[Osasco-SP] LASInTec convida: “Pesquisa, militância e anarquia: formas insurgentes de produção do saber”

No dia 4 de novembro, a partir das 19h, receberemos na Eppen-Unifesp – Universidade Federal de São Paulo -, em Osasco, o autor norte-americano Peter Gelderloos, para debate sobre seu novo livro “As soluções já estão aqui: estratégias revolucionárias ecológicas vindas de baixo”, em lançamento no Brasil pela GLAC edições, pela Entremares e pela Teia Dos Povos.

A mesa “Pesquisa, militância e anarquia: formas insurgentes de produção do saber” contará com a participação do professor Acácio Augusto, coordenador do LASInTec. A conversa será em espanhol e não haverá transmissão ao vivo.

SOBRE O LIVRO

“As soluções já estão aqui: estratégias revolucionárias ecológicas vindas de baixo”, de Peter Gelderloos, são um chamado urgente que ecoa das margens para o centro de nosso tempo histórico. Publicado originalmente pela Pluto Press (2022) e agora no Brasil, com prefácio de Anne Xukuru, o livro desmascara a farsa dos governos, corporações e ONGs que vendem falsas saídas “verdes” enquanto aprofundam a devastação.

Acompanhando por décadas as lutas anticapitalistas, Peter Gelderloos recolheu experiências de territórios insurgentes: comunidades indígenas que replantam florestas, camponeses que defendem a soberania alimentar, coletivos urbanos que reinventam a vida comum.

Em diálogo com povos do Brasil, da Venezuela, da Indonésia, da Europa e de tantas fronteiras em disputa, o autor mostra que a verdadeira resposta à catástrofe climática já está em curso — enraizada na autonomia, na solidariedade e na prática cotidiana de quem resiste.

SOBRE O AUTOR

Peter Gelderloos — Ativista anarquista norte-americano, foi preso em 2001 durante protesto contra a School of the Americas, centro de treinamento militar americano que treina militares para a América Latina. Ele fez a própria representação no tribunal e foi condenado a seis meses de prisão. Em 2007, foi novamente detido na Espanha durante um protesto e absolvido em 2009, após alegar condenação injusta e perseguição política. É autor de Como a não violência protege o Estado (2005), referência em debates sobre resistência.

William Gillis descreve Gelderloos como “um anarquista comprometido em tornar a teoria anarquista acessível” e “dentro de nosso movimento […] provavelmente o escritor anarquista menos controverso vivo”. Em 2024, ele coproduziu It’s Revolution or Death, uma série documental focada na crise climática global, em colaboração com o coletivo de mídia subMedia.Tv.

agência de notícias anarquistas-ana

mar sem ondas
a criança cai
levanta

Ricardo Portugal

Chacina no Rio de Janeiro: O ESTADO É O VERDADEIRO TERRORISTA!

Na terça-feira, dia 28 de outubro de 2025, presenciamos uma matança promovida pelo governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio de uma megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da cidade. A Chacina, que já conta pelo menos 130 mortos e dezenas de desaparecidos, foi a ação policial mais letal de que já se teve registro na história do país, superando até mesmo o massacre do Carandiru. Este é mais um episódio sangrento de terrorismo de Estado e sua política genocida sistemática contra a população pobre, negra e periférica!

A atual megaoperação não é a primeira a prometer “retomar o controle do Estado” nas favelas cariocas, é continuidade da nefasta política de segurança pública implementada no estado do Rio de Janeiro nas últimas décadas. Em 2010, a falida política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) promovidas pelos governos Dilma-Lula-Cabral prometeu “acabar com o tráfico”, mas na prática fortaleceu o controle miliciano sobre os territórios. Em 2018, a Intervenção Federal de Michel Temer decretou a segurança pública do Estado do RJ sob o comando do exército brasileiro na figura de seu general Walter Braga Neto, prometendo solucionar a “crise” na segurança pública, e o que se sucedeu foram os assassinatos de moradores pelas forças militares e o descumprimento de direitos humanos mínimos, sob argumento de “guerra às drogas”.

Já o governador Cláudio Castro, tem em suas costas quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro: Jacarezinho (2021, 28 mortos), Complexo da Penha (2022, 23 mortos), Complexo do Alemão (2022, 16 mortos), Complexos da Penha e Alemão (2025, 120 mortos).

A política de segurança do governador Cláudio Castro (PL) é a mesma de seu antecessor no governo do RJ,  Wilson Witzel (PSC) que além de ser conhecido por ter sofrido impeachment por corrupção, cunhou a frase: “A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo”.  Portanto, o número superior a 120 mortes não é um “dano colateral”, é a materialização da doutrina que vê a população pobre como inimiga a ser eliminada.

DA FAIXA DE GAZA AO RIO DE JANEIRO, A MÁQUINA DE GUERRA COLONIAL

O orçamento da segurança pública do estado do Rio de Janeiro chega aos R$ 19 bilhões por ano (a segunda maior pasta de gastos) e 61% desse orçamento é destinado exclusivamente ao policiamento ostensivo. Esse financiamento sustenta a máquina de guerra que tem o Estado genocida de “Israel” como principal fornecedor, responsável por 17% das armas do Estado. O mesmo arsenal e as tecnologias de guerra colonial experimentadas em Gaza são importados e aplicados nas favelas cariocas:  Assistimos à chegada de drones e agora de helicópteros de guerra como o “Black Hawk”, aeronave armada com mísseis e metralhadoras com capacidade de disparar mil tiros por minuto. Na “Gaza brasileira”, o Estado replica a lógica de guerra colonial e extermínio em massa praticada por “Israel” contra o povo palestino.

Como forma de justificar o massacre, a extrema direita destaca a quantidade de armas apreendidas na operação que até o momento contabiliza 93 fuzis. É importante lembrar que há pouco tempo atrás, em 2019, 117 fuzis NOVOS foram apreendidos na Barra da Tijuca, no apartamento de Alexandre de Souza, amigo de infância do miliciano Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e vizinho do ex-presidente Jair Bolsonaro. O mesmo aparato que assassina dezenas para apreender 93 fuzis na favela, age de forma “discreta” para apreender 117 fuzis novos num bairro de classe alta.

Entre as justificativas que embasam essa operação, é citado que o Comando Vermelho promovia uma “expansão violenta em áreas de milícia”. Tal preocupação ilustra que o Estado adota abordagens distintas para as diferentes facções criminosas, mudando a balança de suas disputas pelos pontos de varejo e beneficiando os setores mais alinhados com as forças policiais paramilitares.

O “NARCOTERRORISMO” COMO PLATAFORMA DE CAMPANHA: QUAIS CORPOS DANÇAM PARA QUE A FESTA DA DEMOCRACIA ACONTEÇA?

Alinhado aos ventos reacionários da política internacional, Cláudio Castro, ecoa a retórica imperialista de Donald Trump que autorizou o bombardeio a barcos na América Latina sob a acusação de “narcoterrorismo”, buscando legitimar a execução sumária de civis sem qualquer tipo de julgamento. O objetivo de Castro com essa ação é nitidamente promover o populismo penal, a fim de criar uma plataforma de campanha para 2026, utilizando as vidas ceifadas como combustível eleitoreiro e demonstrando novamente que aqui o genocídio é um projeto de poder. Os de cima chamam de democracia a matança de quem não dança na sua festa!

