Pescadores artesanais do Marajó querem fim da exploração de petróleo na Amazônia

Às vésperas da COP30, comunidade pesqueira faz protesto contra projeto de exploração na Foz do Amazonas

Às vésperas da COP30, pescadores artesanais  da Ilha do Marajó se uniram no domingo (21/09), em Jubim, para protestar contra a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Dezesseis barcos formaram uma linha e exibiram uma faixa gigante com a frase: “COP30: Amazônia de Pé, Petróleo no Chão”.

O projeto de exploração na Foz do Amazonas é visto como uma ameaça à segurança alimentar e econômica da comunidade, pois coloca em risco os ecossistemas marinhos e os estoques pesqueiros. Um vazamento ou a simples presença da indústria do petróleo poderia poluir a água e destruir o modo de vida tradicional dos pescadores.

A mobilização destaca o papel crucial das comunidades que vivem na linha de frente dos impactos da exploração de combustíveis fósseis. Nelson Bastos, pescador e pesquisador da UFPA, alerta que a exploração agravaria os problemas já enfrentados pelos pescadores, que têm suas ferramentas e redes danificadas pelo trânsito de navios.

“E com a exploração de petróleo em curso na Foz do Amazonas, a vida dos pescadores artesanais do Jubim e do Marajó está ainda mais ameaçada. Estes grandes projetos em curso no território amazônico deixam as comunidades tradicionais da região vulneráveis ao capital internacional, que vem nos explorar e deixar os pescadores sem opção”, disse.

A mensagem das comunidades é clara: a COP30 não pode ser coerente com a abertura de novos poços na Amazônia. A ação no Marajó simboliza uma “linha vermelha” contra a violência e a destruição ambiental, exigindo um futuro sem fósseis e sem “falsas soluções”.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

Ao sair de casa
não preciso de agasalho —
Calor da primavera.

Sandra Miyatake Sakamoto

[Filipinas] Protestos antigovernamentais em Manila resultam em 216 detidos e 95 polícias feridos

Pelo menos 216 pessoas foram detidas e 95 polícias ficaram feridos durante confrontos no domingo (21/09) entre manifestantes e as forças de segurança em Manila. Protestos também foram relatados em Baguio, Bulacan, Cebu e Davao.

“Foram detidos 216 indivíduos, entre eles 127 adultos e 89 menores”, anunciou em conferência de imprensa o secretário do Departamento do Interior, Jonvic Remulla, acrescentando que “enquanto 95 agentes da polícia ficaram feridos, alguns gravemente”.

Os confrontos ocorreram quando uma das manifestações realizadas no domingo na capital, no histórico parque Luneta, e que contou com a participação de cerca de 50 mil pessoas, segundo dados oficiais, tentou avançar em direção ao palácio presidencial de Malacañang.

Os manifestantes lançaram cocktails molotov contra um veículo que lhes bloqueava o caminho numa ponte, e posteriormente as forças de segurança recorreram ao uso de canhões de água para dispersar uma multidão que atirava pedras e outros objetos.

Os confrontos, iniciados durante a tarde, degeneraram em distúrbios até bem tarde da noite na avenida Recto, que leva ao palácio presidencial, onde um hotel de luxo foi vandalizado.

Remulla acusou os detidos durante os confrontos de “anarquistas”, muitos deles menores, de tentarem desencadear uma onda de protestos violentos semelhantes aos vividos recentemente na Indonésia e no Nepal.

Dezenas de milhares de filipinos mostraram neste domingo o descontentamento com os casos de corrupção milionária em projetos de controle de inundações, com políticos e empreiteiros sob investigação.

Supostamente concluídos, mas na realidade inexistentes ou de baixa qualidade, vários projetos “fantasma” terão causado prejuízos ao erário público na ordem dos US$ 9,5 bilhões apenas nos últimos dois anos.

A indignação do povo piorou depois que um casal rico, Sarah e Pacifico Discaya, que operava várias empresas de construção, ganhou contratos de controle de enchentes mostraram dezenas de carros de luxo e SUVs europeus e americanos que eles possuíam.

“Sinto-me mal por estarmos chafurdando na pobreza e perdermos nossas casas, nossas vidas e nosso futuro enquanto eles arrecadam uma grande fortuna com nossos impostos, que pagam seus carros de luxo, viagens ao exterior e transações corporativas maiores”, disse a ativista estudantil Althea Trinidad à imprensa local.

As Filipinas enfrentam cerca de vinte tufões por ano e, no ano passado, sofreram uma avalanche invulgar de seis tempestades tropicais consecutivas em menos de um mês, que causaram, pelo menos, 164 mortos.

As reivindicações anticorrupção provocaram, por enquanto, a demissão do presidente da Câmara dos Representantes, Martin Romualdez, enquanto o presidente do Senado, Francis Escudero, foi afastado na semana passada, após a divulgação de ligações com um dos grandes empreiteiros sob investigação.

Fonte: agências de notícias

agência de notícias anarquistas-ana

espiral de sol –
luz nas frestas da
escada em caracol

Carlos Seabra

[Espanha] Lançamento: “La pequeña historia. Crónicas de lucha obrera y exilio de un anarquista”, de José Viadiu

A pequena história. Crônicas de luta obreira e exílio de um anarquista. Uma seleção de escritos de José Viadiu. Prólogo, notas e seleção de textos: Ignacio Llorens.

Durante os anos do exílio no México, José Viadiu colaborou em diversas publicações. Sob a epígrafe de “La pequeña historia” foi recordando fatos e companheiros. Com um estilo dinâmico, uma prosa culta e fortes doses de ironia, nos oferece uma crônica daqueles anos de luta, de pólvora e tinta. São muitas as anedotas divertidas e apresenta fatos pouco conhecidos sobre figuras políticas e intelectuais da época, tais como Eugenio d’Ors, Lluís Companys, o general Arlegui, Rodrigo Soriano, Gabriel Alomar, Juan March…

Os que o conheceram guardaram uma boa recordação dele, sendo uma figura respeitada por seu compromisso e honestidade. Uma opinião sempre tida em conta nos debates e polêmicas. Para José Peirats foi como um pai benévolo a quem pedir conselho e com quem aprender.

