[Chile] O legado deste governo será a militarização permanente do Wallmapu

Por Héctor Llaitul Carrillanca

Somos um povoado ocupado política e militarmente. O Chile é um país de natureza profundamente racista e colonial. Na atualidade vivemos a opressão em todas as dimensões. O governo atual é o pior governo que nos coube viver desde a ditadura militar. O representamos graficamente da seguinte maneira: este 18 de maio completa 3 anos ininterruptos do Estado de Exceção, que concretamente significa tanques, blindados, helicópteros, drones e numeroso pessoal militar e policial para a defesa irrestrita das operações e dos interesses dos grupos econômicos que arrasam o Wallmapu com suas políticas extrativistas.

Com a militarização e a repressão se impõem a política do garrote muito fortemente contra a causa mapuche, e a política da cenoura ficando em segundo plano e só vai tratando de cooptar alguns setores mapuche, submetendo-os para desenvolver novos processos de investimento capitalista. Trata-se de políticas econômicas que se submetem ao reacomodamento do grande capital, como já denunciamos.

Em vez de paz e entendimento este governo deixará um legado que será o estabelecimento permanente da militarização no Wallmapu. O que se traduziu na alocação de muitos recursos para as polícias e as forças armadas, instalando um verdadeiro estado de ocupação militar nunca antes visto. E, sem dúvida, se manterá a repressão e perseguição às expressões de resistência.

Por tudo isso, é que voltamos a reafirmar que com este governo o povo Mapuche não conseguirá nenhum avanço pela via legal e institucional, e por isso se sustenta com mais força manter a resistência contra o capitalismo que arremete no Wallmapu histórico.

Por território e autonomia para a Nação Mapuche!

Fonte: https://radiokurruf.org/2025/05/19/el-legado-de-este-gobierno-sera-la-militarizacion-permanente-del-wallmapu/

Tradução > Sol de Abril

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agência de notícias anarquistas-ana

flor amarela,
no vaso, vê o mundo
pela janela

Carlos Seabra

Servidores do Ibama condenam aprovação de plano da Petrobras na Foz do Amazonas: ‘Decisão política’

A aprovação pelo Ibama do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF), apresentado pela Petrobras para exploração na bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, provocou reação de servidores do próprio órgão ambiental. 
 
Em nota divulgada nesta terça-feira 20, a Ascema (Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente) manifestou “profundo protesto e indignação” diante da decisão, que classificou como uma “ruptura com os pareceres técnicos da casa” e um “grave retrocesso institucional”.
 
O aval ao plano da estatal foi emitido na segunda 19, mesmo após a área técnica do Ibama ter apontado falhas no documento. Segundo o parecer, o plano de emergência apresentado pela Petrobras não garante condições mínimas para conter um eventual vazamento de óleo na região. 
 
Apesar dos alertas, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, aprovou o conceito do plano, autorizando a passagem para a última etapa do processo de licenciamento: a Avaliação Pré-Operacional (APO), uma simulação de resposta emergencial in loco que será conduzida pela Petrobras.
 
A Ascema critica o conteúdo da decisão e a forma de como foi tomada. A associação afirma que houve um “verniz técnico” para dar aparência de respaldo científico a uma escolha motivada por pressões externas. 
 
“Repudiamos tal modo de operação, lembrando que expedientes similares foram empregados no passado para emissão de licenças ambientais controversas e que se revelaram catastróficas quando da implementação dos empreendimentos”, afirma a entidade.
 
“A substituição do conhecimento técnico por decisões de cunho político ou administrativo fragiliza a credibilidade institucional do Ibama e representa grave retrocesso na proteção socioambiental do país”, diz a Ascema.
 
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/politica/servidores-do-ibama-condenam-aprovacao-de-plano-da-petrobras-na-foz-do-amazonas-decisao-politica/
 
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Um ventilador
espalha o calor
e as notas da sinfonia
 
Winston

Cadê os anarquistas esquerdistas que fizeram o duplo L de Lula Liberal?

“Quando se trata dos interesses do capital, esquerda e direita caminham lado a lado”

A última eleição presidencial revelou, mais uma vez, o jogo de ilusões que sustenta a polarização entre esquerda e direita. A vitória do candidato de esquerda foi construída sobre o discurso de ruptura com o governo anterior — assumidamente conservador e marcado por ataques aos povos indígenas e à natureza. Prometeram-se reparações, devolução de territórios, escuta às vozes silenciadas, contenção do agronegócio. Mas, uma vez no poder, as promessas viraram protocolo. A criação de um ministério exclusivo, ocupado por uma figura indígena, funcionou mais como vitrine simbólica do que como instrumento de transformação real. Os territórios continuam negados, saqueados, destruídos — agora com a chancela de um governo que se diz progressista.

Quando se trata dos interesses do capital, esquerda e direita caminham lado a lado. A defesa conjunta da exploração de petróleo na Amazônia, sob o pretexto falacioso de “desenvolvimento nacional”, revela o pacto silencioso entre diferentes rostos do mesmo sistema. O planeta grita por cuidado e recusa — e o Estado responde com mais veneno, mais destruição. É urgente recusar o teatro eleitoral e desmontar a farsa institucional que transforma justiça em ornamento e devastação em política de Estado. A possibilidade de outro mundo pulsa na desobediência, na auto-organização dos povos e na recusa ativa ao progresso imposto. Comecemos por denunciar, nas ruas, nos territórios, nas redes de solidariedade, o projeto de destruição que querem nos empurrar.

Anticop30: contra o mundo do petróleo!
Pela vida, pela Amazônia, pelo planeta!!!
 
A N A R Q U I S T A S

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olhos de gato
luz dos faróis na noite
pulo no mato

Carlos Seabra

Ibama aprova simulações para exploração de petróleo na Foz do Amazonas

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aprovou nesta segunda-feira (19/05) um plano de prevenção a emergências proposto pela Petrobras como parte de seu projeto para prospectar petróleo na bacia da foz do rio Amazonas, em águas profundas do Amapá.

