COP30: Lula 3, que posa de “salvador do clima”, sabe qual o impacto ambiental dos navios de cruzeiro?

Para a COP30 em Belém (PA), o governo Lula 3 contratou a peso de ouro (quase 300 milhões!) os navios de cruzeiro MSC Seaview e Costa Diadema para funcionar como hotéis flutuantes, oferecendo cerca de 3.900 cabines e capacidade para até 6 mil pessoas.

Será que o senhor Lula sabe que esses navios de cruzeiro são grandes poluidores do mar e do ar? Que podem agravar as mudanças climáticas? Que essas “cidades flutuantes” provocam ruídos que afetam a vida marinha? Que esses gigantes queimam tanto combustível quanto cidades inteiras? Que um navio de cruzeiro de porte médio pode emitir tanta matéria particulada quanto um milhão de carros.

Esses navios consomem tanto combustível quanto cidades inteiras. Eles consomem muito mais energia do que os navios de contêineres e, mesmo quando queimam combustível com baixo teor de enxofre, ele é 100 vezes pior do que o diesel utilizado em veículos como caminhões e ônibus“, palavras de um ativista alemão anticruzeiros.

Assim como a COP30 é uma far$a, Lula 3 “salvador do clima” é outra!

agência de notícias anarquistas-ana

Selva de concreto:
as raízes quebram tijolos
para ver a lua.

Liberto Herrera

[EUA] Atualização sobre Marius Mason

por Panagioti Tsolkas

Fifth Estate # 417, Inverno de 2025

Marius Mason, anarquista, ativista ambiental/dos direitos dos animais, vegano e ativista trans, teve sua cirurgia de afirmação de gênero negada pelo governo Trump e foi transferido para uma prisão feminina. A campanha do candidato republicano gastou US$ 27 milhões em anúncios condenando a cirurgia de afirmação de gênero para pessoas presas, e o Departamento Federal de Prisões (BOP) rapidamente transferiu os detidos de volta para prisões correspondentes ao seu gênero designado ao nascimento.

Marius está cumprindo quase 22 anos de prisão por atos de danos à propriedade realizados em defesa do planeta. Depois de ser ameaçado com prisão perpétua em 2009 por atos de sabotagem, ele se declarou culpado de incêndio criminoso em um laboratório da Universidade Estadual de Michigan que pesquisava organismos geneticamente modificados para a Monsanto e de outros doze atos de danos à propriedade. Ninguém sofreu danos físicos nessas ações. Na sentença, o juiz federal aplicou o chamado “agravante de terrorismo”, acrescentando quase dois anos a uma pena já extrema solicitada pela acusação, totalizando 22 anos de prisão e uma multa multimilionária. Esta é a punição mais severa imposta a qualquer pessoa condenada por sabotagem ambiental.

Marius foi preso inicialmente na Unidade Administrativa de alta segurança do Centro Médico Federal Carswell, em Fort Worth, Texas. A unidade era destinada a abrigar prisioneiros “com histórico de fugas, problemas crônicos de comportamento, incidentes repetidos de agressão ou comportamento predatório, ou outras questões especiais de gestão…”, de acordo com o pacote de informações de Carswell. Marius não tinha antecedentes de violação das regras da prisão, mas era evidente que estava sendo mantido nessa unidade por causa de suas convicções políticas.

Por meio do constante trabalho da defesa, em 2017, Marius foi finalmente transferido para uma unidade mais próxima da população carcerária em geral. Em 2019, seu pedido de transferência para ficar mais perto da família e dos amigos foi atendido e ele foi enviado para a penitenciária federal em Danbury, Connecticut.

Enquanto está na prisão, Marius continua estudando, fazendo arte e contribuindo para o bem-estar de seus companheiros de prisão. Suas pinturas tiveram várias exposições e ele escreveu artigos para a Fifth Estate, incluindo um nesta edição. Devido ao tempo de boa conduta acumulado, ele tem mais um ano e meio para cumprir sua pena. O próximo passo no apoio de longo prazo é reunir recursos para a vida após a libertação.

Sua luta pelos direitos de pessoas trans

Marius revelou-se como transgênero aos amigos, familiares e conhecidos em 2014. Anteriormente conhecido como “M**** Mason” [1], ele mudou de nome, usa os pronomes ele/ele e iniciou um processo para obter um diagnóstico médico que lhe permitisse procurar cirurgia de afirmação de gênero e terapia hormonal.

O BOP diagnosticou Marius com disforia de gênero e providenciou roupas e acomodações na cantina de acordo com sua política estabelecida. Posteriormente, Carswell realizou exames médicos para verificar se ele estava saudável o suficiente para receber os cuidados que solicitava. Finalmente, em 2016, Marius recebeu sua primeira injeção do hormônio “T” (testosterona). Em 2021, ele venceu sua luta para ser transferido para a seção masculina em Danbury.

Mason foi aprovado pelo BOP para uma cirurgia de afirmação de gênero em 2022. Ele foi transferido da instalação masculina de Danbury, após viver lá por dois anos, para uma instalação médica prisional federal em Fort Worth, onde seria submetido à cirurgia. Esse foi o culminar de um processo de 10 anos que começou em 2013, quando Mason solicitou ser considerado para a nova política médica trans do BOP, após uma ação judicial ter criado um caminho para a transição médica.

Mas em janeiro de 2025, no primeiro dia de Trump, seu governo de extrema direita emitiu uma ordem executiva antitrans negando cuidados médicos de afirmação de gênero a prisioneiros trans, entre outros atentados que serviram de bode expiatório. Como resultado, Marius teve sua cirurgia negada e foi transferido de volta para a unidade feminina em Danbury

Advogados da ACLU e de outras organizações contestaram a ordem, argumentando que ela violava a 8ª e a 14ª Emendas. Em fevereiro de 2025, uma liminar foi concedida em um caso em Washington, D.C. Isso deveria ter restringido o BOP e preservado o status quo, o que significa que todos os prisioneiros trans, incluindo Marius, deveriam ter permanecido onde estavam e continuado a receber os cuidados de saúde que já recebiam. Mas ela não foi aplicada de forma consistente, e uma série de processos judiciais continua tramitando nos tribunais. Resta saber se o atual governo se preocupará com o cumprimento das ordens judiciais.

Sua história no ativismo

Sua história como ativista    Marius tem uma longa história de ativismo que remonta aos seus anos de ensino médio. Nascido em 1962, seu ativismo inicial incluiu organizações antigerra e ambientais, bem como trabalho antinuclear e artigos para o Fifth Estate. À medida que Marius aprofundava seu envolvimento em campanhas ambientais e pelos direitos dos animais, ele organizava campanhas de ação direta de desobediência civil não violenta, incluindo campanhas para proteger terras públicas, protestos em árvores contra o desmatamento e manifestações contra o uso de pele de animais.

O trabalho de Marius também envolveu a colaboração com muitos grupos de conservação e direitos humanos que lidam com questões relacionadas à apropriação de água e pobreza, enquanto lutava para criar espaços locais, como hortas comunitárias. Seu trabalho abrange muitas organizações, como Earth First!, Sweetwater Alliance, Food Not Bombs, ADAPTT (Animais Merecem Proteção Hoje e Amanhã) e a Anarchist Black Cross Books for Prisoners. Ele foi ativo em questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores, principalmente por meio do envolvimento com a Industrial Workers of the World (IWW) por quase duas décadas.

Marius precisa da nossa ajuda mútua durante o tempo que ainda lhe resta na prisão e para quando for finalmente libertado.

As doações podem ser feitas através do Venmo (@Fifth-Estate). Por favor, inclua um comentário indicando que a sua doação é para Marius. Os fundos podem ser enviados por cheque ou ordem de pagamento, à ordem de Julie Herrada ou Peter Werbe, com “Marius Mason” na linha de assunto, e enviados para: Support Marius Mason, PO Box 201016, Ferndale, MI 48220.

Além disso, escrever cartas é uma das coisas mais importantes que você pode fazer. Cartas são uma tábua de salvação para aqueles que estão dentro das paredes da prisão. Como prisioneiro federal, Marius não conseguiu efetivar sua mudança de nome por meios legais, por isso é importante que as cartas sejam endereçadas a “Marie (Marius) Mason” no envelope, juntamente com seu código de prisão. Veja seu endereço abaixo e as orientações para escrever cartas em supportmariusmason.org

Outra forma de apoiar Marius é organizando tanto o Dia de Ação dos Prisioneiros Trans, em 22 de janeiro, quanto o Dia Internacional de Solidariedade com Marius Mason e Todos os Prisioneiros Anarquistas, em 11 de junho de cada ano.

