Anarquia | A Multidão Furiosa | Direito A Raiva

Por Carlos Pereira Junior
 
ANARQUIA
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Anarquia é não mandar, / nunca servir ou obedecer. / É recusar toda expressão de poder.
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É fazer da liberdade um modo de vida / contra toda autoridade, / descobrindo, aqui e agora, / um mundo novo / na contramão de deus e do Estado.
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Anarquia é viver para autonomia, / é jamais colonizar o outro, / ser único, estar entre muitos, / questionar privilégios e hierarquias.
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A MULTIDÃO FURIOSA
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Algum dia uma multidão furiosa / de negros, quase negros, / indígenas, / inclassificáveis e desesperados, / há de fazer sentir sua fúria / sobre governos, ricos e supremacistas.
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Ela não será contida pela polícia, / por decretos ou falsas promessas de democracia.
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A multidão furiosa há de subverter a ordem. / Abolir privilégios e hierarquias, / criar autogestão, comunhão, / liberdade e anarquia.
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DIREITO A RAIVA
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Tenho direito a raiva, / a defesa agressiva da minha existência / frente qualquer situação de exclusão ou agressão.
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Toda ação gera uma reação. / Não esperem, portanto, / que eu fique passivo, submisso, / obediente e calado, / quando submetido a opressão.
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Tenho direito a raiva, / a rebelião. / É uma questão de sobrevivência / e não me interessa sua vã opinião.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Sobre o varal
A cerejeira prepara
O amanhecer
 
Eugénia Tabosa

[Grécia] Vídeo | Exarchia sob cerco: os bastidores do motim de sábado que eles não querem que você entenda

É óbvio que o bairro de Exarchia está mudando de forma violenta, mas isso não se deve a tumultos ou protestos.

Na noite de sábado, 12 de abril de 2025, dezenas de anarquistas atacaram com molotovs as dezenas de policiais da tropa de choque que cercavam um show ao vivo que acontecia em Strefi Hill [Colina Strefi], em Exarchia, em apoio ao povo da Palestina. A discussão pública que se seguiu ao violento tumulto que se desenrolou e às ameaças feitas por membros do governo grego de esmagar o movimento anarquista no bairro foi sobre os eventos daquela noite, mas propositalmente evitou abordar os motivos que levaram a isso.

Exarchia sempre foi um lugar cercado e atacado. Mas, nos últimos anos, a transformação do bairro está ocorrendo por meio da violência sistêmica, tendo a gentrificação como arma. Antes um berço do pensamento radical e da resistência política, o bairro agora é o local do que muitos descrevem como uma ocupação [militar].

Em qualquer dia, a Praça Exarchia – o único espaço aberto comunitário da área – é cercada pela polícia de choque. Três cantos da praça são vigiados 24 horas por dia, sua presença é um lembrete constante da ameaça do Estado às pessoas da área. Desde 9 de agosto de 2022, quando começou a construção de uma nova estação de metrô sob a praça, essa postura militarizada só se aprofundou. O projeto foi recebido com oposição local intransigente, não apenas pela destruição do único espaço verde, mas pelo que ele simboliza: a determinação do Estado de refazer a Exarchia à sua própria imagem.

Sob o governo de direita da Nova Democracia [partido], Exarchia se tornou um símbolo de confronto ideológico. Todos os dias, a polícia marcha em formações regimentadas, mudando de turno com uma coreografia militar. Sua onipresença transformou a vida cotidiana em um tenso teatro de vigilância e intimidação. As pessoas frequentemente enfrentam detenções arbitrárias e, em muitos casos, força excessiva.

Essa não é simplesmente uma história sobre renovação urbana. É uma luta pela história, pela memória e pelo direito à dissidência.

Bulldozers e cassetetes: A violência da gentrificação

A construção da estação de metrô na praça Exarchia se tornou um ponto de inflexão – não apenas por motivos ambientais ou logísticos, mas porque é vista como a última frente de uma campanha de deslocamento. Para os críticos, isso é gentrificação com escudos antimotim.

Porque o objetivo é fechar por uma década o principal espaço livre onde as pessoas podem se reunir, quando há outros locais mais adequados ou úteis para uma estação de metrô, como perto do Museu Arqueológico Nacional, com mais de meio milhão de visitantes por ano, a apenas duas quadras da Praça Exarchia.

Os aluguéis aumentaram muito. Os preços saltaram de € 5,50 para € 8,50 por metro quadrado entre 2017 e 2022, enquanto as listagens recentes mostram taxas superiores a € 10, efetivamente dobrando.

Os residentes de longa data se veem sem saída, com seus contratos de aluguel encerrados para transformá-los em Airbnb. As empresas locais lutam para coexistir com cafés boutique, restaurantes finos e lojas hipster que falam um dialeto urbano diferente. O que se perde não é apenas a acessibilidade econômica, mas a identidade. A gentrificação é sempre violenta, mas aqui ela também é ideológica. Trata-se de apagar uma memória.

A armadilha turística da rebelião

Mesmo com a polícia de choque apertando o cerco, Exarchia está sendo comercializada para os visitantes como um enclave boêmio – corajoso, “autêntico” e pronto para o Instagram. Visitas guiadas convidam os turistas a “explorar o lado radical de Atenas”.

Os críticos argumentam que o turismo higieniza a própria história que busca mostrar, transformando locais de luta em espetáculos e transformando a resistência em marca.

Enquanto isso, a dissidência é punida com severidade. Todos os tipos de protestos ou reuniões políticas são geralmente enfrentados com gás lacrimogêneo e detenções. Os grafites desaparecem sob novas camadas de tinta. As okupações são despejadas. A tensão entre imagem e realidade é tão palpável quanto o cheiro de gás lacrimogêneo que às vezes permanece no ar.

A memória como um campo de batalha

A transformação urbana raramente é neutra. Em Exarchia, ela está intrinsecamente ligada a um esforço para reescrever uma versão específica da história – uma história na qual a resistência do bairro ao autoritarismo permanece central. Os canteiros de obras e os outdoors de imóveis têm uma função dupla: desenvolvimento físico e conquista simbólica. Alguns chamam isso de “limpeza urbana”.

A praça, que já foi um ponto de encontro de pessoas, agora é um canteiro de obras cercado e sob constante vigilância. Seu destino reflete o do próprio bairro – sob reforma, sob guarda e, muitos temem, sob apagamento.