Para Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, uma organização da sociedade civil, a decisão do Ibama desta segunda-feira é “pontual, mas traz todas as evidências de que essa licença sairá”.

Ela acredita que o licenciamento deve ser aprovado ainda neste ano.

“É uma decisão relevante considerando os documentos mais recentes do processo”, disse Araújo à BBC News Brasil por telefone, lamentando a aprovação da nova etapa, devido a preocupações com seus impactos sociais e ambientais.

“Daquilo que o Ibama tinha listado nas últimas demandas para Petrobras, parece que falta pouca coisa.”

A próxima e última etapa do processo envolverá vistorias e simulações no local para verificar como a petrolífera responderia em caso de uma emergência. Por exemplo, será testado o resgate a animais afetados pelo derramamento de óleo.

Suely Araújo, falando em nome do Observatório do Clima, diz que vários elementos não foram analisados de forma satisfatória pelo Ibama.

“A região é bastante frágil, não estudada, principalmente em relação ao grande sistema recifal. Não há no processo avaliações consistentes sobre os efeitos de um eventual acidente sobre o sistema recifal”, aponta.

“O bloco 59 é como uma porteira, que é isso que a Petrobras quer. É isso que o setor de energia do governo quer. É uma porteira que vai ser aberta para facilitar o licenciamento de muitos outros blocos na bacia sedimentar da foz do Amazonas”, acrescenta a ambientalista, criticando que projetos de exploração de petróleo estejam avançando em meio à crise climática.

Fonte: BBC News Brasil

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agência de notícias anarquistas-ana

No azul do mar
golfinhos saltam –
parecem brincar

Eugénia Tabosa

[Grécia] Memória | Vídeo | O que seria da Anarquia sem emoção, poesia e revolta?

As imagens desse vídeo falam por si. São momentos de encher os olhos e acelerar o coração, pura adrenalina. O vídeo é de uma manifestação ruidosa de anarquistas e imigrantes, legais e ilegais, que saem em passeata por várias ruas da cidade portuária de Patras até a prefeitura da localidade, realizada em 21 de maio de 2009. O protesto começa com mais ou menos 300 pessoas, e termina numa espécie de espiral com mais de mil manifestantes. É encantador ver dezenas de imigrantes com bandeiras anarquistas, aos gritos contra o racismo, a xenofobia, as fronteiras, os fascistas… São 10 minutos de transmissão que revelam sentimentos e revoltas. Lindo!

>> Veja o vídeo aquihttps://www.youtube.com/watch?v=0kUYuyjOxMg

agência de notícias anarquistas-ana

Toda a beleza
do muro verde da montanha
traz saudade

David Rodrigues

[Chile] Encontro do livro anarquista – 24 de maio, Temuko

Este primeiro de maio viu novamente ondular bandeiras anarquistas em Temuko e em diferentes ruas do território dominado pelo Estado $hileno. Após aparições intermitentes de nossa parte e de um contexto repressivo que está aumentando, da parte de um governo autodenominado “ecologista”, “feminista” e de “esquerda”, não podemos continuar recuados no anonimato. Em uma região onde o discurso pós-fascista tem sido a tônica, desde antes de seu auge atual no território “nacional”, o anarquismo deve multiplicar-se e fazer frente a todas as arestas do poder e aos que buscam aumentar as injustiças sociais.

Por tudo isto, é um prazer para nós convidá-los ao encontro do livro anarquista a realizar-se na cidade de Temuko em 24 de maio, com a ideia de criar um espaço de (re) encontro, entre individualidades e piños, um espaço de discussão e intercâmbio de ideias, aberto a análise do contexto atual fora de bandeiras ultrapassadas e fora da realidade, um espaço de difusão de projetos, textos, alternativas e mundos diferentes já existentes.

Na feira haverá arrecadação para os presos, mesas redondas, apresentações de livros, oficinas, banquinhas de difusão, vendas de livros, música e os sempre necessários e muitas vezes esquecidos, espaços infantis.

Saúde e liberdade!

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

velhinhos na praça
só a tarde
não envelhece

Alonso Alvarez e Camila Jabur

[Grécia] Feira do Livro Anarquista dos Balcãs | Eles mostraram quão viável é a auto-organização

A 17ª Feira do Livro Anarquista dos Balcãs (BAB2025), com duração de quatro dias, de 15 a 18 de maio, e realizada em Tessalônica, foi concluída com grande sucesso: tanto em termos de público como de muitas participações de coletivos de todas as geografias dos Balcãs e da Europa, e toda a Grécia, quanto em termos de discussões, contatos, preparações de posições e ações.
 
Houve mais de 500 participantes de fora da Grécia e muitos locais nos eventos e ações. Eles demonstraram vontade de encontrar companheiros e companheiras, de se conhecerem e de se auto-organizarem, superando as diferenças. E especialmente em uma era de política de morte, renúncias e pessimismo. Eles mostraram quão viável é a auto-organização.
 
No sábado, 17 de maio, rolou uma passeata (foto) internacional contra o capitalismo, o militarismo, o patriarcado e as guerras, como parte da BAB2025. “Nenhuma fronteira nos divide, nenhuma nação nos une”, estava entre os lemas gritados pelos manifestantes, assim como aqueles sobre o genocídio em Gaza. Uma passeata enorme e dinâmica com a participação de pessoas de toda a geografia europeia.
 
As conclusões e o conteúdo do que foi discutido na BAB2025 serão anunciados e publicados em breve (bab2025.espivblogs.net), assim como o local da próxima Feira do Livro Anarquista dos Balcãs.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
chuva torrencial
sob a laje de concreto
um casal de pardais
 
Jorge Lescano

[Chile] Santiago: apresentando o livro “Reconstrucción libertaria en Chile y anarquismo europeo (1973-1994)”

No próximo sábado 24 de maio, desde as 16:00 horas estaremos na “Biblioteca Autónoma Laín Díez”, situada em La Bandera #9780 (Población La Bandera, Comuna de San Ramón, Metrô San Ramón), apresentando o livro “Reconstrucción libertaria en Chile y anarquismo europeo (1973-1994)”, junto a seu autor, Eduardo Godoy Sepúlveda.