Escreva para Marius em:

Marie (Marius) Mason #04672-061
Federal Satellite Low
33 1/2 Pembroke Rd. Rte. 37
Danbury CT 06811 – EUA

Assim como todos os presos políticos e ambientais, eles estão lá por nós; nós estamos aqui por eles.

Panagioti Tsolkas é ex-editor da Earth First! Journal e Prison Legal News, e atual membro do grupo de trabalho editorial da Agência.

Mais sobre:

Visite o site de apoio a Marius Mason em http://www.supportmariusmason.org/

[1] Nota do tradutor: omitimos o nome antigo de Marius na tradução.

Tradução > transanark/acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

através das árvores
carregando um lampião
quantas mariposas

Nenpuku Sato

[Itália] A educação como espaço político: Relato do 15º Congresso Internacional de Pedagogia Crítica

De 13 a 17 de outubro ocorreu em Reggio Emilia o 15º Congresso Internacional de Pedagogia Crítica (criticalpedagogycongress.org), ligado ao Freire Project (freireproject.com).


Participaram 47 pessoas vindas dos Estados Unidos, Canadá, Singapura, Grã-Bretanha, Espanha, Itália, Holanda, Brasil e Grécia.

O Congresso e o Projeto Freire trabalham na criação de uma comunidade crítica internacional que promove a justiça social em uma variedade de contextos sociais e culturais, apoiando o ativismo e a pesquisa crítica nos âmbitos cultural, juvenil, comunitário e midiático. Ambos os projetos visam desmantelar práticas e estruturas hierárquicas para construir uma imaginação social e política contra-hegemônica, coletiva e participativa.

Dentro desse quadro teórico-prático, os encontros anuais do Congresso não seguem a estrutura clássica das conferências acadêmicas, baseadas em hierarquias de pessoas, conteúdos e tempos (palestras plenárias, apresentações em PowerPoint etc.), mas se fundamentam na participação dialógica, em continuidade com a abordagem freiriana da pedagogia como instrumento de diálogo, conscientização, transformação e libertação.

Os dias em Reggio Emilia foram estruturados em diversos momentos de encontro, tanto com realidades locais — visita a uma escola que aplica a abordagem de Malaguzzi, a uma cooperativa educativa, ao Centro Malaguzzi e ao Círculo Anarquista Berneri — quanto com docentes da Faculdade de Educação da Universidade de Reggio – Unimore.


Na universidade, dois dias inteiros foram dedicados a trabalhos e discussões em grupo sobre três temas fundamentais:

·         Pedagogias de paz e guerras: discursos sobre o poder

·         A pedagogia crítica está envelhecendo? Nossa herança e a de Paulo [Freire], Pato [Jesús Gómez] e Joe [Kincheloe]

·         Ativismo comunitário: fazer a diferença

Os encontros realizados no Círculo Anarquista Berneri foram especialmente significativos para o público estrangeiro. Na manhã de segunda-feira, dia 13, Gianandrea Ferrari começou relatando a história do movimento anarquista italiano e do próprio Círculo Berneri, mas as inúmeras perguntas transformaram rapidamente a reunião em um intenso intercâmbio e compartilhamento de ideias.


Na noite de terça-feira, dia 14, houve um jantar no Círculo — com um agradecimento especial a Alessandra Convertino, Jacopo Coppola e Andrea Corghi — seguido do concerto de Riccardo Dodi, que tocou e cantou canções anarquistas e libertárias em italiano, espanhol e inglês, envolvendo as/os participantes nos cantos.

Outro momento muito apreciado foi a visita às antigas Officine ReggianeMichele Bellelli apresentou a história das Officine, enquanto Gianandrea narrou seus acontecimentos políticos — da ocupação das fábricas em 1926, ao enterro da bandeira anarquista Spartaco durante o fascismo, até as lutas operárias e sindicais das décadas de 1970 e 1980. Também ali, as/os participantes fizeram muitas perguntas, gerando momentos de reflexão e comparação entre as realidades dos diferentes países, onde as estruturas hegemônicas de poder reproduzem os mesmos padrões de exploração e opressão.

Paola Giorgis

Fonte: https://umanitanova.org/leducazione-come-spazio-politico-report-dal-15-congresso-internazionale-di-pedagogia-critica/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

há colcha mais dura
que a lousa
da sepultura?

Millôr Fernandes

[França] Lançamento: “Folias d’Espanha. Sombras e luzes de um anarquismo em tempo de guerra”, de Freddy Gomez

O anarquismo espanhol contado por um dos melhores especialistas, um panorama crítico dos sucessos e fracassos.

Nos tempos antigos, as pessoas subiram aos céus da Espanha com a força de resistir ao fascismo enquanto lançavam as bases de um mundo sem dominação ou exploração. A memória dessa revolução espanhola de 1936, bela como a radiante irracionalidade libertária que a carregou, ressurgiu após a morte de Franco em 1975. Então, durante a década de 1980, ficou atolado nas areias do esquecimento numa Espanha onde a “transição democrática” para o mercado foi baseada em um acordo entre “direita” e “esquerda” na pressa de enterrar o velho projeto de emancipação social e humana do qual o movimento operário espanhol, sob influência anarcossindicalista, havia sido o arquiteto inegável.

Folies d’Espagne enfoca as sombras e luzes da atividade anarquista durante a Guerra Civil e apresenta uma visão crítica dos sucessos e fracassos dessa revolução na qual, pela única vez na história, pelo menos em escala tão grande, um povo armado resistiu ao fascismo enquanto aspirava ao comunismo libertário. Composta a partir de resenhas de obras publicadas na maioria das vezes em espanhol e inéditas em francês, esta coleção se baseia em um acompanhamento metódico e, por vezes, polêmico dos debates historiográficos que agitaram o pós-franquismo.

Folies d’Espagne

Ombres et lumières d’un anarchisme de guerre

Freddy Gomez

13 x 20 cm | 384 p. | 22 euros

Isbn 9782373091748

lechappee.org

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Alameda amarela
de tapete macio,
de flores do ipê.

Kazue Yamada

[Itália] Roma: Lançamento do 1º Edital de Ilustração Libertária “Liberdade é…”

No sábado, 15 de novembro, a partir das 17h30, no Espaço Anarquista 19 de Julho, na Rua Rocco da Cesinale, 16-18, em Garbatella (Metrô B), lançaremos o 1º Edital de Ilustração Libertária “Liberdade é…”, com prazo até 1º de dezembro de 2025. O regulamento do edital pode ser encontrado na página web www.cafierofairoma.wordpress.com.

O edital foi lançado para marcar os oitenta anos da fundação do Grupo Anarquista C. Cafiero FAI Roma (1945-2025). Vamos falar sobre ilustração libertária, lançando um olhar também para obras que percorreram o século XX e além, como, por exemplo, as capas de algumas impressões do século XIX, cartões postais antimilitaristas, cartuns satíricos, e sobre Flavio Costantini, Ferru Piludu, J.P. Ducret, Elle Kappa e muitos outros.

No cartaz do Edital “Liberdade é…”, está a “Bandeira Negra no Polo Norte”, de Santiago Sierra, de 2015. Uma imagem poderosa, a do pavilhão negro que supera fronteiras e nacionalismos, entre as obras visuais e performáticas que devolvem à contemporaneidade uma ideia concreta de Liberdade.

Em seguida, às 20h00, haverá um jantar mediante reserva (para reservar, escreva para: cafierofairoma@inventati.org) e a renda será revertida para a arrecadação de fundos da Campanha “O Espaço Anarquista 19 de Julho não fecha”.

Grupo Anarquista C. Cafiero FAI Roma

www.cafierofairoma.wordpress.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

de repente o quarto
enche-se de bichinhos
em torno da lâmpada

Nenpuku Sato

Ailton Krenak: “A exploração de petróleo na foz do Amazonas nos leva à distopia, a um ponto sem retorno”

O único membro indígena da Academia Brasileira de Letras se manifesta contra a COP30 da ONU, que, segundo ele, foi “sequestrada” por interesses econômicos: “O clima virou mercado”, afirma.

Por Bernardo Gutiérrez | 08/11/2025.

“O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) consegue medir o impacto de um veículo em São Paulo, mas não inclui o impacto de mísseis lançados contra a Ucrânia e Gaza. Um míssil não tem efeito algum sobre o clima?” Ailton Krenak — pensador, artista e um dos mais proeminentes porta-vozes dos povos indígenas do Brasil — fala com uma voz envolvente. Ele apresenta críticas contundentes com delicadeza. “A COP30 está sendo esvaziada pelas potências que estão em guerra. Quem governa o mundo é quem tem armas. A guerra impulsiona a economia”, afirma ele em um hotel de São Paulo, próximo à exposição dedicada à sua obra artística e intelectual no Itaú Cultural.

