[Reino Unido] Ozzy Osbourne: sincero, falho e inesquecível

Embora mais um arauto da desgraça do que um ideólogo político, os temas de guerra, saúde mental e decadência social foram uma constante em sua obra

Por Stanton Cree

Ozzy Osbourne, o “Príncipe das Trevas” do heavy metal, morreu aos 76 anos. Apesar de não ser explicitamente ideológico, muitas das canções de Ozzy ainda refletem a raiva, o medo e a desilusão da classe trabalhadora com as quais ele cresceu. Esses sentimentos ainda ressoam hoje, e seus comentários distópicos, apocalípticos ou morais continuam tão relevantes quanto antes.

Crescendo na Aston operária dos anos 1960, Ozzy e seus companheiros de banda no Black Sabbath contribuíram significativamente para um movimento que transformou a música. Emergindo da fumaça industrial infernal com demônios que o assombrariam por toda a carreira, sua reputação duvidosa como ladrão, desistente da escola e briguento o tornaram uma figura controversa desde o início. Canalizando a atmosfera de pobreza e fábricas de Birmingham, a voz distinta e lamentosa de Ozzy se ajustava perfeitamente à sua futura persona de profeta do fim dos tempos.

Embora não possa ser chamado de radical político, as primeiras letras do Black Sabbath conseguiram capturar a alienação e o horror da vida moderna ao criticar a guerra, a autoridade e o espetáculo da sociedade consumista de forma acessível e impactante. Esses temas não eram inéditos na época, mas se destacavam pelo uso de imagens sombrias e ocultistas para transmiti-los.

Liricamente, esses temas acompanharam Ozzy por toda sua carreira até seu último álbum. Outra questão constante da qual nunca se esquivou foram suas lutas com o abuso de substâncias e problemas de saúde mental. Dada a postura machista geralmente associada à cultura do rock e do metal, a disposição de Ozzy em expor suas emoções e vulnerabilidades é realmente admirável. Suas dificuldades, obviamente, não estão livres de elementos problemáticos, mas a sinceridade com que as aborda, sem glamourizá-las, é claramente um traço duradouro e cativante de sua personalidade.

É impossível falar sobre o legado complexo de Ozzy sem abordar sua relação com sua esposa, Sharon. O temperamento volátil de Ozzy levou-o a agredir membros de bandas, tanto no Sabbath quanto posteriormente, e é de conhecimento público que ele tentou estrangulá-la em 1989. Nenhum dos dois evitou falar publicamente sobre o comportamento abusivo de Ozzy, e ambos atribuíram isso ao uso de substâncias. Embora eu rejeite as tentativas de alguns de transformar isso numa história romântica de sofrimento, redenção e perdão, parece bastante óbvio que eles se amavam e enfrentaram isso juntos.

Apesar de sua imagem sombria, Ozzy sempre teve mais um estilo de “hippie apolítico”, pregando paz e amor à humanidade sem grandes reflexões. Seus sentimentos anti-guerra são louváveis, mas parecem mais alinhados com uma noção de pacifismo como princípio moral do que com uma compreensão das causas nacionalistas e imperialistas das guerras. Ozzy sempre afirmou não se interessar por política, e isso, de fato, parece verdadeiro.

Isso não quer dizer que ele não poderia ter adotado posições melhores e mais claras em certos assuntos, mas sua aparente indiferença política é mais representativa da opinião dominante do que da nossa obsessão com ela. Um exemplo claro é seu suposto apoio a Israel e sua recusa em aderir ao boicote cultural. Sua resposta às críticas relacionadas foi, como de costume, vaga e sem qualquer compromisso político. Embora isso seja obviamente decepcionante do nosso ponto de vista, não deveria ser tão surpreendente, dado o estado da grande mídia e da opinião pública dominante.

Como ícone e figura pública, as pessoas obviamente esperavam muito de Ozzy Osbourne. Mas a realidade é que, apesar de seu talento e carisma no palco, ele era um indivíduo comum e tão falho quanto qualquer outro. No fim das contas, a política emocional de sua música não vem da teoria, mas da experiência pessoal. Por meio dela, ele evoca o medo do aniquilamento nuclear, a traição e as mentiras de líderes políticos e os efeitos devastadores da guerra sobre pessoas comuns. Embora isso ofereça apenas uma compreensão política superficial e simplista, o que tornava Ozzy cativante era sua honestidade crua, mesmo quando incoerente.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/23/ozzy-osbourne-sincere-flawed-and-unforgettable

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

nuvem parada
beijada pela brisa
fica molhada

Carlos Seabra

[Espanha] Jo Solana denuncia as misérias do capitalismo em “O Fugitivo”

O barcelonês Joan Solana é um dos cantores históricos do punk barcelonês dos últimos 40 anos. Em 1986, fundou a banda Juan Piquete y los Mataesquiroles e, nos anos 90, liderou o Datura Bruising Show. Nos últimos anos, iniciou o projeto solo Jo Solana, com um formato mais próximo da canção, mas que mantém a sonoridade do folk-rock, do blues e do country.
 
