Chamado para a 3ª Feira Anarquista da Baixada Santista

No dia 27 de julho de 2025, domingo, às 17 horas, a Cinemateca de Santos vai exibir o documentário “Alter Nativa” (Brasil, 2012), sobre a Feira Anarquista de São Paulo, além de outros vídeos curtos.
 
O evento contará ainda com um debate com membros do Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri (NELCA), Biblioteca Terra Livre (BTL) e Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP). Essa atividade será um chamado geral para a realização da 3ª Feira Anarquista da Baixada Santista, que acontecerá em setembro!
 
Data: 27 de julho de 2025 (Domingo), às 17 horas.
Local: Cinemateca de Santos
Endereço: Rua Min. Xavier de Toledo, 42, Campo Grande, Santos(SP)
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
chuva torrencial
sob a laje de concreto
um casal de pardais
 
Jorge Lescano

[Reino Unido] Élisée Reclus – Comunardo, geógrafo, vegetariano

Em 4 de julho de 1905, o anarquista francês Élisée Reclus morreu em Torhout, próximo a Bruges (Bélgica).
 
~ Maurice Schuhmann ~
 
Reclus, que dá nome a uma rua de Paris que conduz à Torre Eiffel, foi um dos propagandistas anarquistas mais conhecidos da França e, simultaneamente, um dos geógrafos mais importantes do país. Sua [Nouvelle] Géographie Universelle, escrita entre 1876 e 1894, é considerada um clássico fundacional da área, assim como sua obra póstuma L’Homme et la Terre.
 
Nascido em 15 de março de 1830 em Sainte-Foy-la-Grande (França), Jacques Élisée Reclus estudou em diversos lugares, incluindo Berlim no início da década de 1850, onde conheceu a obra de Max Stirner e estudou geologia. Foi também nesse período que entrou em contato pela primeira vez com ideias anarquistas, que moldariam profundamente seu pensamento e às quais ele contribuiria significativamente. Mais tarde, tornou-se cofundador da seção francesa da Primeira Internacional e manteve contatos com figuras como Mikhail Bakunin.
 
Quando a Comuna de Paris eclodiu, recusou um cargo político que lhe foi oferecido e participou ativamente na defesa militar do experimento social. Após o esmagamento da Comuna, foi exilado para a Nova Caledônia, como muitos de seus camaradas – incluindo Louise Michel, com quem mais tarde daria palestras. O exílio não o quebrou; pelo contrário.
 
Após retornar à Europa, cofundou na Suíça o jornal anarquista Le Révolté (1879–1885). Entre seus colaboradores estavam Piotr Kropotkin, que escreveu artigos importantes para a publicação, e Jean Grave. O jornal foi uma das publicações anarquistas mais influentes da Europa da época.
 
Foi também nesse período que Reclus tornou-se vegetariano por razões éticas. A partir de então, defendeu esse modo de vida – uma tarefa nada fácil, especialmente na França, onde estilos de vida vegetarianos ou veganos permaneceram marginalizados, mesmo em círculos anarquistas. Suas observações geográficas e sua afinidade com o naturismo fazem com que, às vezes, seja considerado – ao lado de Kropotkin – precursor do ecoanarquismo moderno.
 
Devido a suas pesquisas e postura decididamente antinacionalista, o pedagogo espanhol Francisco Ferrer entrou em contato com ele. Ferrer pediu que Reclus escrevesse livros de geografia para suas recém-fundadas Escolas Modernas. Eram manuais explicitamente antinacionalistas, livres do veneno chauvinista que caracterizava a maioria dos livros didáticos da época.
 
Por fim, Reclus estabeleceu-se na Bélgica. Em 1894, participou da fundação de uma universidade livre, a Université Nouvelle. Viveu e trabalhou no país vizinho da França até sua morte.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/04/elisee-reclus-communard-geographer-vegetarian/
 
Tradução > Liberto
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/08/reino-unido-elisee-reclus-sobre-a-anarquia-e-a-natureza/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Manhã gelada —
Duas borboletas azuis
voam pelo jardim.
 
Guin Ga Eden

[EUA] “Anarquismo Significa Que Você Deveria Ser Livre.” Sobre a Literatura da Libertação

Ed Simon analisa a vida de Alexander Berkman, Anarquista, Aspirante a assassino e Luigi Mangione do século XIX

Por Ed Simon | 27/01/2025

Vestindo um terno cinza e uma gravata branca comprados na loja de departamentos Kaufmann Brothers e com um crachá com o pseudônimo “Simon Bachman”, aparentemente um agente de empregos de Nova York, o anarquista russo Alexander Berkman, de 25 anos, estava do lado de fora do Chronicle-Telegraph Building, em Pittsburgh, em um dia quente de verão de 1892. Ele estava esperando que o industrial Henry Clay Frick, presidente da recém-consolidada Carnegie Steel Corporation, voltasse de seu baralho cotidiano no Duquesne Club.

No bolso de Berkman havia um revólver calibre 38, de cano curto. No outro, um punhal de 30 centímetros. “A história do mundo está do meu lado”, murmurou o anarquista Kirilov, de Fyodor Dostoevsky, em Demônios, e sem dúvida Berkman compartilhava de sentimentos semelhantes.

Porém, Kirilov queria morrer pela irmandade dos homens, enquanto Berkman acreditava que tinha de matar pela mesma. O estudioso e franzino Berkman estava tão nervoso que esbarrou desajeitadamente em Frick quando o primeiro saiu do elevador, quase deixando cair seu revólver.

Assassinato não era algo natural para o estudioso Berkman, que argumentaria em seu livro Prison Memoirs of an Anarchist (Memórias de um anarquista na prisão), de 1912, que “a desumanidade do homem para com o homem não é a última palavra. A verdade é mais profunda. É a escravidão econômica… que transformou a humanidade em lobos e ovelhas”. O anarquista queria fazer de Frick um exemplo por causa da escravidão econômica. E assim o fez, de certa forma.

O anarquismo conta com uma variedade vertiginosa de vertentes. Anarco-comunismo, anarco-sindicalismo, anarco-coletivismo; mutualismo, individualismo, ilegalismo. Certamente estão comprometidas com a práxis – como o exemplo de Berkman deve mostrar – e os anarquistas tiveram sua parcela de sucesso político de curta duração, desde os poucos e inebriantes meses da Comuna de Paris em 1871 até a Makhnovshchina no sul da Ucrânia após a Primeira Guerra Mundial, a Chiapas contemporânea dos Zapatistas e os revolucionários Curdos em Rojava.

No entanto, em comparação com seus companheiros e adversários, os Marxistas-Leninistas, que no auge de seu poder governaram mais de um terço do globo, o anarquismo – pelo menos no mundo moderno – raramente foi tentado. Portanto, é necessário um certo impulso imaginativo, uma sensibilidade lírica, uma perspectiva literária.

Enquanto o comunista encontra a salvação no estado e o capitalista na corporação, o anarquista entende que a libertação é proporcionada por amigos e vizinhos, familiares e companheiros. Seja violento ou pacifista, “o anarquismo significa que você deveria ser livre”, escreve Berkman em seu charmoso título ABC do Anarchism, “que ninguém deveria escravizá-lo, mandar em você, roubá-lo ou impor-se a você”.