Krenak, como é carinhosamente conhecido no Brasil, está pessimista em relação à COP30, que será realizada em Belém de 10 a 21 de novembro, pela primeira vez no bioma amazônico. Ele não comparecerá em sinal de protesto. Não quer que seu nome seja associado à COP. É particularmente crítico da perfuração de petróleo que o governo brasileiro acaba de autorizar perto da foz do rio Amazonas: “Depois de extrair milhões de barris de petróleo da foz do Amazonas, não haverá transição energética possível; será um desastre”, afirma categoricamente, culpando diretamente Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil.

A autoridade moral de Ailton Krenak (Itabirinha de Mantena, 72 anos) é fruto de prestígio acumulado. Se ele não tivesse proferido um discurso performático no Congresso brasileiro em 4 de setembro de 1987, pintando o rosto com genipó em sinal de luto, os direitos indígenas não teriam sido protegidos pela Constituição brasileira de 1988. Os deputados e senadores, hipnotizados por seu terno branco e rosto pintado de preto, prestaram atenção. A mídia o estampou em suas capas. E a emenda à proposta de Constituição elaborada pela União dos Povos Indígenas (UNI), organização que ele ajudou a fundar, foi aprovada. A voz de Krenak não teria tanta força se alguns de seus livros, Ideias para posgar el fin del mundo (2021) e Futuro ancestral (2025), não fossem best-sellers.

Agora, o pensador indígena mais influente do Brasil denuncia a mercantilização da conferência climática da ONU. “A COP30 foi sequestrada por uma perspectiva econômica. O clima se tornou um mercado. A COP deixou a ecologia de lado e adotou a perspectiva dos serviços ambientais”, afirma Krenak. Em sua opinião, é urgente criar um novo tratado entre os seres humanos e o que antes era chamado de natureza: “O ambientalismo se desgastou porque insistia em colocar os humanos no centro e todos os outros no meio ambiente”, explica. Ele sugere que, em vez de realizar conferências climáticas, “um grande encontro seja convocado para discutir a ecologia do planeta e a crise na relação entre os seres humanos e outros organismos não humanos”.

Ailton Krenak, cujo grupo étnico é originário do sudeste do Brasil, está extremamente preocupado com a devastação da Amazônia: “Ela faz parte de um organismo muito sensível. Se sofrer danos irreparáveis ​​e chegar ao ponto de não retorno, as consequências serão globais. As chuvas e os fenômenos que regulam o clima do planeta serão alterados.” Krenak também exige o fim da exploração de combustíveis fósseis. “Ainda não entendemos que precisamos de uma transição na forma como todo o planeta produz”, afirma.

Na opinião dele, extrair petróleo na foz do rio Amazonas seria desastroso: “Significa fazer uma transição mais tarde, destruindo o planeta agora. Isso nos levaria diretamente a uma distopia, a um desastre monumental sem volta”. Krenak culpa diretamente o presidente Lula, que, segundo ele, pressionou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para agilizar as licenças ambientais para o projeto de extração de petróleo: “Vivemos em um sistema presidencialista. O presidente toma as decisões”, destaca.

Soluções urgentes

Krenak é um sobrevivente. Seu povo está entre os mais perseguidos da história. Após uma sucessão de massacres e perseguições, eles finalmente se estabeleceram no vale do Rio Doce, no estado de Minas Gerais. A chegada da mineradora Companhia Vale do Rio Doce em 1942 — hoje Vale, a maior produtora mundial de minério de ferro — contaminou o rio e devastou ainda mais uma região já assolada pela pecuária. Em 1969, a ditadura militar construiu o Reformatório Krenak em suas terras, um campo de concentração para indígenas de todo o Brasil. Sua família fugiu para o estado do Paraná, mais ao sul. Os Krenak, com suas terras ocupadas e saqueadas, estavam à beira do desaparecimento.

Justo quando sua população se recuperava, chegando a 434 indivíduos em 2014, ocorreram as tragédias do rompimento das barragens de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Toneladas de material tóxico inundaram o Rio Doce, que, nas palavras de Ailton Krenak, ficou em estado vegetativo.

Após décadas vivendo em grandes cidades como São Paulo e Belo Horizonte, onde trabalhou com o movimento indígena, Ailton agora vive novamente na aldeia de Krenak, perto do município de Resplendor. Às margens de seu Watu, seu rio, com um pé firmemente plantado na terra. Quando Krenak aborda a crise planetária, sua fala se torna um pouco mais lenta: “Setenta por cento da cobertura vegetal natural do planeta já está drogada, envenenada. Para produzir, é preciso injetar veneno. O que faz a semente germinar não é mais a força vital, mas o veneno, assim como uma pessoa que usa drogas para andar”, diz ele.

Krenak argumenta que a lógica de mercado das cidades está contaminando tudo: “Há uma tendência colonialista na cidade. É como se (a cidade) estivesse tentando resolver os problemas de um lugar que, na verdade, tem outras necessidades e não quer que o mercado se infiltre no cotidiano de suas comunidades. A cidade envenena os relacionamentos.”

Como antídoto à cidadania, que ele acredita carregar um fardo colonial, Krenak propõe o conceito de “florestamento”. “A floresta era considerada um não-lugar. Era preciso desmatar a floresta, abrir uma clareira, criar uma cidade, uma vila, para ter cidadania”, afirma o pensador. Portanto, ele sugere uma troca benéfica entre a floresta e a cidade: “Aqueles que vivem na floresta [na selva] reivindicam um tipo de cidadania que é o florestamento. Aqueles que vivem na cidade, já exaustos, reivindicam uma floresta. Assim, temos algo em comum.”

O livro Futuro Ancestral começa com uma imagem que destaca a natureza cíclica do tempo compartilhada por muitas culturas indígenas. Um grupo de crianças da etnia Yudjá rema em uma canoa no rio Xingu, um afluente do Amazonas. “Nossos pais dizem que estamos nos aproximando de como as coisas eram no passado”, diz a mais velha. Ao longo do livro, a autora argumenta que a cultura ocidental se especializou em projetar futuros improváveis.

Krenak considera o futuro uma verdadeira fraude perpetrada por homens brancos: “Só existe o presente. Se formos incapazes de dar respostas ao presente, receberemos mais tarde algo que chamamos de futuro, com as falhas daquilo que fomos incapazes de corrigir e cuidar”, argumenta, enfatizando cada palavra. Ele sequer considera a ideia de utopia útil. “Cria-se utopias porque lhes falta coragem para confrontar o presente. Se fizessem o esforço, produziriam respostas para o presente. Trazer essa visão possível para o presente significaria renunciar à máquina de reprodução capitalista”, conclui.

E ele se dedica a nutrir e cultivar o presente. Contra todas as adversidades, crises e marés, ele mantém uma réstia de esperança. Se em seu discurso na Assembleia Constituinte de 1987, Krenak acreditava na possibilidade de construir uma sociedade que respeitasse os mais vulneráveis, em seu discurso de posse para a vaga número 5 da Academia Brasileira de Letras, em 2024, ele enfatizou a importância da resiliência, de retribuir ao mundo cura e bondade, e de ajudar a reconstruir o tecido social.

Para adiar o fim do mundo, ele clama por soluções concretas e urgentes. “Se não fizermos mudanças profundas na forma como a vida é produzida e reproduzida no planeta, estaremos todos condenados. A humanidade está no topo da lista de espécies ameaçadas de extinção. Vamos nos concentrar no prático. Os rios estão secando, os desertos estão se expandindo e as geleiras estão derretendo. Ou somos um organismo vivo em um planeta vivo, ou somos uma pessoa doente em um planeta doente.”

Fonte: https://elpais.com/america-futura/2025-11-08/ailton-krenak-explotar-petroleo-en-la-desembocadura-del-amazonas-nos-lleva-a-la-distopia-a-un-punto-de-no-retorno.html

agência de notícias anarquistas-ana

uma folha cai
o chão cheio de folhas
o vento distrai

Marcio Luiz Miotto (Pitu)

[Uruguai] A robotização, outro tentáculo da Hidra

Por Raúl Zibechi | 17/10/2025

O jornal britânico The Telegraph acaba de publicar um artigo intitulado “Os executivos ocidentais que visitam a China voltam aterrorizados” (12 de outubro de 2025). O “terror” é que a indústria chinesa superou a do Ocidente de forma avassaladora e aparentemente irreversível.

