[Grécia] Para o camarada Kyriakos Xymitiris

Há um ano, o camarada Kyriakos Xymitiris perdeu a vida enquanto construía um equipamento explosivo. Ele decidiu reagir de forma dinâmica a uma grande injustiça, a uma política estatal antissocial e de classe, para defender um direito… O que quer que ele tenha decidido fazer, qualquer que tenha sido a ação que escolheu, foi certamente uma ação política armada contra um sistema de poder selvagem e profundamente injusto que, em nossa época, mostra cada vez mais sua face antissocial e racista. Um sistema de poder profundamente classista que agora mostra abertamente seu ódio por tudo que não gera lucro e poder.

O camarada Kyriakos perdeu a vida enquanto trilhava o caminho da ação armada contra o sistema. Na grande história global da luta armada, muitos, muitos combatentes deram suas vidas na luta contra governos autoritários, contra regimes totalitários, contra políticas antissociais, contra guerras entre estados. Eles deram suas vidas na luta por uma sociedade melhor. Eles deram suas vidas lutando com uma arma nas mãos.

Eles deram suas vidas colocando ou construindo dispositivos explosivos. Eles deram suas vidas por uma sociedade sem divisões, sem pobreza, sem guerras, pela libertação social.

Nessa luta, ninguém está perdido. A morte não apaga suas marcas sociais e políticas, que permanecem profundamente gravadas na história revolucionária.

Hoje e a cada dia que passa, vemos os envolvimentos entre o estado e o capital esmagando milhões de pessoas. O sistema de poder trouxe todas as armas que possui à tona e as está usando para sufocar a resistência, consolidar o consenso por meio da coerção e da violência, manter a passividade na base social, impor todas as medidas antissociais que deseja e aumentar os lucros do grande capital roubando da maioria. O capital e os estados modernos estão revelando sua face mais brutal e implacável na história. Ou eles expandem e fortalecem sua soberania sobre outros estados, ou deixarão que os privilégios de sua soberania diminuam e desapareçam. Dentro de uma profunda crise sistêmica que tem um passado e um futuro e na qual os estados e o capital estão afundando cada vez mais, todos os dias vivemos uma limpeza social generalizada – indireta ou diretamente –, guerras, genocídio de povos inteiros, racismo brutal, extermínio dos párias, exploração econômica extrema. Tudo isso se conecta em uma rede de gestão da crise de sobrevivência do sistema e manutenção dos lucros dos super-ricos do planeta. Junto com todas as formas de violência desencadeadas pelo sistema dominante de poder contra os fracos, o veneno do ódio pelo diferente e pelo fraco que afeta os jovens também está sendo desencadeado. A resistência e a luta contra o estado estão se tornando cada vez mais exigentes e, ao mesmo tempo, cada vez mais necessárias.

O mínimo que podemos fazer por lutadores como Kyriakos, que não se curvam, que não desistem, que não têm medo de enfrentar a escolha da ação armada numa época em que a violência excessiva do regime está superando todos os precedentes históricos modernos, é torná-los pontos de referência para a continuação da luta e inspiração para todos.

O camarada Kyriakos permanecerá para sempre um exemplo vivo de dedicação total e altruísmo em uma luta comum que diz respeito a toda a sociedade.

O camarada Kyriakos Xymitiris estará sempre presente na luta pela libertação social das amarras do estado e do capital.

Ele é Imortal.

Pola Roupa – Nikos Maziotis

Fonte: https://actforfree.noblogs.org/2025/10/04/for-comrade-kyriakos-ximitiris-by-pola-roupa-and-nikos-maziotis-greece/

Tradução > transanark / acervo trans-anarquista

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agência de notícias anarquistas-ana

O black bloc avança—
o banco é um castelo
de cartas baratas.

Liberto Herrera

Não perca o prazo de inscrições para as atividades da XV Feira Anarquista de SP!

ATENÇÃO: os coletivos interessados têm até 25/10 para inscreverem suas propostas de atividades, oficinas, debates, exposições, apresentações, etc., por meio do formulário da Feira (link na bio do Instagram e site da Feira)

Haverá uma seleção das atividades, dado a limitação no espaço da escola. Assim, pedimos que se inscrevam o quanto antes. Lembrando que daremos prioridade aos grupos diretamente alinhados aos ideais anarquistas e lutas sociais.

Biblioteca Terra Livre | Centro de Cultura Social | Núcleo Estudos Libertários Carlo Aldegheri

XV Feira Anarquista de São Paulo

Data: 06 de dezembro de 2025

Horário: 10h – 19h

Local: ARCO Escola-Cooperativa, Rua Corinto, 652 – Butantã, São Paulo/SP

@feiraanarquistasp

agência de notícias anarquistas-ana

luar na relva
vento insone
tira o sono das flores

Alonso Alvarez

[Espanha] Apresentação do livro “La Vida en el Alambre – Memorias de Pepe Figueroa”

Desde a CNT Aranjuez informam da apresentação do livro “La Vida en el Alambre”, editado conjuntamente pela associação La Casa Negra, Doce Calles Ediciones e a delegação da Fundação Anselmo Lorenzo em Aranjuez. 

Pepe Figueroa, um riberenho nascido em 1.918 em uma Espanha de enormes desigualdades e em uma família com grandes dificuldades econômicas, viveu um dos períodos históricos mais convulsivos da história da Espanha, em muitos dos quais participou ativamente. Em sua luta pela liberdade e para escapar da miséria viveu com ilusão a chegada da II República e, após o Golpe de Estado, já militante anarquista, participou como combatente na Guerra Civil, sofrendo por isso as consequências em campos de concentração e batalhões de trabalho. E, como tantos outros homens e mulheres, Pepe Figueroa teve que buscar uma saída pessoal à derrota coletiva. E o fez, como tantos outros.

Mas Pepe não queria esquecer e, anos depois, quis deixar por escrito seu testemunho pessoal como um legado para sua filha, um testemunho no qual se mesclam fatos, recordações, sentimentos, poemas, explicações, interpretações, confissões, contradições, etc., e que nos permitem seguir Pepe por grande parte de sua vida.