Some-se a isso o francês barbudo Pierre-Joseph Proudhon com sua invocação de que “propriedade privada é roubo”, Peter Kropotkin, que parece tanto um velho crente russo quanto um revolucionário profetizando que “neste exato instante os tiranos da terra morderão a poeira”, Mikhail Bakunin, que bradava com energia demoníaca que “a paixão pela destruição é uma paixão criativa”, a oradora lituano-americana Emma Goldman – amante de Berkman e uma teórica muito mais influente – dizendo que “se não posso dançar, não é minha revolução”.

O marxismo é uma ideologia para economistas, mas o anarquismo é para poetas – uma retórica estrondosa e denunciadora, escoriante e profana. Até mesmo Berkman sabia dizer uma frase, embora não com perfeita elegância – “Se o seu objetivo é garantir a liberdade, você deve aprender a viver sem autoridade” (um sentimento que não aproximou os anarquistas nem dos comunistas nem dos capitalistas).

Como indica o ódio de Berkman pela autoridade, os marxistas podem desprezar os capitalistas e os capitalistas o estado, mas o anarquismo possui a sabedoria de detestar ambos. Fiel à doutrina da “propaganda pelo ato”, no entanto, Berkman queria ir além da teoria e escrever seus poemas com uma arma.

Como Berkman estava preocupado com a possibilidade de perder sua coragem, ele não esperou que a recepcionista fizesse a falsa pergunta sobre “Simon Bachman”. Em vez disso, Berkman invadiu o escritório onde Frick estava sentado em uma cadeira de capitão de bordo vermelha, apontou o revólver e disparou. A bala ficou alojada no ombro de Frick.

Berkman disparou novamente, dessa vez atingindo o pescoço do alvo. Ao tentar dar o tiro fatal, Berkman foi agarrado por um assistente; os dois duelaram sobre a pesada mesa de carvalho e a arma disparou, quase quebrando o vidro da luminária de latão.

Do corredor, os funcionários viam as silhuetas da briga através das janelas foscas. Muitos chegaram bem a tempo de ver Berkman esfaquear Frick duas vezes na perna. Um ajudante do xerife tirou Berkman do meio do tumulto e, anos depois, ele se lembrou do rosto “cinza-acinzentado” de Frick e de como sua “barba preta…[estava] coberta de vermelho”.

Três tiros representaram um ato ínfimo de violência naquele verão. Menos de duas semanas antes, os Pinkertons abriram fogo contra trabalhadores siderúrgicos em greve em Homestead sob a ordem de Frick. Sete homens morreram. Se alguém merecia uma bala de um anarquista, esse alguém era Frick, mas Berkman esperava incitar uma revolução. Nesse aspecto, ele obviamente fracassou.

Uma multidão provocadora se reuniu na Fifth Avenue quando Berkman foi levado pela polícia, algo surpreendente em uma cidade onde Frick era amplamente odiado. Talvez eles estivessem apenas com raiva pelo fato de Berkman ter perdido. Se Frick tivesse sangrado em seu fino tapete oriental, talvez Alexander Berkman tivesse sido um Luigi Mangione do século XIX.

Antes que o vilão du jour do status quo fosse antifa, ou os Islâmicos, os comunistas ou os Marxistas-Leninistas, era o anarquista estrangeiro, de bigode, que jogava bombas. De acordo com a imprensa sensacionalista norteamericana, os anarquistas eram habitantes de rathskellers alemães que construíam bombas ou imigrantes italianos que estocavam armas, emigrantes siberianos que perfuravam trilhos de trem e sindicalistas de Chicago que incendiavam fábricas.

Não que a violência política fosse ficção, como demonstra o exemplo de Berkman. Acrescente a isso o assassinato do presidente William McKinley em 1901, o atentado a bomba contra o senador Thomas W. Hardwick, da Geórgia, em 1919, e o atentado a bomba em Wall Street em 1920, que tirou quarenta vidas.

Em resposta, ou melhor, usando a violência como desculpa, o Procurador Geral A. Mitchell Palmer iniciou as operações violentas que levariam seu nome, nas quais milhares de americanos foram presos e deportados, principalmente judeus e italianos. Berkman e Goldman estavam entre os exilados, destinados à recém-formada União Soviética, onde os bolcheviques não eram mais receptivos à política anti-hierárquica do que os capitalistas.

Em uma manhã fria de dezembro de 1919, Goldman e Berkman se amontoaram no convés do S.S. Buford enquanto a Estátua da Liberdade parecia cada vez menor, com o navio indo em direção à Rússia.

Esse foi o primeiro Red Scare dos Estados Unidos, quando suspeitos de serem anarquistas, socialistas, Marxistas e sindicalistas eram frequentemente processados e perseguidos com pouca justificativa. Esse foi o triste destino de Lazarus Averbuch, um emigrante Russo-Judeu de dezenove anos de idade, morto a tiros pelo chefe de polícia de Chicago em 1908 por ter ousado bater à porta do chefe de polícia (parece que o jovem apenas pensou que deveria pegar uma “carta de bom caráter” das autoridades, como o Czar esperava que os judeus fizessem).

Para encobrir a realidade do assassinato de Averbuch, a polícia e a imprensa antissemitas transformaram esse jovem sobrevivente do pogrom em um terrorista. Mais tarde, Averbuch foi homenageado no livro The Lazarus Project (O Projeto Lazarus), do escritor Bósnio-Americano Aleksandr Hemon, uma metaficção e um elogio, em que ele descreve como “os Estados Unidos estavam obcecados pelo anarquismo… oradores patrióticos se manifestavam contra os perigos pecaminosos da imigração desenfreada, contra os ataques à liberdade Americana e ao Cristianismo”.

Outro equívoco da justiça ocorreu doze anos depois, quando os anarquistas italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram executados por um assassinato em Massachusetts, do qual foram posteriormente inocentados. Sacco e Vanzetti se tornaram mártires do anarquismo e do sentimento pró-imigração (meu próprio avô italiano ajudou a arrecadar dinheiro em sua defesa), com John Dos Passos escrevendo como, após a cadeira elétrica, “suas vozes sopram de volta… cantando uma música / para estourar os tímpanos… Faça um poema disso, se tiver coragem!”

O terrorista niilista de um homem é o romântico combatente da liberdade de outro, e assim tem sido na literatura daqueles que foram esmagados pelo sistema e que se lançam em uma violência justa. William Godwin, o romancista inglês do século XVIII, nunca usou a palavra “anarquismo”, mas foi considerado um precursor por causa de seu romance antiaristocrático Caleb Williams, ou pelo tratado em que declarou que “Nenhum homem deve invadir minha província, nem eu a dele”.

Leo Tolstoy, que apesar de ser um conde, elaborou uma síntese do Cristianismo e do anarquismo, embora uma leitura superficial dos evangelhos demonstre que isso parece já ter sido feito por Cristo. Tolstói pregava que “não somos filhos de alguma pátria… mas somos filhos de Deus”, pois os “Anarquistas estão certos em tudo”.

George Orwell era um inglês, às vezes anarquista e às vezes socialista, que lutou com os republicanos na Guerra Civil Espanhola, apenas para aprender que as balas stalinistas destinadas aos fascistas, na maioria das vezes, atingiam seus camaradas, uma importante educação política, escrevendo em Homage to Catalonia que, independentemente do partidarismo, “quando vejo um trabalhador de carne e osso em conflito com seu inimigo natural, o policial, não preciso me perguntar de que lado estou”.

A teoria e o jornalismo podem ser úteis, mas o gênero vanguardista para imaginar um mundo diferente, contrário e alternativo é a ficção científica. A ficção especulativa é tanto o gênero mais radical quanto o mais reacionário, um laboratório para experimentar arranjos sociais alternativos. Para cada companheiro de viagem fascista como Robert Heinlein ou o reacionário Orson Scott Card, há um Samuel Delany, uma Octavia Butler, uma Ursula K. Le Guin – a fonte tanto da revolução quanto de seu oposto.