Depois de visitar várias fábricas automotivas, o diretor executivo da Ford, Jim Farley, disse: “É a coisa mais humilhante que já vi”. O chefe da empresa que foi pioneira na produção de carros “ficou pasmo com as inovações técnicas que estão sendo incorporadas aos automóveis chineses, desde o software de direção autônoma até o reconhecimento facial”.

Preocupado com o futuro da Ford, ele acrescentou que o custo e a qualidade dos veículos chineses são muito superiores ao que se pode ver no Ocidente. Um executivo australiano pôde ver fábricas onde, ao lado de uma grande esteira rolante, máquinas saem do chão e começam a montar peças. São espaços escuros, não é necessária luz, não há pessoas, tudo é robótico.

A velocidade da incorporação de robôs na indústria chinesa é alucinante: o número total de robôs adicionados na China no ano passado foi de 295.000, em comparação com 27.000 na Alemanha, 34.000 nos Estados Unidos e apenas 2.500 no Reino Unido, conclui The Telegraph. Hoje a China supera todos os países ocidentais na quantidade de robôs para cada 10 mil trabalhadores.

Que seja o principal executivo da Ford quem se mostra “horrorizado” com a diferença entre a China e o Ocidente é mais do que notável. A empresa Ford revolucionou a indústria no início do século XX com a introdução da linha de montagem, que facilitou a produção em massa no final da década de 1910. Quem assistiu ao filme Tempos Modernos de Charles Chaplin, entende como a linha de montagem permitiu um crescimento exponencial da produção, enquanto os operários se limitavam, durante toda a jornada de trabalho, a realizar movimentos breves e repetitivos, gerando uma brutal alienação e doenças físicas e mentais. Com a linha, os trabalhadores pararam de se mover, ficaram parados em seus postos, supervisionados de perto pelos capatazes. Ao realizar tarefas simples, os salários caíram.

Com a robotização já não há operários, mas um pequeno grupo de engenheiros dedicados à inovação e ao aperfeiçoamento técnico. A cadeia de produção não desapareceu, como se pode ver em inúmeras imagens da indústria automotiva atual, o que já não se vê são operários.

A robotização está abrangendo não apenas a indústria manufatureira, mas também os serviços, desde a distribuição (como atestam os portos chineses ou os depósitos da Amazon) até a hotelaria e os hospitais. Em poucos anos não haverá nenhum setor onde a robótica, conduzida pela inteligência artificial, esteja ausente, o que terá repercussões cada vez maiores na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Essa mudança é o que me leva a dizer que a robotização é um tentáculo da Hidra capitalista, uma engrenagem da tempestade que os de cima lançaram sobre os povos do mundo. Uma parte da humanidade sobra, não tem lugar nem na produção, nem no consumo, nem na vida mesma. Essa mudança nunca havia acontecido na história da humanidade. Os trabalhadores sempre foram necessários para colocar em movimento a engrenagem da produção e da distribuição. Por isso nosso futuro como gente comum, como povos e setores sociais, está sendo questionado pelo capitalismo. Compreender essa realidade, a realidade de Gaza por exemplo, deveria nos levar a compreender melhor o que temos pela frente, e a poder resistir melhor.

Fonte: https://desinformemonos.org/la-robotizacion-otro-tentaculo-de-la-hidra/ 

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

florescente espinheiro
tão parecido aos caminhos
onde eu nasci!

Buson

Flecheira Libertária 832 | “Haverá fogo para queimar o insuportável?!”

mais do capitalismo sustentável

A Vale do Rio Doce investiu R$980 milhões na construção do Parque da Cidade, local que sediará as negociações oficiais entre os Estados na COP30. A parceria público-privada foi viabilizada pelo programa Estrutura Pará, que estabelece que mineradoras podem reverter até 50% do pagamento do imposto estadual TRFM na forma de financiamento de obras. Este imposto, especificamente voltado às mineradoras, cobra taxas a serem destinadas à fiscalização e ao controle ambiental das atividades do mesmo setor. Isso é capitalismo sustentável. Mineração legal e ilegal, igualmente, devastam, envenenam a terra e as águas, destroem florestas, rios, ecossistemas, aldeias, quilombos, cidades. Ceifam vidas, com ou sem enxurrada de lama tóxica. Ainda não se esqueceu passado recente devastador e de matança criado pela Vale.

mais da civilização

Dez anos após a devastação promovida pela Vale nas cidades de Mariana e Brumadinho, os rejeitos da barragem permanecem na terra e nos rios. Assim como prosseguem as deformidades em bichos que vivem na água, doce ou salgada – afinal, não houve apenas um rio envenenado, pois não há força viva que respeite fronteiras criadas pelos humanos, e a lama tóxica se espalhou, atingindo até os corais de Abrolhos. Quem vive na região diz que não dá para comer os peixes que habitam o Rio Doce. Na cidade de Aimorés, distante mais de 370 quilômetros, a orla do Rio Doce virou pequenas poças d’água. Seca. Não há mais bichos de água, apenas mosquitos e os chamados “peçonhentos”. Lá a devastação data da construção de uma usina, iniciada em 2001. A concessão, que envolveu a autorização do desvio do curso do rio, foi outorgada durante a ditadura civil-militar. Hoje, entre as parcerias nacionais e internacionais da administradora da usina, está a Vale. O progresso civilizatório – sustentável ou não, democrático ou não – é a perpetuação das matanças e devastações… E de lucro empresarial legal e ilegal, contando com parcerias burocráticas.

a todo vapor

As supostas conservações ambientais interessam aos Estados, aos proprietários e a segmentos da chamada sociedade civil organizada desde que garantam expressivas taxas de retorno. Nos últimos anos, houve um crescimento do que se convencionou chamar de indústria verde, com aumento de produção – sobretudo por parte da China – e de compras de painéis solares, baterias elétricas, carros elétricos ou híbridos, mercado de crédito de carbono etc. A mineração, classificada como legal ou ilegal, continua a todo vapor. Afinal, como assegurar as taxas de “bom retorno” para a indústria verde prescindindo da atividade extrativa, modificadora, coletora de commodities, de sangue e ar de trabalhadores que mantém seu ritmo de produção?

bom retorno

O mesmo ocorre com os combustíveis fósseis. O Brasil, país-sede da COP30, nos últimos meses, aprovou novos leilões para exploração de petróleo nas chamadas águas profundas. O argumento é sempre o mesmo: ‘é necessário financiar a transição energética por meio do uso – e abuso – de “nossos” recursos naturais’. Usar e, simultaneamente, abusar, tal como preconiza e assegura o sagrado direito à propriedade. As atividades econômicas, verdes ou não, complementam-se, financiam-se, estão interligadas. Tudo, claro, em prol da tal da “boa taxa de retorno”, com mineração aqui, “conservação ali”, compras de crédito de carbono por quem destrói e, assim, sucessivamente em direção à utopia neoliberal com direita e esquerda, conservadores e progressistas, socialistas de Estado e liberais dentro e fora de home offices…

negociações resilientes

Uma das expectativas em torno das negociações entre autoridades estatais, empresas filantrópicas na chamada sociedade civil organizada e comunidades indígenas que ocorrerão na COP30 gira em torno da criação de um fundo de investimento internacional. Este, pretende recompensar Estados que se comprometam a conservar bosques tropicais, destinando aos beneficiários pagamentos anuais por hectares de “floresta em pé”. Além disso, a proposta visa direcionar ao menos 20% dos fundos recolhidos às comunidades indígenas e tradicionais para que tenham autonomia para gerenciar os recursos provenientes. Trata-se do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês). O governo que encabeça e estimula a iniciativa é o brasileiro. O capitalismo sustentável requer, mais uma vez, a inclusão de variadas forças agrupadas em minorias numéricas em compartilhar no governo os efeitos do “colapso climático” e tentar apaziguar as lutas incluídas na retórica da preservação de biomas. Prepondera a racionalidade neoliberal com as recomendadas moderações de condutas e aumento de resiliências, deixando sempre intocado o questionamento do regime da propriedade que fundamenta as devastações em escala global em qualquer canto do planeta.

inclusões convenientes

No fim do mês de outubro, o secretário-geral da ONU concedeu uma entrevista exclusiva antes da COP30 para uma revista ambientalista brasileira, concedida de forma inédita por um jornalista indígena. Tal ineditismo foi explicitamente comemorado na reportagem publicada. Afinal, inclusões viraram objetivos a serem perseguidos. Progresso!: mais inclusões que engrandecem e dão continuidade à racionalidade neoliberal. A entrevista versou sobre diversos temas relacionados à COP de Belém, dentre os quais a exigência de “lugar de fala” para povos indígenas durante a conferência. O tom moderado do secretário-geral escancara novamente as capturas de diversos movimentos e minorias numéricas, agora em estágios de supostas pacificações em prol do desenvolvimento sustentável capitalista e tão ao gosto dos Estados, das religiões e seus esdrúxulos ecumenismos e seguranças militarizadas ou não.

de uma estrela colorida, brilhante

Será que alguma revolta eclodirá frente aos que se arrogam donos do planeta e aos que tem fé na sua participação e na melhoria de toda essa merda? Alguma força vinda da imensa floresta, dos rios, das entranhas da terra? A fúria de algum bicho selvagem? As flechas ou estrepes de gente que vive na e com a floresta e se recusa à domesticação dessa sociedade? Haverá fogo para queimar o insuportável?!

