[Galiza] II Feira do Livro Anarquista – Pontevedra, 24 e 25 de maio de 2025

P r o g r a m a ç ã o

Sábado, dia 24

– 11h Abertura da feira

– 12h Apresentação do livro: “Pecadoras – Genealogía de la cultura del castigo y las prisiones de mujeres”, por seu autor Sol Abejón Olivera

– 13h Jantar e sessão vermú com DJ Tuna Loins

– 16h Oficina de criação de fanzines

–18h Apresentação do livro: “Un círculo y una A. Anarquismo para jóvenes y adolescentes”, a cargo do seu autor Héctor C García

– 20h Bingo punk

Domingo, dia 25

– 11h Oficina de criação de selos exlibris [carimbos de gravação], com Alouette machine

– 12h Apresentação do livro: “Más allá del Burnout” + Dinâmica – a cargo da Editorial Bauma.

– 14h Jantar + concerto: Cibrán

– 15h Recital poético

Sábado 24 e domingo 25 de maio no Paseo Odriozola (Praza da Perrería)

Organizado por: Ateneu Libertário de Pontevedra – Colaboradores: CGT-Pontevedra

Contato para distribuidoras, editoras e coletivos: ateneolibertariopontevedra@gmail.com

@ateneolibertario.pontevedra

agência de notícias anarquistas-ana

No cimento quente,
A ilusão de um oásis:
Vaso de samambaias

Edson Kenji Iura

[Irlanda] 80º aniversário da Revolução Russa

Por Damian Lawlor


Em 1922, após testemunhar pessoalmente o resultado da Revolução Russa, a anarquista Emma Goldman descreveu como “a Rússia Soviética havia se tornado a moderna Lourdes socialista”. Oitenta anos após a revolução na Rússia, uma reflexão sobre esse período tem mais do que apenas valor histórico. Muitas organizações de esquerda ainda consideram essa era o modelo para futuras revoluções. Para desafiar essa concepção bolchevique de organização e revolução, analisamos quais foram as consequências desse modelo.

Os bolcheviques se organizaram como um partido de vanguarda, que pretendia liderar a revolução. Essa estrutura levou a resultados específicos, e um olhar para a história “oculta” da Revolução Russa ilustra isso. Lênin, em seu livro “Estado e Revolução”, fala de uma sociedade onde todo cozinheiro governará.

Mas, na realidade, o Partido, na sua qualidade de líder da revolução, governava. Em 9 de novembro de 1917, um soviete (comitê de delegados operários eleitos) no Comissariado do Povo dos Correios e Telégrafos já havia sido abolido por decreto. Mesmo antes disso, com a revolução mal tendo libertado os trabalhadores da escravidão virtual, os líderes bolcheviques já diziam aos trabalhadores que “a melhor maneira de apoiar o Governo Soviético é continuar com o seu trabalho”.

Lênin, em março de 1918, escreveu (Obras Reunidas, Vol. 27, página 270) que o Partido se relaciona com os trabalhadores guiando-os “pelo verdadeiro caminho da disciplina do trabalho, pela tarefa de coordenar a tarefa de discutir em assembleias de massa sobre as condições de trabalho com a tarefa de obedecer inquestionavelmente à vontade do líder soviético, do ditador, durante o trabalho”. Eis o que se passa com cada cozinheiro que governa.

Estes não são apenas incidentes isolados. O Partido logo começou a institucionalizar seu domínio. Por exemplo, os comitês de fábrica, em vez de poderem formar federações entre os setores, tiveram que se reportar a órgãos antidemocráticos escolhidos a dedo pelo Partido. É nesse contexto que Daniel Guerin argumentou que “Na verdade, o poder dos sovietes durou apenas alguns meses, de outubro de 1917 à primavera de 1918”.

Como os bolcheviques “garantiram” a revolução? Trotsky, como líder do Exército Vermelho, reintroduziu a disciplina regular do exército, incluindo não apenas execuções por deserção, mas também todas as pequenas regulamentações, como a saudação, que dava aos oficiais cargos especiais. Ele aboliu a eleição de oficiais, escrevendo que “a base eletiva é politicamente inútil e tecnicamente inadequada, e já foi posta de lado por decreto”.

O Terror Branco foi combatido com punições coletivas, punições categóricas, tortura, tomada de reféns e punições aleatórias. Estas não eram dirigidas apenas a “brancos” conhecidos, mas também a seus amigos e familiares. Em 3 de setembro de 1918, o jornal bolchevique “Ivestia” anunciou que mais de 500 reféns haviam sido fuzilados pela Cheka de Petrogrado, não por terem cometido um crime, mas por terem tido o azar de pertencer a uma família desfavorável.

Alguns argumentarão que esse terror foi legitimado pelo Terror Branco. Mas, em abril de 1918, o terror seria usado contra grupos políticos que apoiavam a revolução, mas se opunham ao regime bolchevique. Em dois dias de abril de 1918, 40 anarquistas foram mortos ou feridos e cerca de 500 presos em uma série de ataques em Moscou e Petrogrado.

Todas as principais publicações anarquistas foram proibidas em maio de 1918. Isso apesar de os anarquistas terem lutado pela revolução em outubro, com quatro deles no Comitê Militar Revolucionário que coordenou o levante. Nos quatro anos seguintes, centenas e, depois, milhares de anarquistas foram presos, encarcerados, torturados, exilados e executados. Outros partidos de esquerda pró-revolução sofreram destino semelhante, e em 1919 também os trabalhadores que agiram independentemente contra o regime.

Os modos de organização bolcheviques têm resultados específicos: a centralização do poder. Esse tipo de organização significa que “Stalin não caiu da lua”, mas foi o herdeiro dessa organização antidemocrática. Isso se opõe ao “Socialismo de Baixo” e ao lema da Primeira Internacional: “a emancipação dos trabalhadores deve ser obra dos próprios trabalhadores” e não de algum partido de “vanguarda”.

anarkio.net

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/05/14/franca-ideias-e-lutas-um-estado-contra-seu-povo/

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sobre a cerca,
os mais novos girassóis –
ninguém à vista

Rosa Clement

Conversatórios sociais, café e anarquismo

É com grande alegria que os e as convidamos para esse ciclo de conversas sobre temas importantes, sensíveis e atuais!