Graças à generosidade de sua família as Memórias de Pepe Figueroa vão fazer parte também da memória coletiva dos riberenhos e riberenhas, ajudando-nos a compreender melhor nosso passado imediato e a reconhecer a importância não só da história com maiúsculas mas também das histórias menores, as da gente da rua, como Pepe, como nós…

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Noite fria, escura,
no asfalto negro da rua
late o cão vadio.

Fanny Dupré

[França] Torres de vigia de caça destruídas pouco antes do início da temporada de caça.

Setembro, França.

PARA CELEBRAR A ABERTURA DA CAÇA, DESTRUÍMOS TORRES DE VIGIA.

Nas noites que precederam a abertura da temporada de caça em setembro, por toda a França, dezenas de torres de vigia utilizadas para a caça foram sabotadas para se opor à abertura da temporada.

Os caçadores usam essas torres para contrariar qualquer defesa dos animais caçados e por isso escolhemos destruí-las em solidariedade.

A caça é uma prática masculina e assassina que prejudica em primeiro lugar as pessoas não-humanas mortas por caçadores, mas também todas as pessoas minorizadas. Reforça a violência dos homens cis. Armados, eles acreditam controlar os não-humanos e seus habitats, mas também mulheres, minorias de gênero e crianças. Agimos em solidariedade com todos os habitantes da floresta e com todas as outras pessoas afetadas pelos caçadores.

Alguns números sobre a França:

• 97% dos caçadores franceses são homens.

• 1/4 dos feminicídios são cometidos com armas de caça.

• Não existe lei que proíba crianças de irem caçar a partir dos 15 anos; um menor pode praticar “caça acompanhada” a partir dos 16 anos, um menor pode tirar a sua licença de caça e usar uma arma.

• Em 2023, o estado comprometeu-se a pagar novas ajudas aos caçadores (60 milhões de euros ao longo de 3 anos).

• Mais de 1,5 milhão de euros foram distribuídos às federações para vários projetos “educativos”.

O antiespecismo é uma luta política ligada a todas as outras. Quando normalizamos a violência do especismo (um sistema de dominação baseado na espécie), alimentamos o racismo, o sexismo, o capacitismo, fobias…

A animalização dos corpos possibilita justificar todas as opressões; um corpo “animal” é um corpo que pode ser esmagado.

Não podemos conceber a libertação total dos povos oprimidos sem os nossos camaradas não-humanos!

As únicas pragas são aquelas que desfrutam do poder e da dominação. Erradiquemos o seu poder de causar incômodo, vamos BLOQUEAR TUDO!”

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

[México] Fanzine “Las Magonistas”, vocês de resistência e rebeldia das mulheres revolucionárias

O fanzine “Las Magonistas Revoluciones” reconta as histórias de vidas de 23 revolucionárias mexicanas em princípios do século XX sob o lema “Terra, Amor e Liberdade”. Financiado pela fundação política alemã Rosa-Luxemburg-Stiftung (RLS), foi apresentado em 25 de abril em Oaxaca.

Este zine é produto de uma série de oficinas realizadas em Oaxaca, Querétaro e Puebla, onde se juntaram garotas, dissidências, defensoras do território e adultas idosas para compartilhar a vida de algumas revolucionárias, falar de suas próprias revoluções cotidianas e das dissidências como uma potência política.

As magonistas decidiram abordar a luta não só desde as armas, mas desde o pensamento, da comunidade, das ruas, construindo redes de comunicação ou fazendo comedores comunitários. Com o fanzine se torna visível a trajetória da participação das mulheres na revolução e seu sentido profundo de comunidade e coletividade.

Não estão representadas todas as mulheres revolucionárias daquele tempo, mas as que pensaram nos três elementos de terra, o amor e a liberdade que ainda se vive nos territórios e em sua defesa. Sem a terra não há nada – nos dá de comer, onde nasce e corre a água e onde crescem as flores que comemos. O amor, porque sustentar a vida cotidiana com quem escolheu fazê-lo, é uma ação de amor verdadeiro. As magonistas consideraram que o amor é indispensável para uma revolução. Em liberdade, para poder seguir seu próprio caminho mais forte que as fronteiras impostas, livres e contra tudo aquilo que quer enjaular a mente e livres para criar uma nova geração livre e rebelde.

O fanzine contêm histórias de mulheres como as irmãs Andrea e Teresa Villarreal-González que viveram anos de intensa perseguição por sua luta pela liberação de presos políticos e os direitos das mulheres e da classe trabalhadora. A Basilisa Franco que foi expulsa do México em 1912 por distribuir um semanário proibido e não ceder aos soldados assediando-a. Felipa Velázquez Ozuna teve um papel importante nos sindicatos de obreiros e camponeses em Baja California onde lutava pela recuperação de terras de grandes empresas pelo que foi encarcerada. Mestra de profissão encontrou na poesia uma maneira de expressar suas ideias revolucionárias e escreveu em 1926:

Y como madre que soy

Y hermana de aquel servil

Por eso invitando voy

A destruir todo lo vil.

¡Y grito a la humanidad!

Si ser felices queremos,

Reclamemos la igualdad

Que por derecho tenemos.”

Baixar Fanzine Las Magonistas Revoluciones “Tierra, Amor y Libertad” (pdf, 81 pág.)

Este material é compartilhado com autorização de Educa Oaxaca

Fonte: https://www.briega.org/es/noticias/fanzine-magonistas-voces-resistencia-rebeldia-mujeres-revolucionarias

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera

[Espanha] Greve Geral – 15 de outubro

Em solidariedade com a Palestina e contra o genocídio em Gaza

Na próxima quarta-feira, 15 de outubro, a CGT convoca uma greve geral de 24 horas em todos os setores produtivos do Estado. O motivo é claro: parar o genocídio do povo palestino e tornar visível a responsabilidade tanto do nosso próprio governo quanto das nossas empresas nesse massacre.