Fonte: https://www.nu-sol.org/wp-content/uploads/2025/11/flecheira832.pdf

agência de notícias anarquistas-ana

café da tarde—
na mangueira em flor
farra de pardais

Nete Brito

[Alemanha] Segundo Encontro Internacional Contra o Serviço Militar e pela Recusa de Todo Militarismo

14 a 16 de novembro de 2025 em Hamburgo, Alemanha.

Assistindo os debates sobre prontidão militar e recrutamento, em andamento, fica claro como a política e a mídia preparam o terreno para o rearmamento incondicional das forças armadas alemãs. Isso vem acontecendo há muito tempo na produção e exportação de armas e máquinas de guerra, mas, agora, o impulso também é recrutar mais pessoal. As narrativas dominantes retratam isso como necessidade inevitável, restringindo a discussão pública a questões de “como” e “quando”, sem nunca questionar a própria guerra.

A “paz”, nesses debates, sempre se baseia na ideia de Estados-nação e de forma alguma garante vida segura ou livre para todos. Essa paz capitalista significa principalmente o bom funcionamento da exploração e da opressão. A guerra social continua. Queremos uma paz que signifique vida boa para todos; sem lógicas capitalistas, nem racistas e nem patriarcais.

A guerra já está aqui. A ameaça de novos conflitos militares na Europa aumentou, sobre isso, não há dúvida. Desde o início da guerra na Ucrânia, uma mentalidade de amigo ou inimigo foi cultivada estrategicamente: só aqueles dispostos a lutar e, se necessário, morrer pela defesa da integridade territorial, pela democracia, pela Europa, pela Alemanha, são considerados como “nós”.

Por que, então, deveria fazer sentido rejeitar o serviço militar à luz da suposta ameaça? Por que recusar as chamadas “novas realidades” tão veementemente invocadas por todos os lados? As posições que expressem qualquer crítica fundamental à militarização e ao rearmamento sempre foram marginalizadas. Mais uma razão para tomarmos posição e fazermos perguntas difíceis.

Um dos principais aspectos do avanço da militarização é o cerrar fileiras: um juramento de lealdade à comunidade nacional. Essa mudança anda de mãos dadas com um processo constante de fascistização, fortificação de fronteiras, agitação racista e fobia a queer. Nada disso é acidental. Em tal clima social, a decisão de recusar o serviço militar obrigatório é construída como uma falha moral: os afetados são acusados de falta de consciência.

Ao lado de ameaças abertas de isolamento social e repressão, há também uma promessa: uma oferta – especialmente aos excluídos e precários – para finalmente serem aceitos e tratados como iguais, para serem necessários e, portanto, incluídos na comunidade nacional (uma comunidade que se define principalmente através da construção de uma ameaça externa). Isso vem com um salário (soldo) que promete estabilidade econômica. Aqueles que não forem persuadidos, uma opção discutida abertamente, serão simplesmente forçados.

Embora a Alemanha atualmente não tenha serviço militar obrigatório, nem com armas e nem em um dos inúmeros setores “civis”, mas relevantes para a guerra, qualquer um pode ser convocado rapidamente em uma crise. O passo político em direção a tais obrigações parece quase tão pequeno quanto o obstáculo parlamentar para reativar um projeto de lei “adiado”.

Queremos unir forças com aqueles que escolhem um caminho diferente para a paz e a liberdade, um caminho que não dependa da identidade coletiva de “defesa da nação”. Conversas e práticas compartilhadas em torno da desconstrução do militarismo, em todas as fronteiras e linhas de frente, podem nos ajudar a confrontar as ideologias do Estado e do poder com solidariedade internacional.

A troca de experiências de recusa e subversão do militarismo em todos os níveis nos dá força e inspiração. Queremos fortalecer a posição de resistência à lógica do rearmamento e à militarização da vida cotidiana. Queremos ouvir e aprender com diferentes perspectivas que rompam com essa suposta normalidade, seja por meio de atos de recusa, seja por outras formas de resistência.

Em novembro de 2024, nos reunimos em Hamburgo para trocar ideias sobre como as pessoas em outros contextos estão resistindo ao recrutamento, como são as suas realidades e quais consequências sociais enfrentam. Aprendemos que a existência do recrutamento é um mecanismo que doutrina geração após geração na lógica militarista. É um aparato enraizado em estratégias seculares de dominação e opressão, mantidas unidas pelo racismo e pelo patriarcado. Isso contradiz fundamentalmente qualquer projeto de libertação social.

De uma perspectiva anarquista, a resistência contra a reintrodução do recrutamento e contra a militarização não é somente sobre defender o direito duramente conquistado à autodeterminação. É também sobre como podemos nos opor à reversão nacionalista com uma perspectiva internacionalista e combativa. Não aceitaremos posições autoritárias ou que justifiquem a guerra, vamos confrontá-las com práticas subversivas e solidárias.

É por isso que estamos mais uma vez ansiosos para fazer do fim de semana de 14 a 16 de novembro de 2025 um momento de intercâmbio coletivo, camaradas de diferentes partes do mundo apresentarão os seus projetos e compartilharão as suas experiências e análises conosco.

Mais uma vez, também convidamos você a enviar contribuições por escrito, que publicaremos em uma brochura após o evento!

keinwehrdienst.noblogs.org

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Chuva batendo
No batente
Som dormente

Ângelo Amarante

[Itália] 4 de Novembro em Livorno: Desertemos de todos os exércitos!

Centenas de pessoas foram à praça ontem em Livorno para a manifestação convocada pela Coordenação Antimilitarista de Livorno contra a propaganda de guerra e o militarismo, no simbólico dia 4 de novembro, em que o Estado celebra as forças armadas e o massacre da Primeira Guerra Mundial.

Um dia de luta que reuniu em torno do antimilitarismo e da oposição ao rearmamento todas as forças que se opõem à guerra e que animaram, nas últimas semanas, o movimento de solidariedade a Gaza e à Global Sumud Flotilla com bloqueios, greves e manifestações.

O cortejo partiu da Praça da Vitória, onde, sob o monumento aos caídos – local que sediou o desfile militarista institucional pela manhã – foi exposto o banner “Desertemos de todos os exércitos! contra a guerra, o rearmamento, a repressão e a censura“. Na praça, antes da partida, houve vários discursos no microfone. A Coordenação Antimilitarista destacou a importância de ir à praça nesta data, enquanto o Observatório contra a Militarização das Escolas denunciou a censura recebida do Ministério da Educação e do Mérito, relatando que o congresso antimilitarista direcionado aos professores ocorreu mesmo sem o reconhecimento do ministério. Em seguida, intervieram trabalhadores em luta contra o transporte de armas, os estivadores do GAP, reafirmando a oposição ao militarismo e para ampliar a luta nos próximos meses. A USB lembrou da greve geral de 28 de novembro contra o rearmamento e a lei orçamentária, enquanto a Rede Livorno Contra as Guerras interveio para reafirmar a importância da deserção. O cortejo percorreu a Corso Amedeo, Praça Attias e Via Ricasoli, entoando palavras de ordem contra a guerra e o militarismo, em solidariedade a Gaza e à Palestina, em apoio à luta dos trabalhadores portuários contra o transporte de armas, para depois terminar na Praça Cavour.

Intervieram o coletivo estudantil Escuela de Papel, que lembrou da militarização e repressão nas escolas; as Mulheres de Negro de Livorno, presentes com seu próprio banner; Não Uma a Menos Livorno, que reafirmou a estreita ligação entre militarismo e dominação patriarcal; a Associação Livorno Palestina, que destacou a conexão entre a propaganda de guerra e o genocídio em curso na Palestina, que continua apesar do falso cessar-fogo assinado sob pressão dos EUA. Interveio, por fim, a Rede de Professores por Gaza, uma rede nascida nas últimas semanas de intensa mobilização nas escolas, que esclareceu como a retórica patriótica e nacionalista nas escolas em torno do dia 4 de novembro é um instrumento para levar a propaganda belicista às gerações mais jovens. Entre os numerosos banners e bandeiras, registram-se as outras realidades presentes: ALA, Alternativa Libertária, Asia USB, Attac, Ciclofficina Scintilla, Coletivo Anarquista Libertário, Coordenação de Saúde da Toscana, CUB, Ex-Quartel Ocupado, Federação Anarquista de Livorno, Federação Anarquista do Arquipélago Toscano, Movimento Não-Violento, Poder ao Povo, Refúgio, Refundação Comunista, Unicobas, USI.