A série “The Culture Series”, do romancista escocês Iain M. Bank, com seu relato de uma civilização galáctica pós-escassez; Walkaway, do filósofo canadense Corey Doctorow, em que sobreviventes pós-apocalípticos constroem uma sociedade baseada na prosperidade humana; The Dispossessed: An Ambiguous Utopia (Os Despossuídos), de Le Guin, em que uma sociedade interestelar é anarco-sindicalista. Ao invés de um cenário infernal cyberpunk ou de um cenário de saúde pós-nuclear destruído, de um apocalipse zumbi ou de um pesadelo capitalista digital, a ficção científica anarquista fornece o léxico para um futuro mais esperançoso.

Butler, que não se descreve como anarquista, explora temas semelhantes em Parable of the Sower (Parábola do Semeador). Escrita em 1993, Parable of the Sower e sua sequência prevêem um distante e distópico 2024. A adolescente Lauren Oya Olamina vive em uma Califórnia devastada pelo crime e por incêndios florestais; os Estados Unidos estão prestes a eleger um fascista cujo lema é “Make America Great Again”.

Nesse estado Hobbesiano, a hiperempatia de Lauren alimenta uma nova ideologia chamada Earthseed, dedicada à solidariedade. Como os meios tradicionais de estruturar uma comunidade falharam, ela e seus vizinhos precisam forjar a sua própria comunidade. “Percebo que não sei muito”, escreve ela. “Nenhum de nós sabe muito. Mas todos nós podemos aprender mais. Então, podemos ensinar uns aos outros.”

A essência da coisa toda – nenhum de nós sabe muito; podemos ensinar uns aos outros. Não se trata de um pistoleiro solitário galopando pela paisagem devastada ou de um mercenário corporativo perseguindo um inimigo, mas de Lauren que organiza sua comunidade à medida que eles partem. Não o rifle de Pinkerton ou o revólver de Berkman, mas a mão de seu vizinho.

O antropólogo radical David Graeber, que com a perspicácia de um poeta da Madison Avenue cunhou o lema da #Occupy “Nós somos os 99%”, escreveu em “Are You Anarchist? The Answer May Surprise You!” (Você é Anarquista? A Resposta Pode te Surpreender!) que, embora “Muitas pessoas pareçam pensar que os anarquistas são defensores da violência, do caos e da destruição”, eles são, na maioria das vezes, “simplesmente pessoas que acreditam que os seres humanos são capazes de se comportar de maneira razoável sem precisarem ser forçados a isso”.

Quando se trata de ajuda externa, a Califórnia de Butler é indistinguível da real, onde sua casa pode pegar fogo, mas os hotéis lhe hospedarão (com desconto), ou onde verbas federais podem ajudar na reconstrução (pelo menos até 20 de janeiro). Em sua essência, o que a literatura do anarquismo sempre pressupôs é que não podemos contar com o estado e que não podemos contar com os oligarcas – mas não estamos sozinhos. Temos uns aos outros, o que é mais do que suficiente.

Fonte: https://lithub.com/anarchism-means-that-you-should-be-free-on-the-literature-of-liberation/

Tradução > acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Frio leve de outono…
A passarada se recolhe
antes do pôr-do-sol!

Irene Fuke

[Nova Zelândia] Repreensão e Resistência: O Protesto de Te Pāti Māori, o Abstencionismo e o Caminho para a Soberania Indígena

Em novembro de 2024, o Parlamento da Nova Zelândia tornou-se palco de um ato histórico de desafio quando parlamentares do Te Pāti Māori realizaram uma haka durante a primeira leitura do projeto de lei sobre os Princípios do Tratado. Esse protesto cultural, que resultou em severas suspensões, reacendeu debates sobre a legitimidade das instituições coloniais e a eficácia da participação indígena dentro delas. Esta análise examina o incidente sob duas perspectivas: a estratégia comparativa do abstencionismo (como a utilizada pelo Sinn Féin) e uma crítica anarcocomunista ao poder estatal. Ambas convergem em uma questão central: Te Pāti Māori deveria rejeitar o engajamento parlamentar para priorizar a soberania indígena e formas alternativas de governança?

O Projeto dos Princípios do Tratado: Continuidade Colonial e Resistência

O projeto de lei, apresentado pelo Partido ACT, buscava redefinir os princípios fundamentais do Tratado de Waitangi, o acordo de 1840 entre chefes Māori e a Coroa Britânica. Críticos argumentaram que o projeto desmantelava décadas de avanços nos direitos Māori, substituindo a parceria e a autodeterminação por uma visão homogeneizada de “cidadania igualitária”. A proposta gerou indignação nacional, culminando em um hīkoi (marcha de protesto) de nove dias que reuniu mais de 42 mil pessoas em Wellington, uma das maiores manifestações da história da Nova Zelândia.

Durante a primeira leitura do projeto, parlamentares do Te Pāti Māori realizaram a haka “Ka Mate”, uma dança tradicional Māori que simboliza resistência. A deputada Hana-Rawhiti Maipi-Clarke rasgou uma cópia do projeto, chamando-o de traição aos direitos indígenas. O presidente da Casa considerou o protesto “gravemente desordeiro”, suspendendo os co-líderes Rawiri Waititi e Debbie Ngarewa-Packer por 21 dias e Maipi-Clarke por sete dias, as punições mais severas já aplicadas a parlamentares em exercício.

Decoro Parlamentar vs. Tikanga Māori: Choque de Mundos

O protesto evidenciou as tensões entre as regras parlamentares e o tikanga Māori (costumes Māori). Enquanto o Parlamento impõe normas rígidas de procedimento, a expressão política Māori valoriza tradições orais, debates comunitários e atos simbólicos como a haka. Críticos condenaram as suspensões como formas de silenciamento da voz indígena, revelando desigualdades sistêmicas dentro de uma instituição colonial.

Helmut Modlik, diretor executivo da iwi Ngāti Toa, defendeu a haka como uma expressão legítima de dissidência, argumentando que o Parlamento só existe porque os chefes Māori permitiram sua criação. Da mesma forma, Waititi afirmou que haka e waiata (canções) são inseparáveis do discurso político Māori. Ainda assim, o Comitê de Privilégios classificou o protesto como “intimidador”, revelando a recusa do Estado em acomodar formas indígenas de resistência.

Abstencionismo: O Legado do Sinn Féin e a Crítica Anarcocomunista

O episódio reacende a questão da viabilidade do abstencionismo, estratégia usada historicamente pelo Sinn Féin, que recusava assentos no Parlamento britânico como forma de rejeição à autoridade inglesa sobre a Irlanda do Norte e afirmação da soberania irlandesa. Para o Te Pāti Māori, essa abordagem poderia simbolizar a rejeição de um sistema colonial que marginaliza os direitos Māori.

Sob a ótica anarcocomunista, os sistemas parlamentares são inerentemente opressores, servindo aos interesses do capital e da colonização. Pensadores como Rudolf Rocker e François Dumartheray sustentavam que instituições estatais cooptam a dissidência, sendo necessário construir estruturas alternativas baseadas em ajuda mútua e democracia direta. O protesto do Te Pāti Māori revela os limites de buscar justiça dentro de um arcabouço construído para manter hierarquias coloniais.