“El fugitiu” (O fugitivo) musica o poema homônimo de Miquel Martí i Pol para mergulhar nas dificuldades da falta de moradia e em um dos paradoxos mais inexplicáveis da legislação atual: ser perseguido por ter negado um direito básico como o acesso à moradia. Além disso, Jo Solana dá ao poema uma sonoridade que oscila entre o folk-rock americano, o blues e o country, com o apoio do violino de Clàudia Segarra e do contrabaixo de Raúl Bruna.

A música foi gravada em 2021 por Carles Molet e NK Produccions e conta com um videoclipe ilustrado e animado por El Bellotero. “El Fugitiu” é a prévia de Memòria, o novo álbum de Jo Solana que musicará poemas de vários escritores catalães, como Josep Maria de Sagarra e Rosa Maria Grau Amorós. O álbum será lançado pela Kasba Music.
 
>> JO SOLANA – “El Fugitiu” (Videoclipe Oficial):
 
https://www.youtube.com/watch?v=BMnancNeCFE
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Seleção de sementes —
A família camponesa
em volta da mesa.
 
Cyro Mascarenhas

[Argentina] Seminário “Hibridações”. Encontro N° 3 | Animais anarquistas: a cooperação como evolução

O seminário “Hibridações” propõe-se como um laboratório coletivo de exploração teórica. Diante das urgências materialistas do presente, busca distanciar-se do anti-naturalismo da crítica, habitar as zonas fronteiriças entre as ciências humanas e as ciências da vida, bem como reinventar novas categorias híbridas para pensarmos a natureza que também somos.

No terceiro encontro do ano, exploraremos com Matias Blaustein (FCEN), María Luisa Peralta (CeDInCI) e Juan Carlos Pujalte (Libros de Anarres) a obra de Piotr Kropotkin. Em 1902, ele desafiou o darwinismo social com “Apoio Mútuo“, demonstrando que a cooperação – e não apenas a competição – impulsiona a evolução. Suas observações na natureza e nas sociedades humanas anteciparam descobertas modernas da biologia e da ciência política. Hoje, quando o colapso ecológico e a desigualdade exigem novas abordagens: o que Kropotkin nos diz sobre formas de organização mais justas? Esta reedição revive um debate urgente: estamos condenados a competir ou é da nossa natureza colaborar?

Segunda-feira, 4 de agosto | 17h
Modalidade virtual
Atividade gratuita

Inscreva-se em: https://www.bit.ly/hibridaciones

Organizam: Centro Ciência e Pensamento (Lectura Mundi – SCCyT), IIEGE, PEG-UNAJ, UNTREF, IIGG, Coleção Utopia Libertária.

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O espelho d’água
Reflete em múltiplos tons
O voo da libélula.

João de Deus Souto Filho

[Canadá] Tyre Extinguishers sabotam 100 SUVs e caminhonetes em Elmira, Ontário

Em 21 de julho, o grupo Tyre Extinguishers esvaziou os pneus de 100 SUVs e caminhonetes, impedindo que fossem dirigidos.

A ação teve como objetivo chamar a atenção para o enorme perigo que esses “devoradores de combustível” representam para o meio ambiente, pedestres, ciclistas e outros motoristas.

Esses veículos não são práticos nem necessários, são apenas símbolos do status financeiro e do ego de seus proprietários. Representam um desastre climático e de segurança pública, sem nenhuma justificativa para serem tão amplamente utilizados.

Veículos elétricos não são a solução. Não precisamos de monstros metálicos superdimensionados elétricos nas ruas, precisamos eliminá-los completamente em favor de um transporte público robusto e acessível e de mais opções de mobilidade por bicicleta.

Os governos que dizem agir em nome do interesse público não enfrentaram essa epidemia, então ativistas decidiram tomar a questão em suas próprias mãos e tirar essas máquinas assassinas das ruas por algum tempo.