Lembramos os próximos eventos dos quais participaremos como coordenação:

• Sábado, 22/11: Manifestação nacional em Roma da NUDM (Nem Uma a Menos) contra a violência de gênero.

• Sexta-feira, 28/11: Greve geral.

• Sábado, 29/11: Manifestação em Turim contra a feira de negócios de armas “Aerospace and Defense Meetings”.

Fonte: https://collettivoanarchico.noblogs.org/post/2025/11/06/4-novembre-a-livorno-disertiamo-tutti-gli-eserciti/

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/31/italia-4-de-novembro-desertamos-todas-as-guerras/

agência de notícias anarquistas-ana

Rastros de vento,
escuridão de brasas,
um salto suave.

Soares Feitosa

[Alemanha] Ataque incendiário ao carro do líder do grupo parlamentar da AfD, Bernd Baumann

Saudações ardentes aos Antifas acusados, presos e escondidos!

Na noite de 3.11.25, destruímos o BMW de Bernd Baumann, líder do grupo parlamentar da AfD [partido de extrema-direita], com um dispositivo incendiário, em Trenknerweg 111, Hamburgo-Othmarschen.

Em algumas semanas, dois grandes julgamentos contra Antifas começarão em Dresden e Düsseldorf. São 13 camaradas acusados de diversos ataques contra nazistas e as suas estruturas na Alemanha e na Hungria. Em setembro, as altas sentenças no primeiro julgamento chamado Antifa East contra Hanna já sinalizavam forte vontade de condenar a repressão. Até agora, o judiciário muitas vezes achou difícil proferir sentenças por participação em uma organização criminosa ou terrorista contra militantes de esquerda que não estavam organizados na guerrilha. Agora os governantes estão tentando estabelecer novos padrões. Na Hungria, Holanda e EUA, “Antifa” foi colocado na lista de oponentes “terroristas”.

Em tempos em que a prática cotidiana, assassina e racista de nazis, populares e policiais continua a aumentar, em que o isolamento militar da Europa, da Alemanha ou dos EUA contra refugiados é intensificado e o presidente dos EUA divaga sobre como ama o cheiro de deportações pela manhã e usa os militares contra protestos e resistências antirracistas, nestes tempos é urgentemente necessário haver organizações militantemente antifascistas. Em outras palavras, fazer exatamente o que os Antifas, agora, são acusados de fazer.

Que se formem uma, duas, três, muitas gangues de martelos!

Alerta antifascista, seja com martelo ou dispositivo incendiário!

Não queremos ver sexistas, racistas e fascistas na paisagem urbana!

All you damn’ MAGAfreaks, you will follow Kirk to hell! (Seus desgraçados doidosMaga, vão todos junto com o Kirk para o inferno!)

Clara, Emmi, Luca, Nele, Moritz, Paula, Henry, Johann, Julian, Melissa, Nanuk, Paul e Tobias: muita força, a luta continua!

Liberdade para Maja, nenhuma extradição de Zaid para a Hungria!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/548975

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

chego aos arrozais:
ouço a lua claramente
e percebo as rãs

Buson

[EUA] Moradores de Dallas estão na linha de frente da guerra de Trump contra a “Antifa”

Se condenadas, as pessoas que participaram do protesto podem pegar “dezenas de anos de prisão”, afirma a National Lawyers Guild.

por Andrew Lee | 25/10/2025

Na noite de 4 de julho de 2025, Meagan Morris e Autumn Hill deixaram a casa em Dallas que compartilhavam com várias outras pessoas para ir a um protesto de solidariedade aos imigrantes. Isso não era pouca coisa para nenhuma das duas colegas de casa. Meagan, uma mulher trans de 41 anos, estava desempregada desde que uma fratura na vértebra cervical a forçou a deixar seu emprego na UPS. Autumn tinha pouca experiência política, exceto por ter sido voluntária em uma organização sem fins lucrativos local e ter participado uma vez de uma parada do Orgulho. Mas com o governo Trump realizando violentas operações contra imigrantes em todo o país, em nome de sua agenda de deportação em massa, tanto Morris quanto Autumn Hill queriam ir a Alvarado para uma “manifestação barulhenta” em frente ao Centro de Detenção Prairieland, com 700 leitos.

Manifestações ruidosas, ou demos ruidosas, são protestos barulhentos e estridentes realizados do lado de fora de cadeias, prisões ou centros de detenção. Os participantes tentam fazer barulho suficiente para que aqueles que estão dentro saibam que não foram esquecidos, usando desde alto-falantes até fogos de artifício. Elas são uma tentativa de perturbar a lógica isoladora e carcerária do estado. No entanto, elas normalmente nunca levaram a acusações de terrorismo — até agora.

Alguns participantes da manifestação ruidosa de 4 de julho enfrentam agora acusações que incluem “prestação de apoio material a terroristas” e várias acusações de “tentativa de homicídio”, com o diretor do FBI, Kash Patel, anunciando medidas sem precedentes contra “extremistas violentos anarquistas alinhados com a Antifa” dias antes de o presidente Trump demonstrar sua vontade de classificar a Antifa como uma organização terrorista estrangeira.

Mas antes de se verem na linha de frente da cruzada de Trump contra o antifascismo, os futuros réus pensavam que iriam participar de um protesto comum, embora barulhento.

“Para mim, tudo parecia bastante normal. Eles iam fazer muito barulho em solidariedade aos detidos do ICE no Centro de Detenção de Prairieland”, disse Stephanie Shiver, esposa de Morris. “Era um protesto normal que estava sendo planejado.”

“Eu queria assistir aos fogos de artifício, garantir que os detidos soubessem que as pessoas lá fora se importavam com eles. Eu queria voltar para casa”, disse Morris ao Truthout.

Mas ela nunca voltou.

De acordo com a versão do governo, apresentada em documentos judiciais, o protesto foi, na verdade, um “ataque” contra o Centro de Detenção Prairieland. Os agentes penitenciários responderam ao vandalismo e aos fogos de artifício chamando a polícia do Departamento de Polícia de Alvarado. O estado alega que alguém então abriu fogo de uma área arborizada contra um policial que respondia ao chamado, que foi atingido no pescoço e revidou. No entanto, um membro do Comitê de Apoio DFW que participou de uma audiência preliminar federal em 30 de setembro disse ao Truthout que um agente do FBI se recusou a responder a uma pergunta sobre quem realmente atirou primeiro. O ferimento do policial foi aparentemente superficial, já que reportagens locais informaram que um policial sofreu um tiro e foi “tratado e liberado” do hospital na manhã seguinte.

Esse ferimento leve foi suficiente para que as autoridades policiais classificassem todo o protesto como uma “emboscada” planejada para atrair e abrir fogo contra policiais, tal como alega o estado que um misterioso “agressor” fez. Se todo o protesto foi uma emboscada mortal, o argumento do estado efetivamente sustenta que cada manifestante deveria ser acusado de tentativa de homicídio. De acordo com o caso do governo, as roupas totalmente pretas dos réus, os rádios portáteis e o uso de aplicativos de mensagens criptografadas servem como evidência, não de que eles eram manifestantes preocupados com a segurança em um período de crescente repressão política, mas sim de que eram membros de uma “organização militante”. Outras evidências incluem “literatura antigovernamental” encontrada em uma residência que, segundo o membro do Comitê de Apoio DFW, funcionava na verdade como uma gráfica de zines.

A mídia de direita imediatamente rotulou os participantes da ação autônoma como membros de uma obscura “célula antifa” terrorista. O Departamento de Justiça de Trump seguiu esse raciocínio quando, finalmente, foram apresentadas acusações federais contra alguns dos réus neste mês, alegando sua participação em uma “célula antifa do norte do Texas com pelo menos onze membros”.