Este trabalho de investigação constitui um significativo marco na reconstrução da memória do anarquismo na região chilena de um período histórico sobre o qual quase nada se escreveu e do qual só existem referências fragmentárias e difíceis de encontrar.

O livro tem um preço de $7.000.

agência de notícias anarquistas-ana

Sobe a piracema –
ano que vem outros peixes
nadarão de novo.

Anibal Beça

 “Buscamos nos organizar a partir de nossas tradições populares antiautoritárias”

A ANA entrevistou a Associação de Trabalhadores de Base (ATB) do Rio de Janeiro (RJ), confira a seguir.
 
Agência de Notícias Anarquistas-ANA > Contem um pouco o que é a Associação de Trabalhadores de Base (ATB), como surgiu, histórico…
 
ATB < A Associação de Trabalhadores de Base (ATB-RJ) é uma organização sindical e popular autônoma, anticapitalista, antirracista e antissexista para trabalhadores de todas as configurações de gênero, etnias e raças. Reivindicamos a tradição que articula as experiências da Associação Internacional dos Trabalhadores (1864), das Bolsas de Trabalho e do sindicalismo revolucionário.
Sobre o seu surgimento, podemos dizer que, de certa forma, a Articulação de Grupos Autônomos (AGA), que promoveu feiras de economias coletivas entre outras atividades no Rio de Janeiro a partir de 2015, foi uma das precursoras da movimentação que veio a gerar a ATB. Mas podemos afirmar que o evento crucial para a criação da Associação de Trabalhadores de Base foi o I Seminário Autonomia e Organização, ocorrido nos dias 2 e 3 de março de 2018, no Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do RJ (SEPE) e no Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ).
A esse seminário seguiu-se outro, intitulado Autonomia e Organização: Diálogos com a Confederação Nacional do Trabalho (CNT-Espanha) em 26 e 27 de abril de 2019. Tais eventos tiveram participação do Coletivo FormigAção (valorosa empreitada da militância do Morro da Formiga), grupo Sindiscope autônomo (Sindicato dos Servidores do Colégio Pedro II-SINDSCOPE), RALE (Rede Autônoma de Luta pela Educação – SEPE), Coletivo Roça (da Favela da Maré), grupo Inimigos do Rei (categoria petroleira – SINDIPETRO-RJ) entre mais gente envolvida. A criação da ATB-RJ, no entanto, foi inspirada em iniciativas correlatas em outros estados. Naquela época tínhamos notícias de esforços nesse sentido no Rio Grande do Sul, São Paulo e Bahia. Com o pessoal de Salvador chegamos a conversar inúmeras vezes sobre a necessidade de ações mais coordenadas. É nossa intenção retomar essa rede federada o mais breve possível.

ANA > Vocês estão envolvidos em alguma luta trabalhista concreta?
 
ATB < Entre nossos/as membros/as temos pessoas ligadas à luta sindical na Educação (SINDSCOPE e SEPE), na Petrobrás e Justiça. Além disso, temos participação direta em movimentos sociais, o que priorizamos muito, como ocupações em favelas do Rio de Janeiro (Morro da Formiga e Maré), em bibliotecas (como a Biblioteca Engenho do Mato, de Niterói) e no Quilombo Cafundá-Astrogilda (Zona Oeste do Rio de Janeiro), onde inclusive foi formalizada a fundação da ATB, entre outros movimentos de classe importantes no Rio de Janeiro.
Durante a pandemia (COVID-19) optamos por uma atuação mais discreta, mas bastante efetiva, nas periferias. Renunciamos à propaganda mais explícita do nosso trabalho para um mergulho nas ações de distribuição de cestas básicas e outros auxílios materiais e logísticos. Nessa época iniciamos as nossas cotizações entre os filiados que foram muito importantes para a realização prática dessa nossa linha de atuação, uma vez que possibilitaram a acumulação de recursos financeiros para o posterior investimento em ações na periferia obedecendo ao nosso programa.
Passado esse período de grandes dificuldades, iniciamos então um debate importante sobre a questão cooperativista, já com uma iniciativa concreta nessa direção, na modalidade de ação conjunta na prestação de serviços. Esse aspecto é para a ATB de grande relevância, uma vez que é imprescindível para a consecução do autossustento, premissa sem a qual corremos o risco de estagnar na dependência exclusiva de apoios externos. Entendemos igualmente que os nossos futuros núcleos devem surgir de ações cujo protagonismo precisa ser das pessoas mais diretamente envolvidas. Tais aspectos só podem existir para nós combinados, sem hierarquia entre eles, de forma complementar e articulada.
Nessa mesma direção, estamos nos relacionando com outras organizações (os “Invisíveis” mais objetivamente) que atuam em apoio a pessoas terceirizadas, empregadas em autarquias e instituições direta ou indiretamente ligadas ao Estado. Prestamos solidariedade aos precarizados de forma ativa, quer em protestos nos locais de trabalho, quer no diálogo propositivo para encontrar vias mais adequadas para o encaminhamento das suas demandas. Valendo lembrar que essas pessoas vivem um cotidiano do mais violento assédio por parte dos empregadores e que os órgãos para os quais “prestam serviço” não os amparam de forma nenhuma.
Por força dessas importantes questões estamos dando prosseguimento à nossa campanha de formação de novos núcleos, em diferentes partes do RJ, com vistas a expandir as nossas atividades e conseguir ampliar o diálogo com as inúmeras experiências populares. Tal etapa é fundamental, uma vez que não se trata apenas da criação nominal de outros núcleos ou seções da ATB, mas da nossa capacidade de articular isso com as cooperativas, formas de produção de origem popular e criação de espaços de formação política.