Há décadas, o Estado de Israel impõe um sistema de ocupação, fragmentação territorial e deslocamento do povo palestino. Nos últimos dois anos, testemunhamos o assassinato de milhares de crianças, bombardeios a hospitais e o bloqueio total de alimentos, água e medicamentos para dois milhões de pessoas em Gaza.

Isso não é uma guerra — é um crime prolongado e sistemático com fins coloniais e de limpeza étnica.

Por que isso nos interpela como classe trabalhadora?

Porque a crueldade militar é sustentada por interesses econômicos: venda de armas, acordos comerciais e cumplicidade diplomática. Somos a classe social com poder real para atingir interesses econômicos vitais, se agirmos coletivamente. A paralisação da produção e dos serviços reduzirá seus lucros e obrigará governos e empresas a se posicionarem.

Sabemos que CCOO e UGT [sindicatos majoritários] não vão se mover. Por interesses próprios, optarão por posturas mornas e meramente simbólicas. Mas nós não.

Se a injustiça não te deixa indiferente, aja.

A Palestina e os nossos direitos caminham juntos.

A mesma lógica que sustenta o genocídio em Gaza é a que corta nossos direitos:

  • Aumento dos gastos militares enquanto a saúde e a educação são sucateadas.
  • Impunidade política e empresarial diante das nossas condições de trabalho.
  • Uma deriva autoritária e belicista que destrói vidas aqui e lá fora.

Uma mobilização global

Neste 15 de outubro, nos unimos a uma onda de greves, paralisações e mobilizações que se espalham por diversos países do mundo em solidariedade com a Palestina.

Aqui, já vimos como a greve estudantil de 2 de outubro esvaziou salas de aula e encheu as ruas de mais de 40 cidades do país. Agora é a nossa vez.

No dia 15 de outubro: pare. Participe. Dê mais um passo.

>> Você pode ler o comunicado completo da CGT aqui: https://www.cgtaltenspain.es/wp-content/uploads/2025/10/Comunicado-Huelga-General-por-Palestina-15O.pdf

cgt.es

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Ainda que morrendo
o canto das cigarras
nada revela!

Matsuo Bashô

[Itália] One Piece chegou ao porto

Há algumas semanas, a bandeira de One Piece também está tremulando em Ancona. Um dos efeitos mais miraculosos das grandes manifestações pela Palestina na capital da nossa região foi a aparição da Geração Z, finalmente nas ruas. Quando algumas mil pessoas romperam a ridícula linha de contenção da DIGOS [força especial da polícia italiana] e entraram no porto comercial de Ancona, a bandeira do pirata mangá tremulava despreocupada.

As últimas semanas de setembro e, em seguida, a greve geral de 3 de outubro e a manifestação ardente em Roma no dia seguinte, testemunharam uma aceleração de eventos, ideias e emoções como não se via há um tempo. O genocídio palestino alcançou claramente um nível de intolerabilidade tão grande que alterou equilíbrios sociais que pareciam congelados.

No dia 22 de setembro, em solidariedade à iniciativa da Global Sumud Flotilla, mais de 8.000 pessoas ocuparam o porto de Ancona com um cortejo e um piquete fixo, participando de duas iniciativas diferentes que se mostraram complementares, apesar das diferenças e da difícil comunicação entre os organizadores, o Coordenamento Marche pela Palestina e os Centros Sociais das Marcas. Menos de dez dias depois, quando a Flotilha de solidariedade com Gaza foi sequestrada pelos militares israelenses, a Itália foi despertada pela primeira verdadeira greve geral após vinte anos de letargia. Em Ancona também, houve uma convergência, embora difícil, entre o sindicalismo de base, a CGIL e o movimento pela Palestina.

No dia 3 de outubro, os manifestantes e as manifestantes, determinados e indisciplinados, conseguiram, com sua pressão, entrar no porto comercial e bloquear por horas as atividades de carga e descarga de um mega navio da companhia MSC. O mesmo aconteceu com os Ferry-Boat que chegavam e partiam. No final do dia, um cortejo espontâneo bloqueou um dos pontos mais importantes da cidade e enfrentou a polícia em formação anti-distúrbios, que bloqueava o acesso à estação ferroviária. Foi nesse momento que, com o grito de “Palestina livre!”, apareceram os fantasmagóricos maranza, o pesadelo de Piantedosi desde que Ramy foi morto em Milão por uma viatura da polícia. O estopim não explodiu, pelo menos por enquanto, mas nasceram amizades e alguma cumplicidade.

Durante esses dias, e também em outros com menos participação, mas com grande energia, vimos pessoas que pensávamos perdidas, a geração abaixo dos trinta anos: determinada, curiosa, aberta. Houve encontros e reabriu-se um sentido inédito de possibilidade de mudança. Uma posição ética, contra um mundo insuportável, reabriu a possibilidade de criticar todo o resto: as condições materiais da miséria capitalista, a crise ecológica, o autoritarismo do fascismo dos algoritmos. No entanto, as relações de força ainda são muito desfavoráveis. A ameaça de uma guerra na Europa aumenta e a Palestina é cada vez mais maltratada, apesar de uma crescente solidariedade global por baixo. A intervenção diplomática de Trump para um cessar-fogo em Gaza tem o sabor de uma grande operação global de contra-insurreição preventiva, às custas de uma resistência palestina exausta e traída pelos estados árabes.

Enche-nos o coração o sorriso das crianças de Gaza, que talvez por um tempo viverão sem o som das bombas. Mas sabemos que essa história não termina aqui. O que vimos nascer é um movimento incrível e necessário, tão frágil quanto ameaçado por muitos perigos. Devemos cuidar dele. Como revista, continuamos a oferecer um espaço de crescimento, confronto e crítica para quem não se contenta com o presente e não quer se fechar em identidades sectárias e excludentes.

Neste número, continuamos a aprofundar os temas que nos são caros, para não desistir de nos formar, para afiar nossa capacidade crítica, criatividade política e cultural. As páginas se abrem e se fecham com dois espaços anarquistas de palavra e cooperação: a Feira do Livro Anarquista de Bolonha e a entrevista com o sempre verde Tomás Ibáñez, anarquista espanhol de grande experiência e ética. O que há no meio deixamos para vocês descobrirem. Por fim, mandamos um abraço ao Encontro Intergaláctico de Genuino Clandestino, que será realizado em meados de outubro pela CIURMA em Urbino: mercado de produtores, festa, discussões, convivência… falaremos sobre isso no próximo número.