Críticos do abstencionismo alertam para os riscos de se abrir mão de uma influência política arduamente conquistada. Abandonar o Parlamento significaria renunciar à defesa legislativa direta, potencialmente deixando os direitos Māori ainda mais expostos a propostas como a dos Princípios do Tratado. A ausência no debate nacional também pode marginalizar perspectivas indígenas e enfraquecer alianças. Além disso, o abstencionismo pode ser mal interpretado por eleitores não-Māori, parecendo divisivo em vez de uma escolha ética e política, dificultando a construção de solidariedades interétnicas. Embora o poder simbólico da recusa seja inegável, suas consequências práticas, sobretudo num sistema em que a representação Māori é frágil, exigem reflexão cuidadosa.

Entretanto, defensores do abstencionismo argumentam que recusar o engajamento parlamentar é um ato radical e necessário de soberania. Rejeitar a participação em instituições que suprimem a expressão indígena, como a punição à haka do Te Pāti Māori, desafia a legitimidade de um sistema colonial hostil aos direitos Māori. Essa postura se alinha com a luta mais ampla pela autodeterminação Māori, evitando os compromissos impostos pela política colonial, que frequentemente dilui as demandas indígenas em reformas moderadas. Ademais, o abstencionismo pode impulsionar a mobilização de base, como ocorreu com o Sinn Féin na Irlanda do Norte, cuja recusa em legitimar o domínio britânico fortaleceu o apoio popular. A teoria anarcocomunista reforça essa via, ao propor a criação de instituições autônomas lideradas por Māori, como sistemas educacionais e de saúde geridos por iwi, fora do controle estatal. Essas estruturas de poder dual resistem à assimilação e materializam a soberania indígena na prática, enraizadas no tikanga Māori, e não em hierarquias coloniais.

Construindo Alternativas: Poder Dual e Autonomia Indígena

O pensamento anarcocomunista enfatiza o poder dual, a construção de sistemas autônomos paralelos ao Estado. Em Aotearoa, isso converge com as tradições Māori de governança por hapū (sub-tribos) e iwi (tribos), que priorizam o bem-estar coletivo em oposição ao individualismo liberal.

Fortalecendo estruturas autônomas nas áreas de educação, saúde e manejo ambiental lideradas por Māori, comunidades podem recuperar sua autonomia e resistir à assimilação. Esses esforços espelham a estratégia do Sinn Féin de construir instituições alternativas, demonstrando que a libertação não está em reformar sistemas opressores, mas em superá-los.

Conclusão

O protesto do Te Pāti Māori e a resposta punitiva que provocou expõem as bases coloniais do sistema parlamentar da Nova Zelândia. O abstencionismo surge como uma estratégia potente, não apenas como rejeição simbólica das instituições coloniais, mas como afirmação radical da soberania indígena. Embora críticos alertem para riscos como perda de influência legislativa e incompreensão pública, os limites da participação em um sistema desenhado para marginalizar vozes Māori não podem ser ignorados.

Ao se retirar do Parlamento, o Te Pāti Māori poderia redirecionar suas energias para construir estruturas de poder dual, educação, saúde e governança lideradas por Māori e baseadas no tikanga, priorizando a autonomia em vez da assimilação. Isso fortalece comunidades Māori contra a cooptação estatal, permitindo que retomem o controle de seus destinos.

Os riscos percebidos de marginalização empalidecem diante do potencial de cultivar, desde a base, uma soberania indígena real. A verdadeira libertação não reside em buscar validação de sistemas opressores, mas em criar alternativas que incorporem valores Māori. O abstencionismo, portanto, não é rendição, é um ato revolucionário de recusa, uma declaração de que os Māori não mais legitimarão a ordem colonial. Ao adotar esse caminho, o Te Pāti Māori pode inspirar um movimento transformador, demonstrando que o futuro de Aotearoa não está em reformar instituições falidas, mas em construir algo novo.

Fonte: https://awsm4u.noblogs.org/post/2025/05/17/rebuke-and-resistance-te-pati-maoris-protest-abstentionism-and-the-path-to-indigenous-sovereignty/  

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Na fria vidraça,
pinta colorida imagem —
Borboleta de inverno.

Alberto Murata

Petrobras | O combustível do genocídio!

|| Relatório recente divulgado pela ONU denuncia empresas petrolíferas, incluindo a estatal brasileira Petrobras, que exportam petróleo bruto para Israel, abastecendo refinarias do país que é responsável por um dos maiores crimes humanitários da atualidade, ao promover, sistematicamente, o genocídio contra o povo palestino, em Gaza. ||

A Petrobras foi apontada em um contundente relatório da ONU como parte de uma rede de corporações que financiam e sustentam a máquina de guerra israelense responsável pelo genocídio em curso contra o povo palestino. Assinado por Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, o documento — divulgado em 30 de junho — denuncia o papel do capital internacional na manutenção do apartheid e na execução de crimes contra a humanidade.

Intitulado “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, o relatório expõe como corporações — incluindo estatais como a Petrobras — não apenas legitimam, mas lucram com a destruição da Palestina. Segundo a ONU, a empresa brasileira possui participação expressiva em campos petrolíferos que abastecem refinarias israelenses e fornece combustível para aeronaves militares utilizadas nos ataques a Gaza.

“O genocídio, ao que parece, é lucrativo. Isso não pode continuar. A responsabilização deve ser o resultado”, alertou Francesca Albanese nas redes sociais.

O relatório responsabiliza diretamente empresas pelos lucros obtidos com a ocupação e o genocídio. Além da Petrobras, estão citadas gigantes como Chevron, Microsoft, Google, Amazon, Booking, Hyundai e Volvo. De acordo com Albanese, essas corporações contribuem ativamente para a destruição da Palestina: da vigilância e infraestrutura militar ao fornecimento de equipamentos para a demolição de lares palestinos e expansão dos assentamentos ilegais.

“Essas entidades permitem a negação da autodeterminação palestina e sustentam uma estrutura de apartheid, ocupação, anexação e limpeza étnica”, afirma o documento, que classifica a economia israelense como genocida.

A relatora desenvolveu um banco de dados com cerca de mil empresas envolvidas em crimes internacionais nos territórios ocupados. A lista apresentada no relatório, com 48 delas, é apenas “a ponta do iceberg”, diz Albanese, que pede o fim imediato de toda relação comercial e institucional com o regime israelense.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquista

Borboletas e
aves agitam voo:
nuvem de flores.

Bashô

Protesto contra a gentrificação na Cidade do México

Na tarde de sexta-feira, 4 de julho, quase 300 pessoas foram às ruas da Cidade do México para participar da primeira Marcha Contra a Gentrificação sob o lema: “Gentrificação não é progresso, é desapropriação”. Os manifestantes denunciaram o aumento dos aluguéis e a expansão do turismo, que acabou deslocando pessoas de seus bairros. 

Durante o protesto, manifestantes se separaram e um grupo “Black Bloc” carregando bandeiras palestinas e anarquistas avançou quebrando vidraças e pichando alguns estabelecimentos comerciais, além de soltar alguns fogos de artifício.

“Embora esta tenha sido a primeira marcha desse tipo, dificilmente será a última”, disse um manifestante, completando: “A gentrificação não se limita à Cidade do México; sua disseminação se expande em outras partes do país. O problema não está apenas nas novas construções ou no turismo, mas em um modelo de cidade que prioriza o lucro em detrimento do direito à moradia”.