ANA > Em um contexto social marcado por estruturas hierárquicas e de poder centralizado, quais são os maiores desafios que a ATB enfrenta para manter uma organização horizontal e não coercitiva? Como lidam, por exemplo, com pressões de instituições ou grupos que buscam cooptar ou criminalizar suas ações?

ATB < Os desafios que a ATB enfrenta para manter uma organização horizontal, desierarquizada, não são pequenos. Pois corremos sempre o risco de nos contaminarmos pelo modo de operar da maioria das organizações sindicais (conformadas a partir da legislação autoritária varguista) e também pelo sistema capitalista, que impõe práticas competitivas e de subjugação. Para nos preservarmos disso, buscamos nos organizar a partir de nossas tradições populares antiautoritárias criando nossos documentos (carta de princípios, estatuto etc.) e nos pautarmos por eles. Isso porque a anomia, longe de gerar liberdade, é uma fragilidade diante de eventuais tentativas de cooptação ou domínio de grupos opressores. Contra tentativas de subjugação, recorremos a nossos princípios, documentos e alianças criadas com outras organizações de cunho popular, dentro da lógica de autodefesa e denúncia permanente das ameaças sofridas por qualquer uma das nossas aliadas. Um procedimento que nos resguarda igualmente, além é claro de reforçar a dimensão política dos grupos com os quais temos relações. Contra a criminalização de qualquer militante, usamos o apoio mútuo, em harmonia com o que aqui já foi dito.

ANA > A ética anarquista valoriza a mutualidade e o apoio comunitário. De que forma a ATB constrói alianças ou redes de solidariedade com outros movimentos sociais, sindicatos ou comunidades sem reproduzir relações de dominação ou dependência?


ATB < Buscamos construir laços com movimentos populares, sindicatos e comunidades sempre sem paternalismo, sem pretensão de sermos portadores da verdade, mas tendo a compreensão de que as experiências comunitárias já existentes sempre têm a nos ensinar. Isso está em consonância não só com a ética anarquista, mas também com outras tradições populares que não necessariamente carregam esse nome. O que importa é a associação funcionar de acordo com princípios como democracia direta, independência de classe etc., rejeitando relações de dominação, seja de uma parte ou de outra.
A nossa experiência acumulada em relações políticas com sindicatos oficiais tem demonstrado que a nossa autonomia se afirma na mesma medida em que somos capazes de identificar as nossas pautas com as causas populares. Ou seja, os sindicatos percebem com alguma facilidade que nos dedicamos a setores com os quais eles não possuem nenhuma relação concreta e que, no mais das vezes, desconhecem quase que completamente. Em assim sendo é possível atuar com relativa unidade e algum sucesso em questões de corte racial sem que a entidade sindical tenha qualquer condição de subordinar a ATB à sua esfera político-administrativa. O impedimento de qualquer processo de cooptação já se encontra no fato de termos perspectivas completamente distintas no que diz respeito à ação em favelas e subúrbios. Em suma, tratamos preferencialmente de assuntos periféricos aos quais os sindicatos oficiais encontram-se historicamente alheios. 

ANA > Para vocês, qual é o papel da educação e da formação política na construção de uma consciência de classe anticapitalista e antiautoritária? Como a ATB enxerga o caminho para uma transformação social radical sem cair em vanguardismos ou modelos de revolução centralizados?

ATB < Para a ATB a educação tem um papel importante na disseminação de consciências críticas – anticapitalistas e antiautoritárias. Sabemos que a educação, sozinha, não tem como conduzir à autogestão social, pois com as péssimas condições materiais que o Capitalismo impõe ao povo, a própria educação não tem como se realizar plenamente. Mas, por outro lado, negligenciar práticas e experiências pedagógicas libertárias, considerando que uma revolução social futura magicamente ensinará tudo a todos, é um materialismo mecanicista típico de vanguardas autoritárias, que a História já demonstrou o quanto são nefastas à autonomia popular.
Vale acrescentar ainda que a nossa Associação tem em seus quadros filiados número significativo de pessoas diretamente ligadas à Educação, seja como ofício mais objetivamente ou em ações cotidianas e continuadas em espaços periféricos. Entendemos assim a formação como um fenômeno dentro do qual a formalidade ocupa apenas uma parte dos nossos esforços. Nesse sentido as nossas atitudes são igualmente pedagógicas, bem como os processos que ajudamos a estabelecer em territórios quase completamente abandonados pelo chamado “poder público”. Por força desse fato, os esforços realizam-se invariavelmente na lógica federada, com a observância da plena autonomia local e coesão ditada pela solidariedade de classe. Aspectos, aliás, que repetimos quase como um mantra em todas as partes por onde passamos.

ANA > Mesmo com sorteio de carros, shows com cantores midiáticos, o 1º de Maio em São Paulo das “grandes” centrais sindicais teve público reduzido. Podemos dizer que o sindicalismo oficial no Brasil hoje é um “cadáver ambulante”?
 