No dia seguinte à manifestação, Shiver, Autumn Hill, sua esposa Lydia (que pediu para ser identificada apenas pelo primeiro nome) e os demais moradores da casa foram surpreendidos por um megafone anunciando o início de uma operação do FBI. Lydia conta ao Truthout que as autoridades arrombaram a porta da frente com um aríete acoplado a um veículo blindado. Eles jogaram granadas de efeito moral ensurdecedoras dentro da casa residencial de um único andar. Uma delas quase atingiu uma moradora que é mãe recente e seu filho de um mês. Os policiais vasculharam a casa em busca de itens especificados no mandado de busca sem aviso prévio, incluindo “panfletos, materiais impressos, postagens nas redes sociais e comunicações” que expressassem “ideologia antigovernamental”. Os moradores foram forçados a sair, algemados por horas e levados um por um para viaturas para identificação. Autumn Hill foi identificada como manifestante da noite anterior e levada sozinha para uma van. “Essa foi a última vez que a vi pessoalmente”, disse sua esposa Lydia ao Truthout.

Morris, Autumn Hill e outros nove supostos participantes da manifestação ruidosa agora são acusados de tentativa de homicídio, com Hill e o co-réu Zachary Evetts sendo as primeiras pessoas a receberem acusações de terrorismo por suposto envolvimento com o movimento antifa. O parceiro de um dos detidos foi acusado de obstrução por supostamente ter movido uma caixa de panfletos políticos. Um dos réus, Benjamin Song, fugiu da polícia durante uma caçada humana que durou uma semana; quatro indivíduos foram acusados de ajudá-lo a escapar da captura. De forma assustadora, depois que um comitê de apoio foi organizado para apoiar os réus, uma de suas integrantes foi presa. Uma décima oitava pessoa foi presa sob a acusação de auxiliar na prática de terrorismo no início desta semana. Os réus, cada um deles detido por fianças de milhões de dólares, são agora conhecidos coletivamente como os Réus de Prairieland.

A National Lawyers Guild (Guilda Nacional de Advogades) (NLG) divulgou uma declaração denunciando o que descreveu como “repressão estatal descontrolada”, enfatizando que “as pessoas presentes na manifestação barulhenta agora enfrentam décadas de prisão e anos de detenção pré-julgamento, independentemente de suas ações ou conhecimento… Várias pessoas presas nem estavam na manifestação de 4 de julho. A maioria dos réus permanece detida sem acusações formais… e em limbo entre a jurisdição estadual e federal”. De acordo com a NLG, isso tornou extremamente difícil encontrar representação legal para os réus. As acusações federais só seriam apresentadas mais de três meses após o suposto tiroteio.

Lydia descreve como “completamente ridícula” a ideia de que sua esposa, Autumn Hill, ou sua colega de casa, Meagan, teriam participado de uma emboscada organizada contra agentes da lei. “Elas têm muito pelo que viver”, disse ela, “e, além disso, nada no caso apresentado pelo estado faz sentido”.

As provas apresentadas pelo estado contra os réus incluem as referências acima mencionadas à literatura anarquista, equipamentos padrão de vigilância e faixas de protesto. Também menciona o fato de que os manifestantes estavam em posse de armas — em um estado com leis que permitem o porte sem licença, onde a maioria das famílias possui uma arma de fogo. Embora a acusação do estado alegue que o tiroteio foi capturado por câmeras e que cápsulas de balas foram encontradas no local, não há nenhuma evidência aparente que conecte qualquer um dos réus em particular ao ato de puxar o gatilho de uma arma apontada para um policial. Morris foi presa depois que uma arma de fogo foi encontrada em seu veículo, longe do local do suposto crime, embora sua esposa enfatize que ela porta uma arma apenas para autodefesa.

“Minha esposa costumava levar uma pistola com ela, mesmo quando saía para passear com o cachorro”, Shiver me contou. “Ela é uma mulher trans no estado do Texas. Ela se preocupa muito com sua segurança pessoal; é um estado muito ameaçador para se ser uma pessoa transgênero.”

Além disso, Morris é “na verdade uma mulher com deficiência grave”, disse-me Shiver. “Ela tem 95% das vértebras do pescoço colapsadas, e as condições em que se encontra na prisão estão causando-lhe dores excruciantes”. Morris não teve acesso a analgésicos ou a um travesseiro, e só começou a receber hormônios depois de ter sido detida por mais de um mês. Impedida de acessar os chuveiros e a cantina, ela relata ter sido revistada por guardas do sexo masculino, às vezes várias vezes ao dia, apesar de estar detida sozinha.

“As condições em que ela se encontra na prisão estão a causar-lhe dores excruciantes. Recusam-se a deixar que alguém tenha sequer uma almofada básica. Ela dorme muito pouco, acorda várias vezes durante a noite e sente dores excruciantes no braço. A prisão do condado de Johnson recusa-se a dar-lhe os medicamentos. Ela está detida sozinha e, essencialmente, em regime de isolamento”, afirmou Shiver.

Xavier de Janon, diretor de Defesa em Massa da National Lawyers Guild (NLG), disse que a NLG está “muito preocupada” com o tratamento dado aos 17 de Prairieland, dado o grande número de indivíduos acusados, a vigilância e as batidas policiais realizadas para prendê-los e a “natureza extrema das acusações” — tudo isso decorrente de um protesto político. Ele disse ao Truthout em agosto que, embora os réus enfrentassem acusações graves do estado, eles ainda não haviam sido indiciados federalmente, apesar do governo federal ter ameaçado publicamente com um processo judicial. Isso deixou os réus em um “limbo jurídico”.

“Isso é terror de estado”, disse Lydia. “Acho que não devemos medir palavras.” Ela e Shiver se juntaram ao comitê de apoio que busca arrecadar US$ 50 mil para a defesa jurídica. “Nós, do comitê de apoio, acreditamos firmemente que isso é uma tática de intimidação contra qualquer pessoa que faça qualquer tipo de trabalho de ajuda mútua ou qualquer tipo de ativismo em Dallas-Fort Worth”, disse Lydia. “Tenho dificuldade em acreditar que eles vão parar em algum momento. Eles não vão ficar satisfeitos.”

“O que este caso mostra às pessoas é que, se elas participarem de certos protestos, comícios, manifestações barulhentas e algo acontecer, elas também serão presas e acusadas de crimes muito graves”, disse de Janon ao Truthout. “Isso silencia a dissidência. Faz com que as pessoas tenham medo até mesmo de aparecer em uma manifestação barulhenta por causa dessa ameaça de que, se forem, podem ser presas, desaparecer e ser acusadas de crimes muito graves.”

“A narrativa do governo sobre uma grande emboscada? Isso é bobagem”, disse Morris. “Tenho esposa, tenho casa, encontrei uma família, tenho cachorros. Não colocaria tudo isso em risco.”

Observação: uma alteração foi feita no nome de Benjamin Song por pedido seu.

Fonte: https://truthout.org/articles/these-dallas-residents-are-on-the-front-lines-of-trumps-war-against-antifa/

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

vento no bambu
sopra e geme prazer
assim como tu

Carlos Seabra

Pré-venda: A formação do anarquismo em São Paulo

ATÉ 30 DE NOVEMBRO

(envio a partir de 1 de dezembro de 2025)

Para além de polo de referência para os grupos locais e regionais que se constituíram ao longo da Primeira República no interior do estado ou em outras partes do país, a cidade de São Paulo, nesse período, pode ser concebida como um ponto de largos circuitos de atuação e de mobilidade dos ativistas do movimento anarquista transnacional. São Paulo conectava-se externamente a outras cidades tais como Buenos Aires, Montevidéu, Nova Iorque, Paterson, Madri, Lisboa, Turim e Livorno. Mais do que um livro de sociologia histórica, é um estudo sobre como pessoas comuns organizaram cultura, educação, imprensa e ação coletiva para enfrentar estruturas de poder. Uma obra que ilumina a força da ação direta e da imaginação política.

Título: A formação do anarquismo em São Paulo: transnacionalismo, atos públicos e redes submersas

Autor: Clayton Peron Franco de Godoy

Editora: Entremares

Idioma: Português

Encadernação: Brochura

Dimensão: 16 x 23 cm

Edição: 1ª

Ano de Lançamento: Novembro de 2025

Número de páginas: 272

R$ 54,00

editoraentremares.lojavirtuolpro.com

agência de notícias anarquistas-ana

tarde de chuva
ninguém na rua
guarda a chuva

Alonso Alvarez

[Grécia] Nikos Romanos: Prisão preventiva prorrogada por mais seis meses

O anarquista Nikos Romanos permanecerá na prisão por pelo menos mais seis meses, pois o Conselho de Primeira Instância emitiu uma prorrogação da prisão preventiva para ele e para todos os detentos/as do caso Ampelokipoi.

Recorda-se que os últimos estão em prisão preventiva há quase um ano, com a única “prova” sendo uma impressão digital em um saco plástico.


Especificamente para Nikos Romanos, embora o promotor tenha proposto a conversão de sua detenção em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, o Conselho decidiu não aceitar essa proposta do promotor e manter sua prisão preventiva por mais seis meses.