Mais informações sobre as motivações por trás desse movimento, e como ele pode ser facilmente replicado, estão disponíveis em tyreextinguishers.com

Fonte: https://north-shore.info/2025/07/23/tyre-extinguishers-sabotage-100-suvs-and-pick-up-trucks-in-elmira-ontario

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

ontem à noite
sonhei de corpo inteiro
— acordei com teu cheiro

Alonso Alvarez

Itália: “Macarronada Antifascista”

Em 25 de julho de 1943, nasceu o que é conhecido como a “Pastasciutta Antifascista” (“Macarronada Antifascista”). Não se trata de um simples prato, mas de um soco no estômago contra a tirania, uma explosão de liberdade nascida em um julho ensolarado. Enquanto o Duce marchava em direção à sua miserável prisão e posterior execução, a família Cervi desafiou generosamente a ordem repressiva ditatorial com um ato de rebelião: massa grátis para todos em Campegine!

Não era apenas comida, era um banquete de esperança, uma afronta a vinte e um anos de opressão fascista. Esse gesto de compartilhamento, de solidariedade espontânea, transformou uma modesta massa em uma bandeira da Resistência, um símbolo da comunhão de intenções que os regimes mais temem do que qualquer outra coisa.

Ainda hoje, em 25 de julho, a “Pastasciutta Antifascista da Casa Cervi” e as inúmeras outras casas de massas que florescem em toda a Itália são um lembrete: a liberdade não deve ser implorada, deve ser conquistada com as próprias mãos, uma mordida de cada vez, uma luta após a outra. É uma mensagem eterna de esperança, humanidade e progresso contra todas as formas de autoritarismo. Que a massa antifa esteja conosco, sempre!

agência de notícias anarquistas-ana

Selva de concreto:
as raízes quebram tijolos
para ver a lua.

Liberto Herrera

Uruguai] A radicalidade de suprimir as pirâmides

Por Raúl Zibechi | 14/07/2025

Na cultura popular ainda ressoa aquele refrão cantado na Espanha republicana e revolucionária durante a guerra civil: “Que a tortilha vire, que os pobres comam pão e os ricos comam merda, merda”. Em muitas outras expressões da cultura popular rebelde aparecem imagens semelhantes, como em “O sonho do pongo”, de José María Arguedas.

A ideia de inverter a pirâmide tornou-se senso comum, tanto para quem quer escalar ao poder para usufruir dos benefícios de estar no topo, quanto para amplos setores populares que não veriam problema em uma inversão das coisas. Até mesmo no pensamento crítico progressista e de esquerda, esse modo de pensar se tornou senso comum, o que é muito mais grave, pois denota pouca vontade de transformar verdadeiramente o mundo, e não apenas ajustar alguns detalhes.

O recente comunicado do EZLN, “De gatos e pirâmides”, mostra a profundidade das reflexões, dos processos de transformação e da vontade de construir um mundo completamente novo que o zapatismo carrega. O raciocínio é impecável e profundamente radical, no sentido de ir à raiz dos problemas que enfrentamos.

“A pirâmide invertida é a base das propostas das vanguardas, das transformações, das evoluções e das revoluções”, lê-se na parte central. Virar a pirâmide, diz o comunicado, “soa bem”. Mas como a base da pirâmide é povoada por muitas pessoas, estas não podem tomar decisões, “então aparece a representação, e para isso existe a vanguarda, o partido político”.

Conclui-se afirmando que a pirâmide não se vira dessa maneira, mas sim reproduz outra nomenclatura: “as burocracias transformadas em partidos políticos”. Em resumo, apenas “uma troca de capatazes”.

Acredito ser necessário que as organizações populares e os militantes reflitam sobre essa análise, por várias razões.

A primeira é que o zapatismo, na prática, faz um balanço de um século de revoluções que, com o tempo, transformaram seus organismos coletivos em novas pirâmides. Portanto, essa “troca de capatazes” se repete incessantemente, gerando novas e dolorosas opressões, agora em nome da revolução, dos novos líderes e de um Estado-nação apenas maquiado.

Basta revisar o que cada uma das revoluções “vencedoras” fez para confirmar essa tese. Alguns analistas, como Immanuel Wallerstein, chegaram à mesma conclusão. Mas nunca antes um movimento que está transformando o mundo foi capaz de enxergar as coisas dessa maneira. Não é a mesma coisa uma análise teórica, por mais acertada que seja, e o fato de um movimento de milhares de pessoas questionar as formas piramidais de organização.

A segunda razão é que o zapatismo toma distância das vanguardas. Mas não apenas distância política; sobretudo ética, porque não quer reproduzir a mesma lógica de mandar no povo, de impor caminhos sem consultar, de tomar decisões em nome de quem não é considerado, mas paga com sangue a irresponsabilidade dos mandões. Aqui também aparece um balanço do que foi feito durante décadas pelas vanguardas latino-americanas.