ATB < O que percebemos é que com a ascensão deste governo de coalizão ao poder, houve uma diminuição das ações sindicais no sentido de não desgastar Lula e seus aliados “à esquerda”, se é que assim podemos chamar. Um exemplo é a educação, pois o MEC, sob os auspícios de Camilo Santana, tem se aliado ao empresariado, na figura do “Todos pela Educação”, Fundação Lemann e afins. Saímos de um governo reacionário, com um MEC sob o comando de pastores e fascistas, para retornar ao um Ministério sob a liderança de um secretário ligado aos tubarões da educação. No meio de tudo isso, tivemos a reforma do ensino, da qual o atual governo buscou minimizar os danos, mas que continua sendo prejudicial aos/às estudantes. Os sindicatos precisam despertar para a luta de classes, não apenas classista de seus membros e membras. Isso independente de quem esteja no governo da democracia burguesa.
No plano ideológico, é preciso sempre ter em conta que somos adeptos do sindicalismo revolucionário e das tradições que o antecederam. Em assim sendo, a nossa oposição ao sindicalismo tradicional é mais que inevitável. Denunciamos sempre que possível as insuficientes iniciativas desses órgãos que se apresentam invariavelmente burocráticos. Contudo, as nossas investidas são sempre prioritariamente contra as instâncias mais objetivamente gestadas pelo capitalismo. Entendemos que existe uma rivalidade entre nós e os sindicatos corporativos, mas de nenhuma forma confundimos estes com as empresas privadas e a estrutura estatal que oprimem diretamente a classe trabalhadora. Estas últimas, as temos como inimigas. Sobre esse ponto, é necessário também sublinhar que na nossa dimensão estratégica os sindicatos corporativos não ocupam lugar significativo. São inclusive obstáculos, a depender da sua configuração ideológica. Mas nas nossas apostas táticas eles podem até se apresentar como agentes ou “parceiros” eventuais em iniciativas mais amplas, isso quando estiverem desenvolvendo algum trabalho nas periferias e territórios de resistência nos quais estivermos.

ANA > Vocês ficaram surpresos com a revelação de uma fraude bilionária no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) envolvendo sindicatos e associações de aposentados?

ATB < As fraudes não são novas e menos ainda a ingerência sobre os pecúlios da classe trabalhadora da parte dos governos. Isso é aspecto saliente da heteronomia patrocinada pelo Estado e grupos aos quais se associa para a espoliação dos produtores. O estelionato não se esgota nas urnas ele se apresenta através de procedimentos dos mais variados e com diferentes níveis de crueldade. Uma Seguridade Social gerida por um ente dos mais suscetíveis às pressões de grupos diretamente ligados ao grande capital jamais estará livre, não apenas dos escândalos financeiros, como ainda da ação especulativa de quem se apresenta para administrar seus fundos.
Temos hoje um passivo de razoáveis proporções nas mãos de grupos sindicais na forma de “fundos de pensão”, privados e semiprivados ou ainda semipúblicos. Uma verdadeira “ciranda financeira” que sustenta os apetites mais vorazes das burocracias encasteladas em sindicatos oficiais. Esses “gestores” são parte dessa engrenagem que tritura a classe trabalhadora e, particularmente nesse caso, com um cinismo escandaloso. São agentes do capital e agem como “vestais” no “Interesse dos contribuintes”. Uma tragédia legada pelo advento do sindicalismo corporativo dos anos de 1930 e que se reinventa, sempre contra a classe trabalhadora.
Por tudo isso temos tentado criar no âmbito da ATB cooperativas que venham a nos auxiliar a superar isso ou, pelo menos, mitigar os efeitos dessa política previdenciária nefasta para quem de fato carrega nas costas esse Estado em parceria com o qual a burguesia brasileira renova e garante o sistema de exploração.

ANA > Qual a opinião de vocês sobre o governo Lula atual, o “Lula 3”?
 
ATB < Mais recuado do que nunca, está refém de um congresso extremamente reacionário e fisiologista. Temendo o retorno de Bolsonaro e de seus aliados ao Executivo no governo federal. O governo vai se equilibrando entre as escassas vitórias no plano social e as estrondosas capitulações frente ao grande capital.
Os fatos só fazem confirmar a fisionomia desenhada por um dos quadros históricos do Partido dos Trabalhadores, segundo o qual o PT é hoje um partido de centro esquerda à frente de um governo de centro direita. Uma constatação que, aliás, não esconde o cinismo de quem a sustenta. Avaliamos que não há o que esperar do atual cenário e que, se de fato existe uma distinção entre o PT e seus adversários políticos, esta não resulta em diferença significativa para a situação da classe trabalhadora. Não há proveito substantivo para a massa de explorados, ainda que na retórica os atuais gestores da “coisa pública” reafirmem o compromisso com a elevação dos indicadores sociais.
No mais, o que assistimos é a execução de políticas raciais, que pouco incidem sobre os privilégios; ações de igualdade de gênero, que ignoram a diversidade social e o reconhecimento de identidades sexuais que não conseguem vencer os estigmas de um tecido social abandonado ao fundamentalismo religioso. Para o projeto genuinamente popular a fórmula não sofre alteração, fica cada vez mais evidente a necessidade da luta de classes e de estarmos prontos e organizados/as para uma futura revolução social antissistêmica e que tenha por princípio um viés anticapitalista. Para a consecução desse objetivo, o “Lula 3”, assim como os anteriores, não tem nada a nos dizer.

ANA Algum recado final? Valeu!

ATB < Agradecemos à ANA o espaço que nos foi oferecido generosamente e desejamos loga vida ao esforço empreendido pelas/os compas a ela vinculadas/os.  Nos interessa ainda sublinhar que a ATB não tem pretensões de substituir o sindicato oficial, menos ainda de o combater ferozmente, uma vez que entendemos que tratamos de uma categoria de trabalhadoras/es que estes sindicatos já abandonaram faz muito tempo. O nosso objetivo é ajudar a organizar a periferia, dar estrutura mínima para que iniciativas populares possam responder a problemas concretos que venham a se apresentar e reclamem por soluções coletivas. Queremos dialogar com o povo que existe abaixo dos “radares da receita federal”, dos que trabalham anonimamente e exercem profissões completamente desconhecidas. Sim, desconhecidas das entidades que estão vivendo no conforto dos descontos das margens consignadas de contracheques de trabalhadoras/es que ainda vivem na formalidade.
Para finalizar, convidamos as pessoas que tiverem interesse em entender melhor a nossa proposta a lerem os nossos documentos e postagens nos seguintes endereços: https://atbrj.wordpress.com/sobre/ e https://www.facebook.com/profile.php?id=100063463837497

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agência de notícias anarquistas-ana

Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar –
Mangueiras da minha infância!


