[Espanha] Ofensiva anarcossindicalista 1º de Maio

Este dia 1º de Maio, Dia Internacional da Classe Trabalhadora, a Confederação Geral do Trabalho de Andaluzia, Ceuta e Melilla, ergue sua voz em nome de quem sustenta esta sociedade com seu esforço e sacrifício. Desde os campos, às fábricas, desde os hospitais ate os lares, as trabalhadoras e os trabalhadores de Andaluzia demonstraram uma vez mais sua resistência frente à exploração e a injustiça. Somos os que produzem a riqueza e, por isso, temos o poder de transformar este sistema opressor.

Desde a CGT Andaluzia, reivindicamos um 1º de Maio combativo e cheio de memória histórica. Recordamos os que lutaram por direitos que hoje tentam nos arrebatar: jornadas dignas, salários e pensões justas, condições laborais seguras, liberdade sindical… Não esquecemos que foi a organização obreira e a ação coletiva as que arrancaram estas conquistas do poder estabelecido. E hoje, ante uma crise que não provocamos, mas que sim pagamos, voltamos a levantar nossas bandeiras vermelho e negras em sinal de rebeldia e luta.

O capitalismo segue mostrando seu verdadeiro rosto: uma máquina insaciável que converte nosso esforço em lucros para uns poucos, enquanto nos deixa só umas migalhas. Em Andaluzia, terra rica em recursos e cultura, seguimos sendo testemunhos de como a precariedade, a exploração e a desigualdade se perpetuam como se fossem inevitáveis. Mas não o são. Juntos podemos mudar este injusto regime.

Neste contexto, denunciamos com firmeza o recente anúncio da União Europeia de aumentar o gasto militar em 800.000 milhões de euros, financiados — o reconheçam ou não — às custas de cortes em políticas sociais já bastante minguadas, especialmente em comunidades como a andaluza, açoitada por uma onda de cortes e privatizações como a de motosserra. Este dinheiro, que poderia garantir serviços públicos universais, moradia digna, pensões justas, emprego estável ou a Renda Básica Universal, será utilizado para alimentar uma maquinaria bélica que só beneficia as elites econômicas e políticas. A militarização não resolve problemas como a desigualdade, a crise climática ou a falta de direitos laborais; ao contrário, aprofunda a miséria das classes populares e a mudança climática. Rechaçamos redondamente este giro militarista e exigimos que os recursos públicos se destinem a melhorar a vida das pessoas, não a fabricar armas.

Também, elevamos nossa voz em apoio ao povo palestino, que resiste heroicamente frente ao fascismo sionista, supremacista e colonial de Israel. Denunciamos a ocupação militar, os assentamentos ilegais, os muros da vergonha, os bombardeios indiscriminados, o apartheid sistemático que sofrem milhões de palestinos e palestinas ou as ameaças de limpeza étnica.

Exigimos o fim imediato da ocupação, o desmantelamento do muro ilegal, o fim dos assentamentos coloniais e o reconhecimento pleno dos direitos do povo palestino, incluindo o direito ao retorno. Rechaçamos qualquer cumplicidade com o regime israelense, seja mediante o comércio de armas, acordos econômicos ou relações diplomáticas que legitimam a opressão.

Também denunciamos a criminalização e exploração sistemática das pessoas migrantes, tratadas como criminosas por buscar uma vida digna longe de guerras, pobreza e devastação ambiental causadas pelo capitalismo e o colonialismo. Nenhuma pessoa é ilegal. As fronteiras são uma invenção do poder para dividir-nos e debilitar-nos como classe trabalhadora. Se não há fronteiras para o capital, não deveria haver para as pessoas. Exigimos a regularização imediata de todas as pessoas migrantes, o fechamento definitivo dos Centros de Internamento de Estrangeiros (CIEs) e o fim das políticas racistas e xenófobas que criminalizam os que buscam uma vida melhor. A luta das pessoas migrantes é nossa luta.

Finalmente, é o momento de recordar a sangria de mortes e enfermidades graves que ocorrem diariamente nos centros de trabalho sob o eufemismo de «acidentes laborais». Não são acidentes, mas consequências diretas da falta de medidas de prevenção, o descumprimento de normas de segurança e saúde, e a pressão insustentável para aumentar a produtividade. Por trás de cada vida truncada há uma empresa que prioriza os lucros sobre a vida humana. Dizemos basta a esta cultura de exploração extrema. Nem um trabalhador ou trabalhadora a menos! Exigimos medidas efetivas de prevenção, castigo exemplar para as práticas empresariais irresponsáveis e o direito universal a um trabalho seguro e saudável.

A tudo isto, voltamos a lançar um chamado urgente pela paz na Europa. A escalada militar impulsionada pela Comissão Europeia pretende perpetuar o conflito ao invés de buscar sua solução. Não queremos uma Europa militarizada nem uma guerra interminável que só alimente ódio, destruição e sofrimento. Se queremos a paz, devemos preparar a paz, não a guerra. Os fundos destinados à militarização devem dirigir-se urgentemente às escolas, hospitais, moradia social e programas de reconstrução. A Europa tem a oportunidade de ser um farol de cooperação, solidariedade e diplomacia, mas para isso deve abandonar a lógica do confronto e apostar pelo diálogo.

Este 1º de Maio não é um dia de celebração vazia nem de discursos ocos. É um chamado à ação diária e permanente. A CGT de Andaluzia, Ceuta e Melilla convida a todas as trabalhadoras e trabalhadores a organizarem-se, a construir redes de apoio mútuo e enfrentar o poder mediante a assembleia, a greve e a mobilização. Não esperemos que outros mudem o mundo por nós; juntas, podemos transformá-lo. Isso é o que querem que não saibas.

Recordemos que a verdadeira mudança não virá de cima, mas de baixo. Este 1º de Maio nos comprometemos a seguir lutando por um futuro onde a liberdade, a igualdade e a justiça social sejam uma realidade para todas as pessoas.

CGT de Andaluzia

cgtandalucia.org

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Entre as ruas, eu,
e em mim, eu em outras ruas,
sob a mesma noite.