Fonte: https://rivista.edizionimalamente.it/2025/10/11/one-piece-e-arrivato-al-porto/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

nuvem que passa,
o sol dorme um pouco –
a sombra descansa

Carlos Seabra

[Itália] Histórias pouco conhecidas: Elena, uma anarquista irredutível

Elena Melli (Lucca, 1889 – Carrara, 1946) foi uma incansável militante anarquista italiana cuja vida inteira esteve dedicada à luta contra a injustiça social e o capitalismo. Desde muito jovem, participou nos círculos anarquistas. Operária na fábrica Ansaldo de Gênova em 1917, se integrou nos movimentos obreiros de Sampierdarena e estabeleceu vínculos com a Unione Sindacale Italiana (USI). Sua militância e suas ideias radicais — como o antimilitarismo e a defesa do amor livre — a converteram em alvo de uma intensa repressão estatal, especialmente dura por tratar-se de uma mulher que desafiava os papeis tradicionais. Foi presa, deslocada, duramente vigiada e confinada em povoados isolados, tentando cortar sua luta.

Durante o Biênio Vermelho (1919-1920), momento insurrecional levado a cabo por anarquistas e socialistas que criaram conselhos obreiros, foi detida no marco de uma série de atentados anarquistas. Ainda que absolvida, reafirmou publicamente sua posição com a frase: “Anarquista nasce, não se faz!”. Pouco depois, participou no atentado do Teatro Diana, organizado por Giuseppe Mariani contra o chefe de polícia fascista. O ataque, que terminou com a morte de 17 pessoas, foi rechaçado pela maioria do movimento anarquista e marcou um ponto de inflexão na luta contra o fascismo. Muitos anarquistas se opuseram no momento ao atentado ainda que, no entanto, foram solidários e se propuseram pessoalmente para a defesa dos anarquistas envolvidos.

Em um clima repressivo altíssimo, Elena seguiu participando na luta antifascista, vinculando-se, por exemplo, à milícia popular anárquica Arditi del Popolo, que enfrentou de armas na mão o fascismo que se consolidava na Itália. Em 1926, após uma série de enfrentamentos e atentados fracassados contra Mussolini, a repressão fascista se incrementou. A Lei Única de Segurança Pública anulou as liberdades civis, e a recém-criada OVRA (polícia política secreta) impôs um sistema de vigilância total sobre os opositores, incluindo Elena, sua filha e o quem nessa ocasião era seu companheiro sentimental, Errico Malatesta. Os três foram submetidos à prisão domiciliar e controle permanente. Qualquer interação com conhecidos era castigada; as pessoas próximas eram interrogadas ou detidas só por cumprimentá-los na rua, e toda sua correspondência era lida pelas forças estatais.

Apesar deste clima de terror, Elena se negou  — junto a Malatesta — a assinar a adesão obrigatória ao regime fascista, diferente de muitas figuras públicas que cederam por medo. Em 22 de abril de 1928 foi detida, como em muitas outras ocasiões, desta vez por escrever a conhecidos em Milão sem nenhuma implicação política, e condenada a cinco anos de reclusão. Após dois meses sem condenação e devido à pressão exercida por vários protestos, Elena foi liberada, mas sob condições de confinamento extremadamente duras.

Pouco depois, sua filha Gemma, de apenas 15 anos, foi agredida brutalmente por um policial. A partir de então, ainda que recebessem ajuda solidária de anarquistas da Itália e do exterior, a repressão se tornou ainda mais implacável. Depois da queda do regime fascista, Elena se transladou a Carrara, zona de forte tradição anárquica onde recebeu ajuda dos companheiros da Federação Anarquista Italiana. Até sua morte em 1946, Elena se manteve fiel a seus princípios, enfrentando sem render-se à repressão, o exílio interior e a violência do Estado que buscou confiná-la uma vez ou outra. Sua vida foi exemplo de dignidade revolucionária, compromisso inquebrantável e resistência. Como anarquista militante, desafiou o poder com coragem, defendendo as ideias anarquistas de solidariedade e apoio mútuo, a violência defensiva revolucionária e a auto-organização, deixando um legado que ainda merece ser reconhecido e recuperado.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Burocracia: teia
de aranha morta—o povo
varre com a risada.

Liberto Herrera

Irã, mais de mil pessoas executadas neste ano até agora

Redes Libertárias

Mais de 1.000 pessoas foram executadas no Irã durante este ano, denunciaram especialistas das Nações Unidas. Segundo Iran Human Rights, é a cifra mais alta nos últimos 30 anos. IHR, com sede na Noruega, contabiliza e verifica as execuções no Irã diariamente. A organização se queixa da ausência de reações internacionais ante esta barbárie.

O IHR afirmou que suas cifras são “um mínimo absoluto”, e que a cifra real provavelmente seja maior “devido à falta de transparência e as restrições à informação”. No Irã, as execuções se realizam atualmente mediante enforcamento, ainda que no passado se empregassem outros métodos. A maioria se realiza na prisão, ainda que ocasionalmente se realizem enforcamentos públicos. Segundo as organizações de direitos humanos, o Irã é o segundo país com maior número de execuções do mundo, depois da China, onde se crê que se executam milhares de pessoas ao ano, ainda que não se dispõe de cifras precisas.

O número de pessoas executadas pelas autoridades iranianas nos nove primeiros meses deste ano já superou a cifra de 972 execuções do ano passado. O IHR informou que a maioria dos enforcamentos se devia a delitos não letais, e que 50% das execuções se deviam a casos relacionados com drogas. Ao menos 499 pessoas foram executadas por este motivo, um aumento brutal com relação às entre 24 e 30 execuções anuais registradas entre 2018 e 2020.

Do total de execuções no que vai de 2025, 28 foram de mulheres, muitas das quais foram condenadas após matar a um marido por sofrer violência de gênero.