Paulo Franchetti

[Itália] Vamos parar o rearmamento. Desmantelem os exércitos. Antimilitarismo sempre

O mundo está cada vez mais mergulhado na devastação da guerra. Os estados da União Europeia iniciaram planos de rearmamento para adquirir equipamentos pesados, armamentos e estoques de munição. Paralelamente, preparam-se para aumentar as fileiras dos exércitos, tentando recrutar as jovens gerações propagando a ideologia militarista nas escolas e na sociedade, apresentando a carreira militar como uma alternativa ao desemprego e à precariedade, e reintroduzindo o serviço militar obrigatório em países onde ele havia sido abolido ou suspenso.

No início de maio, o estado de Israel iniciou uma nova fase da guerra genocida em Gaza, que tem como objetivos declarados a deportação em massa e a ocupação, enquanto intensifica o cerco militar na Cisjordânia. Nesses mesmos dias, o conflito entre Índia e Paquistão escalou para um confronto direto entre dois estados nucleares. O governo nacionalista, autoritário e racista de Modi tem o apoio, além dos EUA, também da Itália, que mantém com a Índia um comércio de armas do qual lucram os donos da indústria bélica.

Enquanto isso, apesar da retórica dos governantes, o massacre da guerra russo-ucraniana continua há mais de três anos. A Itália faz parte desse conflito, enviando tropas, veículos e aviões para o Leste Europeu. O governo italiano confirmou recentemente essas missões, destinando também um importante contingente militar para intervenção rápida, pronto para ser utilizado a critério do executivo.

O aumento dos gastos militares em nível global terá impacto no mercado financeiro e provocará a escassez de capital disponível para as chamadas políticas de desenvolvimento nos países mais pobres, além de criar uma crise de dívida com consequências gravíssimas, resultando em cortes de serviços e salários. Até os fundos de pensão investem na indústria de armas, um claro exemplo de como tudo isso afeta nossas vidas.

Os serviços de inteligência de vários países europeus continuam a alertar sobre um possível ataque da Rússia à UE até 2030. Esses anúncios contribuem significativamente para nos acostumar com a perspectiva da guerra, facilitando a aceitação, pelas classes populares, dos cortes decorrentes do aumento dos gastos militares.

Diante da escalada bélica, é preciso multiplicar o compromisso antimilitarista, contra todos os exércitos, contra a indústria bélica, contra todos os imperialismos e nacionalismos. Nessa perspectiva, é importante fortalecer as redes de solidariedade ativa em nível internacional e apoiar aqueles que, em todas as frentes, desertam ou se recusam a participar dos massacres.

Nas próximas semanas, será importante participar do bloco libertário da manifestação de 31 de maio em La Spezia contra a indústria bélica e promover iniciativas antimilitaristas em todos os territórios, começando pelo dia de luta de 2 de junho, convocado pela Assembleia Antimilitarista, e pelos dias de ação contra a OTAN, organizados pela IFA (Internacional das Federações Anarquistas) de 24 a 26 de junho, simultaneamente ao encontro da OTAN em Haia.

Fonte: https://umanitanova.org/fermiamo-il-riarmo-smantelliamo-gli-eserciti-antimilitarismo-sempre/

Tradução > Liberto

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/04/25/contra-a-guerra-contra-o-poder-um-apelo-da-ifa-a-todxs-os-anarquistas-para-se-posicionarem-contra-a-otan/

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Cerejeira silvestre –
Sobre o regato se move
Uma roda d’água.

Kawai Chigetsu

[EUA] Resenha do livro: Uma Luta Contínua

O anarquismo nos EUA modernos às vezes tem a falsa reputação de ser um bando de jovens brancos privilegiados quebrando janelas sem motivo. Muito disso se deve a campanhas de difamação da mídia e do governo, entre outras coisas, mas parte disso também se deve às nossas próprias comunidades, onde os anarquistas que frequentemente se encontram no centro são brancos, etc. Sem querer ser totalmente nem todos brancos ou algo assim, mas existem alguns anarquistas verdadeiramente incríveis ao longo da história que eram/são brancos. Não estou aqui dizendo que eles não devem ser estudados e admirados. Estou dizendo que as pessoas estão perdendo um leque muito maior de anarquismo, incluindo o anarquismo negro. Um dos organizadores anarquistas mais empenhado e pouco conhecido é Martin Sostre. É muito difícil encontrar algo abrangente sobre ele por uma série de motivos que detalharei mais abaixo. Quando vi que uma biografia sobre Sostre estava sendo lançada, fiquei super animado para aprender mais sobre ele e sua vida.

Uma Luta Contínua: A Vida Revolucionária de Martin Sostre é uma obra de coração de Garrett Felber. Ele começa o livro humildemente, expressando sua preocupação de não conseguir fazer justiça à história, mas estando disposto a dar o seu melhor de qualquer maneira. Ele também menciona que havia sentimentos mistos sobre se Sostre desejaria ou não uma biografia, já que até mesmo sua morte foi mantida em sigilo quando ele faleceu. Acho que Felber fez um bom trabalho com essa biografia. Há um nível extenso e impressionante de pesquisa em história e materiais que não são facilmente acessíveis. Grande parte da escrita de Sostre foi na forma de cartas ou pequenos panfletos, em vez de livros e coisas mais facilmente arquivadas do passado. Também acho que Felber fez bem em destacar o aspecto revolucionário da existência de Sostre, como Felber e a família de Sostre imaginaram que ele teria preferido. Felber fez isso sem sacrificar a honestidade, no entanto, e fez bem em contar a história de Sostre como um ser humano, em vez de um líder impecável.