Faz parte do teatro eleitoreiro a retórica do “narcoterrorismo”, que pinta a imagem de um inimigo interno preto, pobre, favelado. Mas é importante dizer que a apreensão de alguns quilos de droga e uma matança contra supostos soldados de uma facção sequer arranham a estrutura do verdadeiro crime organizado, que é na verdade administrado pelo grande capital financeiro desde luxuosas coberturas. Pesquisas indicam que o crime organizado faturou R$ 350 bilhões nos últimos três anos no Brasil. Nos últimos meses, investigações escancararam bilhões de reais movimentados no mercado formal (postos de combustível, venda de bebidas, mercado imobiliário, fintechs, dentre outros). Não se trata de uma “infiltração” do crime na economia formal, mas de investimentos ativos do mercado financeiro, que busca lucrar com a economia bilionária dos mercados ilícitos sem sujar as mãos. Não acreditamos de forma alguma que o tráfico e as milícias atuariam da forma como atuam sem o agenciamento e financiamento do Estado e do mercado, que lucram política e financeiramente com a sua existência.

TERRORISTA É O ESTADO!

É ainda mais alarmante que o governador faça um discurso que tente classificar as facções criminosas como grupos terroristas, enquanto nós sabemos que TERRORISTA É O ESTADO! Longe de serem exceções, tais assassinatos exemplificam a regra das ações policiais contra a população negra e pobre do país. Não se trata de políticas de um ou outro governo, mas sim de uma característica intrínseca ao sistema capitalista-estatista na promoção do genocídio do povo negro. Não é possível falar do terrorismo de estado sem levar em conta seu caráter racial – os números demonstram que a grande maioria das pessoas assassinadas pelas polícias são negras – e a instituição policial surge no Brasil justamente como uma ferramenta de Estado para controle e extermínio do povo negro. Terrorista é o Estado que invade casas, executa civis, destrói o patrimônio público e oferece a morte como política pública. Terrorista é o mercado financeiro que lucra com o sangue derramado nas periferias!

A operação no Rio de Janeiro é resultado direto da ação do Estado na ADPF das Favelas. As favelas perderam, e o Estado ganhou. O STF tem responsabilidade nesse processo, assim como o governador. A própria gestão estadual chegou a publicar nas redes sociais que “a operação está sendo realizada cumprindo as exigências da ADPF 635″. O governador comemorou como se houvesse um grande êxito, diante de mais de 120 corpos de pessoas brutalmente assassinadas sem direito a julgamento, de moradores baleados, escolas sem aula, trânsito interrompido e famílias em pânico”. Isso é reflexo de uma política que abocanha o orçamento público e destina seus recursos para financiar o genocídio da população negra e periférica.

É certo que não existem soluções simples para a segurança pública, como vendem os políticos tanto da direita quanto da esquerda institucional. A “sensação de insegurança” das elites e dos setores médios nada mais é do que o medo de perder seus bens ou sua vida na barbárie produzida pelo próprio sistema capitalista. No entanto, as estatísticas não deixam dúvida sobre quem são as verdadeiras vítimas desse sistema: em 2024, 76% das 44 mil vítimas de homicídio no Brasil eram negras. Disfarçada de guerra às drogas, a política genocida é na verdade uma guerra aos pobres, que vitima a juventude negra e periférica, e mantém a população dessas comunidades sob constante ameaça.

Chacinas como a que vivenciamos no Rio de Janeiro demonstram a falência das instituições de Estado em garantir o mínimo que elas mesmas se propõem. Enquanto a população periférica seguir sem moradia digna, saúde, educação e lazer, o ciclo de violência seguirá se perpetuando. Enquanto não avançarmos a descriminalização das drogas, bilhões seguirão indo para o bolso de empresários e políticos ligados ao narcotráfico. É urgente que o debate nos movimentos populares sobre o fim da polícia militar avance para demandar o fim de todas as polícias, que são o braço armado dos poderosos para nos torturar, prender e matar. A verdadeira resposta não se resume a combater a violência, mas a construir um outro projeto de sociedade. Somente a construção de um povo forte é capaz de desmontar esta máquina de morte. A única resposta possível ao terror de Estado é a organização popular das comunidades em autodefesa!

Pelo fim do genocídio do povo negro!

Pelo fim das polícias!

Por vida digna e segura para as vilas e favelas!

cabanarquista.com.br

agência de notícias anarquistas-ana

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.

Guilherme de Almeida

Crime organizado legal pelo Estado: monopólio da violência explícita!

Há tempos que as terras invadidas são palco para a violência desmedida, da repressão aos povos originários, as execuções de rebeldes nas diversas revoltas que tivemos, dos sumiços de corpos no período da ditadura, das incursões policiais nas periferias, onde executam supostas pessoas criminosas.

A manutenção da desigualdade social e econômica precisa de agentes que possam cumprir esse trabalho de repressão e tudo e todos que sejam classificados como criminoso será “neutralizado” ou seja, será preso ou assassinato, conforme o capricho do agente repressor e das ordens que tenha recebido.

Somamos a esse processo de violência, mais uma lamentável megaoperação policial no Rio de Janeiro, em outubro de 2025, resultando em mais de 120 mortes (ainda contando), já a mais letal da história do estado, maior que ao Massacre do Carandiru, onde 111 pessoas foram assassinadas pelo Estado de forma covarde e mais criminosa do que os processos daquelas pessoas apenadas. 

Essa é uma questão importante e inquietante: essas pessoas são pessoas, antes de serem classificadas ou taxadas de bandidas ou criminosas. Daí por serem entendidas como supostas criminosas (ainda estão averiguando se realmente eram todas envolvidas com organizações criminosas), isso dá carta branca para serem assassinadas? 

Sempre tratam as pessoas oprimidas e exploradas como “criminosas”, enquanto o sistema mantém os grupos empresariais, banqueiros, latifundiários e toda a sorte de bandido capitalista dito bem sucedido, “cidadão de bens” bem protegidos para roubarem mais e mais, de cometerem crimes com a anuência do Estado que o protege, o crime organizado legalizado, o que são de fato.

O Estado não falhou em proteger a vida dessas pessoas porque seus agentes não as enxergavam como pessoas, cidadãs brasileiras e sim, pessoas infratoras e por isso podiam ser executadas sem um processo prévio. Lembremos que o Brasil não tem pena de morte institucional, porque não precisa, as execuções são feitas pelas pessoas agentes de segurança pública, principalmente nas periferias e comunidades mais vulneráveis. 

No caso da megaoperação de extermínio, foi focada em reprimir o avanço da facção criminosa Comando Vermelho (CV) nos Complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, gerou intensos confrontos e grande repercussão. Em muitos desses espaços, há que considerar as forças de milicianos (policiais e militares que se fazem de justiceiros, mas que de fato, são organizações criminosas associadas às forças de repressão). Dependendo da situação, é muito possível que essas milícias assumam os espaços deixados pela megaoperação.

O número de mortos durante a operação varia em diferentes relatos, mas a contagem mais alta chegou a 121 pessoas (entre supostos criminosos e militares). Moradores relataram ter retirado dezenas de corpos de uma área de mata nos complexos. Isso porque as forças repressivas violaram todas as regras sobre essa situação, de acionar a perícia técnica, o IML e todo o protocolo quando há pessoas mortas. A comunidade vítima das organizações criminosas (a legal e ilegal) fez o pape de trazer das matas, dezenas de corpos, muitos nus e com sinais de tiro na nuca e rosto, indicando terem sido executadas de pronto.

Houve prisões de dezenas de suspeitos, incluindo criminosos de outros estados. Também houve uma grande apreensão de armamento, principalmente fuzis. A operação visava prender líderes do Comando Vermelho e combater o avanço territorial da facção. No entanto, um dos chefes, conhecido como Doca, conseguiu fugir.