Desde os protestos Mulher, Vida, Liberdade de 2022, as autoridades iranianas aumentaram o uso da pena de morte como ferramenta de repressão estatal e, assim, esmagar a dissidência. Após a escalada de hostilidades entre Israel e Irã em junho de 2025, as autoridades também intensificaram o uso da pena de morte sob pretexto da segurança nacional. Desde 13 de junho de 2025, ao menos dez homens foram executados por acusações de motivação política, oito dos quais foram acusados de espiar para Israel.

É muito comum, que as pessoas em situação de risco de ser condenadas a morte o sejam por acusações excessivamente amplas e pouco definidas, como “inimizades contra Deus” (moharebeh), “corrupção na terra” (efsad-e fel-arz) e “rebelião armada contra o Estado” (baghi).

As investigações da Anistia Internacional demostraram que os tribunais revolucionários, que exercem jurisdição sobre delitos relacionados com a segurança nacional e as drogas, carecem de independência e impõem condenações severas, incluída a pena de morte, após julgamentos manifestamente injustos, e que às pessoas julgadas ante ditos tribunais lhes negam sistematicamente seu direito a um julgamento justo.

A aplicação da pena de morte tem tido um impacto desproporcional sobre as minorias marginalizadas, especialmente as pertencentes às comunidades afegãs, baluchi e kurda. Ao menos duas mulheres kurdas, a trabalhadora humanitária Pakhshan Azizi e a dissidente Verisheh Moradi, estão condenadas à morte e correm o risco de serem executadas.

O número de pessoas afegãs executadas pelas autoridades iranianas teve um crescimento triplicado, passando de 25 em 2023 a 80 em 2024. Esta tendência alarmante coincide com uma proliferação dos discursos racistas e xenófobos por parte das autoridades iranianas e se produz em meio de uma onda sem precedentes de expulsões massivas forçadas de pessoas de nacionalidade afegã que afeta inclusive às nascidas no Irã.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/10/13/iran-mas-de-mil-personas-ejecutadas-en-lo-que-va-de-ano/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins

[França] Dois livros para entender os efeitos da invasão tecnológica

Em um pequeno livro publicado no final de 2011, Frédéric Metz convida o leitor a buscar com ele respostas para uma pergunta formulada de maneira simples: o que acontecerá “quando o google, diante do mundo, souber ver e nomear”? [1]

“O google”, aqui, não é apenas o “G” dos GAFAM. É por isso que o autor remove sua letra maiúscula inicial e o transforma em um nome comum. O google é a máquina, no sentido genérico do termo — essa grande máquina de contornos indistintos, ao mesmo tempo rede e agregado de máquinas, da qual normalmente só percebemos a função de “mecanismo de busca”, mas que sabemos ser sustentada por uma miríade de sistemas e interdependências.

Na época em que Metz escreveu, o google ainda não sabia ver. Ele só manipulava palavras e reconhecia imagens apenas por suas legendas, aquelas que humanos haviam adicionado. Ele comparava, discriminava e calculava apenas a partir de palavras. Não “via”: não conseguia distinguir um rosto de outro, nem uma foto de flor de um desenho de flor. Já era formidavelmente poderoso, mas o autor nos convida a projetar o próximo passo de sua evolução: o momento em que ele poderia, por meio de uma rede infinita de olhos e sensores, ver o mundo por si mesmo e interpretá-lo sem mediação humana aparente [2]. Trata-se de considerar o que essa capacidade, e o uso que os humanos farão dela, fará com o próprio conhecimento.

“Não estamos falando aqui de uso policial — nem da destruição de toda clandestinidade possível. Também não estamos falando do medo de que as máquinas tomem o poder, nem do medo por nossa ‘liberdade’, nem mesmo do medo de polícias oniscientes e superpoderosas. Falamos, muito mais simplesmente, de uma revolução — colossal e perfeitamente simples — do cotidiano e da vida […].

Falamos do desaparecimento definitivo das coisas inicialmente desconhecidas.

De toda pessoa, antes que ela tenha dito algo, antes que você tenha olhado para ela, visto algo, seu computador — não maior que um telefone, sendo seu telefone — lhe dará a idade, a história, a genealogia, o currículo e algumas centenas de fotos tiradas aqui ou ali […]. E isso não vale apenas para o reconhecimento de pessoas. Há também o reconhecimento do pássaro desconhecido na cerca viva, do quadro desconhecido e da melodia. A máquina se torna capaz de me dar o nome de tudo o que aparece diante de mim. Ela reconhece e nomeia tudo o que vejo. É o conhecimento dado sem mediação — sem experiência prévia, sem vida […]. A máquina, em toda parte, antecipa meu conhecimento e meu desejo de conhecer. Onde encontrarei o desejo de aprender, de fazer conhecimento, quando minha máquina me indicar, por si mesma, de antemão, sempre tudo?”

Esse é o cerne da questão, a constatação vertiginosa à qual Frédéric Metz busca nos alertar, evocando os trabalhos dos maiores filósofos (Aristóteles, Kant e Merleau-Ponty) sobre a natureza do conhecimento, da experiência e da percepção, e desenvolvendo o antigo aviso de Walter Benjamin de que, com o advento da era moderna, “o curso da experiência despencou”.

O google que está por vir, nos diz Metz, é simplesmente o fim da experiência. É um mundo onde o conhecimento precede a experiência, as respostas precedem as perguntas. O saber acumulado em um instante “t” é devolvido aos humanos de forma padronizada (validada por vieses desconhecidos) e, assim, os poupa de qualquer aventura. O passado, um certo passado, antecipa todo futuro possível.

“O mundo com o google será uma percepção saciada; sempre já terminada, antes mesmo de começar; sempre já satisfeita; sem desejo; sempre já feita; sem violência. […] O google extingue a violência da percepção.” E mais adiante: “Uma coisa, de agora em diante, nunca mais aparecerá sozinha. Ao se apresentar, ela carregará sempre seu nome, dado por outro que não eu, amarrado a ela, e além de seu nome, terá a carga — esta a sobrecarregando igualmente, duplamente, quadruplamente — de todo o conhecimento acumulado sobre ela — contido no google. O google não coloca, portanto, o problema de um mundo virtual, mas o do mundo real transformado — reduzido a — conhecimento imediato. O google cobrirá com seus nomes as coisas do mundo. E o mundo não mais aparecerá senão enfeitado, carregado, amarrado, fechado, trajado, coberto.”