Alexei Bueno

[Espanha] Vivendo a minha vida Kelly

Era 20 de junho de 2004, o dia da minha chegada à cidade de Pamplona. Eu tinha dezesseis anos e soube o que era limpar merda. Começava minha vida como Kelly, embora não soubesse o que significava ser “sudaka”, “proletária” ou “cenetista”. Limpava um bar “no mercado informal” durante os finais de semana por 100 € por mês. Esse foi meu primeiro trabalho. E a ele se somaram o cuidado de crianças, limpeza de casas e portões.

Descobri o que era um contrato de trabalho seis anos depois, momento em que passei a doar meu tempo e minha força de trabalho a muitos patrões sem escrúpulos. Nem sabia que estava sendo explorada. Quando você é uma mulher migrante e todo o seu entorno também é, acaba se acostumando a esses trabalhos precários, a abaixar a cabeça, a ser grata aos seus “conquistadores” e a se ver como uma cidadã de terceira classe.

Contrariando todas as previsões, entrei na universidade sem bolsas de estudo ou qualquer tipo de ajuda. Com esforço infinito e alvejante (equipe de limpeza), consegui acessar os espaços que pessoas como eu só contemplavam da rua. Qualquer um poderia imaginar que, com um diploma e um mestrado, eu teria mais oportunidades de trabalho. Mas não. Continuo sendo Kelly. Pode ser que estudar Filosofia e Literatura Castellana não seja a opção mais rentável do mercado, eu sei disso.

Também não tenho um corpo hegemônico nem cumpro os parâmetros ocidentais de beleza, por isso, no mundo da hotelaria, nunca me colocaram para atender os clientes, mas para limpar seus quartos ou cozinhar como uma empregada doméstica sudaca à la carte.

Vinte anos depois, começam os problemas da vida Kelly. Não conheço ninguém do meu coletivo que seja feliz limpando ou fazendo quarenta camas diárias. Não há crianças dizendo “quando crescer, quero ser Kelly, foder minha coluna e receber abaixo do salário mínimo”. Se ninguém deseja ter rizartrose e síndrome cervicobraquial que vai paralisando os braços aos 37 anos, por que permitimos que esse tipo de trabalho continue existindo? Nos chamam de essenciais, mas ninguém nunca se colocou no nosso lugar ou tentou melhorar nossas condições. Eu gostaria que políticos e empresários limpassem dezoito quartos em seis horas e meia, como exigem as agências de emprego temporário, especialmente quando todos os hóspedes vão embora e você tem que trocar os lençóis e edredons sujos por outros.

Não é só o fato de ser mulher, mas também ser imigrante. Duplo preconceito. A sociedade continuará atribuindo os trabalhos que ninguém quer para você, não importa o que estude. Se você quiser ser independente e não contar com a ajuda econômica dos seus pais, acaba negociando com a merda e se prometendo que algum dia deixará de ser Kelly.

Na luta entre o senhor e o escravo, o servo não deseja se tornar patrão e lucrar com o seu trabalho, ele só deseja eliminar a dialética que determina sua vida. Por isso milito na CNT, para que um dia todas as Kellys do planeta façam a revolução.

Saúde e Anarquia.

Mariela Díaz, afiliada CNT Iruñea.

Fonte: https://www.cnt.es/noticias/viviendo-mi-vida-kelly/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

No solar ruído
há ainda verdes cortinas
e um senhor, o sapo.

Alexei Bueno

[EUA] Novidade editorial: Desobediência: Declarações Anarquistas diante do Juiz e do Júri

Desde que existem anarquistas, há conflito com a lei. Do local de trabalho às ruas, nossas ações nos colocaram repetidamente diante de juízes e júris. Muitos de nós escolhemos manter nossa oposição desafiadora à lei, apesar da ameaça de punição. Esta antologia reúne as palavras de anarquistas que enfrentaram a condenação por um sistema judiciário no qual não acreditamos.

“…o banco dos réus tem sido a mais eficaz e, permitam-me dizer, a mais gloriosa de nossas tribunas.”

– Errico Malatesta

Defiance: Anarchist Statements before Judge and Jury

256 páginas

Preço promocional: US$ 13,50

detritusbooks.com

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Em qualquer lugar
Onde se deixem as coisas
As sombras do outono.

Kyoshi

[Espanha] Inicia Ruido Feminista Radio, ondas livres contra o patriarcado!

Ruido Feminista Radio surge com a intenção de seguir criando ferramentas de transformação social que sejam espaços coletivos de encontro para pessoas atravessadas pela categoria mulher (cis, trans, etc.), e espaços de difusão de perspectivas feministas.

Criamos uma rádio on-line na qual reeditamos programas e podcast feitos por mulheres CIS, Trans, Não binárias, sexualidades dissidentes, etc. que se encaixam nos princípios das rádios livres.

Uma Rádio Livre para dar lugar a todas aquelas vozes do território com um objetivo comum: uma Cantábria anticapitalista, feminista, libertária e antirracista.

Queremos oferecer formatos e conteúdos para despertar através das ondas vosso espírito crítico, a informação verídica e o livre pensamento, mas também os sonhos.

Podes encontrar toda a informação sobre o projeto e escutar a rádio on-line em
https://ruidofeministaradio.org/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Chuva de outono
Folhas secas de momiji
Entopem a calha

Chico Pascoal

[França] Contra o negócio da guerra! Não à OTAN, nem em Toulouse nem em nenhum outro lugar.

De segunda a quarta-feira, generais, pesquisadores e industriais britânicos, franceses, americanos e da OTAN se reunirão no Centro de Congressos Pierre Baudis, em Toulouse, para a primeira conferência inaugural do futuro “Centro Espacial de Excelência da OTAN”, que será localizado em Toulouse neste verão.

A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é o braço armado do imperialismo ocidental e está constantemente expandindo sua influência por meio de armamentos e guerras.