Em publicação nas redes sociais, o “Comitê de Solidariedade com o Ativista Nikos Romanos” escreveu: “Mais uma vez, nos deparamos com a política vingativa de mecanismos repressivos e com a hipocrisia da justiça. O aparato policial-judicial mantém os ativistas em cativeiro, com narrativas falsas e especulações engendradas no 12º andar da GADA (Direção Geral da Polícia de Ática) e nos corredores dos conselhos judiciais, enquanto, ao mesmo tempo, acoberta os figurões do governo, encobre escândalos e crimes de Estado, como os ocorridos em Tempi e Pylos, e demonstra diariamente que a única marca que sua justiça deixa é a injustiça que ela própria impõe. Nós, por nossa parte, continuaremos a mobilização, fortalecendo a campanha em vista dos próximos passos legais. Queremos que a frágil acusação e o artigo 187A sejam anulados, para que todos os camaradas acusados​​no caso sejam libertados. Ao mesmo tempo, convocamos todos a participarem da mobilização e da campanha, pois sabemos muito bem que, unidos, derrotaremos a repressão estatal e a injustiça. Não daremos um passo atrás.

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/11/19/grecia-o-anarquista-nikos-romanos-foi-preso-no-contexto-da-perseguicao-policial-apos-a-morte-de-kyriakos-xymitiris/

agência de notícias anarquistas-ana

no fundo do lago
uma sandália de palha:
chuva de granizo

Buson

[Canadá] COP30 | Reduções de emissões: promessas, promessas, promessas

por Ian Angus | 08/11/2025

Todos os anos, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publica um Relatório sobre a Lacuna de Emissões (Emissions Gap Report).

À primeira vista, isso parece uma boa notícia: “O Acordo de Paris tem sido fundamental para reduzir as projeções de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE).”

E esta também soa encorajadora: “As projeções de aquecimento global com base nas políticas atuais caíram de pouco menos de 4 °C na época da adoção do Acordo de Paris, para pouco menos de 3 °C hoje.”

Lidas rapidamente, essas frases parecem indicar que o Acordo é responsável por reduzir as emissões que causam o aquecimento global.

Mas espere um pouco. A palavra traiçoeira nessas frases é projeções. Como o próprio relatório mostra, as emissões reais de gases de efeito estufa em 2024 foram mais altas do que nunca. Na verdade, a taxa atual de crescimento é mais de quatro vezes maior do que na década de 2010.

Então, o que há de fato por trás dessas projeções?

Pelo Acordo de Paris, os governos nacionais devem apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), planos voluntários e não vinculantes de redução de emissões até 2035. As primeiras NDCs foram apresentadas em 2020, e a segunda rodada, supostamente mais ambiciosa, deveria ser entregue neste ano, em setembro. Assim, o que o Gap Report revela não são reduções reais, mas promessas de reduções futuras.

E mesmo considerando esse caráter imaginário, as NDCs apresentadas até agora ainda estão muito aquém dos cortes necessários para manter o aquecimento abaixo de 1,5 °C neste século.

Além disso, dos 195 signatários do Acordo de Paris, apenas 64 se deram ao trabalho de enviar novas NDCs até o prazo deste ano. E as reduções prometidas por essa minoria “são relativamente pequenas e cercadas de significativa incerteza”.

Há ainda uma certeza a acrescentar: os Estados Unidos se retiraram do Acordo de Paris, de modo que suas NDCs, uma grande parte das reduções prometidas, expirarão em janeiro.

Não é de se admirar que o PNUMA, apesar das declarações otimistas em seu primeiro parágrafo, tenha intitulado todo o relatório de Fora da Meta (Off Target).

Como disse Greta Thunberg há quatro anos, antes da COP26:

“Blá, blá, blá. É só isso que ouvimos de nossos chamados líderes. Palavras que soam bem, mas que até agora não levaram a nenhuma ação.”

A influência dos lobistas das petroleiras e dos petro-estados continua dominante na COP30. Prepare-se para mais blá, blá, blá.

Fonte: https://climateandcapitalism.com/2025/11/08/emission-reductions-promises-promises-promises/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

salta o gato
assalta o gatuno
susto na noite

Carlos Seabra

Carta de Hiroshima será distribuída durante a COP30 com apelo contra agrotóxicos no Ceará

A Carta de Hiroshima, documento que denuncia e exige o fim da pulverização aérea de agrotóxicos no Ceará, será distribuída em cinco idiomas durante a COP30, em Belém (PA). Uma comissão de cearenses realizará a distribuição.⁠ O conteúdo do texto se dirige ao governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas (PT). O movimento Revoga Já e a Organização Popular (OPA) lideram a iniciativa, que defende a produção agroecológica como alternativa sustentável. O tema ganhou força após o governo autorizar o uso de drones para pulverização no Estado. Leia o documento a seguir.

Carta de Hiroshima

Das mães e crianças envenenadas pelos agrotóxicos no Ceará

Ao Governador do estado, senhor Elmano de Freitas

Senhor governador,

Aqui estamos nós, mães e crianças de vários lugares do Ceará. É com nosso sangue que lhe dirigimos a palavra. Sangue humano que corre em nossos corpos. Sangue que faz colorir a rosa da vida, essa dádiva preciosa e sem preço, que nem o dinheiro do mundo todo é capaz de pagar.

Estamos aqui, governador, para dizer que o mesmo sangue que se transforma em leite pelo milagre da biologia, e com o qual amamentamos nossas crianças, nessas mesmas veias, através de nossos peitos, circula também o veneno dos agrotóxicos.

É difícil aceitar que estamos adoecendo com a única finalidade de engordar as contas bancárias de quem lucra com a destruição da vida. Mas o que dói mais, governador, o que nos tortura profundamente a alma dia e noite, é saber que nós, que amamos nossos filhos, transferimos para esses seres indefesos a morte matada a cada vez que os amamentamos. Nosso leite anda carregado de veneno, fato comprovado por estudos científicos!

Em pleno Outubro Rosa, mês da conscientização sobre o câncer de mama, o câncer que mais atinge mulheres no mundo todo, é extremamente revoltante saber que o senhor é cúmplice de uma lei que autoriza a pulverização de agrotóxico por drones em nosso estado.

O senhor conhece as pesquisas que indicam que o câncer de mama se alastra com mais facilidade e é mais devastador onde há maior liberação de agrotóxicos? Saiba que os drones só pioram uma situação já bastante crítica.

O governador escuta, consegue escutar os gritos vindos das comunidades primeiramente atingidas pela lei que o senhor ajudou a criar? Clamores tão perfurantes como estes, só não ouvem os ouvidos que não querem ouvir.

O veneno que cai do céu é como uma bomba tóxica que estoura sobre nós. Ninguém consegue dormir, as dores de cabeça são constantes, o mau cheiro é insuportável. Há crianças que vomitam, idosos com crises respiratória, nossas plantações ressecam, morrem os passarinhos e as abelhas… Estão nos matando, senhor governador!

Nos perguntamos com frequência como seria se suas famílias morassem aqui, a sua e a dos 22 deputados que aprovaram essa lei cruel e desumana. Como seria se tivessem que beber da mesma água, respirar do mesmo ar, se alimentar da mesma comida?

Governador, no mês em que o Brasil celebra o Dia das Crianças, pedimos para que o senhor pense nos meninos e nas meninas mudas telepáticas de nosso estado. Pense nas crianças cegas inexatas, nas deformações em seus frágeis corpos em crescimento. Pense nas mulheres rotas alteradas. Pense nas famílias devastadas. Pense e volte atrás. Reconheça o grave erro praticado e revogue essa lei.

Não queremos ser envenenadas! Não queremos envenenar nossas crianças! Ninguém quer isso. Ninguém!!! É o que mostra o Plebiscito Popular realizado por várias organizações aqui no estado. Se duvida, suspenda imediatamente a lei e realize o senhor mesmo uma consulta oficial ao povo. Só teme a verdade quem faz da mentira cobertor.

A bomba de Hiroshima dependeu de um apertar de botão para explodir e marcar a história como um dos mais horríveis e covardes crimes já cometidos. A bomba dos drones da morte precisa de apenas uma canetada sua para ser desativada. Não titubei. Em nome de todas as crianças intoxicadas, de todas as mães, de todo ar e de todas as águas, de todos os passarinhos e abelhas, em nome de todo o povo envenenado do Ceará, faça isso agora!

Da nossa parte, não tenha dúvidas, daremos nosso sangue para mudar essa história.

Palácio da Abolição

Fortaleza, 16 de outubro de 2025

agência de notícias anarquistas-ana

lua nublada
no alto da montanha
a solitária árvore

Alonso Alvarez