A humildade impediu Viadiu, lamentavelmente, de escrever umas memórias que, certamente, teriam sido de grande interesse. Do que foi publicando nos jornais e revistas do movimento libertário extraímos a presente seleção de textos. A crônica de lutas, greves, atentados… há que somar as breves biografias de velhos companheiros resgatadas do desmerecido esquecimento, e a recordação crítica de figuras determinantes. Confiamos em que a voz de Viadiu, que para tantos foi essencial, poderá voltará a ser ouvida nestas páginas.

La pequeña historia. Crónicas de lucha obrera y exilio de un anarquista. Una selección de escritos de José Viadiu. Prólogo, notas y selección de textos: Ignacio Llorens.

Fundación Anselmo Lorenzo

Col. Biografías y Memorias, 13

Madrid, 2025

200 págs.

ISBN: 978-84-127509-8-0

PVP: 17 euros

fal.cnt.es

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

de momento em momento
tudo que eu digo
se choca com o vento

Camila Jabur

[Alemanha] Outro fim do mundo é possível (13.09-24.09)

Sessões Antiautoritárias | Leipzig 2025

Em um mundo que parece estar se desfazendo, coletivos e indivíduos de Leipzig com mentalidade antiautoritária unem forças para pensar e agir juntos. Acreditamos que outro fim do mundo é possível, porque este mundo atual, baseado na exploração, exclusão e desigualdade, precisa chegar ao fim. Quando isso acontecer, precisamos estar prontos para construir um mundo em que ideais antiautoritários de liberdade e igualdade sejam as pedras angulares da sociedade.

Sabemos que essa não é uma tarefa fácil. Não esperamos uma mudança imediata, e não existem receitas nem especialistas com respostas infalíveis. Em vez disso, propomos uma espécie de jam session antagônica em conjunto: um espaço para nos reconhecermos mutuamente, nos expressarmos e trocarmos ideias para realizar ações políticas coletivas. A partir desses diversos elementos aparentemente desconectados, esperamos poder construir uma alternativa desde baixo contra todas as formas de autoritarismo, venha ele de onde vier.

Observamos com crescente preocupação a proliferação de ideias autoritárias de todo tipo. A fragmentação e a incerteza nos levam a buscar segurança em estruturas já existentes de homogeneidade e fixidez. Para alguns, isso parece uma solução; para nós, é parte da raiz dos problemas. Abraçamos a diversidade e a indefinição; carregamos o desejo de construir uma sociedade onde todos tenham lugar, em toda a sua complexidade.

É por isso que Eisi für Alle, tribu.x e nossos amigos convidam você a fazer parte destes dias auto-organizados. Incentivamos você a participar e a buscar formas de se engajar e estar ativo. Precisamos de cada pessoa para construir os mundos com que sonhamos.

asessionsleipzig.noblogs.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Virada do morro:
Ipê e seu grito amarelo
perpendicular.

Eolo Yberê Libera

[Itália] Empoli: Inauguração do monumento a Oreste Ristori

SÁBADO, 27 DE SETEMBRO DE 2025

INAUGURAÇÃO DO MONUMENTO A ORESTE RISTORI

Oreste Ristori, militante anarquista, fuzilado em 2 de dezembro de 1943 pela escória fascista em represália às lutas partisanas. Oreste, um companheiro entre os últimos, sem hierarquias, entre os primeiros nos combates, contra a exploração, as injustiças, o militarismo, o fascismo e a peste religiosa. Por uma sociedade libertária, igualitária, autogerida e solidária, sem servos nem patrões, pelo comunismo anarquista.

16H30: SAUDAÇÕES, DISCURSOS, MÚSICA E CANÇÕES SOCIAIS

TODA A POPULAÇÃO É CONVIDADA

COMITÊ ORESTE RISTORI

CENTRO DE ESTUDOS LIBERTÁRIOS PIETRO GORI

Federação Anarquista Italiana de Empoli e do Vale do Elsa

agência de notícias anarquistas-ana

um pé no degrau
um passo na escada
bate coração

Carlos Seabra

Distúrbios e bloqueios na Itália em uma greve contra a guerra em Gaza

A Itália viveu ontem (22/09) uma jornada de greve geral convocada pelos sindicatos de base do país em solidariedade com o povo palestino. Umas greves que afetaram especialmente portos, o transporte público, a saúde e o ensino, e que terminaram com fortes confrontos em Milão entre manifestantes e policiais.

De Turim a Nápoles, a greve geral decorreu sem incidentes na maioria das mais de 80 cidades que saíram às ruas contra a invasão em Gaza. Só em Roma, segundo a organização, o protesto mobilizou mais de 100 mil pessoas.

Em Milão, no entanto, o protesto degenerou em confrontos com a polícia quando cerca de uma centena de manifestantes encapuzados tentou entrar à força na estação de trem, quebrando portas e mobiliário urbano. A polícia de choque usou gás lacrimogêneo para dispersá-los. Pelo menos 20 pessoas foram detidas e 60 agentes da polícia ficaram feridos. Anteriormente, na Praça da República, perto do Consulado Geral dos Estados Unidos, alguns manifestantes queimaram bandeiras de Israel, dos Estados Unidos, da UE e da OTAN.

“A greve foi convocada em resposta ao genocídio em curso na Faixa de Gaza, ao bloqueio da ajuda humanitária pelo exército israelense e às ameaças contra a missão internacional da Flotilha Global Sumud”, explica a central sindical USB (Unione Sindacale di Base).

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Chuva de primavera —
O casal na correria
rindo sem parar.