A abertura ocorrerá no dia 24 de Maio com a conversa sobre Geografias das Autonomias Indígenas, onde, um dos temas trazidos será o zapatismo, essa conversa contará com o autor do livro de mesmo nome. Em junho conversaremos sobre a Questão Palestina, tão atual e delicado, já que a população Palestina, em especial de Gaza estão sendo massacrados e assassinados pelo estado israelense.

Em julho daremos uma parada e voltamos em agosto com duas conversas. Uma sobre Educação Anarquista em que será abordado a parte teórica, bem como falaremos da questão sindical dentro da educação. A outra, falaremos sobre as mulheres anarquistas e feminismo a partir do livro “Companheiras: mulheres anarquistas em SP” onde poderemos contar com a presença da autora.

O fechamento será no dia 21/09 com uma mini feira de materiais anarquistas, com programação a ser divulgada posteriormente.

Esperamos encontrar vocês para um bom debate e um bom café!

Mais informações em flordeliberdade@gmail.com

CRONOGRAMA

24/05 às 15h30 – Geografia da Autonomia (CASA DA PALAVRA / SA)

14/06 às 15h – Questão Palestina (PMMR / SBC)

02/08 às 15h – Educação Anarquista -Teoria e Prática (PMMR / SBC)

30/08 às 15h – Companheiras: mulheres anarquistas em SP (PMMR / SBC)

21/09 (domingo) das 12h00 às 18h – Mini feira de materiais anarquistas.

agência de notícias anarquistas-ana

Um ventilador
espalha o calor
e as notas da sinfonia

Winston

Do Púlpito Acadêmico às Trincheiras Vazias: A Encruzilhada do Anarquismo Contemporâneo

A crítica à paralisia do anarquismo no Brasil não é nova, mas permanece urgente. Enquanto o capitalismo avança, o Estado endurece suas garras e as desigualdades se aprofundam, parte do movimento anarquista local parece ter se enclausurado em uma bolha de teorização infinita. Essa “paralisia reflexiva”, como alguns a nomeiam, revela um descompasso entre a produção intelectual e a ação direta. Não se trata de rejeitar a teoria — essencial para a crítica radical —, mas de questionar por que tantos coletivos e indivíduos anarquistas se satisfazem em discursar sobre a revolução enquanto reproduzem dinâmicas hierárquicas e passivas típicas da academia.

A assimilação da cultura acadêmica pelo anarquismo é um fenômeno perverso. Nas universidades, a produção de conhecimento frequentemente serve à carreira individual, à competição por reconhecimento e à legitimação de hierarquias intelectuais. Quando anarquistas adotam essa lógica, transformam-se em “teóricos da revolução” que prescrevem fórmulas abstratas, distantes das lutas concretas. A linguagem hermética, os debates intermináveis sobre nuances doutrinárias e a fetichização da teoria como fim em si mesma são sintomas de um academicismo que desarma a práxis. Não é surpresa que muitos desses grupos, embora críticos do poder, reproduzam a dinâmica da academia: pensar para os oprimidos, nunca com eles.

Historicamente, o anarquismo brasileiro floresceu nas fábricas, nos sindicatos e nas comunidades, articulando teoria e ação. No início do século XX, operários anarquistas organizavam greves, editavam jornais militantes e criavam escolas livres, entendendo que a transformação social exigia presença, não apenas reflexão. Hoje, parte do movimento parece ter trocado as assembleias populares por simpósios universitários. Claro, a academia pode ser um espaço de resistência, mas quando a teoria não retorna às ruas, não dialoga com as necessidades imediatas do povo, ela se torna um exercício de autocelebração — e, pior, uma forma de neutralizar o potencial revolucionário do anarquismo.

O academicismo não é inocente: é uma ferramenta de domesticação. Ao confinar o pensamento crítico a artigos indexados e debates entre pares “esclarecidos”, a academia coopta a radicalidade anarquista, transformando-a em objeto de estudo inofensivo. Quando militantes aderem a essa lógica, reforçam a ideia de que a mudança social é tarefa de “especialistas”, não do povo organizado. Pior: essa postura alimenta uma divisão de classe dentro do próprio movimento, onde intelectuais acadêmicos — majoritariamente brancos e de classe média — ditam as pautas, enquanto trabalhadores, negros, indígenas e periféricos permanecem como meros “casos de estudo”.

É preciso resgatar o caráter popular e prático do anarquismo. Isso exige descer do pedestal teórico e mergulhar nas lutas cotidianas: ocupações urbanas, resistência indígena, greves, coletivos antifascistas, ações mutualistas durante crises. A teoria anarquista deve nascer dessas trincheiras, não de referências bibliográficas europeias descontextualizadas. Questionemos: quantos coletivos hoje estão nas quebradas, construindo hortas comunitárias ou enfrentando a polícia ao lado dos moradores? Quantos priorizam a formação política horizontal em vez de palestras com linguagem inacessível? A revolução não será um artigo bem-referenciado — será um processo construído nas brechas do sistema, com suor e solidariedade.

Superar a paralisia exige autocrítica e coragem. Não basta denunciar o academicismo; é necessário romper com a comodidade dos círculos fechados e assumir riscos. O anarquismo não é um clube de debate, mas um projeto de transformação radical. Se queremos honrar nossa história e enfrentar os desafios do presente, precisamos substituir a “performance revolucionária” por ação direta, vinculada às urgências do povo. Que nossas teorias sejam armas, não ornamentos. E que nosso maior legado não sejam teses, mas territórios livres, relações descolonizadas e a certeza de que, enquanto houver opressão, haverá anarquistas dispostos a combatê-la — não apenas nas páginas de livros, mas nas ruas, onde a história realmente se escreve.