A manifestação refletiu a crescente revolta de muitos moradores da Cidade do México, que viram os aluguéis dispararem e bairros antigos se tornarem luxuosos empreendimentos imobiliários à medida que a cidade se consolidava como um importante destino turístico e base de operações para muitos dos chamados nômades digitais.

>> Vídeohttps://www.youtube.com/watch?v=kIq3EC5JWRQ

agência de notícias anarquistas-ana

Na noite trevosa
eis, quando menos se espera,
teu semblante, lua!

Alexei Bueno

[Reino Unido] Élisée Reclus sobre a anarquia e a natureza

Para o grande geógrafo anarquista, a anarquia está presente em toda relação natural baseada na solidariedade

~ Fabio Carnevali ~

Reclus foi o anarquista que “nunca deu ordens a ninguém, e nunca dará”, como disse seu amigo de juventude Kropotkin, assim como o geógrafo em defesa do qual importantes cientistas – incluindo Charles Darwin – se mobilizaram quando ele enfrentou a deportação para a Nova Caledônia após a Comuna de Paris.

Na obra de Reclus, anarquia e estudo da natureza estavam unidos por um vínculo estreito. Seus estudos políticos e geográficos remontam à sua juventude, e logo ele passou a relacioná-los. Após o golpe de Estado de Luís Bonaparte em 1851, Élisée e seu irmão Élie exilaram-se. Nesses anos, Élisée viveu primeiro na Irlanda, depois na Louisiana e finalmente na Colômbia. Isso permitiu-lhe reunir material para suas primeiras obras geográficas enquanto desenvolvia sua crítica à escravidão nos Estados Unidos.

Reclus não concebia a anarquia como uma utopia futura, mas como a forma de todas as relações que praticam a ajuda mútua – o “fator iluminado da evolução” –, mostrando sua afinidade com Piotr Kropotkin. Para ambos, uma compreensão adequada da natureza e da relação entre humano e não humano fomentaria a solidariedade e ajudaria a desmistificar ideologias que ocultam o verdadeiro papel da humanidade na natureza.

Num discurso proferido em uma loja maçônica de Bruxelas em 1894, Reclus definiu a ideia anarquista de liberdade como uma coexistência pacífica que não deriva da obediência à lei nem do medo de punições, mas do “respeito mútuo pelo interesse de todos e do estudo científico das leis naturais”. Para ele, a anarquia está em jogo em toda relação natural baseada na solidariedade. Promover mudança social significa criar grupos que pratiquem a solidariedade e escolham viver segundo esse princípio. Nesse sentido, “educação” significa formar pessoas e comunidades livres e dispostas a lutar por sua liberdade.

“A natureza toma consciência de si mesma”

Reclus pensava a anarquia como a forma mais natural de relação, e certamente a única que permite verdadeira liberdade. Ao retornar à França após seu exílio nas Américas, Reclus escreveu ao diretor da Revue Germanique propondo colaboração. Na carta afirmava: “filosoficamente, filio-me à escola de Spinoza”. De fato, as ideias desse pensador sobre natureza, conhecimento e liberação ecoam fortemente no pano de fundo do pensamento de Reclus.

Sua principal obra, L’Homme et la Terre, inicia-se com uma imagem da Terra sustentada por mãos humanas. Abaixo da imagem lê-se:

“A humanidade é a natureza tomando consciência de si mesma”.

Para a humanidade, compreender seu papel na natureza implicaria repensar as bases de sua ética, considerando a interconexão que a une a todo o mundo não humano.

Essa perspectiva ética levou Reclus a adotar posições antiespecistas, defendendo um vegetarianismo ético que se recusa a ver animais como meras fontes de alimento. Ele acreditava que o crescimento moral da humanidade depende da compreensão de nossa união com o conjunto da vida e do fortalecimento dessa conexão.

No 120º aniversário de morte de Élisée Reclus, abordar sua vida e pensamento nos permite refletir sobre sua contribuição e relevância tanto teórica quanto militante. Muitas de suas ideias permanecem atuais, especialmente sobre as relações entre sociedades e natureza. Quanto a conceitos ecológicos que mais tarde seriam centrais para anarquistas como Murray Bookchin e John Clark, ele foi pioneiro e fonte de inspiração.

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/04/elisee-reclus-on-anarchy-and-nature/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sob a garoa fria
Vagam pelas ruas vazias
Um velho e o cão.

Hazel de São Francisco

[Argentina] Completamos 100 edições e não adormecemos

É uma alegria manter a constância na periodicidade do boletim durante todos esses anos e compartilhar a significativa centésima edição. Orgulhamo-nos de seguir adiante com uma voz dissidente, reflexiva e revolucionária; continuar graças ao esforço de todas as pessoas que consideram necessário que este boletim exista.
 
Desde o início de 2012, nos propusemos a compreender o mundo que habitamos, agitar, apontar as causas profundas dos mal-estares sociais, participar das lutas em curso, solidarizar-nos e dar visibilidade. Permitimo-nos duvidar, discordar, afirmar, negar e comunicar isso. Continuamos sustentando que outro mundo é possível, que outras formas de luta são possíveis. Que há vida além do Capital e do Estado, da propriedade privada e do dinheiro.
 
Mantemos a perspectiva histórica do movimento pela superação das condições existentes, ao mesmo tempo que tentamos contribuir para sua atualização, para caminhar no ritmo do nosso tempo.
 
A Ovelha Negra não se vende
 
Nas culturas ocidentais, o branco geralmente foi associado à pureza, à inocência e ao correto, enquanto o preto representou o desviante ou o negativo. Assim, quem não seguia as normas, desviava-se do socialmente aceito ou causava problemas podia ser considerado uma “ovelha negra”. É provável que isso derive da presença incomum e indesejada nos rebanhos de ovelhas cuja lã preta não era bem cotada no mercado. Segundo diversas fontes, pode-se ler que a lã preta não podia ser tingida; outras dizem que não podia ser vendida porque a Igreja costumava reclamá-la dos fazendeiros como imposto, supostamente para confeccionar sotainas. Seja como for, A Ovelha Negra não se vende. Em sua dupla acepção, nosso boletim é incorruptível e de distribuição gratuita. Apesar da sociedade mercantil generalizada em que se escreve, A Ovelha Negra não é uma mercadoria.
 
Esta folha impressa em ambas as faces tem a qualidade de circular facilmente de mão em mão, por diferentes cidades. Apostamos em continuar publicando este boletim em papel, ao mesmo tempo que o compartilhamos por meios digitais. A Ovelha Negra é gratuita, mas isso não significa que não custe dinheiro fazê-la. Em tempos em que quase tudo se faz por dinheiro e há uma tendência a considerar toda atividade humana como trabalho, escolhemos ir contra a corrente. Fazemos um esforço para cobrir os gastos de impressão, roubando tempo do trabalho ou do lazer para pensar, conversar, escrever, desenhar, diagramar, distribuir e difundir estas reflexões.
 
Outras pessoas que não participam do grupo editor, mas consideram importante a existência deste boletim, colaboram como e quando podem, seja financeiramente ou divulgando nos lugares que frequentam, para amigos e conhecidos; assim como outras imprimem por seus próprios meios, inclusive em outras cidades e países. Da mesma forma, companheiros desconhecidos de outras regiões do planeta traduzem artigos d’A Ovelha Negra para o grego, italiano, francês, inglês ou alemão, colocando-os a circular pelas ruas ou pela web.
 
Sair do rebanho?
 