Edson Kenji Iura

Marinha leva tropas e blindados para a Amazônia em preparação para a COP30 e a Operação Atlas 2025

O Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, pertencente à Marinha do Brasil, está a caminho de Belém (PA) transportando 1.100 militares e 435 toneladas de armamentos, munições, mísseis, veículos blindados, viaturas leves e outros equipamentos militares das Forças Armadas.

As informações são da Marinha e foram divulgadas na quarta-feira, 17 de setembro.

O Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico deixou a Base Naval da Ilha das Cobras (RJ) no dia 13 de setembro.

Militares das Forças Armadas serão empregados na Operação Atlas 2025 e na segurança da COP30

Os militares das Forças Armadas e os equipamentos militares serão empregados na Operação Atlas 2025, um exercício conjunto entre Exército, Marinha e FAB (Força Aérea Brasileira) que será realizado em Roraima próximo à fronteira com a Venezuela.

Depois, também deve reforçar a segurança da Amazônia Oriental durante a COP30, o maior evento das Nações Unidas para discussão e negociação sobre mudanças climáticas, com dezenas de países representados. Até o momento, delegações de 79 nações já confirmaram presença.

A reunião da cúpula da COP30 acontecerá nos dias 6 e 7 de novembro em Belém (PA).

Em 15 de setembro, o Comando Militar do Norte informou que foi realizada mais uma reunião de alinhamento entre as Forças Armadas brasileiras a respeito dos esquemas de manobra, defesa e mobilidade urbana necessários à segurança da COP30.

Principal exercício militar da Operação Atlas 2025

Apesar de toda a grande operação logística da Atlas 2025 já ter sido iniciada há alguns meses e já terem acontecido etapas de disparo de armas pesadas em outras regiões do Brasil, o principal exercício tático de terreno acontecerá entre os dias 2 e 11 de outubro.

Segundo o Ministério da Defesa, a Operação Atlas 2025 representa otimização em relação a operações anteriores semelhantes: “Está alinhada ao compromisso do Brasil com a proteção da Amazônia e a promoção da soberania nacional”.

Fonte: agências de notícias

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A sensação de tocar com os dedos
O que não tem realidade –
Uma pequena borboleta.

Buson

[Grécia] Discussão sobre a criação de um grupo auto-organizado de atletismo

Convocatória para a criação de uma equipe auto-organizada de atletismo na quarta-feira, 24/09, às 20h, no DAC de Korydallos, Attica.

O texto do convite:

Convite para a formação de um grupo de atletismo auto-organizado e autogerido. Quarta-feira, 24/9, às 20h no DAC de Korydallos, na cantina (fechada, não está em funcionamento) do estádio.

Numa época em que o esporte se transforma em mercadoria, os espaços esportivos em campos de lucro e os atletas em produtos, nós escolhemos o caminho da resistência coletiva e da criação. Convocamos todos aqueles que desejam criar um espaço esportivo sem patrocinadores, sem treinadores-patrões, sem exclusões. Um grupo que funcionará horizontalmente, com decisões coletivas, respeitando as necessidades e possibilidades de todos. Não nos interessa o desempenho, mas a participação. Não nos interessa a disciplina, mas a camaradagem. Não nos interessa a imagem, mas a essência. Vamos discutir:

  • A estrutura e o funcionamento do grupo
  • As necessidades em termos de equipamento e acesso ao espaço
  • As implicações políticas da auto-organização no esporte

Se você acredita que o esporte pode ser um espaço de liberdade e resistência, venha reivindicá-lo conosco.

O esporte pertence a nós!

agência de notícias anarquistas-ana

vende a vida inteira
pelo pão de cada dia
a liberdade bóia, fria

Goulart Gomes

Cuba, um olhar libertário e emancipador

Há alguns anos, quando já se passava mais de meio século do início da revolução cubana, e por ocasião da morte de Fidel Castro, escrevi um artigo, similar a este que agora atualizo em setembro de 2025. Aquele texto começava recordando as paixões e as rejeições que ela produzia, assim como ocorre com outros experimentos socialistas de Estado, como o caso do chavismo, e muitas vezes sem possibilidade de matizar entre os dois extremos devido à visceralidade das posições a favor e contra. Desde posições transformadoras e socialistas, mas também amantes da liberdade em todos os âmbitos da vida, só podia denunciar mais uma vez o rotundo fracasso que havia significado o comunismo de Marx, filtrado posteriormente pelo leninismo, tanto em sua teoria supostamente científica, como em sua práxis política levada a cabo em não poucos países. No entanto, apesar desta evidente prática fracassada, com uma negação da liberdade em todos os âmbitos da vida, e com uma fracassada política econômica (que, em qualquer caso, nunca foi autogestão por parte dos trabalhadores, nem pareceu ter caminhado em nenhum caso rumo a isso) certa esquerda encontrava, pelo menos até não muito tempo atrás, novos referenciais uma e outra vez nessas experiências de Estado.

Os debates sobre o regime cubano se perderam em discussões sobre se aquilo é ou não uma ditadura, sobre a suposta participação popular intrínseca não homologável com as democracias liberais ou, inclusive, pelo menos até não muito tempo atrás por parte de alguns intelectuais europeus, sobre que era preciso deixar que os cubanos levassem a cabo seu próprio caminho para o socialismo livre de interferências e tutelas externas. Os mais recalcitrantes defensores da revolução apontavam para todos aqueles, entre os quais suponho me encontrar (um vínculo familiar me une à ilha e estive lá em duas ocasiões), que pretendem julgar seu sistema político e econômico só por ter estado lá algumas semanas fazendo turismo, e se esforçavam em nos mostrar supostos dados benévolos, especialmente sobre saúde e educação, comparados com outros países pobres. Tudo de negativo no regime era, supostamente, produto das mentiras da imprensa burguesa capitalista (difícil de defender isso de maneira plena com a revolução tecnológica das comunicações que ocorreu nos últimos anos e sem negar a confusão que pode continuar existindo sobre qualquer parte do planeta).