Toulouse é um centro nevrálgico da indústria bélica. Sob o pretexto de pesquisa e desenvolvimento nos setores aeronáutico e espacial, suas empresas (Airbus, Thalès, Safran, etc.) e laboratórios universitários (CNES, OMP, ONERA, etc.) contribuem ativamente para armamentos e mortes em todo o mundo.

De 28 a 30 de abril, os principais atores das guerras de ontem, hoje e amanhã estarão conversando, comendo e comemorando em nossa cidade. Não deixemos que eles perpetuem a morte e a destruição em paz!

Vamos nos manifestar contra esse projeto mortal nesta terça-feira, 29 de abril, às 17h30. em frente ao centro administrativo, estação de metrô Compans Cafarelli.

Guerra contra a guerra!
OTAN, fora de Toulouse!

A N T I M I L I T A R I S T A S

agência de notícias anarquistas-ana

alta madrugada,
vaga-lumes no jardim
brincam de ciranda

Zemaria Pinto

[Itália] O sabor da liberdade: “Anarquia à mesa”, de Fiamma Chessa

“Anarquia à mesa”, de Fiamma Chessa, é mais do que um simples livro de receitas: é um diário gastronômico anárquico que entrelaça histórias, tradições e lutas que atravessam gerações, demonstrando como a comida pode ser um instrumento de memória, resistência e comunidade.

“Anarquia à mesa”: uma jornada entre culinária e memória
 
O que a culinária tem a ver com anarquia? Esta é a pergunta que surge ao nos depararmos com “Anarquia à mesa”, o novo livro de Fiamma Chessa, estudiosa e curadora do Arquivo Família Berneri Aurelio Chessa. A resposta é simples: a comida é cultura, tradição, narrativa, e torna-se um fio que entrelaça histórias, ideias e comunidades. Neste livro, a culinária não é apenas sustento, mas um ato de resistência, compartilhamento e identidade. A citação de Tiziano Terzani que abre o volume – “Nós não somos apenas o que comemos e o ar que respiramos. Somos também as histórias que ouvimos, os livros que lemos, a música que escutamos” – introduz perfeitamente o sentido da obra. Através de receitas transmitidas, encontros com figuras do movimento anarquista e relatos de lugares vividos, Chessa nos conduz em uma jornada pessoal e coletiva, onde a culinária se torna o espelho de uma ideia de liberdade e pertencimento. Não se trata apenas de um livro de receitas, mas de uma narrativa que atravessa gerações, desde a lembrança dos pratos de família até as experiências nas cozinhas coletivas dos encontros anarquistas. “Anarquia à mesa” é um livro que celebra a comida como veículo de memória histórica e política, transformando cada prato em um fragmento de história e cada ingrediente em uma narrativa.

As raízes familiares: as receitas de Giovanna Caleffi
 
A jornada culinária de “Anarquia à mesa” tem início nas raízes familiares da autora, entrelaçando-se com a memória de Giovanna Caleffi, esposa de Camillo Berneri. É ela quem transmite a Fiamma Chessa a paixão pela culinária, presenteando-a com uma cópia de “A ciência na cozinha e a arte de comer bem”, de Pellegrino Artusi, um clássico da gastronomia italiana. As receitas de Giovanna Caleffi não são apenas uma herança gastronômica, mas o reflexo de um modo de viver e pensar: pratos simples, ligados à tradição camponesa, mas carregados de significado afetivo e político. Através desses sabores, o livro recria a atmosfera de uma época em que a cozinha também era um momento de socialização, confronto e cuidado mútuo. As iguarias narradas não são apenas uma lista de ingredientes e procedimentos, mas pequenos fragmentos de vida: cada prato torna-se o pretexto para evocar episódios, encontros, anedotas ligadas à figura de Caleffi e ao contexto anarquista em que viveu.

A Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária
 
Se as primeiras seções de “Anarquia à mesa” mergulham na dimensão íntima e familiar, o livro se abre posteriormente para uma dimensão coletiva e comunitária com o relato da Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária, manifestação iniciada em 2003 em Florença, com periodicidade bienal. Este evento não é apenas um momento de encontro para editores e autores independentes, mas também uma oportunidade para experimentar e compartilhar diferentes cozinhas, entre cultura libertária e tradições populares. Ao longo dos anos, a manifestação deu origem a uma cozinha coletiva, organizada para alimentar os participantes com pratos que são fruto das experiências e das contaminações de quem participa. As receitas desta seção do livro narram uma culinária mestiça e solidária, que acolhe pratos da tradição camponesa, mas também propostas vegetarianas e veganas, adaptando-se às necessidades e sensibilidades de uma comunidade em constante transformação. Entre as receitas apresentadas, encontramos a torta de maçã, pera e chocolate; o babka (doce da tradição judaica da Europa Oriental); e o sanduíche de lampredotto, símbolo da culinária popular florentina. Através dessas experiências, a comida se confirma não apenas como necessidade, mas como instrumento de relação e agregação, uma maneira de entrelaçar histórias e identidades diversas, no caminho de uma tradição anárquica que sempre fez da convivialidade um elemento central de sua cultura política.

Reggio Emilia e a redescoberta das raízes familiares

A última parte de “Anarquia à mesa” nos leva a Reggio Emilia, cidade para onde Fiamma Chessa se mudou nos anos 2000 para acompanhar o Arquivo Família Berneri-Aurelio Chessa, guardião de grande parte da memória anarquista italiana. Aqui, a narrativa se entrelaça com novas descobertas e encontros significativos, incluindo aquele com os sobrinhos-netos de Giovanna Caleffi, que permitem à autora aprofundar ainda mais as tradições culinárias de sua família.
Esse retorno às origens não é apenas uma jornada gastronômica, mas também um momento de redescoberta, onde a comida se torna um veículo de memória e continuidade. Entre as receitas transmitidas pela família Caleffi, destacam-se a galinha recheada e a zuppa inglese, pratos que carregam consigo o sabor de uma época e de uma comunidade que, através da culinária, soube manter vivos seus laços.