Em terceiro lugar, as pirâmides são funcionais ao capitalismo. Como destacou Cornelius Castoriadis, o sistema pode ser resumido em um conjunto de pirâmides, a ponto de considerar as hierarquias como obstáculos para o desenvolvimento da autonomia individual e coletiva. O sistema capitalista pode negociar e concordar com pirâmides, mesmo que se digam revolucionárias, porque, do topo, o mundo é visto da mesma maneira. Os de cima se sentem confortáveis com outros que estão no topo.

Por último, e mais fundamental: uma das maiores grandezas do zapatismo reside no fato de estar trabalhando, aqui e agora, para construir novos mundos sem criar mais pirâmides. Uma coisa é pensar, dizer, proclamar. Outra, muito diferente, é fazer, com coerência e ética, para não repetir a “troca de capatazes”.

A mudança radical realizada ao pôr fim aos municípios autônomos e às juntas de bom governo, claramente explicada nos comunicados de dezembro de 2024 e janeiro de 2025, nos Encontros de Resistências e Rebeliões, ao destacar como estruturas criadas para funcionar de modo não vertical acabam se tornando pirâmides. Alguém poderia argumentar que o Exército Zapatista funciona de modo vertical. É verdade, como todo exército. Mas ele não impõe seus métodos aos governos locais e só intervém se for solicitado.

A capacidade de mudar o mundo ficaria muito limitada se não incluísse a transformação das próprias pessoas e coletivos que participam do esforço. Embora muitas vezes tenham mencionado o “homem novo”, as vanguardas agiram como se bastasse mudar o exterior, sem que elas e seus membros estivessem incluídos nessa transformação.

O zapatismo é o oposto disso. Seu enorme esforço para se transformar como pessoas e como força organizada continua sendo uma bússola para outras pessoas e forças anticapitalistas. Sua imensa capacidade de escuta contrasta com as organizações dispostas a “ditar regras” a todo momento e em todo lugar.

Fonte: https://desinformemonos.org/la-radicalidad-de-suprimir-las-piramides/

Tradução > Liberto

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Canta o bem-te-vi
no galho da goiabeira:
mesma saudação!

Ronaldo Bomfim

[Espanha] Contra a guerra, contra o Estado: uma reflexão desde o anarquismo operário

“Os trabalhadores não têm por que participar das guerras desencadeadas pelos governos por interesses econômicos, políticos ou de dominação. O dever do proletariado é lutar contra a guerra com a mesma energia com que combate a exploração.” — Congresso da Associação Internacional dos Trabalhadores – AIT, 1922.

Nestes tempos sombrios em que a guerra volta a ocupar as manchetes do mundo — desde as cidades devastadas da Europa Oriental, Iêmen e Palestina — sentimos a necessidade de levantar uma voz clara, serena e profundamente humana: a voz daqueles que, desde baixo, a partir do trabalho e da vida comum, enfrentamos a cultura da morte promovida pelo aparato militarista do Estado e da patronal.

Políticos e burocratas enchem os noticiários com declarações em nome da pátria, enquanto a ganância dos acionistas das grandes corporações transnacionais movimenta os mercados para que os exércitos destruam povos, gerações sejam mutiladas, e jovens, meninos e meninas morram.

Nunca nos convencerão com seus chamados à morte!

Rejeitamos a participação em qualquer exército, repudiamos o recrutamento forçado ou voluntário e denunciamos o militarismo que penetra as escolas, os meios de comunicação e tenta moldar nossas vidas, subordinando-nos à cultura militarista.

Não haverá justiça nem paz enquanto existirem os exércitos!

Não temos pátria a servir, nem fronteira a defender, nem inimigos entre os outros povos. Nossa luta é pela vida, contra a opressão dos Estados, criados para sustentar o negócio da guerra, a opressão e a exploração dos povos.

Não nos enganamos: a guerra é também uma ferramenta de controle interno — desculpa para a repressão, o medo e a obediência. Exige-se sacrifício, enquanto se retiram direitos. Invoca-se unidade nacional, enquanto a desigualdade se aprofunda.

Como organização operária anarquista e antimilitarista, rejeitamos os apelos por reformas tímidas que pretendem tornar um pouco mais suportável a brutalidade dos exércitos. Nossa única proposta é a organização livre e consciente dos trabalhadores e trabalhadoras para a abolição do sistema que gera esses massacres.