Um clássico tem sido também aqueles que asseguravam que o foco negativo era colocado sempre em países socialistas como Cuba, embora o certo é que, se isso foi assim, tenho a sensação de que já faz muito tempo que não é; é possível que o quase total silêncio de nossa imprensa generalista esteja motivado por todos aqueles investidores ocidentais dispostos a converter o capitalismo de Estado atual em Cuba em capitalismo privado sem importar demasiado o bem-estar dos próprios cubanos. Os opositores cubanos mais viscerais consideram, assim ouvi de alguns, que figuras como Fidel Castro ou o Che Guevara, longe de serem louváveis líderes revolucionários, não eram melhores que Hitler. Outra acusação habitual destes, que pouco ou nada acrescenta, é atacar de maneira cortante quem sustente algo bom do regime cubano com algo assim como “Vai morar lá!”. O certo é que todo esse maremágnum retórico não deixa de encobrir uma realidade, com um povo cubano em permanente crise econômica, com um regime encurralado em medidas autoritárias e com perspectivas transformadoras bastante desalentadoras.

Anarquistas em Cuba

Vamos dar, em primeiro lugar, uma rápida olhada no que tem sido o movimento anarquista em Cuba, partidário do socialismo autogestionário, com maior peso do que se quis ver de maneira oficial. Na luta contra Batista, como é lógico, os ácratas tiveram um papel ativo. Muito cedo, com a chegada de Fidel Castro ao poder, encontrarão uma repressão em suas fileiras; em suas publicações, advertirão sobre o autoritarismo, o centralismo estatal e a hegemonia do Partido Comunista e reclamarão democracia nos sindicatos. Os anarquistas, assim como deveriam fazer os marxistas à margem de doutrinas pseudocientíficas e finalidades “históricas”, apostavam pela autogestão e pela emancipação dos trabalhadores. Não obstante, o caminho do Estado cubano derivou, com sua falta de liberdade e de iniciativa própria, no totalitarismo e na dependência do modelo soviético.

Ao serem conscientes deste desastre, em 1960 os anarquistas fizeram uma declaração de Princípios mediante a Agrupação Sindicalista Libertária; nela, atacava-se o Estado, o centralismo agrário proposto pela reforma do governo, assim como o nacionalismo, o militarismo e o imperialismo. Os libertários mantinham-se fiéis à sua concepção da liberdade individual, como base para a coletiva, à sua aposta pelo federalismo e por uma educação livre. As habituais acusações aos críticos da revolução cubana, que de uma forma ou outra chegam aos nossos dias, de estarem a soldo dos Estados Unidos ou outros elementos reacionários não tardariam a chegar. Depois daquilo, a repressão castrista fez com que o anarcossindicalismo não tivesse lugar ao ser erradicada a liberdade de imprensa e não pudesse fazer propaganda ideológica. Iniciou-se o êxodo anarquista nos anos 60, restando poucos militantes em Cuba e sofrendo um miserável despotismo.

Naqueles primeiros anos da revolução cubana, criaram-se organizações no exterior, como o Movimento Libertário Cubano no Exílio (MLCE), e houve outros manifestos libertários criticando a deriva totalitária. Uma obra anarquista destacada é Revolución y dictadura en Cuba, de Abelardo Iglesias, publicada em 1961 em Buenos Aires. A posição anarquista, pelo menos por parte da maior parte do movimento, estava clara. A incansável atividade intelectual de alguns anarquistas cubanos faz com que se exponha com clareza meridiana conceitos como os seguintes: “expropriar empresas capitalistas, entregando-as aos operários e técnicos, isso é revolução”; “mas convertê-las em monopólios estatais nos quais o único direito do produtor é obedecer, isso é contrarrevolução”. Apesar destes esforços, no final da década de 60, o castrismo parecia estar ganhando a propaganda ideológica, o que provocou que alguns meios libertários, na Europa e na América Latina, tendessem cada vez mais a apoiar a revolução cubana.

Um ponto de inflexão para esta situação será a publicação em 1976 no Canadá do livro The Cuban Revolution: A Critical Perspective (A Revolução Cubana: uma abordagem crítica), de Sam Dolgoff, excelentemente distribuído e que “fez um impacto demolidor entre as esquerdas em geral e os anarquistas em particular”. O livro constituiu uma certeira abordagem crítica do castrismo, recolhendo a luta do MLCE (reiteradamente acusado de estar a serviço da reação) e propiciando seu reconhecimento internacional; o impacto sobre o anarquismo internacional, e inclusive sobre outras correntes de esquerda, foi considerável. Nos anos seguintes, é destacável a publicação Guángara libertaria, a cargo do MLCE, iniciada em 1979 e que chegou até 1992. Merece a pena também mencionar que o sindicato anarco-comunista Sveriges Arbetares Centralorganisation (SAC), na Suécia, em colaboração com a revista Cuba Nuestra, editada em Estocolmo, foi um nobre e solidário apoio no final dos anos 90 ao renascimento do anarquismo cubano.

Já no século XXI, destacou-se durante anos o boletim Cuba libertaria, do Grupo de Apoio aos Libertários e Sindicalistas Independentes em Cuba, onde estava nosso companheiro recentemente falecido Octavio Alberola, cujo primeiro número apareceu em fevereiro de 2004. O Taller Libertario Alfredo López, chamado assim em homenagem a uma figura destacada do anarcossindicalismo em Cuba, organizou as Jornadas Primavera Libertária de Havana quase de maneira ininterrupta desde 2013 até 2024, momento final em que mal tinha atividade; foram anos com múltiplas atividades, em espaços afins e públicos fomentando o debate, a criação de uma editora e de diversas publicações. Em 2018, graças à ajuda de libertários de todo o mundo, pôde-se comprar um espaço em Havana para dar lugar à ABRA, o primeiro centro social anarquista na ilha depois de décadas de ausência. Em 2016, criou-se a Federação Anarquista da América Central e do Caribe (FACC), da qual hoje é difícil encontrar rastro além de um mínimo espaço de comunicação e coordenação entre diversas regiões. A chamada quarta geração de anarquistas em Cuba foi uma grande esperança através do Observatório Crítico de Havana, do mencionado Taller Libertario ou de diversas associações, de marcado caráter antiautoritário e autogestionário, promotoras da pedagogia libertária, dos direitos LGBTQi+, do ecologismo ou da cultura africana. Desgraçadamente, todas estas iniciativas desapareceram atualmente ou têm grandes dificuldades para se manter.