Uma rápida busca na web diz que na Inglaterra, durante os séculos XVIII e XIX, a cor preta das ovelhas era vista como uma marca do diabo. O primeiro registro conhecido de “ovelha negra” em sentido depreciativo provém dos escritos de um puritano chamado Thomas Shepard que, em seu texto evangélico The Sincere Convert (1640), escreve: “Expulsai todos os ímpios que há entre nós, como bêbados, blasfemos, prostitutas, mentirosos, aqueles que as Escrituras classificam como ovelhas negras e condenam em cem lugares.”
 
Atualmente, a expressão é usada para se referir a membros de um grupo humano que possuem características diferentes de seus semelhantes. Da diversidade progressista à rebeldia neodireitista, aquilo que sai de certos cânones pode ser catalogado dessa forma e até mesmo assumido como identidade… uma questão de escolha. O Estado democrático se apresenta como o Bom Pastor: todas as ovelhas desgarradas devem ser integradas.
 
Ovelha branca, ovelha preta, rebanho no fim das contas. Há quem suponha “sair do rebanho”, pensar-se fora, perceber-se completamente diferente; outros assumimos a condição de rebanho imposta e agimos a partir desse lugar, dessa experiência.
 
Existe uma tentação e certo orgulho no lugar da excepcionalidade, que costuma levar a uma posição de exterioridade. Se pensamos diferente e buscamos algo diferente, é necessário perguntarmo-nos por que fazemos isso, e sobre as possibilidades de que essa vontade de mudança se generalize nas condições atuais. Trata-se de compreender as determinações materiais sobre as consciências. Não podemos escapar da sociedade capitalista, mas podemos superá-la.
 
Continuamos
 
Desejamos de todo o coração seguir contribuindo nessa mesma direção. Queremos colaborar com a luta contra o Capital e seu Estado, tanto para companheiros próximos quanto distantes, conhecidos e desconhecidos, venham de tal ou qual movimento. Para ser e fazer a revolução. Que sentido pode ter refletir sobre este mundo se não for para transformá-lo?
 
Fonte: https://boletinlaovejanegra.blogspot.com/2025/07/contamos-100-numeros-y-no-nos-dormimos.html 
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Garoinha fina —
Alguns abrem, outros fecham
guarda-chuvas pretos
 
Tania D’Orfani

Novidade editorial: “Escritos Afugentáveis I – O educador mercenário: Para uma crítica radical das escolas da democracia”

Educação Libertária é possível? O que é “Educação” para que seja possível adjetivá-la? Uma educação pode ser denominada educação se não for libertária? Uma educação libertária requer professores libertários? Quem seriam? Prescinde de professor? Por que a Educação Libertária é aceita nos espaços institucionais se ela se pretende anti-sistema?

Escritos Afugentáveis I – O educador mercenário: Para uma crítica radical das escolas da democracia

Pedro Garcia Olivo, tradução de Paulo Marques.

128 páginas

R$ 43,30

monstrodosmares.com.br

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Dentro da lagoa
uma diz “chove”, outra diz “não”:
conversa de rã.

Eunice Arruda

[Suíça] Manifestação em apoio à Maja

Nós nos reunimos em frente à embaixada alemã em Berna. Gritamos em alto e bom som que Maja deve ser repatriada para a Alemanha imediatamente e que todos os prisioneiros políticos e antifascistas devem ser libertados. Depois de protestar em alto e bom som contra a inação do governo alemão, penduramos nossa faixa em frente à embaixada da Hungria.
 
Maja é uma antifascista não binária que está detida ilegalmente na Hungria há mais de um ano. Maja está em greve de fome há quase 30 dias para protestar contra as terríveis condições de sua detenção. Nesse meio tempo, Maja foi hospitalizada e seu estado de saúde é crítico. A família, os companheiros e os amigos de Maja estão pedindo que Maja seja repatriada para a Alemanha! Nós nos reunimos hoje (07/07) em frente à embaixada alemã para chamar a atenção para a situação de Maja.
 
Maja está sendo mantida em confinamento solitário em condições terríveis na Hungria, um país que é hostil às pessoas queer. Como pessoa não binária, Maja não pode esperar um julgamento justo na Hungria, e é inaceitável que Maja permaneça na prisão. Pedimos seu retorno e enviamos a ela todo o nosso apoio e força!
 
Fonte: https://renverse.co/infos-locales/article/rassemblement-en-soutien-a-maja-7583
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Vagarosamente
caminha sobre o papel —
Mosca de inverno.
 
Teruko Oda

Os interesses espúrios do Congresso e de Lula

Nas últimas semanas, as polêmicas envolvendo o aumento de energia elétrica, a derrubada dos decretos do IOF e o aumento do número de cadeiras para deputados no Congresso têm levantado o debate em torno do orçamento público no Brasil.

O Governo Lula e seus satélites (CUT, MST, MTST, PSOL e outros) procuram alavancar a narrativa de que a culpa pelos cortes e medidas anti-povo é resultado da composição do Congresso, mas escondem medidas que pavimentam o caminho do ultraliberalismo brasileiro.

As meia-verdades contadas pelo Governo

De início, cabe salientar que a campanha “Congresso inimigo do povo” não parte de uma mentira. O Congresso Nacional é, em sua maioria, (e sempre foi) inimigo do povo, composto majoritariamente por empresários, rentistas, agronegócio e aliados.

A desfaçatez do Congresso, que segue aprovando projetos que elevam os gastos enquanto cobra do governo cortes nas áreas sociais, faz parte de uma prática de fisiologismo que sempre existiu.

Atualmente, essa prática atende a uma ofensiva liberal que visa desgastar o governo Lula em prol de um futuro governo de ultradireita, com benefícios ainda maiores para o rentismo e o agronegócio, e redução mais drástica dos gastos nas áreas sociais.

O Governo precisa de base eleitoral para negociar os direitos do povo

A demanda por maiores cortes em áreas sociais se dá em um contexto em que diversas pesquisas de opinião apontam para redução da popularidade do Governo Lula.

Sabendo que mais cortes em áreas sociais tendem a aumentar a insatisfação da população e colocam em cheque os objetivos eleitorais do PT para 2026, o partido passou a impulsionar campanhas por “justiça tributária” através de mobilizações para “taxação de super-ricos”, fim da escala 6×1, redução da jornada de trabalho e isenção do imposto de renda para trabalhadores que ganham abaixo de 5 mil por mês.

A iniciativa estimulou as bases sociais do Governo e levou a campanhas nas redes sociais, a construção de um plebiscito popular e até alguns atos aparentemente mais radicais, como o protesto da Frente Povo Sem Medo no prédio da Itaú.

Apesar da justeza das pautas e do uso de táticas mais avançadas pela socialdemocracia, não temos ilusões: as ações dos movimentos sociais nesse contexto são utilizadas pelo Governo como ferramenta social para construção de um novo pacto conciliatório rebaixado.

Afinal, as regras do ajuste fiscal que limitam os gastos para educação e saúde foram propostas pelo próprio Governo Lula-Alckmin (PT-PSB) sobre a gerência de Haddad. À época da aprovação do marco fiscal, as ações e protestos contra as medidas eram vistas como “exagero” e a proposta era defendida pelos tecnocratas do PT como “necessária”. 

Na última sexta-feira, dia 04, o próprio Lula em evento da Petrobrás elogiou e agradeceu ao Congresso, pregando conciliação e se colocando como o primeiro presidente que será eleito pela 4ª vez.