Essa chacina do crime organizado legal causou comoção e protestos entre moradores e ativistas de direitos humanos, que questionaram a letalidade da ação. O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir acesso aos dados da perícia dos corpos para investigar possíveis irregularidades. Por outro lado, muitas pessoas tem elogiado esse massacre, por esquecerem de que atrás de uma criminosa, há uma pessoa. Nos dias seguintes, a população viveu momentos de medo de possíveis retaliações, com comércio e escolas vazias em algumas áreas. 

Os crimes do Estado para que possa se manter e sustentar o sistema continuará, esses episódios são necessários para o controle social, base para a manutenção das desigualdades sociais e econômicas às quais somos submetidas.

anarkio.net

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/29/gaza-e-o-rio-de-janeiro-gaza-e-o-mundo-inteiro/

agência de notícias anarquistas-ana

A raiz quebra o cimento
com a paciência feroz
dos oprimidos.

Liberto Herrera

[Itália] 4 de novembro: Desertamos todas as guerras

Falar sobre 4 de novembro hoje, sobre nossa oposição ao militarismo, à retórica e à propaganda que justificam as guerras, significa necessariamente confrontar também a forte oposição social à guerra que recentemente vimos crescer nas praças.

Nestes meses, milhões de pessoas se mobilizaram impulsionadas pela ação da Global Sumud Flotilla, pelas imagens do genocídio em Gaza, contra a guerra e o apoio que o governo italiano deu à agressão pelo Estado de Israel.

Trata-se de um movimento diverso, no qual se reuniram antimilitaristas com expoentes de movimentos pacifistas e não violentos e até mesmo de igrejas. Junto a eles, mobilizaram-se inúmeras pessoas que nunca são vistas em manifestações, um sintoma de um descontentamento e de uma oposição à guerra profundamente enraizados nas massas populares, juntamente com a desconfiança na ação do governo e das oposições parlamentares, e com a vontade de fazer algo concreto contra o horror que nos rodeia. E algo concreto foi feito, com os bloqueios que paralisaram grande parte do país e que tiveram repercussões também no exterior.

É, sem dúvida, um movimento heterogêneo, que escapa aos organismos sindicais e políticos que pretendem representá-lo e que, com suas narrativas, buscam dar uma visão distorcida, como se fosse um movimento motivado apenas pelo pedido de respeito ao direito internacional, pelo reconhecimento do Estado da Palestina, por uma guinada na política externa da Itália.

Na realidade, o ponto de partida deve ser a vontade de ir às ruas fora das siglas de partidos, sindicatos ou centros sociais, é a prática da ação direta e da auto-organização que frequentemente marginalizou os “chefinhos” dos sindicatos, das listas eleitorais e dos centros sociais que pretendiam dirigir o movimento.

Dentro deste percurso, o questionamento da produção e do tráfico de armas assumiu um papel central como objetivo de luta, para além das mediações institucionais habilmente executadas por alguns sindicatos, assim como um fator importante foi a solidariedade espontânea expressa na enorme quantidade de ajuda reunida pela Flotilla.

Impossível, portanto, reduzir este movimento a um movimento de apoio ao nacionalismo palestino e em particular às tendências islamistas em seu interior, elementos estes que, no entanto, estão presentes. É certamente mais interessante lê-lo também como um movimento que expressa um novo protagonismo da classe operária e do conjunto das trabalhadoras e dos trabalhadores, capaz de expressar a solidariedade internacionalista para além das fronteiras a uma população martirizada.

Saber captar os elementos positivos e trabalhar sobre eles para reduzir a influência dos aspectos negativos é a tarefa da componente francamente e conscientemente antimilitarista: por isso é importante estar presente dentro do movimento. A crítica antimilitarista deve se relacionar com os novos fenômenos, como este movimento, para se expandir a outras camadas sociais, com presença nas assembleias e coletivos, evitando que sejam dominados por forças que nada têm a ver com o antimilitarismo.

O 4 de novembro é uma oportunidade para uma intervenção desse tipo. O que o exército israelense faz hoje em Gaza, o exército italiano fez na Eslovênia e Croácia, na Líbia com o extermínio dos Senussi, na Etiópia, na Espanha com os bombardeios indiscriminados de Barcelona e outras cidades republicanas. O exército italiano de hoje é sempre aquele que em 1898 metralhou os famintos ou que, no dia seguinte a 25 de julho de 1943, atirou sobre os manifestantes que pediam o fim da guerra.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, não houve nenhuma solução de continuidade, a ponto de, ainda hoje, se celebrarem as batalhas da guerra imperialista fascista, assim como ruas, escolas e edifícios públicos recebem os nomes dos massacradores fardados.

O 4 de novembro é a festa de tudo isso, é um momento de propaganda institucional da ideologia da violência, do militarismo. A ideologia militarista da dissuasão e da competitividade é a que está por trás do genocídio de Gaza e dos mil genocídios espalhados pelo globo; a guerra nas cidades foi tema de uma doutrina específica elaborada pela OTAN nos últimos anos, da qual a operação “Strade Sicure” é apenas a primeira etapa. E a guerra nas cidades é, em primeiro lugar, guerra contra a classe operária, para submetê-la ao domínio dos governos e dos patrões.

Eis, portanto, que a contestação das cerimônias oficiais do 4 de novembro fornece ao movimento como um todo a ocasião para dar um passo adiante, sob o impulso da crítica antimilitarista, rumo à abertura de um processo de transformação social, sem enclausurar o movimento que recentemente se desenvolveu na perspectiva mesquinha de uma lista eleitoral para 2027.

Tiziano Antonelli

Fonte: https://umanitanova.org/4-novembre-disertiamo-tutte-le-guerre/

Tradução > Liberto

Nota:

No dia 4 de novembro, a Itália celebra o Dia da Unidade Nacional e das Forças Armadas. A data comemora o fim da Primeira Guerra Mundial. As celebrações incluem eventos cívicos e cerimônias militares, como a principal em Roma no Altar da Pátria, com a presença do presidente italiano e o depósito de uma coroa de flores no Túmulo do Soldado Desconhecido.

agência de notícias anarquistas-ana

A mesma paisagem
escuta o canto e assiste
a morte das cigarras

Matsuo Bashô

Palestina: Kyriakos Xymitiris, presente!

Um ano após a perda de nosso amigo e camarada, o guerrilheiro anarquista Kyriakos Xymitiris, queremos manter viva sua memória revolucionária e expressar nossa solidariedade com as companheiras anarquistas presas Marianna Manoura, Dimitra Zarafeta e os demais perseguidos no mesmo caso.

A ação revolucionária de Kyriakos esteve sempre ao lado das pessoas oprimidas e condenadas pelo estado e pelo capital, assim como daquelas que resistem à lógica do sistema patriarcal, do racismo e do colonialismo.

Com nossos pensamentos voltados a ele, pintamos estencils de seu rosto junto aos nomes de Marianna e Dimitra no muro do apartheid: um muro que mina e ameaça as vidas dos palestinos, e que, ao mesmo tempo, revela os sinais da resistência, os sinais do fogo e carrega os gritos por um mundo livre entre os rostos de tantos que deram suas vidas pela justiça. É ali que está o sorriso de Kyriakos, olhando para nós.

Chegará o momento em que todos os muros cairão! Todas as pessoas serão livres!

Solidariedade internacionalista com os perseguidos do caso Ampelokipi!

Kyriakos Xymitiris, presente!

Todos e todas à marcha pan-helênica de memória e luta: 31/10/25, às 18h30, nos Propileus de Atenas.

A n a r q u i s t a s

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1638192/

Tradução > Contrafatual

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/30/grecia-tres-dias-de-memoria-e-luta-pelo-companheiro-kyriakos-xymitiris-e-pela-causa-de-ampelokipoi/

agência de notícias anarquistas-ana

Greve na fábrica:
as máquinas paradas
sonham com selvas.