No entanto, apesar da pressão, o espírito da Exarchia não se extingue facilmente. Os murais ainda florescem nas paredes dos becos. Cartazes políticos aparecem da noite para o dia. E todas as noites, quando o sol se põe atrás do Monte Licabeto, a pergunta persiste: como as pessoas devem reagir contra o assassino silencioso da gentrificação que um dia o encontra com suas malas à mão, forçando-o silenciosamente a deixar sua casa para sempre?

>> Assista o vídeo (2:24) aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=rdJzOTp9a_Y

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/06/30/grecia-passeata-no-bairro-de-exarchia-atenas/

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Crisântemos brancos –
Tudo ao redor também
É graça e beleza.

Chora

[Espanha] Por que uma biblioteca em um espaço anarquista?

A biblioteca do espaço anarquista Magdalena completou 20 anos em 2023. Seu acervo está localizado na rua Dos Hermanas 11, no centro de Madrid, perto de Latina e Tirso de Molina.

Um pouco mais de três mil livros organizados em estantes constituem um refúgio do que, em outros tempos, foi uma prática comum dos movimentos sociais. As bibliotecas autogestionadas começaram a desaparecer de forma generalizada durante a segunda década deste século por múltiplas razões. Apesar de parecer que a combinação leitura/coletivo não combina muito bem com as vidas freneticamente aceleradas que levamos, a biblioteca resiste e continua abrindo suas portas semana após semana. Não vamos enganar ninguém, as massas não vêm, mas pessoas suficientes frequentam para que consideremos que o projeto faz sentido.

E por que faz sentido? O que nos faz acreditar que é relevante continuar envolvidos em um projeto como este?

O que segue são algumas notas frágeis que buscam responder a essa pergunta, um relato provisório de conversas informais que ocorreram nos últimos meses…

Uma biblioteca física oferece um lugar de encontro real em um contexto onde o virtual ganha cada vez mais espaço.

O anarquismo tem uma longa tradição de bibliotecas populares que vale a pena honrar.

Os livros são caros, compartilhá-los é um exercício de bom senso (e um prazer).

Os livros são necessários para pensar em outras formas de viver que não sejam aquela em que estamos imersos.

Os livros ocupam espaço (ocupam muito espaço), e vivemos em moradias que geralmente são pequenas e muitas vezes precárias.

Nosso acervo bibliográfico é uma ferramenta de aprendizado e, ao mesmo tempo, um recurso para diversas lutas.

As estantes cheias de livros estão vivas, mudam, crescem, se livram de pesos mortos, iniciam novas ramificações e exploram territórios desconhecidos.

A leitura estabelece alianças.

Pensar sozinho é complicado e, muitas vezes, não é recomendável; é melhor fazê-lo acompanhado.

Recomendar livros entre iguais é uma das coisas boas da vida.

Esta biblioteca é um lugar sempre em construção.

Precisamos de materiais que permitam superar a contração do pensamento incentivada pelas redes sociais (e pela sociedade em geral).

Acreditamos na formação como uma ferramenta emancipatória.

Apostamos no coletivo, em sustentar enquanto for possível tudo o que o promova e fortaleça. E uma biblioteca nos parece um exemplo disso.

localanarquistamagdalena.org

Tradução > Liberto

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nuvem de outono-
manchas alaranjadas
despedida do dia

Zunir Andrade

1º de Maio de 2025: Comunicado da Federação Anarquista Capixaba (FACA)

Companheiras, companheiros e companheires!

Federação Anarquista Capixaba (FACA) convoca a todas as pessoas insurgentes, trabalhadoras e lutadoras do Espírito Santo a se unirem para celebrar o Primeiro de Maio de 2025, data histórica de resistência e luta da classe trabalhadora internacional. Reafirmando nosso compromisso com a ação direta, a autonomia e a construção de um mundo livre de hierarquias, anunciamos que ocuparemos as ruas para denunciar a exploração capitalista, a opressão estatal e todas as formas de dominação.

O Primeiro de Maio não é um dia de festa patronal, mas de memória viva das rebeliões operárias e de reivindicação por direitos coletivos. Em 2025, transformaremos essa data em um espaço de agitação, solidariedade e organização popular. Em breve divulgaremos a programação completa, com debates, oficinas, intervenções culturais e ações de rua que reforçarão nossa luta por uma sociedade baseada na ajuda mútua, na justiça social e na liberdade radical.

Enquanto os poderosos tentam apagar o caráter combativo desta data, nós, anarquistas, reacendemos sua chama revolucionária. Convidamos coletivos, sindicatos autônomos, movimentos sociais e indivíduos insurgentes a somarem forças conosco.

Organizem suas bases, fortaleçam as redes de apoio e preparem-se para ocupar os espaços públicos com coragem e rebeldia!

A luta não se delega: se constrói nas ruas, nas ocupações, nas greves e na ação direta do povo.

Primeiro de Maio na Rua!
Pela emancipação de todxs!
Anarquia e Liberdade!

FEDERAÇÃO ANARQUISTA CAPIXABA (FACA)
Ação Direta e Autogestão!

federacaocapixaba.noblogs.org

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Ah, noite de outono —
Passeando com o cachorro
Em meio a lembranças.

Edson Kenji Iura

[Alemanha] Hamburgo: Quebra de vidros em bancos

“Precisa haver mais barulhos novamente”, escreveram companheiros de Bremen algumas semanas atrás.


Concordarmos com isso e, portanto, deixamos muitos cacos de vidro em dois bancos na Osterstraße na noite de 13 para 14 de abril de 2025.

Filiais do Deutsche Bank e do Targo Bank foram afetadas. Ambos têm se envolvido de forma relevante no comércio de armas e na exploração da natureza há muito tempo. Como tal, esses bancos representam um alvo significativo e importante para nós.

Desejamos a todos um maravilhoso Primeiro de Maio Preto e Vermelho (13h / Berliner Tor, Hamburgo) e saudamos especialmente nossos companheiros e companheiras na prisão e na clandestinidade. Libertem todos os Antifas!

Fonte: https://de.indymedia.org/node/503090

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“Chegou o estorninho”—
É assim que todos me chamam
e como faz frio!