É preciso construir o caminho da luta com autonomia de classe

A disputa do fundo público deve ser compreendida como uma expressão da luta de classes, na qual diferentes frações da burguesia e da classe trabalhadora buscam apropriar-se de parcelas do orçamento estatal para atender aos seus interesses econômicos e políticos. O Estado, longe de ser neutro, atua como um instrumento de mediação e reprodução das relações capitalistas, sendo pressionado por diversas forças sociais. Assim, o fundo público torna-se arena de conflitos, em que os capitalistas buscam garantir subsídios, isenções fiscais e investimentos que favoreçam a acumulação de capital, enquanto os trabalhadores e movimentos sociais lutam por políticas públicas, como saúde, educação e assistência social, que atendam às necessidades da maioria. Essa disputa revela a função estrutural do Estado na manutenção da ordem capitalista, ao mesmo tempo em que abre espaço para contradições e possibilidades de avanço das lutas populares.

Assim, é preciso lutar pela taxação dos super ricos (o que vai muito além de mudar a alíquota do IOF); pelo direcionamento de verbas para políticas públicas sociais; pelo direito à terra e contra medidas de austeridade, sejam elas implementadas por um Governo dito de esquerda ou pelo Congresso.

Para que as lutas não sejam traídas e se transformem em conquistas reais, é necessário avançar na construção de organizações de base autônomas, desvinculadas de partidos políticos eleitorais, que não subjuguem as lutas reais a interesses particulares.

A FOB possui como princípio a defesa da democracia de base em suas organizações. Entendemos que a luta deve ser construída debaixo para cima, com autonomia de classe e ação direta.

Conheça a FOB e construa a luta pelos direitos do povo!

Pelo fim da escala 6×1, pela revogação das reformas da previdência e trabalhista e pela taxação das grandes fortunas!

Por uma sociedade fraterna com terra, trabalho e liberdade para todos!

lutafob.org

agência de notícias anarquistas-ana

Pasto ressecado —
Faminto, desengonçado
pousa o urubu.

Kazue Yamada

Em defesa da Mãe Natureza e dos animais! Foda-se Lula e o mundo do petróleo!!! 

Chamado a ações de solidariedade nos dias 9 a 11 de agosto, aniversário da revolta bielorrussa de 2020

O quinto aniversário da revolta contra a ditadura de Lukashenko está se aproximando. A repressão em larga escala suprimiu temporariamente a resistência massiva ao regime, e uma série de eventos trágicos no cenário mundial ofuscou a agenda bielorrussa. Com que emoções marcamos esse aniversário? Alguns com nostalgia, outros com esperança, outros apenas com cansaço e decepção. Para muitos, o entusiasmo e a unidade daqueles dias foram substituídos por apatia e desunião.
 
No entanto, os eventos de 2020 não são apenas história. São uma experiência de luta conjunta, de conquistas e de erros. Essa experiência passou a fazer parte da formação da vida política do país e já inspira novas gerações tanto em Belarus quanto fora dela. Por meio da revolta de 2020 e da organização política que se seguiu, encontramos uns aos outros e nosso lugar em uma sociedade que o regime e o “mundo russo” apresentavam como um rebanho obediente.
 
Naquele verão ardente, sentimos o poder da ação coletiva e vimos a força de uma insurreição popular auto-organizada. Isso foi possível porque cada um de nós decidiu participar. Se arriscar, acreditar, não ficar de braços cruzados.
 
É por isso que convocamos nossos camaradas em diferentes cidades a se juntarem às ações da diáspora ou a organizarem seus próprios eventos. Vamos lembrar a todos ao nosso redor que não existem apenas o estado e sua repressão, mas também o desejo inquebrantável dos povos por justiça, liberdade e igualdade.
 
Até que todos sejam livres!
 
Pramen
https://pramen.io
 
Tradução > Contrafatual
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/03/24/noticias-sobre-presos-politicos-anarquistas-na-bielorrussia-fevereiro-de-2023/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
dissolve-se a tarde
no alarido das araras
e em flocos de chumbo
 
Zemaria Pinto

[Argentina] Comunicado pelos 90 anos da Biblioteca Popular José Ingenieros

Ao completar 90 anos de fundação, celebramos a existência combativa da Biblioteca Popular José Ingenieros. Não é um mero aniversário: é a reafirmação de um projeto revolucionário que se ergue, desde suas origens, como trincheira de resistência e organização popular.
 
Esta biblioteca, nascida do impulso generoso de trabalhadoras e trabalhadores calçadistas, sempre soube ser muito mais que estantes e livros. Foi um espaço de encontro, formação, crítica e construção coletiva. Aqui se semeiam ideias que não admitem domesticação, que rejeitam a ordem injusta, que se rebelam contra o esquecimento imposto pelos de cima.
 
Em tempos em que o sistema capitalista aprofunda sua matriz de dominação, precariedade e alienação, espaços populares de cultura crítica como esta biblioteca são imprescindíveis. São fogões onde se cozinha a dignidade rebelde, onde se escuta a memória das lutas e se projeta o horizonte de uma sociedade sem opressores nem oprimidos.
 
Por isso, este aniversário não é um ato de nostalgia. É um convite urgente a multiplicar as forças militantes, a organizar por baixo, a construir autogestão em cada canto do bairro, da oficina, da escola, do campo. É ocasião para perguntarmos: Que mundo queremos? Que papel estamos dispostos a desempenhar em sua construção?
 
Reivindicamos o legado de quem soube colocar o pensamento e a ação a serviço da emancipação. Não como estátuas imóveis, mas como referências vivas, cuja coerência ética e política deve encarnar em nossa prática cotidiana.
 
Deste presente carregado de desafios, saudamos a Biblioteca Popular José Ingenieros e todas e todos que a sustentaram com militância e convicção. Aos 90 anos de seu nascimento, celebramos sua história, mas sobretudo celebramos seu porvir.
 
Viva a Biblioteca Popular José Ingenieros!
Viva a luta do povo por sua emancipação!
 
Organizar, lutar, criar!
Viva a Anarquia!
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Entre pernas guardas:
casa de água
e uma rajada de pássaros.
 
Olga Savary

[Reino Unido] Armas nucleares em solo britânico

Entre o militarismo escancarado do Partido Trabalhista e um movimento pacifista domesticado, cabe aos anarquistas intensificar a resistência às armas de destruição em massa

~ Ned Skinn’ ~

O patriotismo de bandeirinhas e desfiles para comemorar o 80º aniversário do Dia D tem, por ora, desviado nossa atenção de outro aniversário que se aproxima: o dos bombardeios atômicos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. As imagens de destruição e sofrimento humano que se seguiram mostraram uma realidade horrível, refletida em filmes do tipo “como seria”, como Threads. A humanidade prendeu a respiração e decidiu que ninguém queria que aquilo se repetisse. Foi o medo da “destruição mútua assegurada” que, argumenta-se, manteve uma paz nuclear desde então.

Mas agora, pela primeira vez em quase 20 anos, acaba de ser anunciado que armas nucleares norte-americanas voltarão a ser instaladas em solo britânico. O primeiro-ministro britânico nos diz que devemos nos preparar para a guerra. Fala-se em conscrição e em uma espécie de milícia voluntária ao estilo da “Dad’s Army” (série de TV sobre civis armados na Segunda Guerra). A imprensa de direita tenta nos vender a mentira de que poderíamos sobreviver a um confronto nuclear. Empresas estão sendo orientadas sobre como se manter operacionais durante a guerra. Até “inimigos internos”, como o grupo Palestine Action, estão sendo alvos, com o aumento dos poderes policiais para reprimir possíveis agitações civis.