Liberto Herrera.

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/05/09/quando-o-pensamento-vira-prisao-critica-anarquista-a-academizacao-da-vida/

agência de notícias anarquistas-ana

Pra que respirar?
posso ouvi-la, fremindo,
maciez de noite.

Soares Feitosa

Lula é um pacifista de araque!

Em visita oficial à China, Lula “paz e amor” se reúne com Cheng DeFang, CEO da Norinco, uma das maiores empresas produtoras de armas e serviços militares do mundo. Na pauta do encontro “negócios no Brasil”, leia-se “mercado da morte”, armamentos, reequipamento do Exército Brasileiro… Segundo a grande imprensa, “A Norinco vai mandar até o fim de maio uma delegação ao Brasil para prospectar oportunidades de negócios, seja nos setores de defesa e segurança e outras áreas como óleo e gás e mineração”.

POR UM MUNDO SEM FRONTEIRAS, SEM EXÉRCITOS, SEM INSTALAÇÕES BÉLICAS, SEM MERCADO DA MORTE, SEM OPRESSÃO, EXPLORAÇÃO E GUERRAS!

SOMOS ANARQUISTAS, SOMOS ANTIMILITARISTAS!!!

agência de notícias anarquistas-ana

Vento refrescante
que se contorcendo todo
chega até aqui.

Issa

[México] Comunicado pela libertação imediata de Ignacio Córdoba Cruz

Histórico

Ignacio Córdoba Cruz é um companheiro rapper, punk, anarquista, defensor do território e solidário com os desaparecidos e com as lutas sociais, que atua há mais de uma década em diferentes movimentos de resistência contra o poder, criando laços de camaradagem e resistência. Em 5 de junho de 2015, no âmbito das mobilizações pelos desaparecidos de Ayotzinapa e da ampla convulsão social que estava ocorrendo em todo o México, ele foi vítima, juntamente com outros colegas estudantes da Universidade de Veracruz, de uma agressão para-policial orquestrada pela SSP de Veracruz, na qual, por meio de infiltração, um grupo de capangas entrou no apartamento onde estava sendo realizada uma festa de aniversário e atacou brutalmente os estudantes com bastões, facões e outras armas, deixando uma cena terrível de tortura, sangue, ossos quebrados, vidros estilhaçados e sofrimento. O Estado, por meio da SSP, tentou assassiná-lo e, desde então, ele vem sofrendo anos de perseguição policial por suas convicções e ações políticas.

Atualidade sobre o caso

Em 15 de maio de 2025, durante a marcha em repúdio à homenagem a Fidel Herrera Beltrán, em que a imprensa informou que não houve prisões, o companheiro Ignacio Córdoba Cruz foi ilegalmente detido pelas forças de segurança pública por volta das 12:00 da tarde e mantido desaparecido por mais de 9 horas. Sua detenção nunca foi registrada no Registro Nacional de Detenções, mais uma vez violando seus direitos. Durante todo o período de sua busca, todas as instituições policiais ocultaram o paradeiro e a situação legal de Ignacio Córdoba Cruz. Até que por volta das 22 horas da noite, soube-se que ele estava na Procuradoria Geral do Estado, na Direção Geral da Polícia Ministerial, onde apresentava sinais de tortura. Diante disso, não temos dúvidas de que o Estado está tentando criminalizar nosso companheiro Ignacio Córdoba Cruz e que o atual governo de MORENA continua aplicando as mesmas políticas de terrorismo de Estado e perseguição de ativistas sociais dos governos anteriores.

Exigimos total respeito aos seus direitos, ao devido processo legal e responsabilizamos o governo de Rocio Nahle pela integridade de Ignacio Córdoba Cruz e por qualquer ato de intimidação, repressão ou perseguição à sua família, amigos, companheiros e pessoas solidárias ao caso.

Liberdade imediata para Ignacio Córdoba Cruz!
Parem com a criminalização do protesto social!
Que a solidariedade seja mais do que palavras!
Fazemos um apelo internacional de solidariedade ao nosso companheiro!

Atenciosamente.

Companheiros Solidários com Ignacio Córdoba Cruz / Xalapa Veracruz, 16 de maio de 2025

Notas da imprensa.

https://www.avcnoticias.com.mx/noticias-veracruz/xalapa/366313/marcha-anti-homenaje-a-fidel-herrera-termina-en-pintas-da-os-y-tensi-in-con-guardia-nacional.html

https://www.avcnoticias.com.mx/noticias-veracruz/xalapa/366327/exigen-aparici-in-del-activista-ignacio-c-irdoba-cruz-tras-presunta-detenci-in-en-xalapa.html

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/05/15/mexico-manifestacao-anti-homenagem-contra-fidel-herrera-beltran/

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ao vento de outono
a sineta de ferro
subitamente toca!

Dakotsu

[Espanha] Bonanno, o titã da revolta

Em dezembro de 2023, Alfredo M. Bonanno nos deixou. Longevo, ele havia nascido em pleno fascismo. Com ele, pela lei da vida, agora se esvai o abandono daqueles que nasceram na década de 1930. Sua morte nos priva das contribuições de um dos últimos titãs anarquistas, que dedicou sua vida e militância à revolta. Sua figura se insere em nossa tradição libertária na mesma categoria de gigantes, tanto por sua presença ativa em tempos e lugares conturbados quanto pela ampla difusão de suas reflexões.

Caracterizamos Bonanno como um titã pela envergadura de sua figura, mas também porque, como os titãs, ele assaltou o Olimpo anarquista. Um Olimpo ideológico no qual figuras e axiomas referenciais haviam se tornado, aos poucos, reverenciais. Contra essas reverências, alheias ao espírito iconoclasta inerente ao anseio anarquista, Bonanno protagonizou sucessivas revoltas contra a fossilização das ideias e práticas libertárias. Pois, se o anarquismo é em si uma torrente em permanente construção que se transforma e se adapta em sua luta contra os tempos e desafios de cada época, também gerou guardiões de uma ideologia fossilizada que necessariamente precisa ser derrubada. Dessa forma, e no contexto do anarquismo hispânico, Bonanno atuou como uma figura rebelde contra as diferentes caracterizações do Domínio. Mas também contra os axiomas libertários imobilistas das diversas épocas por quais passou sua vida militante.