Perspectivas do processo revolucionário atualmente

Se algo alimentou o mito da revolução cubana tem sido o criminoso bloqueio ou embargo dos Estados Unidos, que perdura até nossos dias apesar dos vaivéns nas diferentes administrações; Biden teve certa continuidade com as relações diplomáticas iniciadas com Obama, mas Trump acabou por destruí-las. Mais uma vez, gostaria de deixar claro que é tão intolerável esse bloqueio econômico norte-americano quanto o que estabeleceram os Castro sobre a população cubana. Essa dicotomia Estados Unidos versus Cuba, como em tantas outras, essa escolha entre o ruim e o pior, tendência tantas vezes da mentalidade humana, é pobre e falaciosa; o ruim continua sendo ruim, é preciso trabalhar por um caminho que assegure a justiça e a liberdade. Assim tentaram fazer historicamente os anarquistas, desde a época colonial até o atual sistema totalitário no qual a chamada quarta geração mantém a chama libertária, ainda que de forma muito debilitada devido às grandes dificuldades. Apesar da propaganda sobre a democracia interna do regime e a participação popular, desgraçadamente, disse-se que os movimentos sociais têm sido inexistentes em Cuba durante a chamada revolução, já que a única representação política tem sido através do Partido Comunista e da União de Jovens Comunistas, e não parece que o regime evolua tampouco no que respeita a isso.

A revolução cubana mostrou-se duplamente perversa, por sua condição intrínseca, suavizada pela magnificação de seus logros, e por arrogar-se uma autoridade moral fundamentada em sua suposta natureza transformadora e progressista, que hoje já se vê como uma caricatura. A queda do bloco soviético, do qual dependia economicamente em grande nível, significou um duro golpe para Cuba com o chamado período especial; naquela década de 90, começam algumas mudanças, mas só para levantar as excessivas proibições que saturavam a vida dos cubanos e obrigá-los a numerosas práticas sociais para sua sobrevivência. Tratava-se de um encurralamento permanente do regime no centralismo e nesse suposto socialismo, que mais bem deveríamos chamar de capitalismo de Estado. Após a morte de Fidel Castro em 2016, o regime teve continuidade com a liderança de seu irmão Raúl, hoje ainda muito influente segundo dizem apesar de sua avançada idade, embora a presidência corresponda desde 2019 a Miguel Díaz-Canel. Em qualquer caso, após o desaparecimento de Fidel Castro, apesar de algumas reformas internas aparentemente liberais (embora assegurando o controle estatal da economia), produziu-se uma evidente política de continuidade. Certas reformas e abertura, que em qualquer caso nunca caminharam para nenhum efeito emancipador e mais pareciam um caminho similar ao do comunismo chinês, constituíram apenas um miragem. Após sucessivas crises, agravadas pela pandemia, uma onda de protestos ocorreu na ilha no final de 2020 e começos de 2021, farto o povo da carestia e penúrias de todo tipo, ante o que o regime só soube recuar para uma maior repressão. Passado já um quarto do novo século, não é possível continuar escorando moralmente um regime que, de um ponto de vista autenticamente social e revolucionário, não conduz a lugar nenhum e mantém a população em uma intolerável precariedade sem aportar soluções e culpando, ainda, a fatores externos pela situação econômica.

Em seu momento, ante o caminho autoritário, centralista e burocrático, da práxis marxista-leninista na Rússia, os anarquistas advertiram que iam conseguir que as pessoas acabassem odiando a palavra comunismo. Atualmente, uma reprovação mais a realizar à suposta revolução, exemplos como o de Cuba levaram a que resulte difícil imaginar, para a maior parte das pessoas, nenhuma solução a nível econômico que não seja a da entrada na ilha de investidores privados; ou seja, substituir o capitalismo de Estado, insistirei em que não podemos denominar de outro modo o esclerotizado sonho “revolucionário” cubano, por um capitalismo livre de barreiras para os que mais têm. E é que, à margem de discursos e proclamações que à medida que passam os anos resultam cada vez mais patéticos, a única realidade é que dita Revolução jamais cumpriu a promessa de acabar com a explotação, nem com as diferenças de classe e, assim como nos países capitalistas, um abismo separa as elites do povo. No que concerne às liberdades políticas, igualmente, essa insistência do regime cubano em levar a cabo seu próprio processo participativo de Partido único, que encobria obviamente formas nitidamente autoritárias, conduziu a reclamar para a ilha uma homologação com as democracias liberais multipartidárias. Desde um olhar libertário e autenticamente emancipador, e como já assinalaram os companheiros do Taller Libertario, só podemos exigir “todas as formas de auto-organização de quem trabalha, convive e cria em Cuba” sem imposições autoritárias de nenhum tipo e com uma liberdade em todos os âmbitos vivenciais onde predomine a solidariedade. Apesar da apatia e falta de organização da classe trabalhadora cubana, assim como da precarização de grande parte da população, por décadas de subordinação e dependência do Estado, é um desejo compartilhado pelo conjunto dos libertários pelo qual continuaremos apostando e apoiando em qualquer parte do planeta.

Capi Vidal

Fonte: https://redeslibertarias.com/2025/09/16/cuba-una-mirada-libertaria-y-emancipadora/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Aqui e ali,
Sobre os campos florescem
As quaresmeiras.