Quem controla a linguagem controla o pensamento

Quem controla a linguagem controla o pensamento, dizia Orwell. Ao antecipar toda experiência, todo conhecimento sobre as coisas e os seres do mundo, Metz nos alertava, em 2011, sobre uma ameaça formidável ao próprio pensamento. E o que é verdadeiramente terrível, ao escrever esta nota em 2025, é constatar que esse google já chegou; e que, se a “IA” é provavelmente o nome mais recente que essa máquina assumiu, ela não esperou por essa última evolução para atingir o estágio que Metz temia. A IA seria antes uma nova metamorfose, que nos leva ainda mais longe do que as especulações desse primeiro autor.

Desde 2011, vivenciamos não apenas a distribuição global dos smartphones (que são tanto máquinas de acesso ao conhecimento do google quanto olhos e instrumentos para alimentá-lo), mas também a disseminação de câmeras e satélites, o reconhecimento automático de linguagem, a coleta e cruzamento permanentes de dados e, finalmente, com o advento do aprendizado de máquina, a submissão mecânica de uma parte crescente da gestão dos assuntos humanos.

Estamos lá, então. Já. Não apenas o google aprendeu a ver e nomear — mas agora ele fala, aconselha e determina certos aspectos da história humana. Somos sujeitos em seu mapa global atualizado em tempo real — sujeitos, agentes e usuários.

É isso que James Bridle chama, em um livro publicado em 2022, de “Nova Era das Trevas” [3]. Ele acrescenta imediatamente que a fórmula não visa suscitar angústia, mas é antes uma constatação e um convite: a tecnologia tornou o mundo obscuro para nós. Avançamos agora no meio de causalidades desconhecidas, tateando na névoa, e temos que aprender a lidar com isso. A principal causa das trevas, segundo Bridle, é o que ele chama de “pensamento computacional”, que apresenta como uma radicalização do conceito de “solucionismo tecnológico”. O pensamento computacional é a organização numérica do mundo em todas as suas formas. É o abismo dentro do qual toda questão deve encontrar sua resposta com instrumentos de medição e cálculo, mesmo quando se trata de questionar a medição e o cálculo em si. Um pensamento finito, que não conhece mais um exterior, que subsume tudo. Bridle multiplica os exemplos em todas as direções — da gestão da economia por meio do “trading de alta frequência” à vigilância da navegação aérea e do clima com tecnologias autônomas, da criação automática de vídeos no YouTube e objetos comerciais absurdos e aterrorizantes à saturação das agências de inteligência por seus próprios dados acumulados, da natureza desconhecida das “verdades” encontradas na internet aos complôs reais ou supostos…

Vamos parar antes de terminar com uma das anedotas que ele apresenta, porque ela ressoa tragicamente com uma realidade ainda mais recente, como um último sintoma nesta hora de aceleração desenfreada em que estamos imersos. Bridle retoma uma história (mesmo que “provavelmente apócrifa”) na qual redes neurais foram treinadas pelo exército para identificar tanques inimigos escondidos nas florestas. A aposta do “aprendizado de máquina” é que, ao fornecer quantidades fenomenais de informações a máquinas capazes de se autoeducar, elas poderão desenvolver novas formas de percepção que, mesmo inconcebíveis para humanos, responderão às perguntas que eles fazem. Nesse caso, o treinamento foi um sucesso: as máquinas conseguiram determinar com quase 100% de precisão as fotos aéreas de florestas onde havia tanques e descartar as que não tinham. No entanto, o teste em condições reais foi um fracasso retumbante. Os militares só entenderam depois que o que a máquina detectava não era a presença ou ausência de tanques, mas o estado da cobertura de nuvens nas fotos — as séries de imagens usadas no treinamento haviam sido tiradas em dois momentos diferentes do dia, um com tanques na floresta em tempo bom, e outro sem tanques com o tempo nublado.

É isso que James Bridle chama, em um livro publicado em 2022, de “Nova Era das Trevas” [3]. Ele acrescenta imediatamente que a fórmula não visa suscitar angústia, mas é antes uma constatação e um convite: a tecnologia tornou o mundo obscuro para nós. Avançamos agora no meio de causalidades desconhecidas, tateando na névoa, e temos que aprender a lidar com isso. A principal causa das trevas, segundo Bridle, é o que ele chama de “pensamento computacional”, que apresenta como uma radicalização do conceito de “solucionismo tecnológico”. O pensamento computacional é a organização numérica do mundo em todas as suas formas. É o abismo dentro do qual toda questão deve encontrar sua resposta com instrumentos de medição e cálculo, mesmo quando se trata de questionar a medição e o cálculo em si. Um pensamento finito, que não conhece mais um exterior, que subsume tudo. Bridle multiplica os exemplos em todas as direções — da gestão da economia por meio do “trading de alta frequência” à vigilância da navegação aérea e do clima com tecnologias autônomas, da criação automática de vídeos no YouTube e objetos comerciais absurdos e aterrorizantes à saturação das agências de inteligência por seus próprios dados acumulados, da natureza desconhecida das “verdades” encontradas na internet aos complôs reais ou supostos…

Vamos parar antes de terminar com uma das anedotas que ele apresenta, porque ela ressoa tragicamente com uma realidade ainda mais recente, como um último sintoma nesta hora de aceleração desenfreada em que estamos imersos. Bridle retoma uma história (mesmo que “provavelmente apócrifa”) na qual redes neurais foram treinadas pelo exército para identificar tanques inimigos escondidos nas florestas. A aposta do “aprendizado de máquina” é que, ao fornecer quantidades fenomenais de informações a máquinas capazes de se autoeducar, elas poderão desenvolver novas formas de percepção que, mesmo inconcebíveis para humanos, responderão às perguntas que eles fazem. Nesse caso, o treinamento foi um sucesso: as máquinas conseguiram determinar com quase 100% de precisão as fotos aéreas de florestas onde havia tanques e descartar as que não tinham. No entanto, o teste em condições reais foi um fracasso retumbante. Os militares só entenderam depois que o que a máquina detectava não era a presença ou ausência de tanques, mas o estado da cobertura de nuvens nas fotos — as séries de imagens usadas no treinamento haviam sido tiradas em dois momentos diferentes do dia, um com tanques na floresta em tempo bom, e outro sem tanques com o tempo nublado.

