórias do colonialismo e do capitalismo, do antissemitismo e da islamofobia, do patriarcado e da heteronormatividade. E que, no total, talvez tenha massacrado bilhões de pessoas a mais do que qualquer outro regime, povos indígenas, povos negros e racializados, muçulmanos e judeus, pessoas queer e mulheres, e a contagem de mortos poderia continuar.
Talvez exista um “Natal” que pudesse ser redimido, muito depois da abolição da supremacia cristã e de sua sede fascista por sangue, muito depois da abolição da “temporada de festas” e de “Cristo nosso salvador”, e de Jesus como qualquer coisa além de um entre bilhões de meros mortais que foram e são forragem para o culto da morte de uma ordem social supremacista cristã branca; muito depois de nossa memória corporal ter esquecido as ondas de assassinato perpetradas pela supremacia cristã neste ano em Gaza e, em anos anteriores, contra outros, como quando nós, judeus, tínhamos de nos esconder no Natal para evitar um destino semelhante.
Estamos muito longe desse tempo, como o genocídio contra os palestinos neste momento deixa dolorosamente claro.
O que temos, em vez disso, são e devem ser nossos #RituaisDeResistência milenares, que a supremacia cristã tentou com tanto empenho roubar, perverter e esmagar; nossas formas de solidariedade para além e sem a necessidade de Estados e fronteiras, padres ou papas, onde quer que estejamos na diáspora; e nossos espíritos rebeldes, que não buscam salvador algum.
Cindy Milstein
Tradução > Contrafatual
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Esse texto é uma paulada nos ongueiros de plantão!
não...
Força aos compas da UAF! Com certeza vou apoiar. e convido aos demais compa tbm a fortalecer!
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