Pela internacional dos povos,
contra os Estados!

Contra todas as guerras,
nem uma bala por suas bandeiras!

Abaixo o militarismo,
abolição dos exércitos!

Viva a solidariedade operária!

Pedro Peumo. 2025
Biblioteca Digital Emilio López Arango
bibliotecadigitalbdela.blogspot.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

O som do aguaceiro
nas folhas da bananeira —
de prender o fôlego.

Carlos Martins

[Espanha] Radio Alegría Libertaria: Algumas pinceladas do anarcopacifismo

Neste programa número 50 de Alegría Libertaria, vamos dar umas pinceladas sobre o anarcopacifismo.

Este programa é parte da série que estamos realizando sobre temas ou correntes do anarquismo: anarcossindicalismo, anarquismo nas ruas, anarcofeminismo, ecologia libertária, culturas populares e ludismo.

O anarquismo trata de acabar com as relações de poder, e, portanto, com o Estado e o Mercado, e construir uma sociedade baseada na liberdade e no apoio mútuo, na cooperação, na solidariedade… A violência é uma forma de poder sobre o outro, pelo que se pode pensar que o anarquismo é, em si, um movimento não violento.

No entanto, foram gerados e seguem gerando muitos debates em torno do anarcopacifismo, a não violência, a não participação em guerras. Assim que pensamos que trazer algumas pinceladas de finais do século XIX e princípios do século XX podem nos ajudar.

Pensamos que podemos começar com uma introdução sobre o conceito de anarcopacifismo, e depois traremos alguns textos de Lev Tolstoi, Emma Goldman, e o trabalho de Lilian Wolfe e Thomas Keell em Freedom Press.

>> Para ouvir o programa, clique aqui:

https://alegrialibertaria.org/wp/anarcopacifismo/

Tradução > Sol de Abril

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No meio da praia
os amigos se dispersam…
Garoa repentina.

Neide Portugal

[França] O planeta sombrio, mas o cruzeiro se diverte a todo vapor

Por Les Indiens du Futur | 21/07/2025
 
Enquanto os desastres climáticos e ecológicos estão, infelizmente, se agravando como previsto, cruzeiros e grandes navios de todos os tipos estão se multiplicando, há um mercado, especialmente entre os mais ricos.
 
Na civilização industrial, nada muda, algumas coisas eventualmente se transformam (parte da energia que produz a eletricidade crescente essencial às máquinas): aviões de turismo e jatos particulares, utilitários esportivos, transatlânticos gigantes, corridas motorizadas, data centers… Todas essas máquinas e atividades nocivas, entre milhares de outros tipos, continuam a proliferar sem limites.
 
Os navios de cruzeiro são um dos arquétipos da vida acima da terra e sob o vidro fabricados pela civilização industrial. Também poderíamos citar shopping centers com ar-condicionado, estações de esqui indoor em desertos ou parques aquáticos tropicais no norte.
 
Os navios de cruzeiro servem apenas para turismo de luxo, diversão e exotismo pagos e com ar-condicionado? É totalmente absurdo, supérfluo e destrutivo? Não importa, para o capitalismo é brilhante e indispensável, até mesmo vital. Interromper uma atividade lucrativa, por mais prejudicial que seja, é impensável! Antes morrer do que mudar nosso modelo de sociedade! De fato.
 
E nenhum Estado se arriscará a proibir ou limitar drasticamente essas práticas, mesmo que seja liderado pela esquerda. Os Estados estão totalmente inseridos no capitalismo e no sistema tecnoindustrial; são parte fundamental dele.
 
E sempre haverá populações civilizadas dispostas a pagar caro para “dançar no Titanic” e, assim, acelerar o naufrágio deste planeta que lhes permite viver.
 
Parar e desmantelar a civilização industrial ou afundar junto com ela ao som da pista de dança?
 