Issa

[Grécia] Tessalônica: Intervenções com quebras e tintas em três supermercados e uma imobiliária

Por quanto tempo mais toleraremos produtos caríssimos nas prateleiras dos supermercados de cabeça baixa? Por quanto tempo mais viveremos em casas podres, alugadas por valores equivalentes ao nosso salário-base?  Nossas perguntas são retóricas e nossas respostas são óbvias:

Não há mais paciência e tolerância para com as cicatrizes de nossas vidas. 26 de janeiro [greve geral] e 28 de fevereiro [greve geral] são duas datas que demonstraram exatamente isso. Enquanto os chamados se referiam ao crime capitalista de Tempe, grande parte do povo que foi às ruas expressou sua indignação com a miséria diária imposta pela burguesia e seus asseclas. Os assassinatos diários sofridos por pessoas de nossa classe nos campos de trabalho, nas fronteiras e nos trens-caixão permanecem na mente coletiva e passam a ser expressos pela antiviolência da base social. Assim como os chamados de massa anteriores, os próximos compromissos que estão por vir devem nos encontrar prontos para intensificar nosso confronto com as instituições do poder e ser capazes de capturar a raiva social que busca uma saída para se expressar.

Voltando à luta diária pela sobrevivência que enfrentamos, ficamos furiosos quando vemos a hipocrisia e o conforto que eles sentem em nos bombardear com mentiras. Anunciam o aumento do salário base para apenas 50 euros brutos (de 830 para 880) e apresentam-no como um feito que resolve os problemas das famílias, enquanto nós precisamos de pelo menos 500 euros por mês para ficarmos num buraco e não morrermos de frio no inverno. As redes de supermercados estão literalmente se enriquecendo às nossas custas, aumentando constantemente os preços de produtos básicos e nos vendendo desculpas baratas para uma crise econômica. Em toda essa situação, vivemos sob o medo diário de nos tornarmos bucha de canhão para a máquina de guerra, já que o estado grego vem demonstrando há anos sua boa vontade em participar ativamente de frentes de guerra abertas, mas também no genocídio em curso que o estado israelense assassino está cometendo contra o povo não escravizado da Palestina, reivindicando um pedaço do bolo no tabuleiro de xadrez global.

Respondemos à barbárie capitalista e ao terrorismo de estado com um ataque às suas estruturas de lucro. Por meio da luta de classes e antiestado, agimos em direção a outro mundo onde o lucro não terá lugar em nossos relacionamentos.

No sábado, 05 de abril, atacamos com martelos e tinta um supermercado Masoutis na área de Agios Pavlos e a agência imobiliária ΟΝΕΙΡΟ, na rua Ippodromiou, no centro da cidade. No domingo, 06 de abril, em dois supermercados (AB Vasilopoulos, Masoutis) na rua Kassandrou.

Essa imobiliária em particular, além do papel que desempenha nos altos aluguéis do centro, que está se tornando um ponto turístico cada vez maior, é de propriedade de um infrator que já foi denunciado no passado por seus clientes.

Anarquistas contra a escravidão salarial

Fonte: https://athens.indymedia.org/post/1634988/

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Melhor do que flores
É comer bolinhos –
Partem os gansos selvagens.

Matsunaga Teitoku

[Argentina] Por que os parasitas odeiam Osvaldo Bayer?

Por que denunciou com evidências que as famílias parasitas como os Bullrich, Anchorena, Paz, Alzaga, Roca, Martinez de Oz, Luro e Mitre, entre outras lacras, se tornaram ricas roubando terras, vendendo escravos, traficando crianças, explorando mulheres e mandando matar trabalhadores a cada vez que se organizavam para reivindicar um salário justo ou condições de trabalho dignas.

Por que expôs que suas fortunas não nasceram do trabalho nem do mérito, mas do sangue, da violência estatal e do silêncio cúmplice da história oficial e da imprensa corrupta.

Por que deixou claro que por trás de cada fortuna impune, há sangue de trabalhadores.

Quiseram destruir sua memória, mas não sabem que é semente que sempre nasce.

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/31/argentina-documento-de-repudio-a-demolicao-do-monumento-a-osvaldo-bayer/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/27/argentina-osvaldo-bayer-voltara-ao-seu-lugar/

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portas batendo
fugindo da chuva
o vento

Alonso Alvarez

[Grécia] Cartaz | Patras | Liberdade para o prisioneiro anarquista K. K.

Na quinta-feira, 07/11, o companheiro K.K., de 17 anos, foi preso em Messolonghi, acusado de incendiar uma van da polícia, o que aconteceu em 11/10, quase um mês antes de sua prisão. As acusações que ele enfrenta incluem incêndio criminoso, explosão, fabricação e posse de explosivos e danos a propriedades. Em uma demonstração de poder do Estado, o companheiro foi levado com uma força policial colossal, detido e, em 13/11, transferido para a prisão juvenil de Cassavetes. Outra acusação frágil baseada em imagens de vídeo incompletas que capturaram uma figura em movimento nas ruas da cidade, outra acusação vingativa dos mafiosos da Polícia Nacional. A polícia segue arquitetando com o apoio do governo e do judiciário, dando continuidade à repressão estatal contra aqueles que resistem.

A guerra social está aqui e está se ampliando dia a dia, é nosso dever abrir as camaradagens e os valores da auto-organização. Pontos focais de luta em toda parte, de Messolonghi ao Chile, da teoria à prática e vice-versa. Nada está perdido, nada acabou, continuamos a marchar contra o Estado, o capital, o fascismo, o patriarcado, as relações de exploração até nosso último suspiro… por um mundo livre.”

TRAGAM TODOS OS PRISIONEIROS DE GUERRA DE VOLTA ÀS RUAS

LIBERDADE PARA O COMPANHEIRO K.K.

LUTA MULTIFORME PELA ANARQUIA

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os aloendros
em fila
nos separavam do mundo

Guimarães Rosa

[Chile] Preparação de julgamento contra os companheiros anarquistas Aldo e Lucas Hernández.

Durante a primeira semana de abril de 2025 se realizou a preparação do julgamento contra os companheiros Aldo e Lucas Hernández, que permanecem desde dezembro de 2022 encarcerados.

Esta instância é a antessala direta do julgamento que logo enfrentarão os companheiros. A inquisição democrática solicita penas de 90 anos de prisão contra Aldo e 26 anos contra Lucas, acusados de sua participação no atentado explosivo à Direção Nacional de Gendarmeria e de posse de armas respectivamente.

