[Espanha] Lançamento: “A experiência autogestionária durante a Guerra Civil espanhola”, de Luis Buendía García e José Luis Carretero Miramar

A experiência autogestionária do movimento anarcossindicalista durante a Guerra Civil constituiu um dos experimentos revolucionários mais criativos, profundos e originais do século XX. A coletivização das indústrias e dos campos foi acompanhada da criação de instituições educativas abertas ao conjunto da população e da socialização de recursos para o bem estar comum.

Neste documentado livro, Luis Buendía e José Luis Carretero, investigadores do Instituto de Ciências Econômicas e da Autogestão e de diversas instituições pedagógicas, nos narram as linhas gerais deste imenso experimento revolucionário, aportando materiais inspiradores e imprescindíveis para o projeto de transformação social libertária. Uma proposta de reconstrução da sociedade que se tornou cada vez mais necessária ante o avanço da crise social, econômica, cultural e climática que acompanha o capitalismo…

13×18 cm, 218 p., 2025, 10,00 €, calumnia.sumupstore.com

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

O sol brilha
Nas vigas da ponte –
Névoa da tarde.

Hokushi

Saiu a programação completa da 5ª Conferência Internacional de Geógrafxs e Geografias Anarquistas

9-12 dezembro 2025 | Departamento de Geografia (FFLCH), Universidade de São Paulo (USP), Auditório Milton Santos | O evento ocorrerá presencial e é aberto e gratuito

Depois das quatro Conferências Internacionais de Geógrafxs e Geografias Anarquistas organizadas em Reggio Emilia (Itália, 2017), Rabastens (França, 2019), Oaxaca (México, 2021) e Córdoba (Argentina, 2023), a quinta acontecerá na cidade de São Paulo (Brasil) em 2025.

A escolha da cidade é muito significativa porque a cidade de São Paulo, a USP e também o Brasil, têm uma tradição de organização de conferências internacionais sobre as figuras históricas da geografia anarquistas. Entre os eventos estão os Colóquios Internacionais sobre Élisée Reclus (2011) e sobre o Centenário do falecimento de Piotr Kropotkin (2021), ambos organizados pela Biblioteca Terra Livre com o apoio do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo.

>> Confira aqui a programação completahttps://5cigga.wordpress.com/2025/10/01/programacao-completa/

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Margeando riacho
Tenras folhinhas brotam
No campo queimado.

Mary Leiko Fukai Terada

Das Mãos Vazias às Mãos que Se Defendem: A FACA Promove Formação de Autodefesa no Espírito Santo

Em um ato de preparação diante da crescente violência estatal e paramilitar, a Federação Anarquista Capixaba (FACA) ocupou o território dominado pelo estado do Espírito Santo para realizar, no último 13 de outubro de 2025, em Guarapari, uma formação em defesa pessoal voltada para a classe trabalhadora. A ação, organizada de forma horizontal e autogerida, visou armar corpos e mentes contra a repressão cotidiana, transformando um espaço de lazer imposto pelo capital em um território temporário de auto-organização e aprendizado coletivo. Longe dos aparatos de segurança do Estado, que protegem a propriedade e criminalizam a pobreza, xs trabalhadorxs capixabas praticaram a autodefesa como princípio fundamental da libertação.

Esta iniciativa vai além da mera reação física; é um gesto profundamente político de desobediência à lógica que entrega nossa segurança aos mesmos aparatos que nos oprimem. Enquanto o Estado monopoliza a violência para garantir a ordem do capital, a FACA reafirma que a verdadeira segurança nasce da solidariedade de classe e da capacidade de defesa coletiva. Aprender a proteger o próprio corpo e o do companheiro é o primeiro passo para proteger a comunidade e o território das incursões do Capital e de suas forças de repressão, construindo uma trincheira de corpos indisponíveis para a dominação.

A formação em Guarapari não é um evento isolado, mas um elo na cadeia de ações diretas que buscam forjar a autonomia popular. Ao proporcionar esses saberes, historicamente restritos às forças de segurança, a FACA pratica a educação libertária que entrelaça teoria e prática, gestando o embrião da sociedade livre que almejamos: uma onde o povo, organizado e consciente de seu poder, não apenas resiste, mas constrói as bases materiais de um mundo sem patrões e sem Estado. Cada golpe desferido com técnica é um não à submissão; cada esquiva, uma negação prática à passividade imposta.

Federação Anarquista Capixaba – FACA

federacaocapixaba.noblogs.org

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Escorre pela folha
a tarde imensa,
pousada em gota d’água.

Yeda Prates Bernis

2ª Feira Anarquista de Presidente Prudente (SP)

A 2ª Feira Anarquista de Presidente Prudente (SP) terá várias atividades durante o dia trazendo resistência e ancestralidade indígena, as mulheres no anarquismo, exposições literárias e mais, confira!

• Introdução ao Anarquismo com o compa @anarcomusico.

• Roda de conversa com a curadora do museu indígena Worik Sol Nascente @susilenekaingang e seu companheiro Elizeu Guarani Nhandewa, sobre lutas de resistência e memória indígena.

• Bate-Papo com a professora, pesquisadora e escritora @samanthalodi sobre seu livro: “Louise Michel, Pertenço a Revolução Social”.

• Exposições artísticas, exposições literárias do acervo @sebo_maranta

• Oficinas de Malabares e oficina de Zines.

• Bandas: Tarantino fastcore – Prudente/Birigui Sp. @tarantinofastcore / Caramelows Dog – Presidente Prudente Sp. @caramelowdogs / Haruspex – Presidente Prudente Sp. @777haruspex .

A Feira Anarquista de Presidente Prudente (SP) é construída de forma coletiva sem fins lucrativos, de caráter cultural literário, trazendo mais sobre a luta do Socialismo Libertário, sobre a luta indígena e o protagonismo das mulheres.

Apoie nossa rifa artística e ajude nossa luta social, qualquer número de 1 a 100 por 10 reais, Pix feiraanarquistaprudente@gmail.com.

>> Mais infoshttps://www.instagram.com/feiraanarquistapp/

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Pichação no muro:
a tinta é verbo, o muro
é a página do povo.

Liberto Herrera

É aquela época do ano!

Já passou quase um ano desde a última vez que escrevemos a vocês! Nas próximas semanas, falaremos sobre os desafios que enfrentamos nos últimos meses, as novidades sobre o que temos feito e, no final, haverá uma agradável surpresa.

Temos nos perguntado o que vocês andam fazendo e as pessoas que nos disseram, nos mostraram que as ferramentas que Riseup oferece são politicamente úteis e importantes. O e-mail tem sido utilizado para proporcionar acesso a abortos seguros, o etherpad tem sido utilizado para a organização do espaço de trabalho e o crabgrass para cozinhas comunitárias. Nos enche de alegria toda vez que vemos nossos esforços sendo úteis!

Para que continuemos a prestar esses serviços e encontrar grandes usos políticos para eles, pedimos a todos os que são capazes que contribuam. Diga às suas camaradas e amizades o quão incrível é o Riseup e se puder, por favor doe – https://riseup.net/pt/doacao

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Crepúsculo. O sol no horizonte
Vai descendo
Os degraus do monte.

Clínio Jorge

[Itália] Louise Michel e os animais. Entre anarquismo e antiespecismo

Num tempo em que todas as opressões – patriarcais, racistas, capitalistas e especistas – se reforçam e se reorganizam, nos pareceu verdadeiramente inspirador voltar a uma figura como Louise Michel, militante radical do século XIX revolucionário, uma mulher que ousou manter unidas as lutas antes que as categorias as separassem, antes que os próprios movimentos se deixassem aprisionar em cercados identitários ou setoriais.