Essa história ridícula parece, infelizmente, o paradigma de uma realidade trágica quando consideramos que, menos de dez anos depois, soldados do exército israelense recebem algumas de suas ordens diretamente da “inteligência artificial” adotada por seu comando. Chamada cinicamente de “Evangelho”, ela identifica supostos membros do Hamas com base no cruzamento de dados coletados por vários sistemas de vigilância. Esses combatentes supostos são então mortos com base em um cálculo algorítmico de funcionamento desconhecido. Isso já não é mais ficção científica…

Tonio

Notas

[1] Frédéric Metz, Les Yeux d’Œdipe (inutiles, sauvés). Quand le google, face au monde, saura voir et nommer, Pontcerq, 2011. Versão PDF disponível para download em: http://i2d.toile-libre.org/PDF/2011…

[2] É claro que essa mediação permanece, mas é mantida invisível: seja através dos “vieses” de programação ou da exploração humana em massa necessária para que IAs, câmeras com reconhecimento de comportamento e outros dispositivos conectados possam ser constantemente ajustados às expectativas de seus usuários.

[3] James Bridle, Un Nouvel âge de ténèbres. La technologie ou la fin du futur, Allia, 2022.

Fonte: http://oclibertaire.lautre.net/spip.php?article4424

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

nos dias quotidianos
é que se passam
os anos

Millôr Fernandes

Chamada para cartazes: V Feira Anarquista Feminista de Porto Alegre

Esse ano decidimos como tema GENTRIFICAÇÃO e NECROPOLÍTICA, algo que está acontecendo muito nesse território. Vemos ao nosso redor espaços públicos se convertendo em espaços privados, todos os dias mais máquinas e destruição, mais empresas contaminando as ruas da cidade. Cada vez menos popular, menos do povo, menos dos povos originários e quilombolas, menos dos seres humanos e animais, menos do verde e mais das empresas. Esse território também é nosso, e nos unimos para pensar estratégias de recuperação de nossos espaços, e como enfrentar a onda forte de Neoliberalismo que suga nossas vidas.

Sendo assim, chamamos mulheres y dissidências que queiram somar com sua arte (seja visual – colagens, pinturas, serigrafia, stencil, aquarela, digital, etc. ou audiovisual – vídeos, músicas, filmes) para a V Feira Anarquista Feminista de Porto Alegre, será muito bem-vinda!

Bora construir o território que queremos habitar!

Envie sua arte para: fafpoa@riseup.net

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

[Espanha] “Hill Grove: Aquí hay gato encerrado”

Compilado por Anny Malle. Ochodoscuatro Ediciones. Madrid, 2025. 312 páginas

Hill Grove: Aqui há gato confinado

Uma ensolarada manhã de 1991, em um pequeno povoado do condado de Oxford, o gato Snowy desapareceu em seu jardim. Por mais que Cynthia o buscou pela zona, não pôde encontrá-lo. Acontece que nesse mesmo dia desapareceu também o de sua vizinha, assim como outros tantos recentemente por sua zona. O que Cynthia não sabia naquele momento, é que sua busca iria desencadear uma das maiores campanhas pela libertação animal do Reino Unido, ao descobrir que perto de sua casa existia uma granja que criava gatos para a indústria da experimentação animal, que foi sempre a principal suspeita dos desaparecimentos.

Hill Grove: aquí hay gato encerrado” é um compêndio de crônicas, resenhas e cartas, muitas delas escritas em primeira pessoa por um bom número de ativistas envolvidas nos mais de oito anos que durou a campanha.

A princípio Cynthia esteve praticamente só. Com um punhado de ativistas criaram um pequeno posto informativo com o qual nos mercados tratavam de conseguir fundos para imprimir folhetos, fazer faixas, etc. Durante anos, montaram piquetes na porta da granja, foram a dezenas de plenárias municipais e organizaram concentrações e manifestações.

Ao longo do livro poderemos aprender como uma pequena organização, a base de constância, esforço e perseverança, foi crescendo e crescendo até pôr em cheque as autoridades, a vivissecção e o condado inteiro. E também podemos ser testemunhas através de documentos impactantes como o diário de cárcere da terceira detenção de Cynthia, os cruzamentos de cartas com a principal organização bem-estarista do momento, os testemunhos de ativistas durante vigílias, crônicas de incursões da Frente de Libertação Animal à granja, relatos da repressão policial e até narrações da espetacular batalha contra a polícia de 18 de abril de 1998.

Todo o relato é acompanhado de imagens reais do posto de Cynthia, das vigílias e concentrações, das manifestações e dos diversos boletins que foram criados como resultado da campanha.

Graças a exemplos como este, podemos aprender muitíssimo frente a lutas presentes e futuras. Sem ir mais longe, em Madrid temos uma campanha ativa contra o centro de experimentação animal de Vivotecnia. Temos que fechá-lo. Como disse uma vez Cynthia: “A palavra impossível não está em meu dicionário!“.

Certamente, o livro pode ser baixado gratuitamente na web de ochodoscuatroediciones.org

Fonte: https://www.todoporhacer.org/hill-grove-gato-encerrado/  

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

bambu quase quieto,
voltado para o poente,
filtra a luz da tarde

Alaor Chaves

[Espanha] CNT convoca GREVE GERAL no ensino público andaluz

A Regional da Andaluzia, Múrcia e Canárias da CNT (Confederação Nacional do Trabalho) convocou uma GREVE GERAL no ensino público andaluz para a quarta-feira, 15 de outubro, em solidariedade ao povo palestino e com a exigência de que o genocídio em Gaza pare.