A Gendarmeria buscará saldar o orgulho ferido de seu quartel geral destroçado, enquanto que embriagada em altas condenações que conseguiu no último tempo contra companheiros anarquistas, a promotoria sul espera fazer deste julgamento uma nova celebração de vingança dos poderosos.

A aposta por parte do estado é clara: voltar a demonstrar que o caminho da ação anárquica ofensiva não só não tem sentido, mas que será combatido com todo o arsenal jurídico e penas abertamente desproporcionais.

E por nosso lado, qual é nossa aposta? O chamado é a permanecer atentos ao julgamento que se avizinha contra os companheiros e a gestar a solidariedade revolucionária nesta determinante instância.

Hoje Lucas permanece sequestrado no cárcere Santiago 1, enquanto que Aldo se encontra sob um severo regime de isolamento no cárcere La Gonzalina em Rancagua.

Façamos das ideias uma ameaça real!

Cumplicidade com os que golpeiam os repressores!

Solidariedade com Aldo e Lucas!

Tradução > Sol de Abril

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Um reflexo roxo
no céu todo poluído –
Paineira florida

Sergio Dal Maso

“Notas sobre as (im)possibilidades de uma abolição queer anti-colonial do mundo (carcerário)”, de Caia Maria Coelho e Alexandre Martins

Esse mundo deve ser abolido. A abolição anticolonial e queer é um projeto de fim do mundo como o conhecemos (Silva, 2007), estruturado pelas categorias de raça, gênero, sexualidade e classe. A partir de nossa formação Ladino Amefricana, refletimos sobre as relações e implicações entre movimentos queer, lutas anti-coloniais e horizontes abolicionistas.

Mundo é aqui entendido como um conjunto de coletividades organizadas de acordo com os interesses coloniais das sociedades imperialistas (por exemplo, na partilha da América do Sul entre os Europeus no Tratado de Madri). Nesse sentido, esse mundo é um símbolo colonial de diferença e hierarquia entre o homem e seus outros (Wynter 2003). Desde seu início, a ordem racial (Silva, 2007) disseminou a violência e a punição e impôs gêneros e sexualidades normativos, os únicos considerados possíveis neste mundo. Em vez de abordar o senso de coletividade em si, nosso objetivo é desmantelar a organização das coletividades conforme pensada pelo colonialismo. Abolir o mundo significa, portanto, retomar outros significados de coletividade.

>> Para ler o texto na íntegra, clique aqui:

https://transanarquismo.noblogs.org/files/2025/04/Caia-Maria-Coelho-Alexandre-Martins-Notas-sobre-as-impossibilidades-de-uma-abolicao-queer-anti-colonial-do-mundo-carcerario.pdf

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É quase noite –
As cigarras cantam
Nas folhas escuras.

Paulo Franchetti

Sede da COP30, Belém prega sustentabilidade ‘pra gringo ver’

Por Benedito Emílio Ribeiro | 15/04/2025

Belém (PA) tornou-se um verdadeiro canteiro de obras para receber a COP 30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, em novembro de 2025. Mas uma pergunta tem sido cada vez mais feita: para quem serão os legados urbanísticos do megaevento?

Para quem transita pela cidade, a resposta é simples: a sustentabilidade que se prega é “pra gringo ver”.

De um lado, o governo paraense tem prometido uma “modernização sustentável” com projetos como o Parque da Cidade, a Nova Doca e o Porto Futuro II, além da “revitalização” do centro histórico, a macrodrenagem de canais e melhorias em bairros nobres como Reduto, Marco e Nazaré.

Enquanto essas áreas passam a ser requalificadas, temos bairros periféricos – que concentram a maioria da população negra – seguindo em uma situação precária e sendo reféns da parte da moeda que ninguém quer ver.

Apesar dos discursos de sustentabilidade e inclusão social, essas obras têm um modus operandi pautado na manutenção de desigualdades em Belém. Por exemplo, a Vila da Barca, uma das maiores favelas de palafitas da América Latina, vai receber os resíduos do sistema de esgotamento sanitário da Nova Doca, no bairro do Reduto – um dos mais ricos da capital.

A vila também tem sido o local de descarte de detritos (lama e entulhos) das obras em curso na Doca. Os moradores reclamam do descaso, da falta de saneamento e infraestrutura na comunidade com mais de 7.000 habitantes.

Outro empreendimento controverso é a avenida Liberdade, ou “Eco Rodovia Liberdade”, que conecta a avenida Perimetral (Belém) e a Alça Viária (Marituba). A obra busca melhorar a mobilidade urbana na região metropolitana, mas o projeto impacta diretamente o Quilombo de Abacatal, no interior do município de Ananindeua – na rota de construção da avenida.

Os moradores falam da falta de diálogo com a comunidade e expressam a preocupação com os impactos socioambientais que serão sentidos com a abertura da estrada.

Essas obras estão atravessadas por ideais e práticas que produzem segregações sociorraciais no espaço urbano. Entre fins do século 19 e início do 20, por exemplo, já se observam marcas do urbanismo de gentrificação no Brasil, com alterações na paisagem que atualizavam mecanismos de controle de corpos e das hierarquias sociais. Um modus operandi na lógica de ordenamento das cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e outras.

Nesse contexto, Belém passou por transformações urbanas decorrentes da economia da borracha. Vivia-se a Belle Époque e a cidade precisava adequar-se ao modelo de civilidade burguesa da época, que era inspirado em Paris e Londres.

Os projetos de urbanização de Belém incluíam a ampliação de antigas ruas, o aterramento de áreas alagadiças, a construção de avenidas e boulevards, espaços culturais para usufruto da elite, com praças, cinema e o famoso Theatro da Paz, por exemplo.

A cidade recebeu luz elétrica e água encanada. Nessas áreas enobrecidas e embelezadas de Belém, a elite da borracha ergueu seus palacetes e casarões.

Essa nova Belém, civilizada e embranquecida, não comportava mais certos sujeitos e práticas cotidianas que manchavam sua imagem. Além de impactar a paisagem, as reformas da Belle Époque buscaram efetuar uma limpeza social na cidade.

Muitos cortiços foram desapropriados no centro e seus moradores passaram a ocupar zonas periféricas. Lavadeiras foram proibidas de usar praças e largos, e eram constrangidas ao se deslocarem pelo centro da cidade, como revela o jornal A República, de 1890.