O que é amplamente reconhecido em Louise Michel é o fato de ela ter sido uma comunarda, uma anarquista, uma feminista, mas também uma precursora da pedagogia libertária, uma escritora, uma internacionalista. No entanto, entre as mil facetas de sua luta, sua voz antiespecista, tão precoce, tão lúcida, permanece como um eco ignorado na narrativa histórica.

Num século em que nem sequer se concebiam ideias como Liberação e Resistência Animal, Louise reconhecia seu imenso alcance político. Para ela, não se tratava apenas de “defender os animais” em nome de uma vaga sensibilidade ou pureza, mas de recusar a hierarquia da superioridade humana que fundamenta e legitima todas as outras opressões. Louise intuíra, com uma radicalidade que ainda hoje brilha intensamente na escuridão, que a dominação sobre o humano e sobre o não humano têm a mesma raiz e, fatalmente, se alimentam mutuamente.

Louise Michel e os animais. Entre anarquismo e antiespecismo é, portanto, a tentativa de recuperar uma genealogia política antiespecista que não nasce em think tanks acadêmicos, nem mesmo nas campanhas pelo “bem-estar animal”, mas vinda de baixo: nas lutas populares, anarquistas, anticoloniais, transfeministas. Significa recordar que a questão animal é uma questão política, e que todo movimento de libertação que ignore a contribuição do especismo para a reprodução do poder corre o risco de se tornar cúmplice, mesmo que involuntariamente, daquilo que diz querer derrubar.

Com este livro, acolhido pela Cronache Ribelli Edizioni em sua coleção expressamente dedicada ao antiespecismo, quisemos devolver voz e corpo a uma companheira do passado que com demasiada frequência foi reduzida a um ícone neutro, a uma figura folclórica da Comuna. Pelo contrário, Louise Michel era perigosa para a ordem estabelecida, e graças aos seus escritos, ela ainda o é hoje. Ela falava da violência da vivissecção com a mesma fúria com que denunciava a repressão colonial. Comparava com a mesma paixão a domesticação animal e a domesticação humana. Na prisão, buscava companheiras de luta entre as prostitutas e entre as prisioneiras políticas, mas nas barricadas ela se afastou da batalha para salvar um gato. Para ela, a libertação era uma só, e dizia respeito a todos os corpos, humanos e não humanos.

Este livro não é, portanto, uma biografia, mas uma proposta interseccional, que alterna as fases marcantes da vida de Louise (e as citações de seus escritos) com os pensamentos e ações que hoje caracterizam os movimentos de libertação animal. É através dessas duas linhas paralelas, que muitas vezes se cruzam caoticamente, que buscamos valorizar a essência e o coração de sua mensagem: nenhuma libertação é possível se continuar a se apoiar na exclusão de outros corpos, outras vidas, outros mundos.

Entrelaçar o que o poder divide – espécie, gênero, classe, mas também visões de libertação como anarquismo e antiespecismo – é hoje mais do que nunca um gesto revolucionário. Uma ideia e uma prática que recusam a lógica do domínio e da hierarquia. É daí que pode nascer uma liberdade verdadeiramente compartilhada: não um privilégio para pouquəs, mas um horizonte comum. Porque a liberdade, se não for para todəs, é apenas mais um privilégio.

Louise Michel e os animais. Entre anarquismo e antiespecismo

de Troglodita Tribe

Coleção Zanne. Livros Antiespecistas — Cronache Ribelli Edições

114 páginas | R$ 12 (conversão aproximada)

Fonte: https://umanitanova.org/louise-michel-e-gli-animali-tra-anarchismo-e-antispecismo/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Dia de primavera —
Pássaros de dobradura
Pra passar o tempo.

Teruko Oda

[Nova Zelândia] Identificação Digital – As Novas Correntes da Vigilância Capitalista

O mundo está entrando em uma era em que a identidade não é mais uma questão de relações pessoais, experiências vividas ou mesmo documentação. Cada vez mais, ela é reduzida a leituras biométricas, verificação algorítmica e tokens digitais. Em todo o mundo, governos e corporações estão lançando sistemas de identificação digital, passaportes com reconhecimento facial, carteiras de motorista biométricas, passes de vacinação por aplicativos, acesso a benefícios sociais por código QR e carteiras digitais unificadas. A linguagem que acompanha esses projetos é familiar – eficiência, conveniência, modernização, inclusão. Dizem-nos que a identificação digital facilitará a vida, reduzirá a fraude e abrirá novas oportunidades.

A realidade, no entanto, é muito mais sinistra. A identificação nunca foi neutra, sempre foi uma arma de poder, utilizada por estados e capitalistas para monitorar, controlar e disciplinar populações. De passaportes a cadernetas coloniais, de cartões de assistência social a regimes de fronteira, o aparato de identificação sempre esteve ligado à dominação. A identificação digital é simplesmente a mais recente iteração dessa longa história, mas com uma escala e sofisticação que tornam seus perigos ainda mais profundos. Longe de nos libertar, ela está forjando novas correntes e nos prendendo ainda mais fortemente a sistemas de vigilância, exclusão e exploração.

Identificação como Dominação

Para compreender o que representa a Identificação Digital, devemos situá-la na longa história da identificação como ferramenta de autoridade. O passaporte, agora normalizado como um objeto necessário para viajar, era originalmente uma forma de os estados restringirem a circulação. Na Europa medieval, os camponeses e servos precisavam de autorização por escrito para deixar suas propriedades. Os regimes coloniais na África, Ásia e Pacífico aperfeiçoaram esses sistemas de controle, obrigando os povos indígenas a portar passes, enquanto os colonos circulavam livremente. Na África do Sul do apartheid, as “leis de passe” criminalizavam os sul-africanos negros por existirem fora de suas zonas designadas, reduzindo a própria vida a um cálculo burocrático de permissão.

A identificação nunca teve como objetivo proteger o indivíduo, mas sim proteger as relações de propriedade. Os estados precisavam saber quem eram as pessoas para lhes cobrar impostos, recrutá-las para o serviço militar e negar-lhes direitos. Os patrões exigiam documentos para garantir que os trabalhadores fossem legalmente exploráveis. Os proprietários usavam a identificação para selecionar inquilinos, os bancos para controlar o crédito e a polícia para rastrear dissidentes. A noção de “identidade” no capitalismo sempre esteve ligada à vigilância e à disciplina.

A Identificação Digital não rompe com essa tradição, mas a intensifica. O que antes exigia um carimbo físico ou assinatura agora exige uma digitalização biométrica ou código QR. Onde antes um policial exigia ver seus documentos, agora um algoritmo determina silenciosamente seu acesso. A mudança não é do controle para a liberdade, mas da dominação analógica para a dominação digital.

A Lógica da Identificação Digital

Por trás da retórica da conveniência está a dura lógica do capital e do estado. A Identificação Digital não está sendo criada para nós, mas para ampliar o poder daqueles que já governam nossas vidas.

Em sua essência, a Identificação Digital representa o bloqueio de acesso. Cada vez mais, os elementos essenciais da vida, como saúde, moradia, emprego, bem-estar e viagens, estão embarreirados por pontos de controle digitais. Sem a identificação correta, as pessoas são excluídas. Isso transforma a própria existência em uma série de permissões, cada uma mediada por verificação algorítmica. O acesso a alimentos, moradia ou trabalho passa a depender do reconhecimento da sua impressão digital ou rosto por uma máquina.