Não é, portanto, coincidência que a primeira aposta editorial da militante Campo Abierto, em 1977, em sua coleção Debate Libertário, tenha sido “Autogestão” de Alfredo M. Bonanno. Porque aquele texto surgia em um contexto de intenso debate interno entre as diversas correntes libertárias que eclodiam com a reorganização da CNT. Um tão esperado relançamento anarcossindicalista que deveria atualizar suas premissas teóricas e práticas para se adequar à realidade de um novo movimento operário. É nesse contexto que aparece “Autogestão”: um compêndio que combinava as contribuições conselhistas com a tradição libertária, e que surgia como uma fusão própria para os tempos conturbados que havia vivido e que se viviam na península itálica. Também naquela época, Bonanno viajava para nossas terras, frequentando a companhia dos mais heterodoxos libertários locais, que logo seriam afastados de uma CNT já fragmentada pela força centrífuga das novas ortodoxias.

Seus textos de síntese também bebiam de uma irreverência situacionista que nunca recuou diante do uso criativo do plágio ou da provocação típica das vanguardas artísticas. Assim, naquele ano, ele publicava na Itália “La gioia armata”, no qual reivindicava armar-se de prazer para enfrentar gozosamente a vida e a luta emancipatória. Ele seria condenado por isso. Ainda assim, o jogo continuava e, pouco depois, os caras sérios da revista “El viejo topo” mordiam a isca e publicavam o falso “Testamento político” de Sartre, por trás do qual estava Bonanno.

Na segunda metade da década de 1980, com o surgimento de novas gerações libertárias, a figura referencial do nosso titã voltou a se fazer sentir. Os novos grupos ativistas levariam em consideração a produção contemporânea do então chamado “anarquismo revolucionário” em revistas italianas como Provocazione ou o trabalho editorial de sua irmã anglo-saxã Elephant Editions e da incansável Jean Weir. Nelas, não se buscava precisamente a distância da prática ilegalista anarquista, nem dos recentes “anos de chumbo”. Isso os colocava próximos dos novos rebeldes que também não encontravam seu espaço nas organizações libertárias clássicas sobreviventes, repletas de renovadas rigidezes, e que apostavam em seu imaginário político pela prática e estética do confronto urbano. Por outro lado, periódicos como “Sicilia Libertaria”, no qual Bonanno colaborava, tornavam-se referências próximas às novas fusões entre tradição libertária e lutas de libertação nacional que emergiam na época. No entanto, as contínuas entradas na prisão, condenado também por ter participado de assaltos para arrecadação de fundos, frequentemente impediam sua anunciada participação nos diversos fóruns e encontros da época. A lenda do titã ia sendo tecida.

Em meados dos anos 1990, Bonanno publicava “La tensione anarchica”. Paralelamente, grupos juvenis libertários abrigados nos locais cenetistas evoluíam para a prática da ação direta, querendo, assim, distanciar-se, segundo sua análise, de uma marginalidade na qual as organizações libertárias haviam se acomodado. Na Itália, começava o chamado “Processo Marini”, pelo qual se perseguia o “insurrecionalismo”, processando dezenas de anarquistas e conceituando sua área de divulgação e certos autores como os ideólogos do movimento. Entre eles, novamente Bonanno, por “apologia”. A onda repressiva teria consequências no estado espanhol com as detenções em Córdoba em 1996 e visibilizaria a opção “insurrecionalista” local. E, com o novo milênio, o Black Bloc popularizava a tática do confronto anarquista dos mais jovens nos protestos contra a globalização capitalista, potencializando, por sua vez, a tomada de iniciativa anarquista. Conceitos como “organização informal” e similares, divulgados em folhetos e artigos por Bonanno desde os anos 1980, se instalariam com força durante uma década. Seria então que seus opúsculos ou textos atribuídos a ele seriam traduzidos e publicados com mais profusão. As propostas também se instalavam do outro lado do Atlântico, revitalizando cenas libertárias semelhantes em alguns territórios da América Latina.

Em 2009, Bonanno foi novamente detido na Grécia, como participante de um assalto. O longo processo judicial coincidiria com o início da crise da dívida soberana do estado helênico, que abalou a União Europeia. A crise revolucionou as bases da sociedade grega, transformando a vontade em possibilidade real de construção de uma mudança radical anticapitalista. Dessa forma, o dinamismo da área anarquista durante aquela longa crise elevou a relevância da proposta “insurrecionalista” por mais um lustro. Apesar disso, além de alguns questionáveis limites na eficácia da articulação militante em organização informal e dos altos custos humanos do ilegalismo, em alguns ambientes juvenis ativistas, a proposta anarquista insurrecionalista se converteu em uma nova ideologia fossilizada. Sob a abreviação “insu”, uma pequena comunidade se identificava, fazendo da pose de revolta seu modo de vida, e para a qual a figura de Bonanno passava de referencial a reverencial. Os intensos debates internos da área do anarquismo revolucionário, que também eram uma mostra de sua riqueza e dinamismo e que se proliferavam em momentos críticos, como durante o Processo Marini ou a crise grega, eram preferencialmente ignorados pela comunidade “insu” hispânica.

A resposta do já idoso militante foi diluir o protagonismo que a imprensa lhe atribuía e que encantava os autoproclamados seguidores. Assim, a última tarefa iconoclasta do titã consistiu em negar o espetáculo Bonanno.

Jtxo Estebaranz

Fonte: https://www.nodo50.org/ekintza/2025/bonanno-el-titan-de-la-revuelta/

Tradução > Liberto

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2023/12/18/espanha-morreu-o-companheiro-bonanno/

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Libélula!
Dá saudades da terra natal
A cor deste muro

Buson

[França] O Centro Internacional de Pesquisa sobre o Anarquismo de Marselha

O CIRA (sigla em francês) foi fundado em Marselha em 1965 por um grupo de ativistas anarquistas, entre os quais estava René Bianco (1941-2005).
 