Mas as tentativas de exclusão e controle social da Belle Époque não foram suficientes para tirar de cena gente negra e indígena, cuja presença revela as nuances históricas da formação de Belém.

Por exemplo, o jornal O Democrata de 1891 relata sobre “os batuques que dão-se todos os sábados na travessa dos Tupinambás”. Já a Folha do Norte, de 1897, retrata Tia Chica, mulher negra que organizava rodas de carimbó no quintal de sua casa, na estrada de São Brás. Experiências que exprimem nosso direito à cidade.

O ontem de hoje

Percebe-se que o interesse central segue sendo atender uma pequena parcela da população e seus espaços já confortáveis de moradia e lazer: as elites brancas. Resta aos negros e indígenas sempre o mínimo para sua sobrevivência.

Belém escancara em sua história facetas de um racismo ambiental e da sucessiva negação de direito à cidade para gente negra e indígena. Se vamos tratar sobre as mudanças climáticas, devemos falar também de justiça climática e de reparação. Não esqueçam que o futuro do planeta é ancestral. E, nós, negros/as e indígenas, já estamos falando e agindo há muito tempo!

Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/presenca-historica/2025/04/15/sede-da-cop30-belem-prega-sustentabilidade-pra-gringo-ver.htm

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estação vazia
no trem sozinho
um passarinho

Ricardo Portugal

Por que opor-se à COP30?

A COP30 (Conferência das Partes) é uma cúpula internacional organizada pelos Estados membros da ONU, a ser realizada no espaço do Governo da COP, em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025. O número 30 significa que esta é a 30ª vez que a conferência será realizada. A COP30 trata das mudanças climáticas. Diversos eventos, fóruns e debates estão sendo organizados, e delegações de muitos países estarão presentes.

POR QUE OPOR-SE À COP?

Porque precisamos de uma mudança que a COP30 não pode proporcionar. A luta para proteger a biodiversidade e combater as mudanças climáticas é, sem dúvida, uma das questões mais importantes do nosso século. Os estudos científicos e o conhecimento indígena e dos povos tradicionais são muito claros: estamos vivenciando atualmente um declínio sem precedentes na biodiversidade. Nosso sistema econômico, o capitalismo, está na raiz desse problema: somente desafiando-o poderemos salvar o que ainda pode ser salvo. Obviamente, esse não é o objetivo da COP30. Na verdade, ela tem o objetivo oposto:

☀ Incentivar a livre iniciativa neoliberal e, ao mesmo tempo, alegar a proteção da biodiversidade. A COP30 tem como objetivo envolver ativamente o setor privado na formulação de acordos internacionais sobre biodiversidade. Em outras palavras, os responsáveis pela situação atual estão sendo envolvidos no processo de tomada de decisões. O lobo está no controle do galinheiro.

☀ Permitir que as empresas privatizem a matéria viva. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e o Protocolo de Nagoya estabeleceram na legislação internacional a possibilidade de nacionalizar a propriedade de “recursos derivados de material genético”. Anteriormente, os recursos genéticos eram considerados parte do patrimônio comum da humanidade. Estamos testemunhando um aumento na privatização da matéria viva.

☀ Facilitar a exploração dos países do sul e das terras indígenas. O Protocolo de Nagoya exige um programa de “acesso e compartilhamento de benefícios”. Isso significa que se espera que os países com alta biodiversidade forneçam acesso a seus recursos naturais. Como resultado dessa pilhagem, está ocorrendo um compartilhamento desigual dos benefícios entre os estados do sul e as empresas, sem levar em conta as contribuições essenciais das comunidades indígenas e tradicionais para esse patrimônio comum da humanidade.

AGIR POR CONTA PRÓPRIA – NÓS POR NÓS

☀ Os governos e as empresas são os principais culpados pelo declínio da biodiversidade. Essas instituições trabalham, lado a lado, para subsidiar os projetos extrativistas das principais empresas de mineração, de exploração de madeira e de petróleo em bilhões de dólares. Os governos estão financiando projetos que estão destruindo ativamente a biodiversidade. Pense no governo brasileiro e seus projetos como a Ferrogrão, a exploração de petróleo na foz do Amazonas e a compra de créditos de carbono por grandes transnacionais. Além disso, quando a população não cede, a polícia e as forças armadas são enviadas para reprimir qualquer revolta e militarizam os territórios, criminalizando os movimentos sociais.

☀ Os responsáveis pelo desastre não nos salvarão. Que os ricos paguem a crise. Como acontece com qualquer avanço social, somente a mobilização popular pode fazer com que os governos se ajoelhem. A história do movimento ambientalista é a prova mais visível disso; sem nossa mobilização, os governos e as empresas, ainda, negariam a realidade de nossas descobertas. Há décadas, os governos e os capitalistas estão cientes das questões ecológicas em jogo e não fizeram nada para causar um impacto significativo. O simples fato de a COP sobre mudança climática estar agora em seu 30º ano – e a situação indo de mal a pior – nos mostra o que podemos esperar se dermos carta branca àqueles que estão nos levando direto para o desastre.

☀ Bloquear para avançar. Acreditamos que é hora de romper essa atmosfera de consenso brando dentro do movimento ambientalista; a colaboração com os estados e as corporações só levou a piora da situação. Nossa única chance é construir um movimento que rejeite as estruturas responsáveis pela catástrofe: o capitalismo e o Estado. Portanto, é importante atacar esses eventos, que foram criados para nos tranquilizar e desviar nossa atenção. Vamos mostrar a eles que não estamos sendo enganados.

COMO OPOR-SE À COP30?

❶ Participar das assembleias de luta contra a COP30

Unindo forças e construindo alternativas à realização dessa cúpula internacional, podemos ser a semente de um movimento ambientalista livre das garras dos Estados e dos interesses privados.

❷ Fazer greve e que os ricos paguem a crise

Para os estudantes e trabalhadores, a greve dá a oportunidade de fazer ouvir uma voz que não seja a das empresas petrolíferas, mineradoras, madeireiras, de crédito de carbono e dos governos. A greve envia uma mensagem clara de que estamos determinados a tomar medidas para mudar as coisas. A greve também libera tempo para participar do movimento ambiental por meio de manifestações, oficinas e discussões que ocorrerão ao mesmo tempo que a cúpula. A greve lembra ao Estado e aos capitalistas que, sem nós, eles não são nada, e nos lembra que, no final, nós produzimos tudo. Precisamos desse momento se quisermos um movimento ambiental capaz de enfrentar os desafios do momento. Chamamos as centrais e sindicatos para construir um movimento paredista poderoso durante o evento. Pela construção de uma greve geral durante a COP!