> A proliferação de ofertas de cruzeiros, desde o Mediterrâneo de baixo custo até a Antártica, que custam dezenas de milhares de euros – “Em um Cruzeiro” (5/5). O mundo dos cruzeiros está se segmentando, para aumentar ainda mais a frequência graças a novos itinerários, novos temas e serviços cada vez mais luxuosos…        
(…)
O Queen Mary 2, operado pela empresa britânica Cunard, atrai principalmente uma clientela aposentada, seduzida pela atmosfera tradicional. Estamos longe dos navios de festa lotados de crianças, repletos de piscinas e tobogãs, que cruzam o Mediterrâneo ou o Caribe. Ou dos cruzeiros que cruzam o Reno ou o Danúbio. Ou mesmo dos “cruzeiros de expedição” às Ilhas Galápagos ou Spitsbergen (no arquipélago de Svalbard), para encontrar a vida selvagem. Assim é o mundo dos cruzeiros: em rápido crescimento e cada vez mais diversificado, multiplicando fórmulas para atingir todos os públicos.
(…)
“Cruise é ideal para colocar todos em um interlúdio encantado, uma bolha.”
(…)
Em 2024, a Luxury Lifestyle Vacations causou escândalo ao organizar seu primeiro cruzeiro swing para a Antártida, explorando o exotismo dessa “terra virgem” e o contraste entre icebergs e corpos nus.
(…)
Os cruzeiros continuam a tecer sua teia, de uma semana no Mediterrâneo por 700 euros em um edifício de vinte andares a um palácio flutuante para um pequeno grupo que custa vários milhares de euros. No meio, milhares de possibilidades. Uma teia que acaba reconstituindo no mar o mundo em terra.
 
Fonte: https://ricochets.cc/La-planete-sombre-mais-la-croisiere-s-amuse-a-plein-tube-8543.html
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/20/italia-nao-aos-megaprojetos-de-devastacao-vamos-parar-o-porto-de-cruzeiros-em-fiumicino/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/07/25/alemanha-destruicao-ambiental-exploracao-condicoes-coloniais-e-isso-que-os-cruzeiros-significam/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2017/08/30/grecia-cruzeiros-a-exploracao-turistica-absoluta/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Vento balança —
folhas de plátano
caem no chão
 
Mô Schnepfleitner

[Chile] 4ª Feira do Livro Anarquista, Valparaíso

Com alegria compartilhamos a nova e próxima data da quarta versão da “Feira do Livro Anarquista, Valparaíso” em @espaciokatarcis.

A temática que trazemos neste caso atende ao contexto urbano e social dentro da cidade, buscando desemaranhar os conflitos e efeitos que traz consigo a cidade neoliberal e seu ordenamento capitalista, como também as propostas e estratégias que buscam responder a esta lógica.

Se estás interessado no lançamento de algum material ou em expor a respeito da temática, pode nos escrever desde já pelo contato do cartaz  sala.agitacionpropaganda@gmail.com.

A respeito de editoras e propaganda, estaremos convocando com antecedência com relação à data e informando por estes meios.

Anote no calendário para que voltemos a nos encontrar e compartilhar nesta próxima primavera.

Abraços fraternos!

agência de notícias anarquistas-ana

Bigorna da rua –
cada golpe forja elos
sem senhor nem lei.

Liberto Herrera

[Reino Unido] Black Flag: Anarchist Review Summer 2025 [Bandeira Negra: Revista Anarquista Verão 2025] já está disponível

A segunda edição deste ano começa com o obituário de Peter Kropotkin para seu amigo, colega anarquista e geógrafo Elisée Reclus (1830-1905). Em seguida, são apresentados vários artigos de Reclus, que devem indicar por que ele foi tão influente no movimento anarquista em sua vida quanto Kropotkin.
 
Depois, temos Louise Michel (1830-1905), que dispensa apresentações. Comunista, levada ao anarquismo por suas experiências, ela desempenhou um papel importante no movimento francês desde seu retorno do exílio em 1880 até sua morte. Como discutimos em uma edição anterior (Volume 3 Número 1 [Primavera de 2023]), o fato de ela ter hasteado a bandeira negra durante uma manifestação de trabalhadores desempregados em 9 de março de 1883 foi fundamental para transformá-la no símbolo da anarquia que é hoje. Pouquíssimos de seus escritos estão disponíveis em inglês, muitos deles, talvez sem surpresa, relacionados à Comuna de Paris.
 
Em seguida vem o anarquista italiano Luigi Fabbri (1877-1935). Até recentemente, apenas os excelentes “Bourgeois Influences on Anarchism” (Influências Burguesas sobre o Anarquismo) e “Anarchy and ‘Scientific’ Communism” (Anarquia e Comunismo ‘Científico’) – seu sistêmico desmascaramento do ataque tipicamente desinformado de Bukharin ao anarquismo – estavam disponíveis em inglês. Isso mudou e temos o prazer de incluir uma seleção de seus escritos que, temos certeza, serão de interesse. Sua morte, aos 57 anos de idade, sem dúvida privou o movimento de um importante pensador.
 