Isso também amplia o capitalismo de vigilância. Cada digitalização, deslize ou login gera dados. Esses dados são armazenados, rastreados e monetizados. A Identificação Digital reduz os seres humanos a fluxos de dados, alimentando os lucros de corporações como Microsoft, Mastercard e Accenture, empresas profundamente envolvidas em iniciativas globais de identificação. Longe de empoderar os indivíduos, a Identificação Digital empodera as corporações, transformando nossas vidas em mercadorias a serem vendidas.

A Identificação Digital também disciplina a mão de obra. Ao vincular pagamentos de assistência social, autorizações de trabalho ou acesso bancário à identidade digital, os estados e as empresas adquirem novas e poderosas ferramentas para coagir as populações. Na Índia, o sistema biométrico Aadhaar deixou milhões de pessoas excluídas de alimentação e pensões quando suas impressões digitais não foram reconhecidas, produzindo não eficiência, mas fome. Trabalhadores migrantes em todo o mundo são cada vez mais monitorados por meio de verificação digital, tornando o trabalho precário ainda mais vulnerável.

Talvez o mais insidioso seja o fato de que a Identificação Digital normaliza a própria vigilância. Ao incorporar pontos de verificação digitais na vida cotidiana, seja ao entrar em um prédio, fazer login em um serviço ou acessar serviços de saúde, a vigilância se torna rotineira. O que antes poderia ter provocado indignação se torna comum. O controle não precisa ser imposto de forma violenta quando está integrado de maneira perfeita às funções cotidianas da existência.

As consequências da identificação digital não são abstratas. Em todo o mundo, sua implementação revela os contornos agudos da exclusão e do controle.

Como já mencionado, o projeto Aadhaar da Índia, o maior sistema de identificação biométrica da história, abrange mais de um bilhão de pessoas. Ele foi apresentado como um meio de reduzir a corrupção e ampliar o acesso ao bem-estar social. Na realidade, excluiu milhões de pessoas pobres e rurais das cestas básicas e pensões porque suas impressões digitais não foram registradas. Relatórios documentaram mortes por inanição quando famílias tiveram o acesso a grãos negado por falta de autenticação adequada. Para os pobres, o sistema não é uma conveniência, é uma sentença de morte.

Na Europa, a identificação digital toma um formato diferente, mas igualmente insidioso. A UE está desenvolvendo uma “carteira de identidade digital” unificada para serviços bancários, saúde e viagens, promovida como liberdade para os cidadãos. Ao mesmo tempo, o banco de dados Eurodac armazena as impressões digitais dos requerentes de asilo para impor deportações e impedir movimentos secundários. A Identificação Digital aqui é uma faca de dois gumes, anunciada como mobilidade perfeita para os privilegiados, mas funcionando como correntes para os migrantes.

Em toda a África, o Banco Mundial e empresas multinacionais estão financiando projetos de identificação digital sob o pretexto de “inclusão financeira”. Vinculadas a sistemas de dinheiro móvel, essas identificações têm menos a ver com inclusão e mais com a expansão dos mercados de dívida e a integração das populações em circuitos de extração. Elas reproduzem práticas coloniais em que a identificação era um pré-requisito para a exploração de recursos e a disciplina trabalhista.

Em países colonizados como a Nova Zelândia e a Austrália, as carteiras de motorista digitais e as tecnologias de reconhecimento facial estão sendo testadas sob o pretexto da segurança e da conveniência. Mas ambos os países mantêm extensos bancos de dados de suas populações e têm um longo histórico de vigilância e repressão contra povos indígenas e ativistas políticos. A Identificação Digital, neste caso, reforça os padrões existentes de controle racial e político, incorporando-os às transações cotidianas.

O Papel do Estado

Para anarquistas, não é surpresa que o estado esteja no centro desses desenvolvimentos. O estado nunca foi um prestador neutro de serviços. É uma máquina de domínio de classe, projetada para impor relações de propriedade e manter a hierarquia. A Identificação Digital oferece ao estado novos níveis de eficiência na gestão da população. O bem-estar social pode ser racionado por meio de pontos de controle digitais, garantindo que apenas os pobres “merecedores” recebam ajuda. O policiamento é reforçado por meio de bancos de dados biométricos, tornando a dissidência e o protesto mais perigosos. As fronteiras tornam-se onipresentes, estendendo-se a todos os locais de trabalho, clínicas e esquinas. Até mesmo o ritual da votação está cada vez mais vinculado à verificação digital, legitimando ainda mais o domínio do estado.

Mas o estado não age sozinho. A infraestrutura da Identificação Digital é terceirizada para corporações, gigantes da tecnologia e empresas de consultoria cujos lucros dependem da extração e venda de dados. A ID2020, a principal iniciativa global de Identificação Digital, é uma parceria entre a Microsoft, a Accenture, a Gavi e a Mastercard. Essa fusão entre o poder estatal e o capital corporativo cria um regime tecnoburocrático que é incrivelmente difícil de resistir individualmente. Não é simplesmente o seu governo exigindo seus dados, é uma rede de corporações globais incorporando controle na infraestrutura da vida cotidiana.

Resistência e Suas Possibilidades

No entanto, os sistemas de dominação nunca são totais. É possível resistir às correntes da Identificação Digital, mas a luta exige uma resistência coletiva. Os indivíduos não podem simplesmente optar por não participar quando o acesso a alimentos, moradia ou cuidados de saúde depende cada vez mais da verificação digital. A resistência deve ser social, coordenada e enraizada na solidariedade.

Ela começa com a exposição da mentira da conveniência. O marketing da Identificação Digital depende de as pessoas acreditarem que ela é do seu interesse. Ao revelar sua função de vigilância, exclusão e lucro, podemos desmascarar a narrativa de que se trata de um avanço tecnológico neutro. A conveniência é o açúcar que reveste a pílula venenosa.

Resistência também significa apoiar aqueles que são mais afetados pela exclusão. Quando as pessoas têm o acesso à alimentação ou à saúde negado porque uma máquina as rejeita, a solidariedade exige que as comunidades intervenham. Redes de ajuda mútua, distribuição de alimentos e cuidados de saúde comunitários podem minar o monopólio do estado sobre a sobrevivência. Ao cuidarem umas das outras sem exigir documentos, as comunidades demonstram a possibilidade de uma vida além da identificação.

A ação direta também tem seu lugar. A infraestrutura de vigilância pode ser interrompida, seja por meio de sabotagem física, hacktivismo digital ou vazamentos que expõem a conivência entre estados e corporações. Cada ato que retarda a expansão dos chips de identificação digital diminui sua inevitabilidade.

O mais importante talvez seja que resistência significa recusar-se a internalizar a normalização da vigilância. Devemos continuar a sentir raiva cada vez que um novo posto de controle é introduzido, cada vez que um novo sistema biométrico é testado, cada vez que um novo banco de dados é construído. A maior vitória do poder não é quando ele nos controla, mas quando nos convence de que o controle é natural.

A Identificação Digital não é uma inovação neutra. É a fronteira da vigilância capitalista e do controle estatal. Ela aprofunda a exploração, exclui os vulneráveis e integra todos os aspectos da vida à máquina do lucro e da dominação. A identificação sempre foi uma ferramenta da autoridade, desde os passes medievais até as leis do apartheid, e a identificação digital é a forma mais sofisticada até agora.