❸ Aprender e educar

A organização de uma contra-cúpula, contra a COP30 e a favor de um movimento ambiental radical e revolucionário, nos permite fazer com que nossa voz seja ouvida de uma forma diferente da desse movimento, que está colaborando com a “gestão” da crise ambiental capitalista. Temos que aprender com outras lutas e com a história do movimento social e não nos vermos como uma questão separada da do capitalismo ou do colonialismo.

❹ Ocupar o terreno, construir territórios

Por meio de manifestações de rua e outras ações, podemos mostrar que existe outro caminho e incentivar as pessoas a se juntarem a nós, ao mesmo tempo em que interrompemos a festinha delas no Palácio do Governo.

ENGAJE-SE!
 
Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA
Rua Bruno de Menezes (antiga General Gurjão) 301 – Bairro Campina – Belém do Pará.
cclamazonia@gmail.com
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Madrugada a dentro.
segue os passos do boêmio
a lua parceira.
 
Alberto Murata

[Reino Unido] Anarquia e Ficção Científica

Por Ben Beck | Fifth Estate edição 415, verão de 2024

A maioria dos anarquistas conhece o romance de ficção científica utópica de Ursula K. Le Guin, Os Despossuídos. Mas sua fama de certa forma se sobrepõe a outras obras de ficção que são também de grande interesse. Aqui estão algumas.

* O conto And then there were none (1948) de Erik Frank Russel foi a obra de ficção científica mais próxima de uma utopia anarquista anterior ao romance de Le Guin de 1974, e foi elogiada como tal nas páginas do Freedom and Anarchy na época, começando por uma crítica completa em 1954, sob o título “Uma Utopia Anarquista”, dizendo que ela “não apenas deixa uma sociedade anarquista atraente, mas também eminentemente prática.” John Pilgrim, em 1963, especula sobre “o quanto de influência esse conto antologizado teve sobre a formação de opiniões políticas nas gerações após o fim da Segunda Guerra Mundial.”

* No conto Skulking Permit de 1954 de Robert Sheckley, um planeta isolado é recontatado pela Terra Imperial. Os habitantes buscam reviver antigos costumes terráqueos – crime, polícia, etc. – mas falham por não compreenderem a necessidade disso tudo. É uma história anarquista esplêndida. Os colonos viveram por tanto tempo sem autoridade que não há mais necessidade alguma dela. Foi recentemente incluído na antologia Overruled de Hank Davis e Christopher Ruocchio de 2020.

Daily Lives in Nghsi-Altai é uma curta tetralogia de Robert Nichol publicada entre 1977 e 1979. Situada em uma área central da Ásia num futuro próximo de um mundo alternativo, possui fortes valores ecológicos, e a influência anarquista é reconhecida explicitamente. Escrita em um estilo fragmentado, poético e impressionista, teve uma influência significativa sobre Le Guin, que disse “… Nghsi-Altai é em alguns aspectos justamente o lugar onde eu diligentemente tentava chegar, e ainda assim fica bem na direção oposta…”

* O bolo’bolo de Hans Widmer, publicado em 1983 e depois novamente pela editora P.M., é considerado por Ruth Kinna, autora anarquista britânica de The Government of No One, como uma das utopias anarquistas modernas mais influentes. Para Kinna, ela evoca o utopismo de Kropotkin, embora seja claramente distinta dele, como imaginar “possibilidades fugazes em vez de alternativas duradouras”.

* Os Falsos Documentos de Peter Lamborn Wilson são uma coleção diversificada de ficções pseudo-reais, na veia do realismo mágico borgesiano. O melhor deles, e certamente o mais relevante aqui, é “Visit Port Watson!”, que é uma paródia de guia de viagem para a ilha utópica de Sonsorol, combinando de forma divertida ideias de várias vertentes libertárias. Foi publicado pela primeira vez em 1985, em Rucker, Wilson & Wilson, eds: Semiotext(e) SF.

* The Free de Mike Gilliland (primeira edição de 1986; quinta edição de 2021) é descrito pela editora como “Um romance de amor, esperança e revolução, situado em um futuro bem próximo, em uma ilha no litoral britânico. Do subterrâneo à revolução, repressão e resistência!” Em sua lista de temas do romance (no final do texto), Gilliland diz: “Os Livres são inspirados pela festa anarquista, experimentando a interpretação de Pete Kropotkin sobre Darwin. Cooperação em dentes e garras.”

The Free dá um relato excepcionalmente vívido da alegria do processo revolucionário, com personagens fortemente imaginados e diálogos muito críveis.

The Last Capitalist: A Dream of a New Utopia, de Steve Cullen, publicado em 1996 pela anarquista Freedom Press, de Londres, é uma utopia anarquista ambientada em uma futura Grã-Bretanha. A história envolve uma busca pelo capitalista homônimo, onde a Inglaterra foi renomeada como “Atopia” e é explicitamente anarquista, e o estado e o capitalismo desmoronaram em todo o mundo.

Existem políticas alternativas, para refletir as condições e aspirações locais. Entre estes está uma república na Ilha de Man, baseada na democracia delegada. Na Atopia, tudo é voluntário, a educação é por meio de escolas gratuitas e a economia é baseada no escambo. Informada por princípios ecológicos, a tecnologia é, no entanto, suficientemente sofisticada para incluir dirigíveis de controle remoto de alta altitude, para manter as comunicações por satélite. A vida social é alimentada por muita cerveja e uma atitude fácil em relação ao sexo. O livro é alegre e otimista.

The Watch: Being the Unauthorized Sequel to Peter A. Kropotkin’s Memoirs of a Revolutionist– as Imparted to Dennis Danvers by Anchee Mahur, Traveler from a Distant Future; or, A Science Fiction Novel (2002), de Dennis Danver, é um livro  supostamente escrito em primeira pessoa por Kropotkin, o anarquista russo, que foi arrancado de seu leito de morte, rejuvenescido, e inserido em um futuro onde ele tem a oportunidade de promover o anarquismo mais uma vez. O enredo é fraco, mas a escrita é de primeira linha, e o personagem Kropotkin minuciosamente pesquisado, assim como o anarquismo histórico com referências a figuras mais recentes, como Murray Bookchin e Noam Chomsky. É uma introdução maravilhosa às ideias anarquistas para quem não está familiarizado com elas.