Paulo Franchetti

[Espanha] CNT ELX – Voltemos à luta!

Mais uma vez iniciamos nossas atividades para conformar um sindicato em combate, como sempre foi a Confederação Nacional do Trabalho.

Um sindicato que faz das palavras União, Ação e Autogestão a guia de nossas atividades e objetivos.

Porque não lutamos apenas contra a precariedade e a situação que enfrentam os/as trabalhadores/as, lutamos contra o capital, contra a exploração e o roubo da mais-valia pela classe empresarial. Em um momento em que, praticamente, a quase totalidade da mal chamada esquerda renunciou a seus postulados históricos e se converteu em meros gestores assalariados do capitalismo e da economia de mercado, esquecendo os problemas enfrentados pela classe trabalhadora. Claro, nossos políticos nunca tiveram que estar às 8 da manhã em uma linha de montagem de fábrica.

Nós nos declaramos firmemente ANTICAPITALISTAS, já que o capitalismo é um sistema que precisa ser derrubado ou acabará destruindo tudo, talvez até se autodestruindo, com um consumo desenfreado e irracional, tanto dos recursos quanto do nosso próprio planeta.

Mas não temos apenas que levantar nossas armas contra o sistema econômico atual. Também – e tod@s têm consciência da situação que vivemos a nível mundial e nacional – é preciso enfrentar o retorno do fascismo. Sim, com todas as letras, com governos liderados por genocidas que implementam políticas de extermínio e discriminação. Não é necessário listar os países sob esse tipo de governo. Um câncer que se espalha e que, evidentemente, também já chegou à Europa.

É preciso frear o fascismo em todos os fronts.

Ao mesmo tempo, é hora de criar consciência, cultura e organização para que nossa alternativa seja viável, desde baixo, como não poderia ser de outro modo. Somente com cultura e formação, com solidariedade e apoio mútuo, podemos e devemos criar e tecer redes de autodefesa.

Pela Anarquia, para que esta seja visível em nossa teoria, mas também para colocá-la em prática, para ir além das palavras. É preciso defender a liberdade e as liberdades, aquelas que pouco a pouco estão sendo retiradas de nós. É preciso lutar pela igualdade e pela justiça social.

Isto não é uma moda, é um compromisso de todo revolucionário, de toda pessoa com consciência de classe, de classe trabalhadora.

Como não podemos esquecer, este é o nosso hino:

Tempestades negras agitam os ares
Nuvens escuras nos impedem de ver
Ainda que nos esperem a dor e a morte
Contra o inimigo nos chama o dever

Hoje como ontem, a CNT está em luta. Se você quiser, aqui tem o seu lugar. Não vai ser fácil, mas juntos somos mais fortes.

Saúde e Anarquia!

Fonte: https://elche.cnt.es/2025/09/09/cnt-elx-volvemos-a-la-carga/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

A rã de Bashô
sai num pulo do haicai
dele para o meu.

Otoniel

Conferências da UAF: Não é falta de comida, é excesso de Capitalismo: A invenção da Fome

A fome não é um acidente nem uma fatalidade. É um projeto político e econômico do capitalismo, que transforma o alimento – um direito básico – em uma mercadoria lucrativa. Enquanto o agronegócio ostenta recordes de produção e lucros bilionários, milhões são lançados à miséria extrema, vítimas de um sistema que prioriza a exportação e a acumulação de riqueza nas mãos de poucos. A fome é a violência mais visceral deste modelo de morte.

É urgente desmascarar essa engrenagem perversa e romper com a narrativa de que não há alternativa. Precisamos falar de soberania alimentar, de autogestão, de apoio mútuo e de como a organização popular direta pode construir um novo caminho, desde já, a partir da base, sem depender do Estado ou dos capitalistas.

União Anarquista Federalista (UAF) convoca todes para a conferência “A Fome é uma Invenção do Sistema Capitalista”, no dia 03 de Outubro de 2025, às 20h. Vamos juntar a fome com a vontade de lutar! Para garantir sua inscrição e receber o link de acesso, envie um e-mail para uaf@riseup.net. Não vamos apenas denunciar a fome; vamos organizar a sua abolição!

União Anarquista Federalista (UAF)

uafbr.noblogs.org

agência de notícias anarquistas-ana

Na velha roseira,
entre as folhas e os espinhos,
uma aranha tece.

Humberto del Maestro

[Holanda] Parlamento aprova moção que proíbe movimento Antifa

O parlamento da Holanda aprovou na noite desta quinta-feira (18/09) uma moção do líder da oposição Geert Wilders classificando o movimento Antifa como terrorista e exigindo que o governo central adote a designação.

Na moção, Wilders afirmou que as células Antifa estão ativas na Holanda, acusando-as de ameaçar políticos, interromper eventos públicos e intimidar estudantes e jornalistas.

A moção pedia ao governo que tomasse medidas semelhantes às dos EUA, onde Trump anunciou que a Antifa seria designado como uma “grande organização terrorista” após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk.

Com a moção agora adotada, o governo holandês deve responder formalmente e decidir se implementa o pedido. Se realizada, a designação pode ampliar os poderes de aplicação da lei relacionados à vigilância, monitoramento e acusação de atividades suspeitas da Antifa no país.

Fonte: agências de notícias

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o sol inclinado
leva até minha parede
o gato do telhado

José Santos

Após decisão de Trump, premiê da Hungria quer declarar Antifa como organização terrorista

O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, anunciou nesta sexta-feira (19/09) que proporá a declaração do movimento Antifa como organização terrorista, seguindo a iniciativa do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk.

“Fiquei feliz com a decisão do presidente americano e vou propor que façamos o mesmo aqui, na Hungria”, disse Orbán em suas declarações de sexta-feira à emissora de rádio pública Kossuth.