A classe dominante quer que acreditemos que a Identificação Digital é inevitável. Mas inevitabilidade é a linguagem do poder. Os sistemas de dominação podem ser resistidos, sabotados, desmantelados. A luta contra a identificação digital não é uma nostalgia dos dias dos documentos em papel; é a defesa da própria possibilidade de viver sem ser constantemente monitorado, verificado e reduzido a dados.

O que está em jogo não é simplesmente a privacidade, mas a liberdade em si.

Fonte: https://awsm.nz/digital-id-the-new-chains-of-capitalist-surveillance/  

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

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A floresta cresce
sem contrato de arrendamento
ou rei para servir.

Liberto Herrera

[Espanha] A CGT continuará em solidariedade com a Palestina “até que deixe de ser um povo oprimido”

A Confederação Geral do Trabalho (CGT), uma das organizações convocantes do dia de Greve Geral deste 15 de outubro contra o genocídio em Gaza e por uma redistribuição dos gastos públicos para as necessidades reais da população, avaliou de maneira positiva a participação nas mobilizações e atos organizados nesta quinta-feira.

Embora seja verdade que o dia de greve não teve o impacto sindical desejado, também é verdade que a conscientização das pessoas contra o genocídio e os gastos militares com armamento é cada vez mais evidente. A sociedade, pouco a pouco, vai tomando consciência do sofrimento que os exércitos e as guerras capitalistas provocam nos seres humanos onde ocorrem. Especialmente, é esperançoso que a adesão à greve e a participação nas mobilizações tenham tido um apoio majoritário de estudantes e universitários.

Por outro lado, a CGT condena as cargas policiais totalmente desproporcionais dos dispositivos das forças repressivas do Estado, como os Mossos e a Polícia Nacional em diferentes cidades. A repressão exercida contra os manifestantes demonstra mais uma vez que a não revogada “lei da mordaça” é a ferramenta mais eficaz para controlar a indignação da população e que esta lei foi e vem sendo útil a qualquer governo. Esta norma, que concedeu um imenso poder às forças e corpos de “segurança” do Estado, continua tentando amedrontar aqueles que decidem levar até a linha de frente a ação direta contra a injustiça.

Em Valência, a violência policial produziu feridos e resultou em várias pessoas detidas, as quais recuperaram sua liberdade há poucas horas.

Em Barcelona, um numeroso desdobramento de agentes dos Mossos e da Guarda Urbana atuou de forma desproporcional nas mobilizações da tarde. No total, quinze pessoas foram detidas ao longo do dia. Agentes da BRIMO, pertencente aos Mossos d’Esquadra, espancaram manifestantes pacíficos. As cargas com gases lacrimogêneos e balas de borracha também causaram numerosos feridos por golpes, quedas, pancadas, etc., bem como identificações indiscriminadas entre os manifestantes.

Uma paz pouco crível

Desde que se soube do “acordo” de paz ao qual supostamente Israel e Hamas chegaram há poucos dias, o exército de Netanyahu continuou assassinando pessoas na faixa de Gaza, incluindo jornalistas. Miguel Fadrique, secretário geral da CGT, reivindica assim: “nestes dias de suposto cessar-fogo já comprovamos como Israel o violou, assassinando civis que regressavam a suas casas, o jornalista Saleh Al-jaafarawi, e fechando vários corredores humanitários. E é que se a sociedade civil baixar a guarda e se esquecer da Palestina, esta nunca sairá do genocídio e do cerco ao qual Israel os tem submetido”.

A CGT há décadas se posiciona contra a opressão que desde 1948 é exercida sobre a Palestina com a conivência da Comunidade Internacional. O Estado de Israel está acostumado a não cumprir nenhuma das resoluções ou acordos internacionais que foram consensuados para evitar o massacre de seres humanos e construir uma convivência o mais pacífica possível entre os povos. Nesse sentido, desde a CGT insistem em não falar de “guerra” entre palestinos e israelenses, porque os primeiros levam décadas isolados, -empobrecidos graças a uma estratégia sionista para espoliar recursos e roubar territórios, perseguidos, torturados, enclausurados durante anos em prisões desumanas-, e os segundos desfrutam do respaldo de potências mundiais que, mesmo sendo testemunhas da dor através dos meios internacionais, continuam mantendo sua cooperação com um genocídio.

Não nos deixemos anestesiar midiaticamente, ou “que a dor não nos seja indiferente”

Já se comprovou em outros conflitos bélicos onde os meios de comunicação transmitiram ao vivo as consequências de uma guerra. A guerra do Vietnã, na década de 60, provocou a rejeição da sociedade estadunidense e mobilizou milhões de pessoas. Aconteceu com a do Golfo Pérsico nos anos 90 do século XX, e também com a do Iraque. As pessoas reagiram contra o que certos meios lhes mostravam, mas também uma importante parte da sociedade se acostumou a ver como algo “normal” o sofrimento em países “distantes” e a não se preocupar em averiguar ou entender as origens ou as raízes. A CGT destacou a onda de críticas e de mensagens de ódio que foram recebidas por realizar uma convocatória, completamente legal, de uma Greve Geral contra o horror palestino, e nesse sentido a organização anarcossindicalista valorizou o trabalho de muitos profissionais que, com dignidade, conseguiram manter informada a população mais consciente e mobilizada do Estado espanhol. Miguel Fadrique acrescenta que “o dia de ontem serviu para deixar claro que uma grande parte da sociedade não vê com clareza que esse ‘cessar-fogo’ vá chegar a um bom porto. Por isso, a Greve Geral era nesta ocasião mais necessária do que nunca, assim como a mobilização social para que os acordos para isso conduzam a uma paz real e efetiva, que seja duradoura, e que venha acompanhada de uma reparação de todo o dano gerado ao povo da Palestina”. Nesse sentido, Fadrique também comentou que desde a CGT esperam que esta “reparação” não se converta na desculpa para que os ricos voltem a obter benefício econômico do sofrimento de milhares de seres humanos inocentes, “que a reparação não se converta em um negócio imobiliário a mais para os grandes investidores”.

Futuras mobilizações: até que a Palestina seja realmente livre

Desde a CGT se continuará na linha de trabalho que se manteve com os movimentos sociais, organizações sindicais combativas e de classe, e em geral com os coletivos e pessoas que vêm apoiando e contribuindo com a causa do povo palestino. É por isso que a CGT continuará fomentando o debate e a participação, através de sua militância e de suas relações com outras organizações e setores, sobre tudo o que ocorrer na faixa de Gaza e nos territórios ocupados por Israel. Os protestos e qualquer tipo de ação que se fizer, e todas as que terão que vir, têm sentido, são necessárias e, infelizmente, não vão terminar tão cedo, como já comprovamos em outros momentos da história. A organização anarcossindicalista já defendeu na coletiva de imprensa de apresentação da greve no passado 10 de outubro, a insistência em continuar fazendo pressão desde a classe trabalhadora para que os recursos comuns sejam destinados às verdadeiras necessidades das pessoas, como a moradia, a educação, a saúde, o transporte, o auxílio à dependência, a blindagem dos direitos trabalhistas, etc.

Gabinete de Imprensa do Comitê Confederal da CGT

cgt.es

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar –
Mangueiras da minha infância!

Paulo Franchetti

Manifesto FAF POA 2025

Este ano decidimos como tema GENTRIFICAÇÃO e NECROPOLÍTICA, algo que está acontecendo muito nesse território.