Originalmente, era uma filial do CIRA de Lausanne, fundado em 1957. Posteriormente, o CIRA de Marselha tornou-se autônomo.
 
Desde sua criação, o CIRA passou por diversas sedes. Por muito tempo, ficou abrigado em um porão úmido, onde os documentos corriam risco de deterioração. Graças a Émile Temime (1926-2008), conseguiu ocupar um espaço maior na rua dos Convalescentes, mas acabou sendo despejado em 1989. Em 1991, realocou-se em um novo local na rua Santo Domenico, antiga sede de uma igreja armênia que precisou ser restaurada. Permaneceu lá até dezembro de 2011, quando a prefeitura de Marselha rescindiu seu contrato de aluguel. Com a criação de um fundo coletivo há cerca de dez anos, a venda de barris de vinho e um apelo à solidariedade, finalmente foi possível comprar e reformar um espaço na rua Consulado. Desde janeiro de 2012, o CIRA está localizado nesse endereço.
 
O CIRA faz parte da Federação Internacional de Centros de Estudos e Documentação Libertária (FICEDL), que se reuniu pela última vez em Saint-Imier (Suíça) em 2023. É independente de qualquer organização política ou sindical, o que não o impede de participar de ações solidárias.
 
Seu principal objetivo é coletar, classificar e arquivar tudo relacionado ao anarquismo. Seu acervo possui aproximadamente 10.500 livros (9.200 em francês, 540 em espanhol, 360 em italiano, 300 em inglês) e 5.000 folhetos. Esses documentos foram escritos ou publicados por anarquistas, ou têm relação com o movimento e suas ideias. Assim, há tanto obras favoráveis quanto contrárias ao anarquismo, além de biografias e escritos de pessoas que foram anarquistas em algum momento da vida. O CIRA também guarda arquivos pessoais de militantes, cartazes, filmes, documentos iconográficos (fotos, postais), materiais digitais, trabalhos acadêmicos (300) e arquivos biográficos.
 
Cerca de 1.700 periódicos são enviados por editores e arquivados (1.400 em francês). O CIRA mantém um diretório com 3.212 publicações anarquistas em língua francesa entre 1850 e 1993. Os documentos estão em cerca de 20 idiomas, principalmente francês, espanhol, italiano, inglês e alemão.
 
A biblioteca de empréstimos é mantida por doações e parcerias com editoras (centenas de títulos por ano). A digitalização do catálogo começou em 2000 e segue em andamento, disponível online. Um catálogo físico de fichas também pode ser consultado no local.
 
O acervo é aberto ao público de forma gratuita para ativistas, estudantes, pesquisadores, jornalistas ou curiosos. Pedidos de informação são respondidos por e-mail, desde que a pesquisa não seja muito extensa.
 
Publica um boletim (46 edições até hoje), com temas variados: desde panoramas das coleções até números temáticos, como o Congresso de Marselha de 1879, a Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva anarquista, biografias de militantes e o anarquismo na Argentina. Complementam o boletim uma Bibliografia Anarquista Anual (desde 1990) e um informativo bimestral (desde 1999). Como editora, o CIRA publicou dois livros em parceria (sobre Han Ryner e André Arru) e 18 calendários (desde 2008).
 
O CIRA organiza palestras, debates, exposições e encontros com autores. Em 2024, temas incluíram o genocídio dos ciganos, o “cerdolí” (hibridação animal), o populismo e a economia libertária. Colabora e promove colóquios, como Cultura Libertária (Grenoble, 1996) e Alexandre Marius Jacob (2005).
 
Organizou a Feira do Livro Anarquista de Marselha (FLAM) em 2003, 2010 e 2015, além de participar de eventos editoriais.
 
Em 1989, parte do acervo (1.750 periódicos, 2.000 cartazes) foi depositada no Arquivo Departamental de Bouches-du-Rhône, em Marselha, onde está disponível para consulta.
 
O CIRA tem mais de 230 membros, de várias regiões da França e outros países. Administrado coletivamente por um conselho eleito, sustenta-se principalmente pelas contribuições dos associados (mínimo de €30/ano). Membros podem emprestar livros.
 
Informações práticas:
 
Endereço: Rua Consulado, 50, Marselha (13001), próximo à estação Saint-Charles e La Canebière.
Horário: Segunda e quarta, 15h–18h30; sexta, 10h–16h. Fora disso, agende por e-mail (cira.marseille@gmail.com) ou telefone (+33 09 50 51 10 89).
Site: https://www.cira-marseille.info.
 
Fonte: redeslibertarias.com
 
Tradução > Liberto
 
Conteúdo relacionado:
 
https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2017/08/02/franca-o-cira-marselha-cresce/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
tantos outonos
em uma paisagem
chuva nos pinheiros
 
Alice Ruiz

[EUA] Escreva para Leonard Peltier | Juntos somos mais fortes!

Leonard Peltier ficou preso por quase 50 anos, mas foi liberado da prisão no início deste ano. Leonard é um ativista indígena norte-americano que foi acusado e condenado pelo assassinato de dois agentes do FBI em Pine Ridge em 1975. Leonard sempre alegou não ser culpado, e o julgamento contra ele foi criticado, entre outras coisas, pela falta de provas contra Leonard.

É claro que a liberação de Leonard em fevereiro é maravilhosa. Mas, infelizmente, isso não significa que ele esteja completamente livre. Leonard foi submetido à prisão domiciliar como restrição, o que significa que ele não tem permissão para sair de casa. Outra coisa que complica a difícil situação de Leonard é que ele ainda não recebeu os cuidados médicos de que precisa, depois de anos de negligência na prisão. Ele está aguardando uma cirurgia ocular em maio. Leonard tem 80 anos de idade.