Liberto Herrera

[Espanha] SAC Syndikalisterna: “A ideia generalizada é que a Suécia é um país com direitos sindicais consolidados. No entanto, a realidade é muito diferente, especialmente para as trabalhadoras migrantes”

Agnes, David e Pamela são companheiros da SAC Syndikalisterna, uma organização anarcossindicalista com sede em Estocolmo com a qual a CGT mantém uma relação muito importante há anos. Alguns dias atrás, eles viajaram até Barcelona por ocasião de um encontro sindical organizado pela Federação de Hotelaria e Comércio da CGT. Lá foi apresentado o livro “Algo Aconteceu. Cem histórias do novo mercado de trabalho”, uma coletânea de depoimentos reais de trabalhadores migrantes sobre suas experiências laborais nesse território escandinavo. Antes de retornar a Estocolmo, decidiram passar pela sede confederal em Madrid. Aproveitamos a oportunidade para fazer-lhes algumas perguntas sobre seu trabalho e sobre a situação da classe trabalhadora na Suécia, especialmente daqueles que migram para lá com a esperança de ter uma oportunidade de construir um futuro melhor.

Na Suécia, como nos diz Agnes, o idioma é uma barreira. Por isso, a SAC tem se preocupado muito em editar todas as informações relevantes sobre direitos trabalhistas em vários idiomas. “Por experiência, já que cheguei à Suécia há mais de quinze anos, sei o que isso significa. Se uma pessoa migrante começa a trabalhar e não conhece o marco legal do país, ela fica exposta a sofrer abusos desde o primeiro momento”, explica Paola. “Além disso”, acrescenta Agnes, “as políticas do Estado sueco não estão focadas nas pessoas migrantes que chegam para ganhar a vida. É habitual que ocorram situações de exploração extrema que, apesar de serem levadas ao conhecimento das autoridades, não têm solução e quem sai perdendo é o trabalhador ou a trabalhadora estrangeira”.

E a sociedade sueca, de um modo geral, tem um grande desconhecimento das situações que muitas pessoas trabalhadoras, especialmente as de origem estrangeira, vivem em seus locais de trabalho. A SAC, em concreto, considera que seria muito necessário abrir um debate sobre isso na sociedade, embora isso ainda não tenha acontecido ou as condições adequadas para que se realize com verdadeira intenção de analisar os problemas e buscar soluções para eles ainda não tenham sido dadas.

Por tudo isso é que o trabalho do grupo de trabalho da SAC, do qual Agnes, David e Pamela fazem parte, é necessário. “Realizamos um acompanhamento de verdade. Ajudamos a entender a situação em que uma pessoa trabalhadora pode se encontrar em um país que não é o seu, com outras leis e outros direitos, com uma burocracia em outro idioma”, diz Agnes. Parte desse trabalho é gerenciar os casos de abusos trabalhistas, que são mais comuns do que as pessoas imaginam. “Na maioria das vezes, são denúncias de não pagamento do salário por parte do empregador”, comenta David. “Nos reunimos e vamos até a porta da empresa e realizamos uma concentração para pressionar e conseguir que ela pague o salário ao trabalhador. Às vezes avisamos a mídia, embora eles só venham quando querem”.

O que David nos explica é um exemplo de “ação direta”, embora na Suécia não seja necessário avisar as autoridades para realizar uma concentração espontânea dessas características. Este é um dos princípios da SAC, recolhidos em uma declaração aprovada em 2022 em seu 33º Congresso. Para a SAC, as pessoas têm que se envolver diretamente nos problemas que as afetam e tomar decisões por si mesmas na busca de soluções. É o que na CGT resumiríamos em “Se ninguém trabalha por você, que ninguém decida por você”. E apesar da pouca repercussão que na maioria dos casos essas ações têm na mídia, eles consideram que são fundamentais como método de pressão. Nesse sentido, perguntamos sobre o papel que a imprensa desempenha quando se trata de dar a conhecer situações de abusos trabalhistas. Agnes explica que a mídia, em geral, “evoluiu — para o bem — na Suécia, no que diz respeito a dar cobertura a essas histórias”. E ela cita o exemplo, recolhido no livro que apresentam, de uma trabalhadora migrante chamada Idania. A moça havia começado a trabalhar como faxineira na casa de um ministro, através de uma empresa de serviços de limpeza doméstica. Um dia, um alarme da casa fez com que a polícia chegasse à residência. Lá encontraram Idania, que foi detida e transferida para um centro para migrantes. Tanto o ministro quanto a empresa para a qual Idania trabalhava divulgaram na mídia que a mulher havia sido contratada por um subcontratado, para não assumir a realidade de que todos conheciam a situação da mulher. A SAC consegue, através dos tribunais, que Idania receba o salário que lhe era devido. No entanto, ela é expulsa do país.

“A classe política sabe perfeitamente em que condições estão muitas pessoas indocumentadas na Suécia, e também a classe empresarial. É um sistema que os beneficia, mesmo sabendo da dor, da insegurança, da precariedade e da exploração sobre as quais se sustenta”, explicam Agnes e David. “Por isso sempre enfatizamos, para as pessoas que se unem a nós e chegam novas, e para as que já militam há tempo, que a única maneira de reverter ou, pelo menos, de enfrentar esses abusos é nos organizando como trabalhadores e trabalhadoras”, acrescenta Pamela. Além disso, nossos companheiros estão convencidos de que a militância, uma vez que a pessoa em questão foi protagonista de um caso de abuso trabalhista, é o que motiva, por sua vez, mais gente. É, sem dúvida, uma maneira de se integrar na sociedade em um país onde o idioma, como nos explicaram no início, é uma barreira a ser considerada.

Queremos saber mais sobre a burocracia administrativa na Suécia em relação às pessoas trabalhadoras migrantes. Agnes nos diz que os primeiros dois anos desde que uma pessoa chega à Suécia ela pode trabalhar em um emprego específico, que é precário e sem garantias de quase absolutamente nada. Cria estresse, cansaço físico — como no caso de Idania, que trabalhava o dobro de horas e recebia um salário pela metade delas. “Isso afunda moralmente um ser humano, faz com que ele se sinta totalmente sozinho e perdido”. E existe “asilo político”? As companheiras da SAC explicam que é muito complicado, para não dizer impossível, conseguir ser aceito com essa consideração na Suécia. Na prática, não existe como tal. “Há algum tempo não era tão complicado, nem as condições eram tão estritas, e uma pessoa migrante podia passar de ter asilo político a uma permissão de trabalho com condições laborais mais dignas. Agora não é assim, e de fato o governo até pretende retirar a permissão de residência permanente, chegando a retirar a nacionalidade”. Atualmente, o primeiro-ministro da Suécia — que como Estado é uma monarquia parlamentar — é Ulf Kristersson (1963), que pertence ao Partido Moderado (Os Moderados), de tendência neoliberal e conservadora.

A realidade das pessoas migrantes na Suécia, como podemos comprovar enquanto escutamos as companheiras da SAC, é quase a mesma que enfrentam todos os migrantes em muitos outros Estados do chamado “primeiro mundo”. As pessoas que chegam aos nossos territórios, algo que no Estado espanhol conhecemos muito bem através da Fronteira Sul, o fazem com o objetivo de poder ter uma oportunidade de uma vida mais digna. Sobreviver não é um crime, explorar e se aproveitar da vulnerabilidade desses seres humanos, sim. No entanto, é raro o dia em que não tomamos conhecimento de algum caso de exploração laboral ou da morte de algum trabalhador que, em condições de total desamparo, sofreu um acidente enquanto ganhava a vida. Na Suécia, nos explica David, “os empresários, aproveitando as regras do jogo do sistema, são inclusive os primeiros que chamam os ‘serviços’ de imigração quando querem se livrar de uma pessoa trabalhadora de origem migrante. Eles fazem isso porque conhecem desde o primeiro momento as circunstâncias desse trabalhador. As pessoas migrantes temem ser expulsas e, diante dessas situações, muitas vezes, demoram mais tempo para se atrever a denunciar ou contar o que lhes acontece”.