O que é GENTRIFICAÇÃO? É o processo de expulsão por diversos meios, da população trabalhadora da região, e aos poucos, vai sendo tomada pelos mais ricos. Com a retirada de pessoas mais pobres, o bairro fica mais atrativo para as empresas, com rendimentos maiores. Há a demolição das casas das antigas moradoras para dar lugar a torres de apartamentos e comércios elitizados. Também há a pressão dos mercados imobiliários, no aumento dos aluguéis e para que as pessoas vendam suas casas.

Estamos vivendo desalojos de territórios de luta e ancestrais, dando lugar ao concreto cinza que só serve aos poderosos. Bairros sendo invadidos por condomínios de luxo como Alphaville na Restinga, ou mesmo a destruição de florestas para dar lugar a negócios como a Floresta do Sabará sendo destruída pela companhia Zaffari. Também a gentrificação se fez e ainda se faz presente tanto nas diversas ameaças e expulsões forçadas do Quilombo Kédi pela companhia Zaffari, quanto do Quilombo Areal da Baronesa e a Ilhota da década de 60. Da Vila Tronco, com as magníficas “obras da Copa” revelando as redes de esgoto, à Vila Dique, cujos moradores caminham 10 km até o posto de saúde mais próximo. Nas últimas décadas, a cidade tem visto a expansão de grandes empreendimentos imobiliários com grande número de casas ou diversas torres, como o Terra Nova Nature. Em outubro de 2015, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou uma alteração no Plano Diretor, para autorizar a construção de condomínios de luxo, mais de duas mil casas e um polo comercial em uma área de 426 hectares que faz parte da Fazenda do Arado, propriedade localizada entre os bairros Belém Novo e Lami. Nesse território está a Retomada da Ponta do Arado, da etnia Mbyá Guarani, que vem lutando para a demarcação de seu território ancestral. Em 2025 o museu Joaquim José Felizardo e a prefeitura de Porto Alegre desalojaram a Kasa Okupa ContraKultural Jiboia, um espaço Contra-cultural Anarquista para dar lugar a um suposto anexo que sabemos muito bem que será mais um espaço de comércio e de food-trucks para os visitantes do museu. Também em 2025 a prefeitura derrubou galpões na Vila dos Papeleiros e no bairro São Geraldo, com grande truculência, na região do 4 distrito, que foi “revitalizada” para atender às altas demandas de lucro em bares e casas de festas. Todas essas obras de “revitalização” que não é nada mais nada menos que capitali$mo.

Espaços PÚBLICOS que faziam parte da vida da população estão se tornando espaços PRIVADOS, como mesmo o próprio Cais Mauá e também a Usina do Gasômetro. A privatização da companhia elétrica – CEEE Equatorial, e também a tramitação de um projeto para privatizar inclusive o LIXO de Porto Alegre, excluindo as pessoas que são principais responsáveis por fazer a reciclagem e contribuem diretamente com o meio-ambiente, como as pessoas catadoras, que sobrevivem diretamente desse trabalho. Já se está falando de privatizar também o DMAE, que é público e que lida com a distribuição, reabastecimento e tratamento de água e esgoto da cidade.

O que é NECROPOLÍTICA? Necropolítica é um conceito cunhado pelo filósofo Achille Mbembe que faz referência ao uso do poder social e político para decretar como algumas pessoas podem viver e como outras devem morrer; ou seja, na distribuição desigual da oportunidade de viver e morrer no sistema capitalista atual. A necropolítica é mais do que o direito de matar, é também sujeitar pessoas à morte por diversas formas, como a escravidão, o apartheid, a colonização da Palestina, e à preconceitos que levam à morte, como a homolesbotransfobia, xenofobia, racismo, machismo, capacitismo, etc. Nesse contexto de gentrificação desse território, todas essas políticas e práticas que estamos discutindo se relacionam à Necropolítica, uma política de extermínio e morte estimulada pelos “avanços capitalistas”.

Se faz importante e necessário esse debate e a construção de práticas e estratégias para o combate. Nós nos organizamos com base no ANARCOFEMINISMO, a partir da horizontalidade, da autogestão, do apoio-mútuo, da autonomia para construir um espaço onde possamos re-pensar nossos modos de ser e estar no mundo e a como RESISTIR aos enfrentamentos com o poder. Rechaçamos veementemente a forma como a cidade vem se desenvolvendo, este território cada vez menos popular, menos dos quilombos e dos povos originários, menos das matas e florestas, menos de outres animais que aqui habitam,  menos da ocupação das ruas, menos das mulheres e população LGBTQIAP+, menos dos movimentos artísticos =contra= culturais, e mais das empresas, mais dos poderosos, mais de quem já detém muitos privilégios, mais da urbanização, mais do empilhamento de pessoas, mais do concreto cinza e sufocante.

Ocupamos as ruas desde sempre com nossa arte e luta, e temos sido reprimides e sufocades, nos restringindo cada vez mais ao âmbito privado, particular, PAGO. A quem serve esse suposto desenvolvimento? A quem serve esse tipo de cidade? Isso sem falar da grande enchente que passamos em 2024 e que até agora a política da cidade continua sendo a de DEVASTAR AINDA MAIS o ecossistema que já está em colapso.

Chamamos à essa Feira Anarquista Feminista a denunciar e ativar novas estratégias de RETOMADA e RE-OCUPAÇÃO DA CIDADE, para o combate ao sistema que quer nos destruir. Chamamos à articulação de ideias, propostas, movimentos, coletividades, artes e manifestações a construir y desconstruir esse território. Nos unirmos entre mulheres e dissidências a partir das nossas lutas e ativar nossas vidas. ESSE TERRITÓRIO TAMBÉM É NOSSO!

Blog: feiraanarquistafeminista.noblogs.org

Instagram: @fafpoa

Contato: fafpoa@riseup.net

agência de notícias anarquistas-ana

Sem pátria, sem hino,
o chão que pisamos é
o único altar.

Liberto Herrera

[EUA] Obituário: Vincent Scottie Eirene, um anarquista católico que dedicou sua vida aos pobres, morre aos 73 anos

27 de março de 1952 — 11 de setembro de 2025

Por Jeremy Reynolds | 10/10/2025

Vincent Scottie Eirene abriu sua casa para moradores de rua e pessoas com deficiência e não era estranho que fosse preso por desobediência civil.

Nascido em Brookline, ele se tornou uma figura conhecida por décadas no bairro de Manchester, na zona norte, e faleceu em 11 de setembro. Ele tinha 73 anos.

Ele frequentou a Upper St. Clair High School, onde se envolveu com o ministério cristão Young Life. Isso lhe proporcionou uma experiência de conversão que moldaria o resto de sua vida.

O Sr. Eirene — nome que adotou legalmente e que significa “paz” em grego antigo — frequentou a Ohio State University, mas abandonou os estudos para se dedicar ao ativismo, concentrando-se em causas contra a guerra e a pobreza.

Ele se inspirou na vida de Dorothy Day, uma ativista social e anarquista que se converteu ao catolicismo tardiamente.

Ele morou em uma casa no bairro de Manchester por quase 50 anos, viajando para protestos em todo o país e chegando até mesmo a Bagdá durante a Guerra do Golfo.

“No começo, ele tinha uma tendência a insultar as pessoas por causa de seu poder e riqueza”, disse Byron Borger, amigo de longa data e colega ativista do Sr. Eirene, que agora é dono de uma livraria em York, Pensilvânia. “No início, ele não fez muitos amigos.”