A vida e a história de Martin Sostre são essencialmente também uma história do complexo industrial prisional dos Estados Unidos e dos movimentos pelos direitos civis das comunidades negra e porto-riquenha em geral. Não se pode entender Sostre sem também compreender essas histórias. Acredito que Felber fez bem em preparar o cenário para o que estava acontecendo na época, incluindo a apresentação de mini biografias dos vários organizadores que trabalharam com Sostre. Sostre passou tanto tempo na prisão que grande parte de sua organização ocorreu atrás das grades. Sinceramente, foi bastante intenso ler sobre o que ele passou. No início da vida, ele foi preso por crimes relacionados a drogas, os quais admitiu. No entanto, seguiu em frente, mudou e criou estruturas comunitárias e libertadoras o colocaram na mira do Estado, que então o incriminou (agora documentado e admitido pelos policiais envolvidos) para mandá-lo de volta à prisão. Ele suportou torturas regularmente, mas permaneceu tão desafiador durante todo o processo. Sinceramente, não entendo como alguém poderia ter continuado, mesmo com o apoio que tinha e quão incrivelmente fortes eram suas crenças na luta.

Sostre exemplificou verdadeiramente o estilo de organização “propaganda da ação”. Embora escrevesse e fizesse discursos, infelizmente muitas vezes perdidos no tempo, seu verdadeiro foco era agir e construir comunidade. Fora da prisão (ou em parte internamente, com a ajuda de sua rede de apoio), Sostre criou espaços revolucionários que funcionavam como livrarias, bibliotecas, áreas de reunião comunitária e assim por diante. Lidando com tudo, desde fechamentos e bombas incendiárias do Estado, ele enfrentava tudo. Ele também se envolveu na organização de presidiários, apesar de estar cercado por muros de tijolos. Na prisão, ele resistiu à opressão sempre que teve oportunidade, mesmo em confinamento solitário, incluindo a luta contra a agressão sexual constante, as revistas corporais invasivas e os espancamentos que se seguiram. Há muita história interessante neste livro sobre a organização muçulmana na prisão, que levou à liberdade religiosa que vemos como mais comum hoje, embora falha. Sostre tinha uma rede de apoio incrível fora da prisão, composta por organizadores brilhantes e implacáveis. No entanto, mesmo eles tinham limitações diante da repressão estatal. Eu me pegava pensando constantemente em como era a vida dos presos — políticos e não políticos — que não tinham apoio algum. Quando finalmente saiu da prisão, mais tarde na vida, Sostre continuou a prática de criar livrarias/infoshops radicais e também se mobilizou em torno de moradia e educação em suas comunidades. Essencialmente, Sostre era conhecido muito mais pelo que fazia do que pelo que dizia.

A jornada de Sostre rumo à identificação como anarquista também foi interessante de ler. Como muitos, ele inicialmente via o anarquismo como coisa de gente branca, mas depois o percebeu como uma luta mais ampla. Ele descobriu repetidamente que o autoritarismo, desde as estruturas estatais até a Nação do Islã, era centralmente falho. Ler sobre alguém que passou de um policial militar corrupto no final da adolescência (uma história longa demais para uma resenha) a um nacionalista negro adjacente/marxista-leninista muçulmano e, finalmente, a um prolífico organizador anarquista acrescentou um nível de esperança à minha visão de mundo (e também o perdão do meu eu imperfeito na juventude). Sostre passou a influenciar outros anarquistas negros, como Lorenzo Kom’boa Ervin, que conheceu Sostre na prisão e se inspirou em sua orientação. A história é muito mais complexa e interessante do que detalhei neste parágrafo, então recomendo fortemente o livro antes de ver o quadro completo.

No final, acho que Felber foi bem-sucedido nessa tarefa monumental de contar a história complexa da vida de alguém que se passa em uma época complexa e em instituições complexas. Espero que, se Sostre estivesse vivo hoje, apreciaria a forma como sua história foi contada. Este livro é uma adição necessária às estantes de qualquer pessoa interessada em história, bem como de qualquer pensador anarquista ou de esquerda. Ele expande não apenas pressupostos gerais sobre o que é o anarquismo, mas também sobre os diversos sistemas de crenças e atividades que ocorreram durante os movimentos pelos direitos civis da época, tudo isso contando bem a história de Martin Sostre, que lutou até o fim.

Fonte: https://weightlessstate.blogspot.com/2025/04/book-review-continuous-struggle.html

Tradução > Bianca Buch

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/27/eua-a-continuous-struggle-pre-venda-a-vida-revolucionaria-de-martin-sostre/

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Por onde caminho
sigo e também sou seguido —
Lua-desta-noite

Álvaro Posselt

“Lula destaca interesse em usinas nucleares em reunião com Putin”.

Pois é, além de pró-petróleo, o velhaco também é pró-energia nuclear. E não é de hoje, ele também quer retomar o empreendimento Angra 3. Com certeza, sequer passa pela cabeça dele desacelerar, decrescer, mas desenvolver, crescer, explorar, destruir… E foda-se o mundo natural, o meio ambiente, o clima… Sem rodeios, É UM ECOCIDA!

Nuclear = perigo permanente, deterioração do meio ambiente, desmatamento, poluição, exploração de recursos naturais…

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no canto da janela
nova linha do horizonte:
o fio da aranha.

Tânia Diniz

[Portugal] Para o anarquismo, esquerda e direita são apenas faces da mesma moeda da política institucional.

O modelo político tradicional criou duas esferas que se confrontam continuamente: a direita e a esquerda. Para quem não sabe, essa denominação remonta à época da Revolução Francesa, quando os mais radicais se sentavam à esquerda nas tribunas. Com o tempo, isso tornou-se uma definição usada em todo o mundo para identificar as polaridades políticas em disputa. No entanto, essa definição é bastante superficial e não contempla a proposta anarquista, que ficaria indefinida nesse espetro.

É simples de entender por que o anarquismo não tem lado: é contra o modelo político institucional; contra a luta parlamentar e a estrutura partidária; não é liberal e nada tem a ver com o capitalismo, além de desejar a sua destruição. O mesmo se aplica ao marxismo, que nunca será libertário, por mais que alguns desses “marxistóides” se esforcem por deformar o totalitarismo marxista e o seu capitalismo de Estado e partido único, tentando apresentá-lo como um socialismo “libertador”, um “comunismo real”, que sabemos bem que não é.