O livro se encerra com uma entrevista com Libereso Guglielmi, jardineiro e anarquista, conhecido por sua ligação com a família de Mario Calvino, pai de Italo. O diálogo com Guglielmi acrescenta uma perspectiva inédita sobre a relação entre botânica, liberdade e culinária, reforçando a ideia de que a comida, assim como as plantas, é um elemento de conexão profunda entre indivíduos e território. Com esta seção, “Anarquia à mesa” demonstra mais uma vez como a culinária nunca é apenas nutrição, mas um idioma cultural e político, capaz de contar histórias de resistência, solidariedade e pertencimento.

Comida, memória e anarquia: o valor de “Anarquia à mesa”

Com “Anarquia à mesa”, Fiamma Chessa assina uma obra que vai além de um simples livro de receitas. Através da culinária, a autora nos oferece um retrato da história anarquista italiana, narrando episódios, encontros e tradições que muitas vezes permanecem à margem da grande narrativa histórica. Das receitas de Giovanna Caleffi e Aurelio Chessa aos pratos compartilhados na Vitrine da Editoria Anarquista e Libertária, cada página do livro é um testemunho de resistência e comunidade, uma ode à simplicidade e ao compartilhamento.

O volume também demonstra como a culinária é um instrumento de conexão, capaz de atravessar épocas e gerações. As experiências da autora, desde os relatos de sua infância até os anos mais recentes em Reggio Emilia, nos mostram como as tradições gastronômicas podem se transformar em arquivos vivos, capazes de transmitir valores e ideias com a mesma força de um manifesto político.

“Anarquia à mesa” é, em essência, um livro sobre anarquia e convivialidade, sobre laços familiares e luta política.

Anarchia a tavola
Fiamma Chessa
diario
Edizioni Malamente
novembro 2024
180 págs.
20,00€
edizionimalamente.it

Fonte: https://www.magozine.it/il-sapore-della-liberta-anarchia-a-tavola-di-fiamma-chessa/

Tradução > Liberto

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agência de notícias anarquistas-ana

Soneca da tarde.
Uma brisa companheira
chega sussurrando.

Alberto Murata

Contra a guerra, contra o poder: um apelo da IFA a todxs os anarquistas para se posicionarem contra a OTAN

A cúpula da OTAN em 2025 acontecerá no Fórum Mundial de Haia, nos Países Baixos, de 24 a 26 de junho. Enquanto a máquina de guerra reúne milhares de delegados de seus 32 Estados-membros para orquestrar a próxima grande onda de expansão militar, não podemos ficar em silêncio. Precisamos erguer uma bandeira de desafio e resistência. A OTAN não existe para nos proteger. Ela serve aos interesses dos Estados, das corporações e de poucos às custas de muitos.

O Estado e a OTAN, ou qualquer outra aliança militar multinacional, não nos trazem segurança — trazem controle, buscando apenas nossa obediência, nossa conformidade e nossa capitulação. Seja na violência endêmica da polícia em nossas comunidades, nos campos de batalha ensanguentados da Ucrânia ou nos oceanos de ruínas de Gaza, temos um único inimigo: o capitalismo e o Estado.

Desde sua criação em 1947, a OTAN agiu apenas como executora da violência imperialista, instrumento de repressão e motor de guerra. Ela não protege a paz. É nossa inimiga de classe e uma ameaça direta à vida e ao bem-estar de cada um de nós. Nossa luta não é entre nações, mas contra a classe dominante à qual todxs resistimos. Isso continua verdadeiro, mesmo diante da brutal realidade da guerra. Sob o pretexto da segurança europeia e nacional, os governos da OTAN estão canalizando bilhões para orçamentos militares, cortando serviços sociais vitais.

Enquanto constroem exércitos, nos deixam lutando pela sobrevivência. Impõem austeridade enquanto acumulam recursos para a guerra. Eles erguem forças armadas enquanto nós lutamos por saúde, moradia e dignidade básica. Vemos todos os dias como recrutam as próximas gerações, preparando-as para pegar em armas — privadas de oportunidades, sem outra escolha a não ser se alistar e virar carne para canhão em conflitos que não criaram, vendidas à aventura, à falsa fraternidade e ao patriotismo. Quando os recrutas voltam, mutilados e destroçados, são descartados, úteis apenas como símbolos em desfiles vazios. Em seus uniformes militares, mostram à luz do dia que a propaganda nunca termina.

Chamamos todxs os anarquistas, antiautoritários e quem se opõe à guerra para se unir, organizar e resistir ao militarismo. A OTAN e seus senhores da guerra se reunirão, mas nós também. Vamos às ruas. Vamos perturbar suas demonstrações de poder. Criaremos redes de solidariedade e nos oporemos diretamente às suas guerras, à sua polícia militarizada e à repressão de nossos movimentos. Nós, anarquistas, lutamos por um mundo sem fronteiras, sem Estados e sem exércitos que sustentem seu domínio.

Conclamamos à solidariedade internacional contra a OTAN e toda manifestação de opressão militarizada — seja a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), a Força Escudo da Península (PSF), a Aliança dos Estados do Sahel (AES), o Plano ReArm Europe 2030 ou qualquer outro pacto ou exército supostamente de “segurança coletiva”. Todos servem ao mesmo propósito: manter o domínio pela força, perpetuando o sofrimento no mundo. As armas que usam hoje para garantir recursos serão voltadas contra nós amanhã.

Pedimos a todxs anarquistas, antiautoritários e antimilitaristas que ajam nesses dias em Haia e em todo o mundo, em solidariedade internacional. Que os detalhes de nossos planos cresçam juntos. Organizem-se e preparem nossas ações. Juntos, faremos com que saibam: rejeitamos as falsas escolhas do nacionalismo. Rejeitamos a ideia mentirosa de que a OTAN existe para proteger. Rejeitamos a brutalidade de seu militarismo e as doutrinas marciais da guerra. Repudiamos suas propostas de orçamento que esvaziam os cofres da classe trabalhadora e apoiamos as vítimas e desertores de todas as guerras.

Nenhuma guerra entre os povos, nenhuma paz entre as classes.