Depois de fazer um voto de pobreza, o Sr. Eirene passou a frequentar eventos comunitários e protestos. Ele tinha um senso de humor sarcástico e irônico que muitas vezes aparecia em suas manifestações. Quando protestou contra a guerra de Granada em 1983, seu grupo ocupou uma pequena ilha de trânsito para simbolizar a ilha.

“Eu mesmo era um pouco ativista na Universidade de Indiana da Pensilvânia”, disse o Sr. Borger. “Um amigo me contou sobre esse fanático maluco e disse que eu precisava conhecê-lo. Nós brincávamos muito, mas levávamos isso muito a sério.”

Eirene fez jejuns na Universidade Carnegie Mellon porque a universidade estava envolvida no desenvolvimento de armas. Ele comprou ações da Rockwell International, a empresa que já produziu bombardeiros B-1 Lancer, para poder participar das reuniões de acionistas e protestar. A sede da empresa ficava no U.S. Steel Building, no centro da cidade.

Não é de surpreender que o Sr. Eirene não fosse um desconhecido do sistema judicial e penitenciário.

“Lembro-me de uma vez em que ele foi multado por invasão de propriedade, o que o magistrado reduziu a conduta desordeira”, disse David Scottie, advogado e irmão mais novo do Sr. Eirene, que ocasionalmente o representava em audiências no tribunal.

“Quando o magistrado percebeu que Vince não pagaria a multa, ele simplesmente retirou as acusações. Ele tinha um temperamento especial.”

O Sr. Eirene sustentava-se fundando uma empresa de mudanças chamada Second Mile Light Hauling, uma referência ao Sermão da Montanha de Jesus na Bíblia. Ele contratava jovens locais, particularmente homens afro-americanos, que ele acreditava precisarem de trabalho.

“Ele criou um slogan engraçado para a empresa: Se não conseguirmos transportar, contrate outra pessoa”, disse Mark Vander Vennen, psicoterapeuta e assistente social que estudou na Universidade Duquesne e mora no Canadá.

O Sr. Vennen conheceu o Sr. Eirene no final da década de 1970 e manteve contato diário com ele até sua morte.

“Ele tinha um senso de humor incrível que equilibrava seu lado sério. Sua nervosidade foi diminuindo com a idade.”

O Sr. Eirene não era assistente social e não se juntou a nenhuma organização formal de abrigo — “os anarquistas não veem com bons olhos as organizações formais”, disse o Sr. Vennen — mas abriu as portas da sua casa à população em situação de rua e aos pobres, acolhendo tantos quantos pôde ao longo de décadas, proporcionando um refúgio aos necessitados.

Ele chamou à sua casa de Duncan and Porter House (Casa Duncan e Porter).

No ensino médio, o Sr. Eirene ganhou um concurso de rádio com uma piada do tipo “Confucius diz” quando ligou com a frase: “Confucius diz: um homem que trabalha para a companhia telefônica tem muitas conexões na vida”.

Ele fez muitos contatos, incluindo com o ator Martin Sheen, que se interessou pelos protestos do Sr. Eirene e fez amizade com ele enquanto estava em Pittsburgh para uma filmagem. O Sr. Eirene também fez amizade com a escritora Naomi Klein, bem como com membros da banda Rusted Root, de Pittsburgh, que tocaram em seus eventos e em seu funeral.

“Ele era muito bom em arrecadar dinheiro, em parte porque o que fazia era muito convincente, mas sua personalidade era muito envolvente e divertida”, disse o Sr. Vennen.

O Sr. Eirene tinha orgulho dos quatro livros que publicou, incluindo “The Day the Empire Fell” (O dia em que o império caiu), uma coleção de vinhetas sobre sua própria desobediência civil.

Ele também se orgulhava das relações respeitosas que desenvolveu com figuras de autoridade enquanto protestava pacificamente. Durante um incidente desagradável em que o Sr. Eirene foi falsamente acusado de agredir um policial, o próprio chefe de segurança aposentado da U.S. Steel interveio como testemunha de caráter, o que levou à retirada das acusações.

Em seus últimos anos, sua família e amigos o ajudaram a cultivar um jardim de tomates, morangos e amoras em seu quintal. Vários acidentes de carro tornaram difícil para ele viajar, e “ele passou a valorizar aquele jardim”, disse o Sr. Scotti, seu irmão.

O Sr. Scotti encontrou seu irmão sentado em sua cadeira em 11 de setembro. “Ele simplesmente se foi”, disse ele.

O Sr. Eirene, que era divorciado, deixa duas filhas: Caitlin, que mora em Londres, e Chenoa, que mora em Pittsburgh; seu irmão, David, de Mt. Lebanon, e sua irmã, Genevieve Schroeder, que mora em St. Petersburg, Flórida.

A missa de corpo presente foi celebrada no dia 26 de setembro na Igreja de São Bernardo.

Fonte: https://www.post-gazette.com/news/obituaries/2025/10/10/vincent-scotti-eirene-obituary/stories/202510090085

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

brasa do tempo
acende quando passas
no pensamento

Carlos Seabra

[Reino Unido] Festival Colin Ward de ideias, táticas e ações anárquicas | Sábado, 18 de outubro


Para explorar o trabalho do autor e teórico social Colin Ward, estamos realizando um festival de um dia de pensamento anárquico, estratégias e criação.

Através de palestras curtas, discussões e oficinas, consideraremos como o anarquismo pragmático de Colin Ward pode nos ajudar a criar espaços alternativos na cidade e construir infraestruturas de ajuda mútua, autonomia e resistência.

O dia incluirá: Quatro palestras de dez minutos sobre as ideias principais que permeiam seu trabalho – incluindo Ecologia, Protesto, Autonomia e Brincadeira – seguidas de discussões em pequenos grupos; Duas palestras curtas sobre por que as ideias de Colin são tão relevantes hoje; Uma escolha de oficinas explorando táticas e estratégias para a ação; e uma discussão final em grupo sobre o que surgiu durante o dia.

Haverá contribuições de Tim Waterman, Ruth Kinna, Paul Dobraszczyk, David McEwen, Roman Krznaric, Carl Levy, Rhiannan Firth e Jere Kuzmanic.

Este evento – organizado em colaboração com Alicia Pivaro (London School of Architecture) e Paul Dobraszczyk (Bartlett School of Architecture) – proporcionará aos ativistas, estudantes, criativos e a qualquer pessoa curiosa para saber mais sobre o anarquista mais famoso da Grã-Bretanha, uma experiência prática de suas ideias e como elas podem ser aplicadas hoje.

Saiba mais aqui: https://www.kairos.london/event/colin-ward-festival-anarchic-ideas-and-tactics/
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/02/20/reino-unido-colin-ward-anarquia-cotidiana-o-documentario/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/12/20/reino-unido-lancamento-anarchy-in-action-de-colin-ward/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2018/07/25/italia-colin-ward-manifesto-por-uma-educacao-felizmente-anarquista/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Pelos fios do poder,
os pardais tecem ninhos
de desobediência.
 
Liberto Herrera

[Itália] Anarquia – uma ideia sempre nova. Carrara, 80° Federação Anarquista Italiana


14 de Outubro de 2025

Realizou-se no sábado, 11, e no domingo, 12 de outubro, no auditório do Teatro Animosi, em Carrara, o congresso de estudos organizado em ocasião do 80° aniversário da constituição da Federação Anarquista Italiana, que aconteceu em Carrara durante o Congresso realizado de 15 a 19 de setembro de 1945.