A premissa da Anarquia. Uma História Alternativa da Guerra Civil Espanhola, de Brad Linaweaver e J. Kent Hastings (2004), supõe que, em vez de serem derrotados por uma combinação de fascistas e stalinistas, os anarquistas espanhois prevalecem, graças a um Wernher von Braun alternativo, que – com ajuda do ator dos anos 1940, Hedy Lamarr – projeta uma arma baseada em foguetes e a entrega aos anarquistas.

O livro é tão bem pesquisado, e o cenário tão comparativamente desconhecido, que é fácil suspender a incerteza sobre a relação entre a história real da guerra civil e da revolução e a história alternativa que os autores criam. No decorrer da narrativa, há muita discussão sobre os vários estilos do anarquismo ativos na Espanha da década de 1930.

* Em The Marq ‘ssan Cycle-Alanya to Alanya (2005), de L. Timmel Duchamp, as mulheres da Terra, incluindo algumas anarquistas, são ativamente apoiadas pelos alienígenas de Marq’ ssan, que, com superioridade tecnológica ao seu lado, promovem vigorosamente o “autogoverno não-autoritário”. Ele examina as relações de poder em muitos níveis, especialmente o interpessoal.

Blood in the Fruit (2007), de Duchamp , inclui uma sequência em que a North West Free Zone celebra o Dia de Emma Goldman. Três citações de Goldman servem como epígrafe do romance, e a capa apresenta uma fotografia dela falando na Union Square de Nova York. O autor disse que “A maioria dos ativistas da Zona Franca são mulheres da classe trabalhadora que abraçam uma filosofia de vida e política muito próxima da de Goldman…”

* Kes Otter Lieffe veio para a Ficção Científica com uma perspectiva incomum e bastante refrescante. Margens e Murmurações (2017) é o primeiro de uma trilogia, cada livro pode ser lido como um romance independente, apresentando uma distopia futura não muito distante na qual a comunidade LGBTQ+, profissionais do sexo e pessoas com deficiência estão no centro do palco da Resistência.

O seu Conserve and Control (2018) é ambientado no mesmo futuro, mas mais adiante (cem anos a partir da data de publicação) e, nas palavras do autor, o segundo livro “parece superficialmente uma utopia liberal – com os jardins de permacultura e corporações trans-inclusivas – mas é o mundo mais sinistro que pude conceber em 2018”.

Dignity (2020) se passa em um estágio mais próximo no mesmo futuro, quando a pandemia da década de 2020 ainda está fresca na memória. Lieffe diz que sua intenção era que Dignity fosse “a escrita mais utópica que eu poderia encontrar dentro de mim”. Em uma entrevista de 2021, a extensão em que seu trabalho pode ser descrito como anarquista é explicitamente discutida; em vez de fugir da palavra, ela respondeu: “Se as livrarias criarem uma seção de gênero ‘radical, positiva para o trabalho sexual, trans feminista, ficção especulativa’ apenas para o meu trabalho, não vou achar ruim.” A discussão deixa claro que sua intenção é apresentar visões de uma revolução com a qual as pessoas possam se relacionar.

* D.D. Johnston’ s Disnaeland (2022) descreve os primeiros meses após o apocalipse em que a ajuda mútua vem à tona entre os sobreviventes que percebem no devido tempo que a verdadeira distopia foi o que aconteceu antes. O livro é alegremente caloroso e engraçado, a natureza terrena especialmente destacada pelo dialeto influenciado pelos escoceses empregado por toda parte.

Johnston é ele mesmo um anarquista, com uma sólida formação como ativista. A revisão de Liberdade de 2023, descrevendo o romance como “talvez o romance apocalíptico mais esperançoso que você provavelmente lerá”, conclui que “não é necessário ser um anarquista para desfrutar da Disnaeland, mas certamente é um romance que tem muito a oferecer aos leitores anarquistas”.

* ME O’Brien & Eman Abdelhadi: Everything for Everyone: An Oral History of the New York Commune, 2052-2072 (2022). Este romance notável é estruturalmente único em ficção científica por ser apresentado como uma coleção editada de entrevistas de história oral com nova-iorquinos que vivem em 2072, em que nenhuma história única predomina, mas coletivamente o leitor aprende sobre as extraordinárias mudanças sociais que ocorreram nos anos anteriores (ou seja, os cinquenta anos desde a data de publicação).

A resposta às mudanças climáticas e ao colapso econômico e político completo aconteceu no mundo todo, exceto em uma Austrália não reconstruída e radical ao extremo. Ocorreu com extraordinária rapidez e sem qualquer consistência utópica, de modo que, em alguns casos, a transição esteve longe de ser pacífica. Mas o mundo em 2072 é agora essencialmente comunista, numa visão que é essencialmente anarco-comunista, embora o termo não seja usado. A visão, bem como a história, está bem concretizada e é amplamente convincente. Este pode ser um julgamento prematuro da minha parte, mas este é talvez, para os anarquistas, o trabalho mais significativo de ficção científica desde Os Despossuídos.

Há muitos mais que poderiam ser mencionados. Acesse o site anarchySF.com, que tem a cobertura mais abrangente sobre esse assunto.

Ben Beck vive em Londres, onde trabalhou apoiando projetos de gestão de habitação comunitária. Ele ainda está ativo em sua própria cooperativa. Ele acompanhou a associação entre anarquismo e ficção científica por muitos anos. Veja anarchySF.com para ficção científica anarquista; livros, filmes, outras mídias.

Tradução > Bianca Buch

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agência de notícias anarquistas-ana

Na flor premiada
Uma mutuca agitada
Disputa olhares.

Mary

[Espanha] Frente à repressão: Não nos calarão!

Ocupar-se e preocupar-se pela situação das pessoas presas são atos que, nos dias de hoje, ficaram relegados aos que sofrem o encarceramento, a seus familiares e próximos, a uma ou outra associação de defesa de direitos humanos e aos quatro loucos que compartilhamos uma visão do mundo onde o Estado, a autoridade e os cárceres não tenham lugar.