Leonard ainda precisa de nosso apoio. Mostre a ele que não está sozinho. Continue escrevendo cartas para ele (Leonard não consegue ler devido a uma doença ocular, mas recebe ajuda para ler todas as cartas que lhe são enviadas).

JUNTOS SOMOS MAIS FORTES!

Você pode entrar em contato com Leonard pelo endereço:

LEONARD PELTIER
PO BOX 760
Belcourt ND 58316
EUA

Tradução > acervo trans-anarquista

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/03/21/eua-leonard-peltier-continua-desafiador-em-entrevista-a-ap-mantendo-a-inocencia-e-prometendo-continuar-com-seu-ativismo/

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Vento de outono –
Um arco de madeira nua
Vamos encordoar!

Mukai Kyorai

[Espanha] Concentração “Gasto militar é insegurança”.

Sob o lema “Gasto militar é insegurança”, a CNT Burgos está convocando uma concentração para o sábado, 17 de maio, às 12 horas, na Plaza Alonso Martínez, em frente ao edifício Capitanía. Uma iniciativa que visa denunciar o aumento do orçamento para armas e gastos militares, enquanto são feitos cortes na saúde, educação e serviços sociais.

Nós anarquistas advogamos pela desmilitarização e a dissolução dos exércitos. Trabalhamos na prática da solidariedade e do apoio mútuo com todos os trabalhadores e despossuídos para dotar-nos de ferramentas de resistência e construir uma sociedade horizontal baseada na livre federação de produtores e consumidores, baseada no trabalho associado e cooperativo. Por isso denunciaremos as barbaridades que provocam as fronteiras, os Estados, os poderes econômicos e políticos, e as guerras que tanto os beneficiam.” – Grupo Tierra

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neve tão branca
à minha porta
onde pôr os pés?

Rogério Martins

[Chile] Santiago: Mural em memória do companheiro anarquista Mauricio Morales

Em memória do companheiro anarquista Mauricio Morales, em breve se completarão 16 anos de sua morte em ação, quando ele detonou prematuramente o dispositivo explosivo que pretendia instalar na escola de carcereiros.

Como indivíduos, nos reunimos mais uma vez em torno de sua memória insurrecional e, como contribuição ao Maio Negro em andamento, pintamos o histórico mural “pizarrón” da Villa Francia em Santiago.

Em nosso fazer diário, sem esperar, sem parar, de várias maneiras, continuamos a garantir que a anarquia continue viva.

22 de maio, dia do kaos: participe, agite, contribua, crie propaganda, aja de acordo.

MAURICIO MORALES “PUNKY MAURI” PRESENTE!
NADA ACABOU, TUDO CONTINUA!

Maio Negro de 2025.
Santiago, Chile.

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agência de notícias anarquistas-ana

Em morosa andança
Ao léu com meu ordenança —
Contemplação das flores.

Kitamura Kigin

[Espanha] Encontro em apoio aos presos políticos anarquistas russos será realizado em Valência

O evento acontecerá no dia 16 de maio, às 19h30. no Ateneu Libertário Al Margen (Calle Palma 3) com a participação do anarquista e ativista russo de direitos humanos Ivan Astashin, que passou quase 10 anos na prisão por sua posição política.
 
Atualmente, há pelo menos 15 anarquistas em prisões russas. Alguns deles estão presos há mais de 7 anos, outros foram presos após o início da guerra na Ucrânia. Alguns deles enfrentam penas que podem chegar à prisão perpétua.
 
Quem são essas pessoas corajosas que decidiram lutar contra a ditadura e qual foi o custo disso para elas? O que pode ser feito para apoiá-las na prisão? E o que é necessário para libertar os anarquistas?
 
No evento, você poderá fazer uma doação para apoiar os presos e comprar produtos.
 
Organizadores: Assemblea Solidaritat Antifeixista amb Ucraïna (Valência) e Ateneo Libertario Al Margen.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
a luz do poente
escala a alta montanha;
no cume será a noite.
 
Alaor Chaves

[Espanha] ArteFato Militante: Roc Blackblock | “Sinto-me mais claramente libertário e me defino como um anarquista autônomo”

Artigo publicado em Rojo y Negro nº 399, abril de 2025


Por ocasião da elaboração de um grafite na sede da FAL em Madri, entrevistamos o grafiteiro Roc Blackblock (Barcelona, 1975).

Como você escolhe o tema de seus grafites?

Acredito que você esteja se referindo ao motivo de eu expressar temas políticos, o antifascismo. No meu entender, como diz Miquel Ramos, antifascismo significa valores de respeito aos direitos humanos e é aí que tudo entra… memória histórica, o que for.

Por que faço isso, bem, comecei a pintar quando era ativista, sempre foi algo que fez parte de mim. Participei de movimentos sociais desde quando me tornei insubmisso, depois em centros sociais okupados, passando pelas lutas por moradia, educação livre… Desde que me tornei pai e tive que me preocupar com a educação de minhas filhas, percebi que a gente faz coisas criativas, de forma a expressar nossas preocupações e as coisas que nos movem por dentro, e para mim as questões de justiça e transformação social me movem mais do que meu mundo interior ou meus fantasmas pessoais. Então, quando comecei a pintar murais, descobri nessa ferramenta uma maneira muito poderosa de participar de movimentos sociais, até mesmo uma forma de militância, além disso, quando comecei a pintar, estava morando em uma fábrica okupada, onde havia quilômetros e quilômetros de parede e, bem, isso foi uma combinação explosiva, né?

Depois de cerca de 15 anos pintando dessa forma, decidi me profissionalizar e, então, decidi não vender meu trabalho, não jogar fora todos esses anos anteriores de coerência, de tentativa de encontrar uma coerência e uma linha de teor político e não jogar fora para me vender a quem pagasse mais, embora eu tenha feito algumas pequenas intervenções de marketing direto com a empresa do Mobile World Congress e outras coisas, das quais não me orgulho; isso me ajudou a saber qual era o meu caminho e que, se eu quisesse colocar minha assinatura, meu nome ou mesmo se não os assinasse, preferia me dedicar a outras coisas.