Diante de tudo isso, o movimento anarquista neste país tem uma longa história de envolvimento com o antimilitarismo e com a resistência às armas nucleares. Boa parte dela, talvez, esquecida. Pode ser útil relembrar esse passado.

Logo após o início dos testes nucleares britânicos, em 1952, surgiu a primeira geração de manifestantes antinucleares, com a formação da Campanha pelo Desarmamento Nuclear (Campaign for Nuclear Disarmament – CND) e o mais radical Comitê dos 100 (Committee of 100). Esses movimentos tinham amplo apoio popular, e não demorou para que o Partido Trabalhista percebesse o potencial eleitoral dessa base. A preocupação pública, especialmente após a crise dos mísseis de Cuba em 1962, fez com que muitos acreditassem na promessa trabalhista: “Vote em nós e baniremos a bomba!”.

Como antimilitaristas, os anarquistas já participavam de lutas contra a guerra anteriormente e alertavam que o Partido Trabalhista não era confiável. E, de fato, em 1964, o Partido Trabalhista voltou ao poder com a bandeira “banir a bomba”, e não perdeu tempo em seguir desenvolvendo o arsenal nuclear britânico. Essas mentiras e traições deveriam ter sido lições a serem lembradas para sempre.

Infelizmente, como muitos movimentos com origens radicais, a CND e outras organizações pacifistas passaram a ser lideradas por liberais de classe média, pacifistas cristãos e socialistas estatais “entristas”. Desde então, gerações de pessoas desejando “fazer algo” foram atraídas para o mesmo beco sem saída: escrever cartas a políticos, participar de marchas e serem incentivadas a “votar no Partido Trabalhista, sem ilusões”, repetidas vezes. Essa postura se manteve durante a intensificação da Guerra Fria nos anos 1980. Apesar das manifestações em massa e do acampamento em Greenham Common, a liderança do movimento pacifista continuou canalizando tudo para protestos inofensivos e para a política eleitoral.

Os anos 1980 também viram o ressurgimento do movimento anarquista. O interesse pelo que mais tarde se tornaria a Class War Federation começou após sua presença nas manifestações da CND. A cena anarcopunk e a atuação de anarquistas nos movimentos pelos direitos dos animais e pelo meio ambiente impulsionaram o interesse em nossas ideias. A ação direta, em todas as suas formas, tornou-se popular. Os ataques dos Tories à classe trabalhadora provocaram greves importantes, como as de mineiros, gráficos e paramédicos, incentivando uma política anarquista de luta de classes e levando à criação de organizações especificamente proletárias, como a Anarchist Communist Federation.

E agora? Só nos resta esperar para ver que efeito os acontecimentos recentes terão sobre a população em geral, especialmente a classe trabalhadora. Acredito que talvez as coisas precisem piorar antes de melhorar. Com o crescente autoritarismo e militarismo da sociedade, e com os esforços intensificados para reprimir a dissidência, o governo trabalhista está mostrando sua verdadeira face. Até onde a população suportará antes de despertar e agir?

Devemos manter nosso posicionamento antimilitarista e apontar o fato evidente: o Partido Trabalhista não é a solução, mas parte do problema. Isso colocará a esquerda em um dilema, então, mesmo sendo poucos, devemos agir e falar com integridade. Precisamos nos cuidar, mas também nos levantar, gritar e nos organizar. É o anarquismo que pode fornecer a faísca que acenderá a chama da mudança. Só precisamos riscar o fósforo.

Imagem do topo: Bloqueio antinuclear em Faslane, 15 de abril de 2013. Ric Lander no Flickr – CC BY-NC-SA 2.0

Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/06/28/nuclear-weapons-on-british-soil/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

é quase noitinha
o céu entorna no poente
um copo de vinho

Humberto del Maestro

[Europa] Ações de solidariedade com Maja T, antifascista em greve de fome

Pai de ativista caminha até Berlim com 100.000 assinaturas para “exigir justiça por sua criança” presa em Budapeste
 
~ Alisa-Ece Tohumcu ~
 
Nos últimos dias, ações de solidariedade vêm sendo realizadas em apoio a Maja T, ativista antifascista não-binárie e uma das pessoas acusadas no caso de Budapeste. Maja, em greve de fome desde 5 de junho, foi transferide na terça-feira para um hospital prisional próximo à fronteira com a Romênia, em estado crítico. Segundo familiares, elu perdeu cerca de doze quilos.
 
Sua extradição da Alemanha para a Hungria, em 2024, foi considerada ilegal pelo Tribunal Constitucional Federal em abril. Ainda assim, Maja permanece em prisão preventiva sob o que apoiadores denunciam como “tortura branca”: isolamento total, vigilância 24 horas, negação da terapia hormonal e comunicação extremamente limitada.
 
Houve manifestações em Berlim, Dresden, Viena, Düsseldorf, Jena e outras cidades. No dia 25 de junho, integrantes da rede de apoio Free Maja interromperam uma sessão do Parlamento Estadual da Saxônia, exigindo que o Ministro-Presidente Michael Kretschmer (CDU) acatasse a decisão judicial. Kretschmer desdenhou do protesto, afirmando que suas políticas são “para a classe média”.
 
Nos dias 1º e 2 de julho, manifestações barulhentas ocorreram diariamente diante da Chancelaria Estadual da Saxônia. “Continuaremos até que Maja esteja de volta conosco”, declarou o Comitê de Solidariedade Antifascista de Dresden. Ativistas responsabilizam o governo de Kretschmer por viabilizar a extradição e manter laços com o partido governista Fidesz da Hungria.
 
Maja é une dentre vários antifascistas acusades de envolvimento num ataque ao evento “Dia da Honra” de fevereiro de 2023 em Budapeste, uma reunião anual de grupos neonazistas. Elu foi prese em Berlim em dezembro de 2023 e extradade em julho seguinte, antes do término de sua apelação judicial, o que, segundo críticas, viola tanto os padrões constitucionais alemães quanto a Convenção Europeia de Direitos Humanos.
 
Wolfram Jarosch, pai de Maja, iniciou uma caminhada de mais de 300 quilômetros, de Jena até Berlim. Ele leva consigo uma petição com 100.000 assinaturas exigindo a intervenção do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha. “Cada dia na prisão representa um risco para a vida da minha criança”, afirmou. “A inação política coloca Maja em perigo direto.”
 
Em Schwelm, ativistas danificaram uma agência do Deutsche Bank no dia 22 de junho, citando o envolvimento da instituição no financiamento da indústria bélica global. Em 2 de julho, militantes picharam a sede do partido CDU em Hamburgo, responsabilizando-o pela detenção de Maja. “Não descansaremos até que Maja esteja de volta conosco”, escreveram.
 
As próprias palavras de Maja, divulgadas em uma carta contrabandeada, têm sido amplamente citadas: “A solidariedade me dá forças para continuar lutando, não apenas por melhores condições nas prisões da Hungria, mas pela liberdade de todos os presos políticos”. Estão previstas novas manifestações e encontros de organização, incluindo um evento público em Dresden no dia 7 de julho.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/03/solidarity-actions-with-hunger-striking-antifascist-maja-t/  
 
Tradução > Contrafatual
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/07/03/hungria-a-antifascista-maja-esta-hospitalizada-esta-em-greve-de-fome-ha-um-mes-contra-sua-prisao/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/06/09/hungria-maja-esta-em-greve-de-fome/
 
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O espelho d’água
Reflete em múltiplos tons
O voo da libélula.
 
João de Deus Souto Filho