O Congresso, intitulado “Anarquismo. Uma história global e italiana 1945-2025”, reuniu cerca de vinte estudiosos, pesquisadores e militantes que apresentaram palestras sobre diversos temas: desde o papel do anarquismo na Itália republicana até as geográficas transnacionais do anarquismo italiano, passando pela relação entre anarquismo e movimentos sociais, e também o vínculo com o sindicalismo e os conflitos sociais.

As discussões abrangeram desde temas mais especificamente históricos até questões mais atuais, apresentando assim a complexa história do anarquismo italiano, com os momentos de crise e desenvolvimento ligados ao crescimento da consciência social e ao desenvolvimento dos movimentos de massa. Esse tema foi abordado no primeiro dia, enquanto o segundo dia focou em questões relacionadas às novas tecnologias digitais, às escolhas militaristas e belicistas dos governos, à crise ambiental e ao desenvolvimento dos movimentos transfeministas. Na tarde de domingo, foi discutido o relacionamento com o movimento operário, explorado tanto do ponto de vista histórico quanto no contexto do sindicalismo de base, anarcossindicalismo e as lutas da chamada nova classe operária.

O evento, portanto, preencheu uma lacuna na historiografia italiana, que, ao revisar os conflitos sociais, sistematicamente ignorou o papel do anarquismo, e especialmente do anarquismo organizado. Da mesma forma, a parte dedicada à atualidade confirmou o papel do anarquismo, tanto como referência para práticas de luta e organização dos movimentos de base, quanto como crítica ao governo – não a este ou aquele governo específico, mas uma crítica ao modelo social baseado no domínio, ou seja, uma crítica ao governo enquanto tal.

Durante os dois dias, várias centenas de pessoas assistiram ao congresso, sendo necessário equipar o Teatro de Terra com uma conexão especial para acomodar aqueles que não encontraram lugar na sala e permitir que acompanhassem as discussões. Estiveram presentes delegações da Federação Anarquista Ibérica e da Federação Anarquista Francófona, enquanto o secretariado da Internacional das Federações Anarquistas, impossibilitado de participar, enviou seu caloroso cumprimento.

No sábado, ao final da sessão, ocorreu uma manifestação que seguiu do Teatro Animosi até a Praça Matteotti, onde está localizada a sede histórica do grupo “Germinal”, no auditório do Teatro Politeama, fechado desde 2008 devido a um colapso estrutural que afetou todo o edifício e, consequentemente, a sede do Germinal, por causa de uma especulação imobiliária. Na cerca que envolve o prédio e impede o acesso, um grupo de jovens artistas de Carrara fez um mural com a inscrição: “Federação Anarquista Italiana – Nossa pátria é o mundo inteiro, nossa lei é a liberdade”.

Na noite do mesmo dia, aconteceu o concerto “Acordes Libertários” no ARCI Fuori Luogo, gentilmente cedido. Alessio Lega, Riccardo Dodi, Marchi Marletti, Avanzi di Galera e a Orquestra Filarmônica Fatica e Sudore realizaram uma noite que envolveu e encantou o numeroso público.

Um agradecimento especial aos palestrantes e coordenadores das sessões, que não solicitaram qualquer reembolso de deslocamento.

Um sincero agradecimento, finalmente, às companheiras e companheiros do grupo Germinal, que permitiram o perfeito sucesso do Congresso.

Em resumo, Carrara teve, mais uma vez, a confirmação de que a anarquia é harmonia, enquanto o caos é o produto das instituições e da propriedade privada.

Tiziano Antonelli

Fonte: https://umanitanova.org/anarchia-unidea-sempre-nuova-carrara-80-federazione-anarchica-italiana/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

No terreno baldio
Ainda cheias de orvalho,
Campânulas!

Paulo Franchetti

[São Paulo-SP] Lançamento de livros: “Proudhon: guerra, anarquia e revolução” e “Cinema na Revolução Espanhola”

No dia 31 de outubro, das 18h às 21h30, acontece na Livraria da Vila – Fradique Coutinho o lançamento de dois livros sobre associações livres, invenções e revoltas contra o Estado e os autoritarismos.

Proudhon: guerra, anarquia e revolução

“Desde meados da década de 1840, Proudhon se deixou permear pelas invenções dos produtores, que potencializavam suas formas de trabalho a partir de contratos anarquistas, associando-se por fora do Estado e contra a lógica de soberania. A proliferação de unidades em meio à diversidade e antipolíticas, cujo desdobramento é a emergência de Estados federais, provocam, gradativamente, a demolição da política, tecnologia inseparável das aspirações pacificadoras. O Estado federal é um facilitador das associações livres em detrimento das formas de governo sobre os súditos e pelos súditos, distanciando-se de quaisquer pretensões de soberania. Não está fundamentado em técnicas de regulamentação e regulação de populações, no governo sobre o homem-espécie. Não é um gestor das relações de trabalho, da circulação de pessoas, de mercadorias, da segurança pública. Ao contrário da razão governamental, cujo fundamento é a reflexão em torno dos objetos sobre os quais o Estado intervém, na federação as questões relativas às formas de vida na diferença são levadas adiante pelas forças associadas nos bairros, departamentos, comunas, províncias. Não se trata de uma tecnologia de governo sobre o vivo, mas invenções vitais, criações em torno de outros modos de viver por meio da experimentação e das vontades de cada associação.”

Cinema na Revolução Espanhola

“A revolução libertária na Espanha proporcionou a realização de um cinema que vai além da arte convencional: um cinema que se entrelaça com a vida e com o imaginário, capturando o inquietante, o estopim da revolta que inflama as práticas de liberdade. Trata-se de uma arte insurgente, que encontra seu espaço de rebeldia, para abrir percursos de invenção e experimentação. Os anarquistas lutam pela vida livre de hierarquias, e de governos, evitando projetos ou caminhos pré-determinados, em favor de percursos e resistências inéditos. Os filmes realizados por eles durante a Revolução Espanhola, de forma semelhante aos seus escritos, relatos, publicações, associações e escolas antidisciplinares, constroem uma cultura libertária em combate ao Estado, à propriedade e aos padrões estéticos estabelecidos para serem respeitados de modo obediente. As imagens produzidas no fervor revolucionário atravessam a opacidade da tela de projeção e impulsionam a vida daqueles que buscaram e seguem buscando fazer a anarquia no presente.”

A anarquia sempre está presente!

nu-sol.org

agência de notícias anarquistas-ana

Lua de primavera —
O tempo em que me fazias
pular o muro e fugir.

Guin Ga Eden

[EUA] Defendendo Nossos Colegas dos Ataques do Capítulo da Turning Point USA em Rutgers

8 de outubro de 2025

Nesta semana, nosso colega Dr. Mark Bray foi alvo de ataques pelo capítulo da Turning Point USA em Rutgers devido ao seu trabalho acadêmico público. A campanha do grupo para que o Dr. Bray fosse demitido resultou em doxxing (exposição de dados pessoais) e ameaças de morte que também se estenderam à sua parceira, Dra. Yesenia Barragan, igualmente nossa colega. Esses ataques forçaram os Drs. Barragan e Bray a deixarem suas casas por questões de segurança, tanto deles quanto de seus filhos. Os sindicatos Rutgers AAUP-AFT e Rutgers Adjunct Faculty Union condenam essa campanha e manifestam solidariedade a nossos estimados colegas.

