Depois de participar no Congresso da Associação de Estudos da América Latina, que se realizou em Chicago, EUA, em 20 de junho passado, ao descer no terminal 2 do Aeroporto Internacional, fui recebido pela Segurança de Estado que, através de agentes da Aduana, me despojaram de meu telefone celular e outros bens.
Por três horas fui retido no aeroporto, e todos os meus pertences foram minuciosamente revistados. O principal interesse foi colocado em todos os documentos que trazia comigo, e em todos os dispositivos eletrônicos que pudessem armazenar informações.
De tal maneira, sem saber seus conteúdos (e sem sequer perguntar), foram retidos além do meu telefone, com todos os meus contatos pessoais e notas privadas, dois discos rígidos externos com seus respectivos cabos, outros telefones celulares que trazia para presente a meu sobrinho e meu namorado, e uma memória SD com vídeos familiares.
Todos estes dispositivos foram catalogados como de uso, pelas mesmas autoridades aduaneiras, as quantidades não ultrapassavam os limites estabelecidos pela Resolução 320/2011 para determinar o caráter comercial das importações, e seus respectivos preços tampouco excediam o limite estabelecido na Lista de Valores publicado na Resolução 312/2011.
É evidente então que as mencionadas retenções são produto da arbitrariedade e o excessivo afã de controle a que somos submetidos os cubanos e cubanas com posturas autônomas e críticas da realidade sociopolítica do país.
A presença neste Terminal do Tenente Coronel Omar da Segurança do Estado, quem entrava e saia livremente e constantemente do lugar, revela que as motivações para este proceder foram claramente políticas.
Para efetuar as mencionadas retenções, não foi oferecida explicação alguma, mais que o número da Resolução aduaneira que outorga plenos poderes a estes agentes para reter o que eles queiram. O conteúdo e alcance de tal Resolução tampouco me foi explicado.
O que sim me foi explicado foram os motivos pelos quais que, além disso, confiscaram vários dos documentos que trazia comigo: “mancham a moral e costumes do país”, segundo a Ata de Retenção e Notificação. Los documentos em questão eram:
• O antológico livro “O anarquismo em Cuba”, do historiador Frank Fernández, que o autor enviava ao Instituto Cubano de Antropologia (como consta na dedicatória escrita com sua mão e letra), pois soube que nessa instituição existia um grupo de estudo do trabalho, e queria contribuir com suas investigações sobre o movimento dos trabalhadores e anarcossindicalista cubano.
• A Carta pública do opositor Manuel Cuesta Morúa à Associação de Estudos Latino americanos, a que tiveram acesso todos os cubanos que participaram este ano no congresso de LASA.
• Uma folha do periódico “El Nuevo Herald”, com parte de um artigo sobre a temática LGBTI na ilha, ilustrado com uma foto das Jornadas contra a homofobia, que anualmente organiza o Centro Nacional de Educação Sexual, sob a direção de Mariela Castro. Coincidentemente, nessa folha vinha também uma foto da blogueira opositora Yoani Sánchez, o que despertou de imediato o interesse do inspetor da Aduana, que catalogou o documento como propaganda anticubana, sem haver lido o texto escrito.
O único conteúdo que pode se referir à moral e costumes cubanos, é a foto da jornada contra a homofobia, onde várias pessoas com plumas coloridas, cantam em um cenário cubano. Tal postura homofóbica deve ser repudiada por nossa comunidade na ilha.
Denuncio este incidente e abuso de poder, ante a comunidade internacional, e saibam que exigirei a imediata devolução de meu telefone celular e o resto de meus pertences, legalmente obtidos.
Não sou a primeira pessoa que sofre este tipo de violência, e provavelmente não serei a última, enquanto a polícia política cubana continue tendo as prerrogativas e privilégios que têm.
Fonte: Observatório Crítico de Havana, Cuba
Tradução > Sol de Abril
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