Em seguida, apresentamos três resenhas, uma sobre The Russian Anarchists (Os Anarquistas Russos), de Paul Avrich, para marcar a Revolução de 1905, e outra sobre um livro recente que apresenta falhas sobre a Revolta Sindicalista de 1910 a 1914, escrito por um membro do SWP. Também incluímos uma breve resenha do Syndicalism de Tom Brown, escrita para a Black Flag quando foi publicada pela primeira vez na década de 1990, mas que parece nunca ter sido publicada antes.
 
Terminamos com os obituários de Colette Durruti e do anarquista de Glasgow John Couzin, além de nosso resumo de notícias do movimento, Parish Notices.
 
As traduções originais que aparecem na Black Flag: Anarchist Review eventualmente aparecem on-line aqui:
 
https://anarchistfaq.org/translations/index.html 
 
Este ano, pretendemos continuar a abordar uma variedade de pessoas e assuntos. Esperamos incluir artigos sobre e de nomes como Louisa Sarah Bevington, Ethel MacDonald, Sylvia Pankhurst, entre outros. Além das resenhas e notícias habituais sobre o movimento.
 
No entanto, esse trabalho precisa de ajuda, caso contrário, em algum momento ele acabará. Contribuições de socialistas libertários são bem-vindas sobre esses e outros assuntos! Somos um coletivo pequeno e sempre precisamos de ajuda para escrever, traduzir e reunir material, portanto, entre em contato se quiser que a Black Flag Anarchist Review continue.
 
Os conteúdos e o editorial dessa edição estão aqui:
 
https://anarchism.pageabode.com/black-flag-anarchist-review-summer-2025 
 
Tradução > transanark/acervo trans-anarquista
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Mato molhado
cobra rasteja
passou de repente
 
Docá

[Itália] Morte ao Rei! Edição 2025

Terça-feira, 29 de julho de 2025

125º aniversário do regicídio

MORTE AO REI

Roteiro de bicicleta pelos passos de Gaetano Bresci.

Locais, antecedentes e protagonistas do regicídio.

Encontro às 21h, Praça São Paulo, Monza.

O passeio ciclístico terminará na Capela Expiadora (Cappella Espiatoria).

Em caso de mau tempo, o evento não acontecerá.

Morte ao Rei” é um roteiro de bicicleta que o levará em seis paradas pela cidade de Monza para redescobrir locais e fatos históricos ligados ao assassinato de Umberto I por Gaetano Bresci. Do massacre da Praça São Paulo em 1898 até os três tiros de Bresci, uma voz narradora e leituras de testemunhos da época reconstruirão os acontecimentos e suas razões históricas. Uma oportunidade para mergulhar na história, fugindo do melodrama nacional-popular do assassinato do “Rei Bondoso“.

boccaccio.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

No coração do sistema,
um caracol carrega
sua casa utópica.

Liberto Herrera

[Itália] 29 de julho de 2025: Pizzada “regicida” em memória de Gaetano Bresci

Em 29 de julho de 1900, Gaetano Bresci vingou as centenas de proletários italianos massacrados nas ruas pelas forças repressivas do Estado monárquico, assassinando o rei Umberto I. Tais atos policiais brutais parecem pequenos diante da atual guerra europeia entre Ucrânia e Rússia (por enquanto) e, principalmente, do genocídio do povo palestino em Gaza e na Cisjordânia, perpetrado pelo governo e pelo exército israelense. Além disso, não podemos esquecer o rio de sangue que corre por todo o Oriente Médio, começando pelo sofrido povo Curdo, nem as incontáveis guerras em curso no mundo, como no Sudão, em Mianmar, entre outras.

Por tudo isso:

Terça-feira, 29/07/2025, às 20h
Em Lonno di Nembro, na pizzaria “Alba”

Nos reuniremos, como libertários e amigos, para arrecadar doações a serem destinadas:

·         À Associação Palestina de Bergamo

·         À Associação Confederalismo Democrático do Curdistão (Milão, v.le Monza 255)

Preço da pizza: € 12 (com vinho cortesia do estabelecimento)
(Cervejas, licores, sobremesas, café e outros extras serão pagos separadamente por cada participante.)

Agradecemos a quem puder contribuir adicionalmente para o apoio às duas associações.

Para confirmar presença na pizzada, entrar em contato até sábado, 26/07:

·         E-mail: underground@inventati.org

·         Telefone direto da pizzaria: 035 51 50 19

Contamos com vocês!