Desde então, tenho feito um grande esforço para preservar os rumos do meu trabalho sem me desviar excessivamente e, muitas vezes, o que fiz para conseguir isso foi tanto uma questão de consciência quanto de sentir que também estou fazendo algo em todos esses coletivos, colaborando gratuitamente em projetos, entendendo que isso é uma forma de militância e também uma maneira de promover que os projetos que saem de mim tenham esse foco. Creio ser o artista certo para alguns projetos e o errado para outros, e acho que tudo decorre disso. Se você pinta borboletas, vão lhe pedir borboletas, se você pinta, sei lá, personagens de uma série de televisão, é isso que vão lhe pedir, e eu fiz um grande esforço e fiz tudo o que estava ao meu alcance para manter o fio condutor do antifascismo, da transformação social e do pensamento libertário, do pensamento crítico. Essa é a minha decisão, porque é assim que me sinto.

Você já se filiou a algum sindicato?

Nunca me filiei a nenhum sindicato ou partido político. Às vezes, me envolvi com a ideia e sinto afinidade e colaborei com o espectro da esquerda real, mas não, não me filiei.

Devo dizer também, nesse sentido, que meu crescimento político se deu no movimento autônomo, nas okupas e nos centros sociais, onde acredito que o que prevaleceu foram modelos alternativos de vida com um discurso que muitas vezes estava mais próximo de evitar o trabalho assalariado como tal e de entender um pouco que as formas clássicas de mobilização e organização política, como os sindicatos, eram um pouco estranhas para nós.

Foi à medida que fui ficando mais velho que as ideias políticas se cristalizaram e se tornaram mais definidas, porque, no início, era mais uma questão de impulso libertário do que de capacidade de defender um discurso político ao qual aderir. Agora, sinto-me mais claramente libertário e me defino como um anarquista autônomo e simpatizo mais com os sindicatos anarco-sindicalistas, mas até o momento, não, não sou filiado.

Você tem “discípul@s”?

Não, de forma alguma, jamais. Além disso, há uma coisa que acho que todos que leem esta publicação entenderão, que é o fato de eu não desejar nem gostar de comandar ou obedecer. Nas poucas vezes em que tive equipes de trabalho sob minha responsabilidade, lidei muito mal com isso, foi algo que ocorreu em circunstâncias muito específicas, porque o trabalho exigia isso. Às vezes, tive pessoas, como no seu caso, que se ofereceram para colaborar comigo e tentei compensar essa colaboração sendo também positivo para essa pessoa e ensinando-a, explicando-lhe um pouco minha maneira de trabalhar, mas, na prática, ficou um pouco assim.

Por um lado, considero quase um exercício de coerência, mas, ao mesmo tempo, também é uma incoerência trabalhar sozinho e trabalhar com o próprio nome e assinatura e, nesse sentido, por exemplo, um projeto que me parece ser uma referência absoluta é a gráfica coletiva de Can Batlló, em Barcelona, que, além do fato de fazer um trabalho de artes gráficas absolutamente maravilhoso e totalmente politizado, faz todos os processos criativos de trabalho e produção de forma comunitária e é algo que invejo no melhor sentido das palavras e aplaudo. Precisarei de outra vida para explorar essas outras áreas.

Então, você faz seu trabalho por militância…

Olha, por militância eu sou capaz de sair por uma semana e ficar 10 horas por dia pendurado em um muro de seis andares, como foi o caso em Gijón, porque me parece que é um ato de militância reivindicar e dar valor a coisas como a revolução nas Astúrias e fazê-las durar no espaço público. Como um ato de militância, quatro de nós nos reunimos e organizamos eventos em solidariedade a Pablo Hassel, contra a censura. Por solidariedade, faço pôsteres e material gráfico para o Congresso de Habitação na Catalunha e tento contribuir com minhas ferramentas…

Agora, não sou oficialmente militante de nenhum coletivo, mas me sinto próximo de muitos, de todo um espectro de coletivos, movimentos libertários e contestadores, e tento manter um fluxo de colaborações com todos eles, com o ateneu libertário do meu bairro ou com o caso X. Não sei, em breve, por exemplo, estarei trabalhando com pessoas de Castellón para pintar um ginásio popular que as pessoas da Cosa Nostra vão alugar … há um ano, eu estava pintando em Motril, colaborando com a CGT, que trabalha com o tema La Desbandá.

Aqui o debate se abre um pouco sobre quando essa militância significa longas horas, muito esforço físico e eu tenho que passar 15 dias trabalhando, tenho que colocar um preço nisso, embora eu sempre tente, se for forçado a colocar um preço nisso, não deixar nenhum projeto de lado por falta de dinheiro, explorar formas de autogestão e, por exemplo, quando vejo um Verkami ou um projeto que está tentando autogerenciar um documentário sobre o movimento libertário, um coletivo que está arrecadando dinheiro para uma causa antirrepressiva… eu tento contribuir com material e emprestá-lo a eles. Tento contribuir com material e doá-lo gratuitamente para que eles possam colocá-lo como recompensa. O espectro é muito amplo, mas acredito que a melhor maneira de contribuir é com meu trabalho artístico criativo.

O que você pensa sobre IA?

Olha, eu acredito que a inteligência artificial, assim como a Internet em geral, é uma ferramenta com potencial ilimitado e que, se for bem utilizada, pode se tornar algo que melhora e facilita nossa vida. Acredito que há áreas da inteligência artificial que abrangem, agilizam e facilitam processos ou partes de processos que são altamente complicados ou quase improváveis de serem realizados. Com o uso indevido antiético desse potencial e desse maquinário ou dessa tecnologia, como em tudo o mais, isso pode rapidamente se tornar algo que beneficia apenas os poderosos e prejudica as classes trabalhadoras e alternativas.