Gabinete de Imprensa do Comitê Confederal da CGT / Secretaria de Relações Internacionais da CGT.

Fonte: https://cgt.es/sac-syndikalisterna-la-idea-generalizada-es-que-suecia-es-un-pais-con-derechos-sindicales-consolidados-sin-embargo-la-realidad-es-muy-diferente-especialmente-para-las-trabajadoras-migrant/ 

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Quase escondida
entre a casca e o tronco
teia de aranha.

Rodrigo de Almeida Siqueira

No Equador, o neoliberalismo se impõe pela força

Reportagem • Ana Sofía Armand e Lisbeth Moya González • 23 de outubro, 2025

“Não somos terroristas. Somos milenares”. Assim versa um logo do Aya Huma que circula desde algumas semanas no entorno digital equatoriano.

O Aya Huma é uma figura ancestral que na cosmovisão andina representa guia, sabedoria e fortaleza. No contexto do paro nacional que começou na quinta-feira, 18 de setembro de 2025, toma novos significados.

Aparece com a cara coberta como o fazem os manifestantes para proteger sua identidade e seu rosto das bombas de gás lacrimogêneo. O lema que o acompanha é uma resposta popular à tentativa do governo de Daniel Noboa de criminalizar o protesto e a resistência.

Também denuncia a persistência do racismo estrutural e a exclusão histórica dos povos indígenas, muito mais quando se trata de contextos como este.

“Em cada paro se abre esta caixa de Pandora de ressentimentos, de racismo que existe dentro de diferentes pessoas, assim como também aflora todo o descuido que como governo tem tido com os setores sociais”, descreve Lisbeth Aguilar, advogada kichwa otavalo durante uma entrevista virtual com Ojalá.

O Equador não é um país que tolere ditadores: presidentes como Abdalá Bucaram, Jamil Mahuad ou Lucio Gutiérrez foram derrubados em 1997, 2000 e 2005 respectivamente. E o protesto tem sido fundamental para a derrubada de governos.

Desde a chegada ao poder de Lenin Moreno, ocorreram três paros nacionais: o primeiro em outubro de 2019 durou quase duas semanas e deixou um saldo de ao menos 12 mortos. Conseguiu a revogação do Decreto 883 que eliminava o subsídio aos combustíveis. O segundo aconteceu em junho de 2022 e deixou ao menos sete vítimas letais. Buscava também revogar aumentos de preços nos combustíveis, assim como a revisão de políticas econômicas e de segurança.

O terceiro paro nacional neste ciclo de mobilização foi convocado pela Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) e começou em 22 de setembro de 2025 em rechaço às políticas do governo de Daniel Noboa, particularmente pela eliminação do subsídio ao diesel, entre outras.

O paro nacional no Equador acaba de ser suspenso em 22 de outubro, um mês depois de que começou.

“Ante a brutal repressão ordenada pelo Governo de #DanielNoboa, com três falecidos e dezenas de feridos, tomamos uma decisão difícil, mas necessária: a suspensão do #ParoNacional2025, a desobstrução das vias e a retirada para os territórios para proteger a vida de nosso povo”, afirmou a CONAIE em comunicado oficial.

Não obstante, algumas organizações indígenas, entre elas a União de Organizações Indígenas e Camponesas de Cotacachi (UNORCAC) desconhecem essa decisão e continuam em resistência.

A crise no Equador não cessou desde a posse presidencial de Daniel Noboa, que começou com uma escalada de violência do crime organizado em que declarou conflito interno armado e foi marcada pela crise energética. 

Os protestos do paro nacional se desenvolveram em todo o país, com epicentros, sobretudo em Imbabura, Cotopaxi, Pichincha e Cuenca, onde se registraram bloqueios, marchas e enfrentamentos com as forças da ordem.

Como foi o mês de paro no Equador?

A plataforma de monitoramento de violências durante o paro nacional Persecución Ecuador reporta que, até 18 de outubro de 2025, o dia 27 do paro, tinham se registrado 117 casos de repressão, entre eles três supostas execuções extrajudiciais, 38 lesões e 57 eventos de detenções.

A repressão estatal adotou múltiplas formas, entre elas: o assédio financeiro mediante o bloqueio de contas de líderes sociais, os ataques a jornalistas durante coberturas informativas, o bloqueio de sinal de Internet durante episódios de violência estatal e a deportação de um jornalista estrangeiro.

Aconteceram também detenções arbitrárias e diversas formas de uso excessivo da força, como disparos de bala e emprego de gás lacrimogêneo em grandes quantidades causando a morte de uma pessoa da terceira idade por sua inalação e afetando cidadãos não envolvidos no paro.

Outras das formas em que se manifesta a criminalização é a intimidação e fechamento de meios de comunicação, a entrada em centros médicos para impedir o atendimento dos feridos, e a militarização da Universidade Central do Equador (UCE).

O mapeamento da resistência informa que até 15 de outubro de 2025, contabilizou 547 ações coletivas, entre elas se contam vigílias, ações simbólicas, marchas, fechamento de vias, plantões, assembleias e panelaços.

Neste contexto, a violência dos corpos do Estado foi inegável. Circula no entorno digital, por exemplo, o vídeo do assassinato do comuneiro de Cotacachi, Efraín Fuérez, no qual os militares armados o golpeiam já ferido de morte no chão a ele e a um companheiro que foi socorrê-lo.

Resistências diversas

O paro teve a particularidade de se manter principalmente em territórios indígenas. Quito, a capital, se manteve parcialmente periférica, como expressa Jess Caiza, estudante da UCE.

“A resistência em território demonstrou que Quito não tem poder de convocatória, e o mais importante é que evidenciaram o racismo ainda muito presente, pelo que não pudemos manter o paro desde nosso lugar: a cidade”, explica Caiza na proximidade da UCE pouco antes de acompanhar seus companheiros no protesto.

Na noite de 15 de outubro, a UCE foi tomada por militares, violando a autonomia universitária. Ainda assim, os estudantes continuaram sua jornada de manifestações no dia seguinte.

O frio é constante em Quito. Chove e o gás lacrimogêneo afeta mais. Durante o último mês, nas esquinas se viam rapazes muito jovens assoprando tabaco na cara do compa gaseado para aguentar a dor. Não se distinguia entre a neblina e o gás, mas a ação estudantil persistiu.

“Realizamos vários plantões na Plaza Indoamérica, em frente à Universidade; esses plantões nos permitiram fechar as ruas e manter as vias bloqueadas durante horas, sempre desde a música e as expressões artísticas”, diz Caiza. “Também organizamos ações culturais, panelas comunitárias e espaços infantis”.

“El que no salta es de cartón” (Quem não pula é de papelão), o verso da banda equatoriana Mugre Sur que esteve presente nos protestos do paro nacional. A canção é uma crítica frontal à gestão de Daniel Noboa e uma piada ao uso de figuras de papelão em tamanho real durante sua campanha presidencial.

Os artistas teceram redes de manutenção do protesto mediante o uso da arte na rua como ferramenta de denuncia e sensibilização. Mas esta luta é anterior a setembro de 2025.

“Quando Daniel Noboa uniu os ministérios de Educação, Cultura e Patrimônio e Esporte, com o decreto Número 60, nós artistas atuamos em nosso papel de sair às ruas e realizar diversas ações para expressar nosso rechaço a uma medida que precariza ainda mais nossos meios de vida”, explica a Ojalá, sob o pseudônimo de Minotauro, uma artista que pela perseguição estatal decidiu permanecer no anonimato.