A prática anarquista leva muitas vezes à participação em movimentos sociais, de oprimidos e explorados, e por essa presença tende-se a adjetivar os anarquistas como “de esquerda” – mas não o são. Nos movimentos sociais, a principal preocupação anarquista é justamente romper com o modelo vanguardista, com lideranças centralizadoras e estruturas verticalizadas, muito comuns tanto à direita como à esquerda. Se observarmos bem, veremos que essas definições já não correspondem às práticas de nenhum dos lados. Isto porque uma parte significativa da esquerda mundial está no poder e favorece, acima de tudo, os mesmos interesses e clientelas que a direita sustenta. Há grupos empresariais que disputam entre si, mas isso já deixou de ser uma contenda ideológica – é apenas uma disputa por influência. Neste cenário, dizer “esquerda” ou “direita” é apenas um jogo de aparências.

A clareza da proposta anarquista assusta ambos os lados: abolição da propriedade, abolição dos partidos, abolição da riqueza, coletivização e administração direta dos meios de produção – uma sociedade organizada sem Estado e sem patrões. Tudo isto representa uma nova estrutura que supera e destrói o modelo atual, e isso é um perigo que tanto a esquerda como a direita não querem enfrentar. O modelo atual é demasiado confortável para ambos – conseguem apenas trocar de cadeiras e manter o jogo de poder, à custa da população, que continua sistematicamente excluída dessa brincadeira. As eleições são uma farsa destinada a legitimar essa estrutura excludente.

Os anarquistas denunciam esta realidade e, por isso, são atacados por ambos os lados. Isso demonstra que, como anarquistas, não devemos procurar ajuda ou apoio em nenhum desses lados. De ambos vieram sempre traições, que levaram milhões de pessoas à prisão e à morte.

Para o anarquismo, esquerda e direita são apenas faces da mesma moeda da política institucional, e a alternância de poder entre essas figuras não contribui em nada para a emancipação dos oprimidos e explorados.

O modelo atual não nos representa, e é necessário romper com esta lógica através da administração direta, feita por nós e para nós – sempre unidos!

A nossa lógica é outra: a da libertação direta, da emancipação de todos, sem intermediários nem governos, seja de que lado forem.

Construamos o anarquismo através de uma prática livre e direta!

Daniel Alves

Fonte: https://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2025/05/19/para-o-anarquismo-esquerda-e-direita-sao-apenas-faces-da-mesma-moeda-da-politica-institucional/

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lua de prata
desejos indecentes
corpos suados de luz

Manu Hawk

[Macapá-AP] Vídeoclipe | Nosso Petróleo

Este vídeo é um manifesto visual contra as formas hegemônicas de exploração que, em nome do progresso, reduzem a floresta a solo perfurável, a corpos descartáveis, a territórios negociáveis. Na Amazônia, é comum ouvir que o açaí é o nosso petróleo. A metáfora nasce do chão: não da lógica da escavação, mas da abundância que escorre das palmeiras e alimenta o cotidiano das pessoas.

L e t r a – Nosso Petróleo

Nosso petróleo não destrói, não envenena rios
Não perfura a terra

Escorre das palmeiras,

Roxo de vida. Não rasga a pele do mundo

É riqueza que cresce,

Que alimenta
Que se reparte
O deles cheira a morte,
Nas manhãs frescas
Na beira do rio.


La vêm o progresso
Com máquinas e promessas 

A floresta já conhece essa história
Isso cheira a morte 


Nosso petróleo é o açaí,

Nasce livre, nasce aqui!

Não é lama, nem veneno,

É raiz, é alimento.
Corre livre na floresta,

Forte, vivo, nos sacia. 

Não provoca dor na terra,

Nem em quem nela está.

>> Assista o vídeoclipe aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=MvnGfTfsJcs

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Suave crepúsculo
Sol emoldurando o ocaso
O pássaro sonha

Tânia Souza

[EUA] Bash Bash Revolution: Um Fim de Semana de Defesa Comunitária Queer e Antiautoritária

Anunciamos o Bash Bash Revolution, uma semana de música e esportes de combate para apoiar diversos projetos autônomos de autodefesa e ajuda mútua.

O Bash Bash Revolution é um evento de fim de semana que acontecerá de 23 a 25 de maio de 2025, com o objetivo de fortalecer nossas relações, aprimorar nossas habilidades e promover a cultura de treinamento de esportes de combate entre revolucionários, antifascistas e anarquistas.

O fim de semana contará com oficinas de defesa comunitária/autodefesa, uma feira de zines, show punk e exibição de filme. Além de promover a comunidade, cada evento servirá como arrecadação de fundos para projetos radicais de autodefesa internacionais e locais. Para mais informações, visite @bashbashrevolutionnyc no Instagram.

23 de maio

Show Punk com Luta Livre ao Vivo

Local: Our Wicked Lady, Brooklyn

Abertura às 19h, show às 20h

Organização: Leg Drop Productions

Venda de merch e arte para arrecadar fundos para o NYC ICE Watch

24 de maio

Feira de Zines e Oficinas

Local: La Plaza Cultural, Manhattan

Horário: das 12h às 16h

Venda de merch para arrecadar fundos para Gaza Boxing Women

25 de maio

Oficinas e Exibição do Filme L.C.B.D.

Local: INTERCOMM, Queens

Oficinas das 13h às 15h, exibição às 15h30

Venda de merch e doações para arrecadar fundos para La Cultura Del Barrio

Fonte: https://itsgoingdown.org/bash-bash-revolution-a-weekend-of-queer-anti-authoritarian-community-defense/

Tradução > Contrafatual

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livro aberto gelado
o norte geme no vento
sobre a página branca

Lisa Carducci