O chefe de governo húngaro, aliado de Trump, afirmou que na Hungria “chegou o momento de que, seguindo o exemplo americano, classifiquemos organizações como a Antifa como terroristas”.

“A Antifa é, sem dúvida, uma organização terrorista”, enfatizou o primeiro-ministro húngaro, que não deu mais detalhes sobre o funcionamento dessa organização em seu país.

Trump declarou a Antifa como organização terrorista no último dia 17/09. O presidente americano também pediu na ocasião a abertura de investigações sobre os financiadores desse movimento nos Estados Unidos.

Fonte: agências de notícias

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no brejo,
os sapos coaxam.
o vento é frio e úmido.

Alaor Chaves

[Indonésia] Somos todos titereiros

42 pessoas de redes antiautoritárias nomeadas como suspeitas após manifestações #bubarkanDPR (abolir o parlamento)

De 25 de agosto a 5 de setembro, a Indonésia foi um mar de fogo. Uma onda de manifestações simultâneas terminou em batalhas de rua, incêndio de prédios governamentais e delegacias, além do saque de casas de políticos. Um total de 3.195 pessoas foram detidas em vários locais durante esse período. Isso sem contar as prisões posteriores.

Como parte das operações pós-manifestação, a polícia investigou e prendeu ativistas, administradores de contas de redes sociais de movimentos sociais e influenciadores. Esses receberam certa visibilidade, além do apoio merecido. Mas, ao mesmo tempo, na base, no nível popular, dezenas ou talvez centenas de pessoas foram presas, espancadas, isoladas do contato com suas famílias e privadas de assistência jurídica da Lembaga Bantuan Hukum – LBH (Instituto de Assistência Jurídica). Algumas foram noticiadas pela mídia local, mas a maioria permaneceu no silêncio: desapareceram de repente, e o movimento inteiro imediatamente foi forçado à clandestinidade, dominado pela paranoia.

Nossos temores são bem fundamentados. Sabemos que o Estado pode ser o perpetrador de violações de direitos humanos e de terrorismo. Temos memórias coletivas dos massacres de 1965, dos desaparecimentos de ativistas em 1998, do assassinato do ativista de direitos humanos Munir, de tudo de ruim que acontece a quem ousa lutar. Quem ousaria negar que a mesma coisa não pode acontecer novamente hoje?

Finalmente, na terça-feira, 16 de setembro de 2025, a Polícia Regional de Java Ocidental realizou uma coletiva de imprensa anunciando 42 suspeitos envolvidos em atos de vandalismo em Bandung. No entanto, todos foram resultado de uma investigação e prisões em nível nacional, realizadas até em Jombang e Makassar. Foram acusados de serem anarquistas.

Durante a coletiva, a Polícia Regional de Java Ocidental declarou que grupos anarquistas estavam envolvidos em atos de vandalismo, incitação à violência, distribuição de materiais sobre como montar coquetéis molotov e captação/gestão de fundos de organizações anarquistas internacionais no valor de 1 bilhão de rupias indonésias (60.795 dólares).

Nós não negamos essas acusações. Apenas destacamos como o governo tenta convencer o público de que a onda de revolta popular não se deve inteiramente à raiva do povo. O governo sempre pensa em uma lógica centrada no titereiro: acreditando que tudo é mobilizado centralmente por um punhado de atores intelectuais. Alguns acreditam que isso é orquestrado pela oposição política, o que é impossível, considerando a coalizão sólida de Prabowo que abarca toda a elite predatória. Outros acusam que seja obra de capangas financiados do exterior. Alguns conspiram sobre operações de inteligência militar. Ou então, que 42 anarquistas orquestraram os distúrbios.

Digamos que as acusações contra os anarquistas sejam verdadeiras. Mesmo assim, o governo ainda busca um bode expiatório, subestimando o raciocínio popular. Acham que, se milhares de membros do Partido Comunista da Indonésia (PKI), milhares de anarquistas, ou agentes estrangeiros, ou a oposição forem presos, milhões de outros indonésios, como motoristas de aplicativo (ojol), estudantes, universitários e donas de casa, não carregarão paus, não lançarão pedras, nem prepararão garrafas de vidro cheias de gasolina? Nosso governo não é estúpido. Eles negam deliberadamente e dizem: “está tudo bem.” Têm medo de admitir que o povo, isto é, todos nós, somos os titereiros.

Somos todos titereiros. Esta insurreição é a mais magnífica performance política que já encenamos. Nossa história é um roteiro ainda não escrito. Nosso diálogo começa com as palavras “Cukup!” (Basta!) e termina com “Merdeka 100%” (Independência 100%). Nosso papel é ser protagonistas de nossa própria libertação.

Em pouco tempo, a insurreição vai arrefecer, o fogo se apagará, a fumaça será levada pelo vento. Os prédios do parlamento (DPR) serão reconstruídos ainda mais fortes, o orçamento militar pós-insurreição disparará, mas as florestas dos povos indígenas continuarão a ser desmatadas, os trabalhadores ainda terão salários baixos, e o um por cento, a classe dominante, continuará a se beneficiar desse sistema explorador.

Organizemo-nos novamente, unamo-nos em sindicatos, fóruns comunitários e alianças estudantis. Vamos ler e debater, realizar formações, recrutamento e kaderisasi (regeneração/militância). Mostrar que as prisões não nos intimidam.

O Serikat Tahanan (Sindicato dos Prisioneiros) é um coletivo de prisioneiros antiautoritários. Organizamo-nos principalmente dentro, mas também fora das prisões em toda a Indonésia, para apoiar companheiros ativistas antiautoritários que foram encarcerados e para educar o público sobre as condições prisionais na Indonésia. Essa iniciativa, impulsionada por prisioneiros, começou como um simples ato de solidariedade entre nós, para cultivar esperança, para que não nos sintamos marginalizados nem saiamos da prisão mais destruídos do que entramos. Ao nos organizarmos, somos constantemente lembrados do porquê de termos começado nossa luta. Entre em contato conosco para mais informações em sociabuzz.com/serikattahanan.