Comissão de Relações da Internacional das Federações Anarquistas (IFA)

Marselha (França), 22-23 de março de 2025

Fonte: https://umanitanova.org/contro-la-guerra-contro-il-potere-un-appello-dellifa-a-tutt-l-anarchic-a-schierarsi-contro-la-nato/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Sai em disparada
da grande moita de mato
o esquilo cinzento…

Hazel de S. Francisco

[Espanha] Primeiro de Maio de 2025 CNT-AIT Granada

Neste Primeiro de Maio, a CNT-AIT de Granada o celebrará na Placeta de la Cruz a partir das 12h.

Uma jornada para que todos estejam juntos, no qual o ato central serão os comícios nos quais serão abordadas diferentes questões atuais. O sindicato dará ênfase especial a como o crescente aumento do militarismo e do fascismo afeta os trabalhadores. Para reverter essa situação, nada melhor do que gerar comunidades de luta organizadas desde baixo, sem a mediação de partidos e organizações de vanguarda.

Além da CNT-AIT de Granada, outros coletivos participarão.

Além disso, durante toda a jornada haverá banquinhas com livros e outros materiais. Ao meio-dia, teremos um almoço popular, provavelmente paella, e desfrutaremos de algumas apresentações artísticas: concerto, poesia, palhaços e DJ.

Por um Primeiro de Maio revolucionário, autogestionado e libertário!

granada.cntait.org

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a sombra da nespereira
mergulha
na frescura do poço

Rogério Martins

[Bélgica] Bem-vindo à Antena Negra!

Desde janeiro passado, o centro social autogerido Antena Negra (rue du Marais 1) está aberto a todos para se encontrarem, compartilharem, discutirem, brincarem, se organizarem, comerem juntos, lutarem e reviverem um lugar abandonado que foi transformado em um espaço de liberdade no coração de Bruxelas!

Sinta-se à vontade para participar das diversas atividades semanais e trazer suas próprias ideias, necessidades e atividades para o local. A Antena Negra precisa que você continue existindo e resistindo!


Hoje encontramos lá:

  • o café para desempregados (segunda-feira de manhã, a partir das 9h30),
  • a assembleia de luta em solidariedade com o Congo (segunda-feira à noite, às 19h),
  • o caf’anar (quarta-feira à noite, das 18h30 às 22h),
  • o café queer (quinta-feira, das 17h30 às 22h),
  • o dia de atualidades (sexta-feira, das 10h às 16h),
  • a cantina popular + projeção (1 domingo de cada mês, a partir das 16h),
  • o soft rock café (domingo, das 19h30 às 22h)

E muitas outras atividades!


Todas as novas propostas são bem-vindas nas reuniões gerais do centro social (duas vezes por mês, terça-feira à noite, às 18h30).


Você também pode nos escrever em lantennenoire@riseup.net

agência de notícias anarquistas-ana

Outono –
uma folha úmida
cobriu o número da casa.

Constantin Abaluta

Os Karuanas não querem petróleo | “É ele o maior vilão na aceleração da crise climática”

Por Luene Karipuna | Oiapoque-Amapá

Morei a maior parte da minha infância numa aldeia chamada Encruzo, na Terra Indígena Uaçá, no município de Oiapoque. Tenho boas lembranças da minha aldeia: cheiro de lama, o vento que vinha do mar, a pororoca, o peixe assado, as histórias do meu avô. Ele sempre nos ensinou a respeitar o rio e os Karuanas. Os Karuanas são seres sobrenaturais, que se conectam com os pajés e vivem no Outro Mundo, onde são gente como nós. Apenas os pajés conseguem vê-los e se comunicar com eles. Os Karuanas vêm do mar, dos rios, dos lagos, da mata e do espaço. São espíritos de Aves, Cobras, Peixes, Árvores e Estrelas. Eles são responsáveis por nos curar e manter o equilíbrio entre o nosso mundo e o mundo deles.

Quando criança nós aprendemos a respeitar as regras – a gente não podia pular no rio às 6 da manhã, ao meio-dia ou às 6 da tarde. Nosso avô dizia que nesses horários a gente perturbava o descanso dos Karuanas, pois eles também precisavam dormir. Ele nunca se referia aos Karuanas como espíritos, mas sim como gente, pessoas que cuidavam de nós.

Por esse conhecimento ancestral sou contra a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Os Karuanas são extremamente importantes para o equilíbrio da vida. Sem eles, nós ficamos enfraquecidos. Quando operações como a exploração de petróleo chegam aos lugares onde moram os Karuanas e incomodam a casa deles, eles vão embora e se afastam. E nossa conexão se enfraquece. Com isso, vamos adoecendo espiritualmente.

Meu avô sempre nos ensinou que precisamos respeitar os Karuanas. Por toda a minha vida eu aprendi isso. Não consigo sequer imaginar o que é viver em um lugar morto de espírito, onde a ganância é soberana, onde todos os ensinamentos do meu povo correm perigo, onde eu não possa mais sentir os Karuanas. Onde o brincar na lama e tomar banho de rio não são mais possíveis. Eu me recuso a viver em um lugar onde meus sobrinhos não possam ver esses lugares sagrados e não possam aprender sobre os Karuanas.

A vida não pode ser determinada pela ganância dos humanos. Vejo todas as minhas memórias de infância correndo risco de não ser mais realidade: comer Caranguejo e Caramujo, cair na lama com meus pais e irmão, pegar Akari, um peixe cascudo. Por muitos anos eu acreditei que nunca iria sentir esse medo de perder tudo em um piscar de olhos. Mas hoje vivo com medo todos os dias.

Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela ameaça o território e a história do meu povo. Eu sou contra a exploração de petróleo porque é ele o maior vilão na aceleração da crise climática. Eu sou contra a exploração de petróleo porque ela acabou com o nosso sossego. Eu sou contra a exploração de petróleo porque isso ameaça a vida dos Karuanas – e me ameaça.