Como trabalhadores e trabalhadoras, não podemos permanecer impassíveis perante a política genocida e desumana que o Estado de Israel está cometendo na Palestina, com total impunidade e com a cumplicidade de numerosos governos. A classe trabalhadora move as engrenagens da economia mundial e, portanto, nossa ação solidária internacionalista, com uma mobilização contínua e com o recurso à Greve, pode ser decisiva para frear o massacre que está sendo cometido em Gaza.

Nos centros educativos, os trabalhadores e trabalhadoras do ensino público devemos continuar as iniciativas educativas e de conscientização que vêm ocorrendo há algumas semanas, e devemos PARAR nossa atividade no dia 15 de outubro para ir às ruas, acompanhados por toda a comunidade educativa (estudantes, famílias, pessoal de administração e serviços, etc.).

Nossa mobilização contínua também é urgente para frear o fascismo, que anda de mãos dadas com a barbárie que o sionismo está perpetrando.

Em consonância com as reivindicações que vêm sendo feitas pela mobilização global pela Palestina, exigimos:

• A ruptura total das relações do Estado espanhol com Israel e a cessação dos acordos comerciais com o mesmo.

• Nesse sentido, especialmente o fim dos acordos de armamentos com o Estado sionista. Uma ruptura que seja real e imediata, e que inclua a revisão do uso de bases norte-americanas, que continuam a transferir material bélico para Israel sem o controle do governo espanhol.

• O fim da ocupação ilegal dos territórios de Gaza e da Cisjordânia, o cessar-fogo e o respeito aos direitos da população palestina.

• Que o governo espanhol e a UE parem com o aumento dos gastos militares, uma vez que o caso israelense não pode ser entendido fora de um contexto de aumento do militarismo, com o consequente corte nos gastos sociais e educacionais.

No dia 15 de Outubro, todos e todas às ruas!!

Contra o militarismo e o fascismo, vamos parar o genocídio na Palestina!

C.N.T. — Regional da Andaluzia — Múrcia — Canárias

Fonte: https://andalucia.cnt.es/cnt-convoca-huelga-general-en-la-ensenanza-publica-andaluza/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Na tarde chuvosa,
Sozinho, despreocupado,
Um pardal molhado

Edson Kenji Iura

[Espanha] Jornadas Culturais | Outono Libertário de 2025

Com a chegada do outono, também retornam as jornadas culturais realizadas anualmente pela CNT-AIT Madrid.

Nosso sindicato sempre considerou a cultura uma ferramenta fundamental para o crescimento individual e coletivo, e essa visão continua plenamente válida. É por isso que o Outono Libertário tem especial relevância para nós. Agora, quando falamos de cultura libertária, não nos referimos à cultura oficial: a nossa é uma cultura criada por e para pessoas comuns. Não se compra nem se vende, ninguém cobra nem paga, porque não é uma mercadoria. Portanto, circula livremente. Não é produzida por uma elite nem destinada a um público exclusivo, mas nasce do trabalho coletivo de nossas assembleias de trabalhadores, pensadas para pessoas comuns como nós. Nem é um espetáculo vazio e alienante, mas uma proposta que se insere em nossas vidas de forma honesta e profunda. E não esconde sua dimensão política, como a mídia faz com a cultura dominante, que tenta disfarçar de neutro o que na realidade é a ideologia do poder. Porque não nos esqueçamos: todo ato é político.

Gostaríamos de lembrar que as palestras, apresentações de livros, debates e outras atividades acontecerão em nossa sede na Plaza de Tirso de Molina, 5, 2º andar, à esquerda, às 19h. Sobre os passeios organizados pelo coletivo Nuestra Memoria, Nuestra Lucha, você encontrará informações detalhadas no programa específico de cada atividade.

> Confira a programação aquihttps://madrid.cntait.org/jornadas-culturales-otono-libertario-2025/

agência de notícias anarquistas-ana

Sem pedir licença,
ocupamos a cidade
com corpos e danças.

Liberto Herrera

Chamada para Organização da V FAF POA

Feira Anarkista Feminista de Porto Alegre 2025

Saudações Anárquicas!

Começamos a ativar a construção da V Feira Anarquista Feminista de Porto Alegre!

Abrimos esse chamado para pessoas interessadas em compor a organização junto com a gente, que enviem um e-mail para fafpoa@riseup.net

Vamos mais um ano colocar nossa arte-potência-ação-construção na rua, questionando o sistema y a norma patriarcal em coletividade!

Redes sociais:

feiraanarquistafeminista.noblogs.org

@faf.poa Instagram

agência de notícias anarquistas-ana

A lei é um caco
de vidro—nós pisamos
descalços, e sangramos.

Liberto Herrera

Lula 3 dá aval a projeto de investimento de R$ 30 bi para Forças Armadas

Diante do aumento das tensões geopolíticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros discutiram uma nova exceção ao arcabouço fiscal para acomodar investimentos em programas estratégicos das Forças Armadas.

A ideia aventada no governo é enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei complementar tirando R$ 30 bilhões, distribuídos ao longo de seis anos, do limite de gastos.

O dinheiro seria aplicado necessariamente na modernização do Exército, da Marinha e da FAB (Força Aérea Brasileira) — possibilitando tirar do atraso programas como o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), o desenvolvimento do primeiro submarino nuclear brasileiro e a renovação da frota de caças com os jatos suecos Gripen NG.

“Embora o Brasil mantenha a tradição de solução pacífica de controvérsias e de defesa da paz nas relações internacionais, as recentes transformações no contexto internacional geram alerta em termos geopolíticos regionais e mesmo globais. Em um cenário instável, onde os conflitos interestatais voltam infelizmente a ser uma realidade, precisamos estar atentos e preparados. Não podemos descuidar da defesa nacional e tampouco negligenciar os investimentos nessa área”, diz o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Congresso.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

Furacão: a fúria
da natureza sem dono,
sem pedir desculpas.

Liberto Herrera