Nossa fonte explicou que diferentes artistas se articularam com as comunidades e em especial com a UNORCAC. Acolhem também as lutas dos que defendem seus territórios de projetos mineradores auspiciados pelo governo em Imbabura, Las Naves, Palo Quemado, Quimsacocha e Fierro Urco.

Assembleias transfeministas de cara ao estado

As redes de apoio desde a sociedade civil abarcaram setores em luta permanente, incluindo a Assembleia Transfeminista. Ojalá conversou com diversos membros de dita organização, que manteve a coleta e a entrega de doações em aliança com lideranças de várias comunas de Imbabura e em coordenação com centros culturais, organizações e cidadãos que colaboraram com provisões e transporte.

“Esta coleta busca romper as lógicas assistencialistas e reativar a solidariedade de classe, compreendendo o cuidado como um princípio na construção ampla da luta”, explicam companheiras da Assembleia Transfeminista. Estiveram pondo o corpo nas ruas, pelo que puderam falar de forma anônima e coletiva.

O papel da Assembleia Transfeminista vai mais além do apoio logístico, o protesto e a contenção. Gerou alianças em Quito para manter assembleias a cada quinta-feira junto a outras organizações, no contexto da dissolução de ministérios e os retrocessos do governo.

Nestes espaços é livre o uso da palavra, buscam-se soluções coletivas a tensões sociais e articula-se o protesto para manter processos coletivos em longo prazo.

Enquanto o governo de Noboa se fecha ao diálogo, criminaliza e reprime com bala diversos setores — indígenas, feministas, estudantes, artistas e sociedade civil em geral —, estes continuam articulando ações coletivas que buscam visibilizar suas demandas e manter os espaços de ação em todo o país.

O clima político dos próximos meses permitirá observar se estas formas de coordenação e resistência, além do paro nacional, conseguem incidir na agenda política nacional ou abrir novos caminhos de diálogo entre a sociedade civil e o Estado.

Em meio de tanta dor também emerge a beleza: mulheres indígenas enfrentando o militar armado, estudantes cuidando do companheiro do gás, pessoas entregando alimentos cultivados com suas mãos na chácara, curando os feridos com medicinas ancestrais, comuneiros que cantam e sapateiam em círculo em meio da manifestação como se do Inti Raymi — a festa mais importante da cosmovisão andina — se tratasse. Isso foi o paro, um canto coletivo de resistência à dor.

Fonte: https://www.ojala.mx/es/ojala-es/en-Ecuador-el-neoliberalismo-se-impone-por-la-força

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

folia na sala
no vaso com flores
três borboletas

Alonso Alvarez

[Grécia] Adeus, Christaras

Todas as noites passam como um filme, onde tudo o que vivemos é projetado no pano de fundo da praça. Todas as noites que passo aqui, sempre vou embora antes de ficarmos a sós, nunca assisto ao final.

Terça-feira, 7 de outubro. Mais uma notícia triste, mais um dia que nos deixa congelados. Nosso camarada, nosso Christaras, nosso XR, nosso eterno combatente das ruas, partiu para sempre.

O camarada Christos Spilios, figura nascida da juventude metropolitana e do movimento anarquista em ascensão, esteve desde 1990 do lado justo das barricadas. Participou continuamente e com todo o seu ser em todas as formas de luta: da solidariedade com os presos políticos, quase sempre era Christaras quem “dava o pontapé inicial na paixão”, e em tantas fotos de camaradas acorrentados lembramos de seu punho erguido acompanhando seus sorrisos, do antifascismo militante e de rua, das lutas por sua amada Exarchia, até as mobilizações contra a guerra. Nos últimos dois anos, o keffiyeh palestino havia se tornado parte inseparável de seu corpo.

Christos sempre esteve aqui, com sua loucura, com seu sorriso, e até com seus demônios, que ele sempre driblava.

Christos sempre esteve aqui para bater no ombro de cada camarada quando era preciso.

Nosso Christaras, que a cada novembro iniciava a evocação de nossos camaradas mortos e gritava “Presente!”

Então, nosso Christaras, neste novembro, na sua esquina favorita, entre Stournaris e Bouboulinas, gritaremos com paixão:

CHRISTOS SPILIOS SEMPRE PRESENTE!

Fundo de Solidariedade aos Lutadores Presos e Perseguidos

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1637928/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

No clube burguês,
o champanhe tem gosto
de suor alheio.

Liberto Herrera

O Santo do Pau Oco

Tecendo Caminhos à Revolução Ecológica

Em Belém, trabalhadores são explorados e partes da Amazônia devastadas para receber a COP30, a cúpula anual do clima patrocinada pela ONU. Há 30 anos, líderes governamentais, cientistas, grandes ONGs e corporações de todo o mundo afirmam que vão resolver o problema, mas ele só piora. Não surpreende, porque as instituições que tentam monopolizar as soluções são as mesmas que causam o problema, destruindo nossos ecossistemas, nos explorando, cortando nossos serviços de saúde e colocando em risco nosso acesso a alimentos, moradia, ar puro e água.

Não temos o luxo de confiar neles nem mesmo por mais um dia.

Em novembro, enquanto os ricos e poderosos se encontram e fazem acordos, uma rede anticolonial com ramificações em todo o mundo se unirá ainda mais. Anarquistas lutando nas cidades por moradia, saúde e transporte gratuito e contra o autoritarismo que destruiu revoluções anteriores. Comunidades rurais que fugiram da pobreza extrema nas cidades, sobreviventes do colonialismo e da diáspora africana, retomando terras das garras do agronegócioe de outras indústrias extrativistas, curando-as, cultivando seus próprios alimentos e, então, compartilhando-as por meio de suas redes em expansão. Povos indígenas que chamam a Amazônia de lar, que a defendem, que cuidam da floresta e dos rios e nunca perderam as formas ecossistêmicas de organizar suas comunidades.

Queremos fortalecer nossos laços e aprender uns com os outros. Queremos mostrar ao mundo que toda nós podemos nos desconectar desta Máquina que destrói a vida. Queremos deixar claro que o Estado, capitalistas, especialistas, as grandes instituições de caridade não vão nos salvar desta enorme crise que eles causaram. E queremos disseminar exemplos de como é uma mudança real, para que pessoas em todos os lugares possam apoiar tais iniciativas em suas próprias regiões ou iniciar novos projetos e se juntar a esta rede crescente, uma rede que não é um Partido ou uma organização única. Não queremos que vocês abram mão de sua autonomia, de seu pensamento crítico, de sua história. Queremos conversar com você, para que possamos aprender umas com as outras e apoiar uns aos outros em um espírito de solidariedade e ajuda mútua.

Para isso, precisamos da sua ajuda: pagando o transporte enquanto cruzamos as fronteiras que nos separam. Pagando a alimentação básica enquanto alguns de nós pegamos a estrada para encontrar novos amigos e aprender sobre projetos e lutas de São Paulo a Belém, distâncias de milhares de quilômetros. Pagando equipamentos que nos ajudarão a dar entrevistas e a produzir documentários sobre o que estamos aprendendo. E trazendo recursos para projetos que possam inspirar resistência ao redor do mundo.

Doe o que puder. Compartilhe com amigos. E quando os artigos, entrevistas, podcasts e vídeos deste projeto começarem a sair nos próximos meses, por favor, ajude-nos a divulgá-los e traduzi-los!

>> Apoie aquihttps://www.firefund.net/pathstoecorevolution

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Escudo de papel:
as leis são frágeis diante
de um poema em brasa.