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sussurro um ruído
(farfalhar de qualquer folha
ao pé de um ouvido)

Bith

[Grécia] Microbombardeiros da Hellenic Train protestam contra “encobrimento do crime em Tempi”

Sem feridos no ataque, reivindicado em homenagem aos mártires palestinos e a Kyriakos Ximitiris

Por Kit Dimou

Um extenso manifesto foi publicado no Greek Indymedia reivindicando a responsabilidade pela detonação de uma mochila nas proximidades dos escritórios da Hellenic Trains, principal companhia ferroviária da Grécia, na noite de sexta-feira (12 de abril). Não houve feridos e apenas danos menores foram causados na microexplosão. O desastre ferroviário de Tempi, que deixou 57 mortos, provocou protestos em massa na Grécia no início deste ano, seguidos de distúrbios no aniversário da tragédia.

Segundo a polícia, a mochila explodiu às 21h35, 42 minutos após ligações anônimas para dois veículos de mídia alertarem sobre um artefato que explodiria no local, enfatizando que “não era uma brincadeira”. Embora a polícia tenha declarado que “avaliou o incidente como uma ameaça séria”, esvaziando a área e evacuando o prédio e um hotel próximo, a mochila foi permitida a explodir sem ser examinada pela equipe antibombas chamada ao local. O artefato foi descrito como um “dispositivo improvisado de baixa potência com temporizador”.

Sob o nome “Autodefesa de Classe Revolucionária”, também utilizado na microexplosão contra o Ministério do Trabalho da Grécia em 3 de fevereiro de 2024, o manifesto dedicou ambas as ações “ao povo palestino e à sua resistência heroica”, bem como em homenagem a “Kyriakos Xymitiris e a todos que tombaram lutando no caminho da revolução social”.


O manifesto acusa o governo e a Hellenic Train de encobrirem as verdadeiras causas do desastre ferroviário de Tempi, atribuindo-o a erro humano e utilizando o incidente como pretexto para novas privatizações. Critica o governo por não processar a Hellenic Train e por permitir que a empresa continue operando o sistema ferroviário, assumindo, assim, responsabilidade política pelo desastre.

O texto conclama à continuidade da luta de classes e da organização coletiva, sugerindo que a única forma de alcançar justiça e segurança para os trabalhadores é por meio da ação coletiva e da mudança revolucionária. O documento também manifesta solidariedade com o povo palestino e menciona o agravamento das tensões internacionais, conectando as lutas na Grécia a conflitos globais mais amplos.


Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/04/13/greece-hellenic-train-micro-bombers-protest-cover-up-of-the-crime-in-tempi/

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

No pensamento
Um esqueleto abandonado –
Arrepios ao vento.

Bashô

Guardião ou Gestor? A armadilha da conciliação e o futuro da luta indígena

O poder político institucionalizado tem a astúcia de engolir até mesmo aqueles que nasceram para proteger a Terra. A política, como está organizada no Brasil, não acolhe as causas coletivas, ela as absorve, reconfigura e esvazia seus significados ancestrais.

É dentro desse jogo de máscaras que muitos parentes, ao ingressarem no cenário institucional, deixam de ser guardiões da floresta para se tornarem peças controláveis de uma engrenagem corrupta e corruptível. Acreditam estar se tornando gestores, mas na prática não têm poder de mando nem promovem mudanças efetivas para os povos, a não ser alguns eventos sociais que apenas alavancam candidaturas.

Alguns acreditam que ocupar espaços no governo representa um avanço. Mas não estamos vendo isso na prática. Outros, como nós, sempre alertaram para o risco de que essas estruturas sirvam apenas para administrar concessões e transformar direitos conquistados com muita luta e sangue em moeda de troca. A institucionalização serve, sobretudo, como instrumento de conciliação e controle. E se não houver enfrentamento real à lógica do capital e à colonialidade do poder, o caráter de guardião se dissolverá.

O sistema político não foi feito para nos libertar, ele foi feito para manter o capitalismo e os sistemas de exploração dos recursos naturais em movimento. E quando alguém aceita jogar segundo essas regras, sem tensioná-las e principalmente sem rompê-las, torna-se mais um gestor da destruição. Nunca um guardião, propriamente falando.

A imagem de “guardião da floresta” carrega em si a potência da resistência indígena há mais de 525 anos. É uma conexão incorruptível, porque nossa cultura ancestral não permite conciliação com quem nos fere é como água e óleo: não se misturam. A história mostra que, quando tomamos lados dentro da lógica do opressor, sempre somos traídos.

Quando alguém é cooptado pelo poder político, acaba se tornando apenas um símbolo publicitário. Uma espécie de acessório de uma falsa diversidade. Enquanto isso, a realidade territorial continua violenta, e as bases com suas urgências, suas vozes, seguem esquecidas

Pastas e documentos acumulam poeira. Nunca resultados.

Precisamos nos perguntar: que tipo de representatividade estamos construindo? Ela liberta ou apenas concilia? Ela eleva a voz coletiva ou serve para garantir os direitos individuais de quem já está dentro da estrutura? Os representantes indígenas de hoje agem como mensageiros da ancestralidade ou como mediadores econômicos de conflitos que deveriam ser enfrentados com coragem?

Seus projetos são realmente voltados para os mais desfavorecidos? Ou estamos vendo uma verticalização das prioridades, em que os parentes mais invisibilizados continuam sem escuta e sem retorno?

A luta indígena não é compatível com a lógica do lucro. Ela não se presta à vaidade, nem cabe na frieza dos invasores. A floresta é corpo vivo e quem é fiel ao papel de guardião carrega essa verdade com coragem, sem se deixar corromper.

Essa verdade mora nos corações indomáveis, atentos às falhas históricas da conciliação. Mesmo antes da República, os franceses e portugueses já manipulavam uma polarização durante o período da invasão. E quem pagou o preço da conciliação, ontem como hoje, foram os parentes.

A história repete suas armadilhas, mas nós seguimos lembrando, resistindo, e dizendo não!

Autonomia Indígena Libertária – AIL

agência de notícias anarquistas-ana

Já nasceram frutos.
Não descansa, mesmo assim,
a chuva de outono!