Underground Spazio Anarchico Bergamo
underground.noblogs.org

Tradução > Liberto

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luar na relva
vento insone
tira o sono das flores

Alonso Alvarez

[Finlândia] Embaixada da Alemanha pichada em Helsinque

A antifascista Maja foi extraditada ilegalmente para a Hungria pelo Estado alemão há mais de um ano. Em 5 de junho, Maja iniciou uma greve de fome exigindo melhores condições e o retorno à Alemanha. Em 14 de julho, Maja interrompeu sua greve de fome. No entanto, as exigências continuam de pé.

Queríamos lembrar à embaixada alemã em Helsinque que Maja ainda está presa em condições terríveis na Hungria, deixando uma mensagem simples que eles não podem ignorar.

LIBERTEM MAJA! LIBERTEM TODOS OS ANTIFAS!

#freemaja #freeallantifas

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/24/italia-milao-manifestacao-em-frente-ao-consulado-da-alemanha-pela-libertacao-de-maja-t/

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O mundo de orvalho
é só um mundo de orvalho.
E no entanto…

Issa

[Alemanha] Libertem Maja!

“Meu corpo – um esqueleto, com um espírito inquebrável, combativo e vibrante. Ele sorri, busca liberdade e comunidade no horizonte e se recusa a aceitar que não há justiça” – essas palavras estão na declaração de Maja ao final da greve de fome. Nós também nos recusamos a aceitar isso; permanecemos inquebráveis, combativos e vibrantes.

Como sinal de solidariedade, substituímos a bandeira da Kanonenplatz no Castelo de Berg, em Freiburg, por uma bandeira da Maja Livre na noite de 15 para 16 de julho.

Libertem Maja, libertem todos e todas!

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A lua esta noite:
chego a ter saudade
dos seus resmungos.

Issa

[França] Octavio Alberola (1928 – 2025), uma trajetória de vida libertária agitada e intensa

> Entrevista realizada em maio de 2010.
 
Octavio Alberola é anarquista. Ele nasceu na Espanha, em Alaior, Ilhas Baleares, em 1928. Hoje reside em Perpignan, na França. Em 1939 chega ao México com seus pais. A partir daí começa sua militância anarquista. Atua nas Juventudes Libertárias e na CNT espanhola no México. Em 1962 forma parte do organismo clandestino “Defesa Interior” constituído pelo Movimento Libertário Espanhol depois do congresso da CNT de 1961. Atualmente participa do “Grupo pro revisão do processo Granado-Delgado” que, desde 1998, está exigindo a anulação das sentenças franquistas. Ele também faz parte do “Grupo de Apoio aos Libertários e Sindicalistas Independentes em Cuba”, GALSIC. Incansável, ele ainda colabora com outras iniciativas libertárias na Europa. É um homem cheio de histórias, escritas numa trajetória de vida libertária agitada e intensa. Algumas histórias ele expõe aqui, nessa entrevista concedida à ANA. Mas a sensação que fica ao dar por terminada esta conversa é a de que havia muitas coisas a ouvir ainda. Vamos a ele.
 
Agência de Notícias Anarquistas > Como que o anarquismo entrou na sua vida?
 
Octavio Alberola < Pois, sem dúvida, à medida que ia vivendo… com os meus pais, com os acontecimentos em que eles estavam envolvidos. Para ser mais direto, através das relações deles com os demais companheiros e companheiras, no seu trabalho enquanto professores racionalistas, de sofrer também as conseqüências da repressão que eles sofreram e, muito provavelmente, através das discussões, leituras e atos de propaganda que pouco a pouco fui compartilhando com eles e com os seus companheiros da CNT, tanto na Espanha como no exílio posteriormente: primeiro na França e depois no México. Também através das discussões com os meus companheiros de estudos sobre diferentes temas políticos, sociais e culturais e ao ter que me confrontar a disciplina autoritária do ensino na Escola Secundária e Preparatória de Jalapa, capital do estado de Veracruz da República mexicana. Embora, quem sabe, foi ao me mudar para a Cidade do México para iniciar os estudos universitários que as idéias anarquistas foram se aprofundando, mais pelo fato de participar na organização das Juventudes Libertárias mexicanas e poucos dias depois ter que dividir, com outros três jovens companheiros, uma cela (clandestina) na qual as autoridades mexicanas nos tiveram encarcerado, durante um mês após nos terem detido colando manifestos libertários nas ruas da Cidade do México.
 
>> Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui:
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2017/05/11/franca-octavio-alberola-creio-que-nos-encontramos-numa-encruzilhada-historica-que-pode-abrir-um-caminho-prometedor-a-emancipacao-dos-humanos-por-eles-mesmos/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
É tarde, escurece,
a lua se esforça
mas logo aparece.
 
Pedro Mutti