O Dr. Bray, professor assistente no Departamento de História de Rutgers–New Brunswick, foi alvo por seu extenso trabalho como historiador dos movimentos antifascistas, incluindo seu livro amplamente lido Antifa: The Anti-Fascist Handbook (2017). A Dra. Barragan, professora associada no mesmo departamento, é uma pesquisadora premiada sobre a escravidão nas Américas, autora de Freedom’s Captives: Slavery and Gradual Emancipation on the Colombian Black Pacific (2021).

O ataque da Turning Point faz parte de um esforço crescente da extrema direita para suprimir a fala, o ensino e a pesquisa de docentes que não se alinham à sua política. A Turning Point integra uma rede mais ampla de grupos e autoridades eleitas que vêm atacando professores em Rutgers e em todo o país.

A tentativa de má-fé de apresentar o Dr. Bray como uma ameaça aos estudantes e de conseguir sua demissão é uma ofensa aos valores de liberdade acadêmica da universidade, além de contradizer o suposto compromisso da Turning Point com uma “cultura de debate aberto”.

Como afirmou um representante da Turning Point à Fox News: “Queremos chamar o máximo de atenção possível para seu envolvimento com o antifa para ajudar a proteger, você sabe, nossa liberdade acadêmica.” Essa é uma deturpação grotesca do significado de “liberdade acadêmica”, que existe justamente para proteger o trabalho acadêmico e político dos professores Bray e Barragan, da mesma forma que protege o direito da Turning Point de criticá-los. Em nenhum momento da história centenária da liberdade acadêmica nas universidades dos EUA ela significou demitir professores para ‘proteger’ estudantes da exposição a ideias.

Outro porta-voz da Turning Point afirmou que a organização não “concorda com ameaças de morte, assédio ou doxxing”. No entanto, tais consequências têm sido uma característica recorrente das campanhas direcionadas da Turning Point, desde a criação, em 2016, de sua lista Professor Watchlist, que incluía vários docentes de Rutgers. As ameaças contra os professores Barragan e Bray são uma consequência previsível da campanha de distorção das ideias do Dr. Bray. Como resultado, a vida dos professores foi profundamente afetada, e seus estudantes foram privados da troca de ideias em sala de aula, o que compromete sua formação.

O silêncio diante desses ataques apenas encorajará ainda mais a extrema direita. Por isso, os sindicatos docentes de Rutgers rejeitam as campanhas difamatórias da Turning Point USA e declaram apoio público aos colegas Dr. Mark Bray e Dra. Yesenia Barragan. Convidamos todos os membros da comunidade de Rutgers, estudantes, funcionários e administradores, a se unirem a nós nessa posição pública de solidariedade.

Assinam:

Whitney Strub, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers AAUP-AFT

Sean T. Mitchell, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers AAUP-AFT

Hank Kalet, Co-presidente, Comitê Conjunto de Liberdade Acadêmica, Rutgers Adjunct Faculty Union

Rebecca Givan, Presidente, Rutgers AAUP-AFT

Heather Pierce, Presidente, Rutgers Adjunct Faculty Union

Fonte: https://rutgersaaup.org/defending-our-colleagues-from-attacks-by-the-rutgers-chapter-of-turning-point-usa/

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

Por falta de pilha
o relógio parou
na eternidade.

Júlio Parreira

Paro no Equador: escalada de repressão com ao menos três mortos, dezenas de feridos e cidades sitiadas

No contexto de 23 dias de paro nacional convocado pelo movimento indígena e trabalhadores contra a eliminação do subsídio ao diesel e outras demandas, o Equador atravessa uma crise marcada pela repressão estatal, bloqueios generalizados e denúncias de violações a direitos humanos. Ascendem a três os assassinados pelo estado após o “comboio humanitário” que levou repressão à província mais conflitiva. 

Por ANRed | 15/10/2025

Três falecidos e uso excessivo da força

A repressão estatal deixou ao menos três mortos e mais de quarenta feridos na província de Imbabura, epicentro dos protestos. Entre os falecidos se mencionam um comuneiro de Chachimbiro, José Huamán — ferido por intactos de bala — e Rosa Paqui Seraquive, uma mulher idosa que morreu por asfixia derivada do uso intensivo de gás lacrimogêneo.

Organizações humanitárias confirmaram a cifra de três mortos, denunciando que a repressão foi ordenada pelo governo de Daniel Noboa. Ademais, se denuncia que militares ingressaram em hospitais e centros de saúde em Imbabura para deter pessoas feridas, e que ao pessoal médico haviam instruído a não dar atenção a feridos ou alertar imediatamente à Polícia.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu um chamado ao Governo para estabelecer um diálogo inclusivo e evitar novas violações a direitos humanos, advertindo que o uso de armas de fogo em contextos de protesto está estritamente proibido. Também o expressaram relatores da ONU para a questão indígena.

Otavalo: cidade sitiada, isolada e com escassez

Enquanto isso, a cidade de Otavalo, situada a uns 60 km de Quito, ficou praticamente isolada após os bloqueios de rotas de acesso. Os enfrentamentos entre manifestantes e forças de segurança deixaram dezenas de feridos, e 31 detidos reportados pela Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie). O governo tem sido cruel com a população. No domingo passado, 28 de setembro a repressão sobre a cidade deixou as imagens do assassinato por parte do exército de Efrain Fuerez pai de dois filhos, de 48 anos de idade.

A cidade sitiada comunicou que a atividade comercial e turística esteve paralisada. A Câmara de Turismo local estima perdas diárias de 2 milhões de dólares devido às restrições impostas. A população local denuncia que já começa a escassear o alimento e outros bens essenciais: “está acabando quase todos os alimentos e o pior é que não há quem venda”, declarou uma empregada do centro de Otavalo.

O Governo disse ter enviado “um comboio humanitário” com combustível, remédios e alimentos, que conseguiu ingressar na madrugada após mais de três semanas de reprimir bloqueios. As imagens que foram captadas só mostraram caminhões com  centenas de soldados levados para dissolver o protesto.

Um panorama de confronto e exigências

As denúncias de organizações não governamentais e direitos humanos advertem que a repressão inclui táticas militares dentro de centros de saúde, detenções arbitrárias, uso desproporcional da força, e uma criminalização do protesto indígena. São 23 dias de paro nacional e a única estratégia do governo tem sido a repressão.

Fonte: https://www.anred.org/paro-en-ecuador-escalada-de-represion-con-al-menos-tres-muertos-decenas-de-heridos-y-ciudades-sitiadas/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera

[Itália] Contra Israel – contra todos os Estados!

Ontem (14/10), em Udine, uma grande passeata de mais de 10.000 pessoas percorreu o centro da cidade para expressar sua raiva contra a partida de futebol entre Itália e Israel.

O bloco anarquista, organizada pela Coordenação Libertária Regional contou com a participação de mais de cem pessoas atrás da faixa com os dizeres “Contra todos os Estados, contra todo nacionalismo, pare o genocídio”, seguida por outras faixas.

Inúmeros slogans contra todos os Estados e todas as fronteiras foram gritados. Um dos oradores, falando pelo sistema de som, pediu participação na marcha antimilitarista em Turim, em 29 de novembro.

Fonte: https://germinalts.noblogs.org/post/2025/10/15/contro-israle-contro-ogni-stato/

agência de notícias anarquistas-ana

De nuvem em nuvem
lua de primavera
brilha, distraída.

Tânia D’Orfani