Liberto Herrera

[Grécia] Três dias de memória e luta pelo companheiro Kyriakos Xymitiris e pela causa de Ampelokipoi

Um ano após a explosão na rua Arcádia em 31/10/2024, que teve como trágica consequência a perda do combatente armado e nosso querido companheiro Kyriakos Xymitiris, mas também a prisão de nossos companheiros/as, honramos sua memória e lutamos pela libertação de todos/as que estão presos/as nas celas da democracia.

Na quinta-feira, 30/10, às 18h00, na Universidade Panteion, será realizado um evento com o tema Memória Revolucionária e a apresentação de um livro com casos de combatentes que caíram lutando de forma semelhante. No evento participarão companheiros/as do exterior com experiências parecidas.

Na sexta-feira, 31/10, às 18h30, convocamos uma marcha no centro de Atenas em memória do combatente armado Kyriakos Xymitiris e contra as perseguições e prisões preventivas de companheiros/as que ocorreram com motivo da explosão em Ampelokipoi.

No domingo, 02/11 (em horário a ser anunciado posteriormente), será co-organizado com a família e seus próximos, o memorial político do companheiro no cemitério de Maroussi.

KYRIAKOS XYMITIRIS UM DE NÓS – UM COMPANHEIRO PARA SEMPRE NAS RUAS DE FOGO

LIBERTAÇÃO IMEDIATA DAS COMPANHEIRAS MARIANNA MANOURA, DIMITRA ZARAFETA, DOS COMPANHEIROS DIMITRI E NIKO ROMANOS E DO A.K.

Os estados são os únicos terroristas. Solidariedade aos guerrilheiros armados.

Assembleia de Solidariedade às Companheiras e aos Companheiros Presos, Fugitivos e Perseguidos

Conteúdos relacionados:  

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/15/grecia-para-o-camarada-kyriakos-xymitiris/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/02/17/alemanha-manifestacao-selvagem-em-memoria-de-kyriakos-xymitiris/
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/11/19/grecia-o-anarquista-nikos-romanos-foi-preso-no-contexto-da-perseguicao-policial-apos-a-morte-de-kyriakos-xymitiris/  

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O jantar chique: máscaras
de prata sobre a podridão
do lucro fácil.

Liberto Herrera

[Itália] Viva a FAI!

Já passou uma semana desde o Congresso de estudos organizado para celebrar os oitenta anos da constituição da Federação Anarquista Italiana (FAI). Um congresso em memória de Italino Rossi, companheiro federado que nos deixou há um ano. A organização deste evento fazia parte daquela promessa de levar adiante os valores que nos uniram no percurso de vida compartilhado.

Italino, com sua cultura e sua viva paixão pela história, certamente teria apreciado as várias intervenções que se sucederam no pequeno auditório do Teatro Animosi. Nas falas — políticas, históricas e culturais — houve emoção, lágrimas de alegria, mas também lágrimas de “militância”, daqueles que acreditaram e ainda acreditam em um percurso político que já completa oitenta anos.

É um belo número, mas a atualidade do pensamento anarquista e o renovado fervor das praças nos rejuvenescem e nos projetam em novas lutas com a maturidade e as características intrínsecas da Federação: internacionalismo, antiautoritarismo, solidariedade.

Muito empenho na organização, pois nos importava especialmente o sucesso desses dois dias para os companheiros e companheiras que vieram a Carrara e para toda a Federação. Sempre bonito e enriquecedor o confronto e o diálogo com as companheiras e os companheiros, ao compartilhar o Congresso e a convivência dos eventos que o rodearam.

Gratificante o agradecimento recebido dos trabalhadores do auditório do Teatro Animosi, dos técnicos de áudio e vídeo e dos restauradores de Carrara.

Concluo agradecendo aos palestrantes, moderadores, músicos e artistas gráficos, estendendo esse agradecimento a todos e todas os companheiros e companheiras que, com seu empenho, tornaram possível o sucesso deste fim de semana em tons vermelho e preto.

Manu’, pelo grupo Germinal

Fonte: https://umanitanova.org/evviva-la-fai/

Tradução > Liberto

Conteúdos relacionados:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/17/italia-anarquia-uma-ideia-sempre-nova-carrara-80-federacao-anarquista-italiana/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/10/10/italia-vontade-de-anarquismo/

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Sol de primavera —
O despertar das flores
É quase um sussurro.

Paulo Ciriaco

[EUA] Mumia Abu-Jamal é uma vítima, mas não só isso – é um objetivo

Por Mike África Junior | 21-10-2025

O objetivo do departamento de polícia mais violento da história deste país. A única cidade que lançou uma bomba sobre pessoas inocentes e crianças inocentes. O mesmo sistema que celebrou sua brutalidade sob o punho de ferro de Frank Rizzo, um homem que levava o racismo como uma medalha de honra.

Mumia não teve nenhuma oportunidade em seu julgamento, porque nunca foi um julgamento. Foi um linchamento com um martelo. O juiz Albert Sabo nem sequer tentou ocultá-lo. Ele disse em voz alta: “Vou ajudá-los a fritar o negro“.

Isso não é justiça. É genocídio com papelada.

A Filadélfia construiu seu poder destroçando os corpos das pessoas negras e silenciando os que falavam demasiado alto. E a voz de Mumia – aguda, intrépida, revolucionária – ameaçava em trazer à luz todas as suas camadas podres.

Não podiam igualar seu intelecto, assim que o fecharam em uma jaula.

Liberdade a Mumia!

Fonte: https://desdedentro.noblogs.org/post/2025/10/23/ee-uu-mumia-abu-jamal-es-una-victima-pero-no-solo-eso-es-un-objetivo/

Tradução > Sol de Abril

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Lua de primavera
Revela-me teus segredos
Há anos te conto os meus

Pésce Roizenblit

Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.

Por Raúl Zibechi | 29/10/2025 | Uruguai

Não há palavras suficientes para descrever o horror que nos causa o massacre de mais de 130 jovens negros pobres assassinados pela polícia do Rio de Janeiro, com a desculpa de atacar o narcotráfico.

Foi uma operação de guerra urbana em que o governo do estado mobilizou 2.500 policiais militares armados para a guerra, além do envio de blindados e helicópteros para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com forte concentração de população pobre. São dois conjuntos de favelas com mais de 150 mil habitantes, com uma enorme densidade populacional.

O governo do Rio disse que houve 60 mortos, mas a população das favelas levou às praças mais de 50 corpos que não constavam na contagem oficial, deixando dúvidas sobre quantos foram assassinados. Até agora, o número ultrapassa 120.

As reações não se fizeram esperar, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que se dizem “horrorizadas” com o massacre. Além dos dados, há fatos relevantes.

O genocídio palestino em Gaza é o espelho onde devemos nos olhar, nós, povos e pessoas oprimidas do mundo. Para os que estão no topo, abre-se um período de caça indiscriminada à população “excedente”, porque têm garantida a impunidade. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos e todas. Pode ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wall Mapu; talvez a montanha de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos e todas estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular mais rapidamente.

Dizem narcotraficantes com a mesma insensibilidade com que matam palestinos, mapuches ou maias. São apenas desculpas. Argumentos para as classes médias urbanas. Mas a história recente nos diz que eles estão criando laboratórios para o genocídio.

No tranquilo Equador, quando os povos os derrotaram na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos das prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrava presos jogando futebol com a cabeça de um decapitado.

No Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades nasa e misak que resistem e não se rendem, tornando a região a mais violenta de um país violento.

No território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, os poderes decidiram que aqueles que não se submetem devem ser chamados de “terroristas”, com o resultado de que hoje há mais presos mapuches do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.