Diz-se que uma mentira repetida mil vezes se converte em verdade e isto é o que aconteceu em relação com a finalidade que devem cumprir as penas privativas de liberdade. Uma mentira compilada no artigo 25.2 da Constituição: “As penas privativas de liberdade e as medidas de segurança estarão orientadas para a reeducação e reinserção social e não poderão consistir em trabalhos forçados” e que subscrevem as sucessivas leis, decretos, regulamentos, circulares aprovadas durante os quase cinquenta anos de regime democrático. Uma mentira que serve também de carta de apresentação dos cárceres, em cujas entradas encontramos os correspondentes letreiros e o artigo citado bem visível, do mesmo modo que nas entradas dos campos de concentração nazis poderia ler-se: “O trabalho os fará livres“. Mas a realidade desmente tanto palavreado jurídico.

A primeira evidência é que a lei não é igual para todos. Ao cárcere seguem entrando majoritariamente os pobres. Mais da metade das pessoas presas cumprem condenação por delitos contra o patrimônio e a ordem sócio econômica e por delitos contra a saúde pública, quer dizer, roubos e tráfico de drogas. Os banqueiros, empresários, políticos e grandes traficantes têm dinheiro e privilégios suficientes para comprar vontades e evitar o estigma carcerário.

A segunda evidência é que a pena de cárcere é um fim em si mesma e tem como objetivo castigar o fato tipificado como delito. No cárcere ficam encerrados por tempo indefinido todos aqueles que não puderam, não souberam ou não quiseram se amoldar às ajustadas margens de liberdade tutelada que oferecem os chamados Estados Sociais e Democráticos de Direito. Quem ouse ultrapassar os limites que se atenha às consequências. E estas também são uma evidência. O cárcere nunca procurará que a pessoa privada de liberdade se eduque e insira na sociedade. Tampouco que goze dos mais mínimos e elementares direitos fundamentais, como a liberdade de expressão, a de reunião e associação, o direito à educação, a liberdade e a segurança, o direito à tutela judicial e à presunção de inocência, o direito à intimidade, ao segredo das comunicações, o direito à igualdade ante a lei… nem a outros como o de ter um trabalho remunerado, gozar dos benefícios da Segurança Social, o acesso à cultura e ao desenvolvimento integral de sua personalidade. E isso é assim porque nem há vontade política nem orçamentos mais além dos destinados a manter a ordem e a segurança destes centros de extermínio. O que sim abunda nos cárceres é arbitrariedade, prepotência, abusos, maus tratos, péssima alimentação, abandono sanitário, super medicação psiquiátrica, mortes, desespero…

Para denunciar este estado de coisas, fomos em 19 de janeiro passado no cárcere de Villanubla. A marcha correu sem incidentes. Foram gritados os lemas habituais e se entabulou comunicação com os presos que se assomaram às janelas de suas celas. Foram mandadas e recebidas palavras de alento, escutamos suas queixas, suas reivindicações.

Dois meses mais tarde, uma das participantes desta marcha recebeu uma denúncia da Subdelegação de Governo de Valladolid por importe de 200 euros (100 se for paga no prazo de quinze dias e se renuncia às alegações), por infringir o artigo 37.4 da Lei Orgânica 4/2015, a maldita Lei Mordaça, que multa a falta de respeito e consideração às Forças e Corpos de Segurança do Estado. Segundo a ata-denúncia, oito policiais nacionais: “escutaram perfeitamente como uma mulher se dirigia a eles dizendo-lhes textualmente: “A POLÍCIA TORTURA E ASSASSINA“. Também, incitava os presos do Centro Penitenciário para que faltassem ao respeito e insultassem os policiais ali presentes, os quais estavam realizando seu trabalho“.

Esse dia ninguém foi identificado. Nem nós nos dirigimos a eles nem eles a nós. O que fizemos esse 19 de janeiro foi exercer nosso legítimo direito de reunião e de liberdade de expressão, assim como denunciar as péssimas condições sanitárias e laborais das pessoas presas, para lhes dar força e ânimo e recordar-lhes que não estão sós.

Não podemos nos deixar amedrontar por sua repressão. Não nos calarão.

ABAIXO OS MUROS DAS PRISÕES.

FOGO À LEI MORDAÇA.

Fonte: https://valladolorentodaspartes.blogspot.com/2025/04/frente-la-represion-no-nos-callaran.html

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Um largo sorriso
Explode ao sol da manhã;
A orquídea floriu.

Neide Rocha Portugal

[Grécia] Cartaz | 37 anos da Okupação Lela Karagianni 37

Nas ruas da resistência militante, da solidariedade de classe e da auto-organização social

E até a próxima primavera, nada de nostalgia por este mundo envelhecido que há muito tempo se tornou coisa do passado.

Nenhum compromisso com o presente sem vida que promete apenas o pior.

Sem hesitação e medo pelo futuro que queremos: Revolução Social, Anarquia e Comunismo Libertário.

Assembleia Aberta da Okupação Lela Karagianni 37
 
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Nem uma brisa:
o gosto de sol quente
nas framboesas

Betty Drevniok

Sindicato Independente de Trabalhadores participa de podcast da Rádio Brasil Sul

> Ontem (13/04), o Sindicato Independente de Trabalhadores (SIT-AP) participou do podcast ”Nem mais, Nem menos”, da Rádio Brasil Sul, com a apresentadora Sueli Galhardi. Foi uma conversa potente sobre os caminhos do Sindicalismo Revolucionário no Brasil e em Londrina e Região.

> Falamos sobre o que nos diferencia do sindicalismo atrelado ao Estado e aos patrões — e reafirmamos a construção de um sindicalismo combativo, horizontal, e enraizado na luta real da classe trabalhadora: nossa luta não cabe nos trilhos do sindicalismo domesticado pelo Estado.

> Com a FOB (Federação das Organizações de Base), levantamos um sindicalismo que não se ajoelha.
Não vendemos a luta. Não trocamos consciência por cargo.

> Porque a história ainda pulsa nas veias do povo trabalhador. E será com punhos cerrados, pés firmes na terra e olhos voltados ao horizonte que derrubaremos os muros do velho mundo e abriremos caminho para um novo tempo: livre, justo e nosso!

O Sindicalismo Revolucionário está mais vivo do que nunca — se reorganizando pela base, com autonomia e ação direta!

>> Escute o podcast aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=q3PizAM9APY

lutafob.org

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O vento cortante
Assim chega ao seu destino –
Barulho do mar.

Ikenishi Gonsui