Maria Helena Sato

[Grécia] “Evangelismos não se rende, luta”

Na noite desta quarta-feira (23/04) centenas de pessoas, principalmente anarquistas, se reuniram em frente à Basílica de São Marcos, no coração da cidade de Heraklion, para se manifestarem contra o despejo da ocupação Evangelismos.
 
Os manifestantes carregavam faixas com slogans como “Evangelismos não se rende, luta”, “Vamos tomar tudo de volta”, “Defender as ocupas e as estruturas de luta”. O ato foi acompanhado por um forte contingente policial.
 
Primeira manifestação
 
Ataques ocorreram na noite de terça-feira (22/04) no centro de Heraklion durante uma passeata de manifestantes anarquistas que protestavam contra o despejo da ocupação “Evangelismos”. Bancos, lojas e um shopping center da cidade foram alvos de ações diretas.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Na tarde chuvosa,
Sozinho, despreocupado,
Um pardal molhado
 
Edson Kenji Iura

[Espanha] Manifesto Antimilitarista

Há meses, diferentes governos vêm tocando novamente os clarins da morte. Com um descaramento que já beira o obsceno — e permitido pela falta de contestação social —, dizem-nos que é urgente a União Europeia se rearmar, elevando os gastos militares para 800 bilhões de euros numa primeira fase. No entanto, não há justificativa pública para esse valor. Para contextualizar: a Rússia planeja aumentar seu orçamento militar em 30%, partindo dos atuais 72 bilhões de dólares. Somente a soma de França e Polônia já se aproxima de 100 bilhões atualmente, sem contar que a França aprovou em 2023 aumentar seus gastos para mais de 70 bilhões anuais até 2030 — e a UE é composta por 27 países com 27 exércitos.

Fala-se de ameaças fictícias, ignorando qualquer lógica, em uníssono com a inefável Ursula von der Leyen, atual presidente da Comissão Europeia, que defende mais que dobrar o orçamento militar — algo que os EUA já ordenaram na era Obama. Na Espanha, o gasto militar foi de 1,2% do PIB em 2023, mas apenas 0,9% foi executado, segundo a vice-presidente. Agora, querem chegar a 2%. Por enquanto. E os governos europeus aplaudem e amplificam a mensagem, incluindo o nosso, “o mais progressista da história”.

Só que nem isso é verdade. Um relatório de outubro de 2022 do Centre Delás d’Estudis per la Pau estimou o gasto militar real da Espanha em 2023 em 27,617 bilhões de euros — mais que o dobro do orçamento oficial do Ministério da Defesa e acima dos 2% exigidos pela OTAN. Outras fontes elevam esse valor para quase 40 bilhões. O truque? Há verbas militares escondidas em outros ministérios, não contabilizadas como “Defesa”. Apesar de algum debate recente, os gastos não pararam de crescer desde 2019, inclusive durante o governo PSOE-Podemos (2020-2023).

Altos funcionários afirmam que o armamento que buscam ampliar e modernizar são “armas para defender a democracia” e a “segurança do nosso modo de vida baseado em direitos”. Um sofisma ridículo, beirando o absurdo, quando lembramos as constantes violações desses mesmos direitos em vários países ocidentais, inclusive europeus:

  • Os assassinatos de migrantes nas fronteiras, sem responsáveis apesar das gravações;
  • Os campos de concentração italianos na Albânia;
  • As torturas em prisões e delegacias, reconhecidas até por tribunais europeus;
  • A venda de armas a Israel, em meio a um genocídio e com seu presidente sendo alvo de um mandado do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra;
  • Os apoios entusiásticos a golpes de Estado pelo mundo;
  • As detenções e processos contra cantores, humoristas críticos, manifestantes antifascistas (como os 6 de Zaragoza), sindicalistas (os 6 da Suíça), integrantes do movimento antidespejos e sindicatos de inquilinos;
  • A revogação da maternidade de casais lésbicos na Itália e a ilegalidade do casamento homoafetivo, contra a vontade majoritária da população;
  • A morte de mulheres por lhes negarem aborto em gestações de risco na Polônia, ou a impossibilidade de adoção por pessoas LGBTQIA+ no mesmo país.

Nada disso difere significativamente da realidade social russa — nem mesmo da caricatura que a mídia faz diariamente daquele país. Não se trata de desculpar a falta de liberdade em outros lugares, mas de mostrar que, para nossos governantes (espanhóis ou europeus), direitos humanos e liberdade são apenas ferramentas para manipular a população, fazendo-a enxergar os interesses do poder como seus. Hoje, não é só a Rússia: a mídia já fala em “flanco sul”, referindo-se a Marrocos e outros, como se já estivéssemos em guerra.

É óbvia a tentativa de construir linguisticamente um inimigo fictício que justifique suas ações. Só assim se explica que os mesmos que chamam Putin de “ditador” tratem o carniceiro do jornalista Khashoggi — o príncipe herdeiro da ditadura absolutista da Arábia Saudita — com títulos nobres.

O discurso é amplificado porque, aos interesses geopolíticos descarados dos Estados, soma-se a ganância capitalista de quem lucra com a morte. Os industriais de armas esfregam as mãos: seus artefatos, feitos para matar pessoas e destruir cidades indiscriminadamente, serão comprados em massa e preparados para seus fins mortíferos. Já nos disseram mais de uma vez que guerras e o uso de armas “estimulam a economia”. Em 2024, batemos o recorde de 2,46 trilhões de dólares gastos em armamento mundial. Enquanto a economia deles dispara, os mortos somos sempre nós. Vários países já discutem reinstituir o serviço militar obrigatório para expandir seus exércitos. Von der Leyen, porém, riu quando uma jornalista perguntou se seus filhos iriam à guerra.

Além do risco direto de conflito armado, há o desvio de recursos de áreas vitais (saúde, educação, aposentadorias, cultura) para preparar a guerra. Líderes da OTAN já disseram abertamente que, se necessário, cortarão desses orçamentos já insuficientes. E sabemos quem sofre com isso. Muitos desses políticos têm investimentos na indústria da morte — por isso, é fatal dar qualquer crédito a esses supremacistas do privilégio.