Fonte: https://sea.theanarchistlibrary.org/library/serikat-tahanan-we-are-all-puppeteers-en

Tradução > Contrafatual

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Desfile de máscaras:
os tiranos são palhaços
quando o circo pega fogo.

Liberto Herrera

[República Tcheca] Feira Anarquista do Livro em Brno

Convidamos vocês para a 3ª Feira Anarquista Anual do Livro em Brno! Ela acontecerá no dia 4 de outubro de 2025 (sábado) em Káznice.

Vamos criar juntos um espaço onde possamos compartilhar não apenas livros e ideais, mas também habilidades práticas no espírito do Faça Você Mesmo (Do It Yourself – DIY). Além disso, como é habitual nas feiras anarquistas de livros, queremos nos encontrar, refletir juntos sobre nossa prática e forjar novas alianças.

  • No sábado, nos encontraremos no centro comunitário Káznice (Bratislavská 249/68), onde haverá, é claro, barracas com livros, zines, revistas e outros itens, mas também um programa paralelo (oficinas, palestras, performances, exibições e muito mais).
  • Em seguida, haverá um concerto e depois uma festa (afterparty).

Se você quiser compartilhar alguma habilidade prática, organizar uma oficina ou debate, não hesite em entrar em contato conosco por e-mail. Também agradecemos a ajuda na organização no local.

anarchist-bookfair-brno@riseup.net

anarchisticky-bookfair-brno.cz

Tradução > Lagarto Azul / acervo trans-anarquista

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Flor esta
De pura sensação
Floresta.

Kleber Costa

[Itália] Guerra imperialista e impacto no meio ambiente.

As guerras e os conflitos armados causam danos indescritíveis à população civil, precipitando-a na barbárie. Os conflitos passados e os atuais de Gaza e da Ucrânia estão aí para nos mostrar isso, mas também têm um impacto acelerador na devastação do meio ambiente em todos os seus aspectos, tanto de forma direta quanto indireta. A guerra moderna, da qual faz plenamente parte a perspectiva atômica, traz consigo a destruição de ecossistemas inteiros e mudanças climáticas irreversíveis, somando-se ao que o capitalismo já produz “normalmente” em sua espoliação intensiva e frenética dos recursos do planeta e nos estragos que isso acarreta. A guerra é o ponto focal de condensação de todos os fatores de crise do capitalismo, além de ser um salto qualitativo em direção à barbárie generalizada para toda a humanidade. A própria “transição ecológica” peculiar a um certo capitalismo “verde” não representou nada mais do que um dos setores de alto desenvolvimento capitalista e intensidade de capitais investidos, em concorrência com outros, mas agora enfrenta as prementes necessidades da fase do ciclo econômico e as prioridades da economia de guerra atual. Portanto, nada de alternativo ou resolutivo, tudo funcional ao lucro, de qualquer maneira. A única alternativa real é sempre a da afirmação da perspectiva proletária para construir uma relação diferente entre homem e natureza.

Eis uma síntese dos principais efeitos da guerra sobre o meio ambiente no esquema a seguir.

1. Aumento direto das emissões de CO

• Uso massivo de combustíveis fósseis: os meios militares (tanques, aviões de guerra, navios…) consomem enormes quantidades de combustíveis fósseis, emitindo grandes quantidades de CO₂;

• Produção e logística militar: fábricas de armamentos, transportes e bases militares geram emissões elevadas e raramente estão sujeitas a limites ambientais;

• Explosões e incêndios: bombardeios e ataques causam incêndios generalizados, liberação de substâncias tóxicas e radioativas e combustão descontrolada de materiais (como em depósitos de combustível ou instalações industriais).

2. Impactos indiretos e de longo prazo

• Destruição ambiental: florestas, solos e áreas agrícolas são destruídos ou contaminados, reduzindo a capacidade dos ecossistemas de absorver CO₂;

• Deslocamento de populações: milhões de deslocados por questões ambientais e de guerra aumentam a pressão sobre outras áreas, muitas vezes causando superlotação urbana e maior consumo de recursos;

• Reconstrução pós-guerra: a reconstrução de infraestruturas requer grandes quantidades de cimento, aço e energia, aumentando as emissões globais.

3. Erosão das “políticas climáticas”

As políticas “verdes” também visam o lucro. A transição “ecológica” visa melhorar o ciclo produtivo, mas essa transição é interrompida quando as crises e as guerras impõem outras prioridades, destinando todos os recursos disponíveis para a guerra.

4. O perigo da guerra atômica

Exemplos recentes:

• A guerra na Ucrânia causou uma massiva liberação de gases de efeito estufa (entre 100 e 150 milhões de toneladas de equivalente de CO₂ estimados nos primeiros meses);

• Os conflitos no Oriente Médio acarretaram destruição ambiental duradoura e incêndios em instalações petrolíferas.

As guerras são um multiplicador da mudança climática: aumentam as emissões, danificam os sumidouros naturais de carbono e reduzem a transição para energias alternativas ao petróleo.

Não existe uma guerra justa ou errada: existe o capitalismo e sua lógica bárbara de produção e exploração do ser humano e do meio ambiente.

A mudança climática também é, sobretudo, uma questão de classe, uma vez que o maior agente de destruição ambiental é o capitalismo.

O ecologismo sem uma visão anticapitalista é jardinagem.

Apoiar a guerra imperialista, ou mesmo apenas uma de suas frentes, significa destinar a raça humana ao risco de enormes sofrimentos e de extinção.

A única guerra digna de ser travada é uma e apenas uma: a luta de classes.

Fonte: https://interlab.blog/2025/09/11/guerre-imperialiste-e-impatto-sullambiente/

Tradução > Liberto

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Subo no caminhão
para uma longa viagem—
Adeus, ipê roxo.

Teruo Hamada