No México, tudo está claro, tão claro que a mídia e os governos não querem que vejamos, mascarando a violência com discursos que apenas mencionam sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e em Chiapas deveria ser motivo de escândalo.

No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas o Estado realmente existente. Incluindo todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários mafiosos, de deputados e vereadores que formam um poder herdado dos esquadrões da morte da ditadura militar.

Gaza nos coloca em outro lugar, diante de outros desafios. O primeiro é compreender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é integrado pelas direitas e pelas esquerdas, pelos conservadores e pelos progressistas. O terceiro é que devemos nos organizar para nos proteger, porque ninguém vai fazer isso por nós.

O mundo que conhecíamos está desmoronando. Choremos por esses jovens assassinados no Rio, por esses corpos estendidos no asfalto.

Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebeldia.

Fonte: https://desinformemonos.org/gaza-es-rio-de-janeiro-gaza-es-el-mundo-entero/

agência de notícias anarquistas-ana

A fúria é semente.
Da rachadura no asfalto,
nasce o novo trigo.

Liberto Herrera

Um livro sobre anarquismo em Abya Yala


Por Alf Bojórquez

Olá. Escrevo do México. Sou uma escritora trans e não binária. Há alguns meses está circulando meu segundo livro — um ensaio pessoal que explora o tema do anarquismo latino-americano — intitulado Não existe dique capaz de conter o oceano furioso. Potência, alegria e anarquismo. Está disponível na rede de distribuição da Traficantes de Sueños, Virus e Cambalache.

Meu nome é Alf Bojórquez, sou romancista e ensaísta de uma pequena cidade próxima a Cuba. Iniciei o caminho que desemboca neste livro editando e traduzindo para a editora Tumbalacasa. Coordenei a tradução, em parceria com Traficantes de Sueños, AK Press e Tumbalacasa, de Militancia alegre. Tejer resistencias, florecer en tiempos tóxicos de Nick Montgomery e Carla Bergman. Tenho ministrado oficinas na América Latina, Europa, Estados Unidos, Filipinas e Marrocos. Tenho também um podcast intitulado Un sueño largo, ancho y hondo, disponível em todas as plataformas, onde trato há anos das problemáticas da narrativa, da arte e da teoria crítica.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que defende a alegria: uma capacidade que surge sem aviso prévio, sem antecipação nem planejamento. Desde que trabalhei em Militancia alegre, tenho me concentrado nesse tema porque acredito que é uma forma de definir o anarquismo de modo afirmativo e não apenas negativo (contra o Estado, o capital, o patriarcado etc.). O anarquismo, para mim, é a favor da alegria e da improvisação (é expansivo em termos spinozianos, isto é, de ação), portanto, não teme tanto o erro.

Desde o stalinismo, o anticapitalismo em geral tende a ser cinza, áspero, mecânico, melancólico, trágico, sombrio, gótico — por isso venho há anos criticando a vertente capacitista e adultocêntrica que, junto com tudo isso, nos diminui. Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro que busca libertar o anarquismo de si mesmo — de suas bandeiras rígidas, de suas personagens engessadas e previsíveis — para expandi-lo a novos horizontes coletivos onde caibam mais mundos e formas de vida. Além disso, aborda como as ideias e práticas anárquicas viajaram para a América e se somaram às lutas anticoloniais, às revoltas de indígenas e de pessoas escravizadas.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um ensaio pessoal sobre a extrema esquerda, com um estilo agradável e ágil, que fala das lutas atuais. É o resultado de minhas colaborações com a Asamblea de Defensores del Territorio Maya Múuch XíimbalaOrganización Popular Francisco Villa de Izquierda Independiente e a Preparatoria Comunitaria José Martí. É uma autobiografia desde e em direção ao político, que atravessa muitas outras questões que podem interessar a vários tipos de leitores. É um ensaio sobre adolescência, proletariado, necessidade de pertencimento, os povos, o zapatismo, as subculturas urbanas nos países colonizados. Por isso é narrado com um tom poético e pessoal.

O PDF do livro está disponível para download gratuito em: https://archive.org/details/no-existe-dique-digital

Com esta pesquisa poética busco dar visibilidade ao anarquismo mexicano. No livro, defendo que, embora seja uma invenção europeia, na América Latina ressignificamos o anarquismo ao integrá-lo às lutas anti-imperialistas e anticoloniais em diferentes momentos da história. Por trás do progressismo de Boric, Petro, Lula, Kirchner e Sheinbaum há um proletariado enfurecido — uma linha de frente que saiu para defender o pouco que nos resta antes que o protesto social fosse reciclado pela socialdemocracia latino-americana. O ciclo insurrecionalista das últimas duas décadas chegou ao fim com o agravamento do genocídio na Palestina e a ascensão de Trump e Milei. A conjuntura deste momento histórico nos convida a retomar o antifascismo e repensar a revolução.

Não existe dique capaz de conter o oceano furioso é um livro autopublicado. Fiz sozinha minha própria distribuição, indo aos correios enviar um exemplar após o outro para as pessoas que ouvem meus podcasts. Por isso mesmo disponibilizei gratuitamente o PDF — para divulgar minhas (auto)críticas ao anarquismo.

Se tiverem interesse no meu trabalho, nas mesmas distribuidoras encontra-se meu primeiro livro, um romance sobre um amor adolescente em uma cidade devastada pelo colonialismo, intitulado Pepitas de calabaza.

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/10/29/un-libro-sobre-anarquismo-en-abya-yala/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Uma frente à outra,
floridas sibipirunas
trocam amarelos.

Reneu do A. Berni

Brasil Negro Insurgente | Anarquistas e socialistas libertários pretos e pardos da Primeira República

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

O projeto

“Brasil negro insurgente” traz à tona vidas e lutas soterradas pela historiografia oficial. A partir de um extenso trabalho de pesquisa, o livro reúne dezenas de militantes pretos, pardos e indígenas que atuaram no campo da esquerda libertária e socialista durante a Primeira República.

Mais do que exceções em um movimento dominado por figuras brancas e imigrantes europeus, esses sujeitos constroem uma genealogia afro-brasileira da insurgência, uma história viva e radical que desestabiliza as narrativas oficiais sobre o operariado, o anarquismo e o socialismo no país.

Ao responder à pergunta incômoda “onde estão os libertários negros na historiografia brasileira?”, o autor desmonta explicações racistas que insistiram, por décadas, na suposta ausência das populações negras das ideias revolucionárias. O resultado é um mapa político de resistência, pedagogia e luta.

Entre os nomes reunidos estão homens e mulheres, operários, intelectuais, militantes de base, sindicalistas, educadores e agitadores culturais que atuaram nas ruas, nas greves, nos jornais e nas associações populares. Suas histórias revelam como a luta por emancipação racial e social sempre estiveram entrelaçadas no Brasil.

“Brasil negro insurgente” é uma obra urgente para tempos de apagamento. Ao devolver rostos negros e mestiços aos anarquismos e socialismos brasileiros, o livro propõe um novo ponto de partida: o reconhecimento da insurgência negra como parte constitutiva e não marginal da utopia libertária.

Com seu apoio, conseguiremos imprimir e distribuir esta obra de forma independente, sem concessões a grandes grupos editoriais ou interesses de mercado. A Editora Monstro dos Mares acredita que fazer livros é também fazer insurgência. Cada contribuição ajuda a sustentar um projeto editorial comprometido com a pluralidade, a justiça social e a memória das resistências.

>> Mais infos, apoiar o lançamento do livro, clique aquihttps://www.catarse.me/brasilnegroinsurgente

agência de notícias anarquistas-ana

O decreto impresso
amarela no sol—a rua
escreve com giz novo.

Liberto Herrera