Parte da esquerda, mesmo criticando o aumento, defende uma “independência militar europeia” para sair da OTAN; a direita quer manter o status quo. Ambos veem o exército como “defensor da cidadania”. Mas a história mostra que liberdades não são fruto da força militar — muito menos defendidas por ela (especialmente em países colonialistas). São conquistas populares, arrancadas do poder através de organização e mobilização, muitas vezes contra as próprias forças policiais e militares.

A consolidação ou avanço dos direitos depende da capacidade do povo de confrontar seus governantes, pois o exército sempre se voltará contra quem ameaçar a propriedade capitalista e o poder que a defende. É parte de seu DNA — assim como impor o colonialismo pela força onde a sede de riqueza de seus donos os levar.

POR TODAS ESSAS RAZÕES — E OUTRAS QUE SURGIRÃO NA CONSCIÊNCIA DE QUEM LUTA POR IGUALDADE, JUSTIÇA E LIBERDADE REAL — REPUDIAMOS A TENTATIVA DOS ESTADOS DE AUMENTAR SEU PODER MILITAR, POR MAIS QUE O DISFARÇEM DE “DISSUSÃO” OU “DEFESA” COM MENTIRAS, COMO SEMPRE FIZERAM.

Nossa pátria é o mundo.
Nossa família é a humanidade.
Nossa vocação é a vida.

Em todos os lugares:
Insubmissão, deserção e resistência
contra toda autoridade.

Grupo Anarquista Albatros (FAI)

federacionanarquistaiberica.wordpress.com

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Ao fim da fogueira
Apenas cinco cachorros
Dormindo ao redor.

Miyoko Namikata

[Chile] 1º de Maio Combativo | Dia do Trabalhador Subversivo

O 1º de maio não é uma data de celebração estatal nem uma jornada para a conciliação entre classes; é, em sua raiz mais honesta, um marco insurrecional. Recordamos aos que foram assassinados por rebelar-se contra a escravidão assalariada e, ao mesmo tempo, denunciamos a perpetuação do trabalho como forma de alienação estrutural nas sociedades capitalistas contemporâneas.

Desde nossa perspectiva, o trabalho imposto — como forma de mediação forçada entre o ser humano e sua sobrevivência — representa uma das mais perversas expressões de dominação moderna. Não é uma simples questão econômica, mas uma distorção ontológica: reduz a vida a função, a produtividade, a engrenagem em uma máquina que não serve à comunidade, mas ao capital. Nas palavras de Camus, “o trabalho sem sentido esvazia a alma”; e para nós, esse vazio se converte em campo de batalha.

Reivindicamos a sabotagem, a autogestão, a deserção da lógica do dever produtivo. Nos opomos tanto à figura do patrão como ao fetichismo do emprego: romper com o trabalho é abrir a possibilidade de outra ética, uma onde a atividade humana se oriente pela necessidade livremente reconhecida, não pela coerção do salário.

Este 1º de maio não marchamos por reformas nem por migalhas redistributivas. Marchamos pela abolição do Estado, pelo colapso do trabalho como instituição, e pela destruição integral do sistema capitalista. Frente à máquina de morte, afirmamos a vida em comum; frente à obediência, a insurreição permanente.

Porque não há liberdade sem ruptura total.

Porque não há justiça sem destruição do poder.

1º de maio subversivo, combativo e anárquico!

Contra o trabalho, contra o Estado e contra o capital.

Ação direta, apoio mútuo e autogestão.

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Chuva cinzenta:
hoje é um dia feliz
mesmo com o Fuji invisível

Matsuo Bashô

[Bélgica] Feira dos livros anarquistas em Gent, 17-18 de maio de 2025

O sol está brilhando novamente e a feira de livros anarquistas está de volta! Já é a 21ª edição.

Ainda queremos celebrar o papel em nossas mãos, longe do pesadelo digital que se infiltra em nossos círculos mais íntimos. Na feira do livro, você encontrará muitas outras publicações além de livros, brochuras, panfletos, pôsteres e adesivos. Desde romances antigos e clássicos revolucionários, passando por filosofia e poesia até críticas sociais contemporâneas ou os mais recentes apelos à luta: eles partem da vontade de mudar radicalmente o mundo. Eles compartilham ideias e tentam aprofundá-las. Ideias: não são opiniões comercializáveis, agradáveis, bonitinhas e sem compromisso.

Mas a feira do livro é muito mais do que isso!

A feira do livro anarquista também é um encontro internacional de anarquistas e antiautoritários, com discussões formais e informais. Queremos que a feira do livro contribua para o fortalecimento do movimento anarquista aqui. Nós a vemos como uma ferramenta para aprofundar ideias, uma oportunidade para lançar propostas e criar vínculos entre indivíduos e grupos. Queremos compartilhar nossas paixões uns com os outros e criar um contexto em que palavras e ações dancem juntas e se reforcem mutuamente.

Nossa anarquia carrega uma posição ofensiva contra o poder e uma vontade de subversão. A guerra e a militarização estão ao nosso redor. O governo está elaborando planos para construir fábricas de guerra, reintroduzir o serviço militar e quer fazer do país o centro logístico da preparação para a guerra. As economias em todas as frentes vão direto para a caixa de guerra. Para moldar o complexo militar-industrial, os Estados e o capitalismo não precisam apenas de bucha de canhão e trabalhadores, mas também precisam saquear a terra cada vez mais profundamente. Em todo o mundo, as minas estão sendo expandidas ou reabertas em busca de recursos para alimentar suas economias.

Estes são tempos sombrios, em que o medo e o desespero nunca estão distantes. Em todo o mundo, as pessoas estão lutando contra esses mecanismos de poder e dinheiro. Para nós, a feira do livro é um lugar para compartilhar, aprofundar e fortalecer essas lutas.

Bem-vindo à feira do livro em 17 e 18 de maio de 2025! Fique atento à programação completa em https://abgent.noblogs.org/

Até lá e viva a anarquia!

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agência de notícias anarquistas-ana

Súbita miragem —
Atravessando o viaduto,
Densas quaresmeiras.

Edson Kenji Iura