No que se refere ao campo que abordamos e à ilustração, a imagem generativa me parece ser um ataque direto aos direitos autorais e levará a uma desvalorização da qualidade à medida que se retroalimenta. É um pouco como quando me perguntaram sobre como eu vejo a tendência artística atual, acho que a inteligência artificial afeta coisas que, em um primeiro momento, podem ser muito atraentes, funcionais e visualmente estéticas e podem parecer resultados práticos, mas que, em uma análise um pouco mais profunda, significam estagnação ou um produto vazio, porque nunca terão aquela capacidade disruptiva, inovadora e pioneira da criatividade de um indivíduo, além da questão da substituição profissional e do trabalho.

Em outras palavras, acredito, e isso se aplica a todo o progresso, que, como espécie humana, alcançamos altos níveis de significância e acredito que a grande maioria dos avanços não foi usada para melhorar a qualidade de vida, a equidade ou um futuro mais igualitário para todos, mas sim para aumentar essas diferenças. Então, bem, se realmente tivéssemos a capacidade de usar toda essa tecnologia e todo esse progresso para o bem da humanidade, seria ótimo. Resumindo, em si, não acho que ela seja boa ou ruim, o que importa é o uso que se faz dela e, obviamente, quem tem os meios para implementar a inteligência artificial são as grandes empresas de tecnologia que estão se posicionando como as grandes potências neoliberais destinadas a serem controladas pelos poderosos que estarão segurando as rédeas da nova ordem mundial. Portanto, nesse sentido, só posso me opor, me opor a isso.

O que você pensa sobre direitos autorais?

Acho que os direitos ou o reconhecimento me parecem inquestionáveis. É essencial que haja o reconhecimento da autoria, mas, como em todas as perguntas anteriores, depende do uso e do objetivo de colocar os direitos autorais em primeiro lugar, porque poderíamos discutir isso de uma forma um pouco mais intensiva, quero dizer, obviamente, se eu faço um trabalho e alguém vai enriquecer com esse trabalho e obter lucro, acho que deve haver proporcionalidade e justiça para o trabalho intelectual e prático envolvido na criação desse trabalho e, obviamente, vivemos em um mundo em que as fontes primárias, seja um fazendeiro ou o ilustrador que está fazendo o trabalho, tendem a ser o último passo nesse processo de enriquecimento, na maioria das vezes absolutamente precário, e são os distribuidores ou aqueles que estão encarregados da logística e do marketing que ficam com grande parte dos lucros que podem ser gerados, certo? Nesse sentido, não concordo com a gestão dos direitos autorais.

Por outro lado, sou totalmente a favor do livre acesso à informação, à comunicação e à cultura. Acredito que esse seja um dos potenciais da Internet, por exemplo, e, portanto, da mesma forma que eu me alimento e sustento todo o meu trabalho com base no acesso a essas informações, parece-me não apenas legítimo, mas também justo e necessário disponibilizá-las a todos e não apenas àqueles que podem pagar por elas. Assim, entramos em uma espécie de looping para o qual também não tenho uma solução concreta.

É exatamente por isso que gosto de arte urbana e de trabalhar como muralista. Quando considero os direitos autorais como artista, e não acreditando em estruturas como estados ou órgãos administrativos, entendo que, inserido nesse modelo social, meu cliente mais fiel seria a administração pública, que tem o dever e a obrigação de gerenciar o espaço público e também o faz com os recursos de toda a comunidade, seria a fórmula perfeita para mim que, com recursos públicos, no espaço público, eu pudesse fazer uma obra que estaria disponível gratuitamente para todos, livremente acessível, tudo se encaixaria.

Foi isso que, ocasionalmente, por exemplo, eu já fiz quando quis autogerenciar um projeto, uma colaboração com um coletivo ou com alguma entidade, para fazê-lo de uma maneira ou com preços mais ou menos reduzidos e depois, por exemplo, fazer impressões ou reproduções e colocá-las à venda, entendendo que o trabalho seria um pouco como um espaço público, feito a um preço acessível para a comunidade ou feito gratuitamente em colaboração com algum coletivo e depois, se você quiser tê-lo na sala de jantar de sua casa, naquele espaço privado para seu próprio consumo, você paga por ele. Essa é a fórmula que usei para autogerenciar projetos… é um pouco complicado, mas, bem, como tudo nesta vida, é um jogo de sempre tentar equilibrar contradições, valores e também ter limites claros para não cruzar.

É mais ou menos essa a questão. Obviamente, o que eu não concordo de jeito nenhum é pintar um mural e depois o Banco Santander ou La Caixa vir e usá-lo em um anúncio publicitário e transformá-lo em algo com o qual eles vão lucrar, mas também não posso fazer nada para evitar isso e, se acontecer, tenho que comer. Bem, quando falo sobre trabalhar para a administração pública, sei que o trabalho que vou fazer, o conselho ou o partido de plantão vai instrumentalizá-lo e usá-lo para seu próprio benefício e não como um serviço ou em resposta a uma necessidade cultural e social da comunidade, certo? Eu sempre digo que menos de 3 ou 5 contradições é demagogia; sendo um anarquista, você tem que aumentar para 10 contradições, porque essa sociedade vai totalmente na contramão.

María Paredero Pérez
(Instagram: #mpainkoil)

Tradução > acervo trans-anarquista
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agência de notícias anarquistas-ana


A tarde vai caindo…
As águas do lago se encrespam
ao frio leve de outono…

Débora Novaes de Castro

[Reino Unido] DIY or Die | Faça-Você-Mesma, Faça-Junto e Anarquismo Punk

Jim Donaghey (Editor); Will Boisseau (Editor); Caroline Kaltefleiter (Editora)

A expressão “faça-você-mesma” (do-it-yourself), frequentemente usada em discussões sobre ativismo cultural e político, é mais um desses termos-chave que foram tomados emprestados (ou simplesmente roubados) de outros contextos. Assim como “anarquista” e “punk” foram apropriados (nos anos 1840 e 1970, respectivamente), o “DIY” também foi recontextualizado, surgindo inicialmente no contexto da melhoria doméstica nos anos 1910, e passando a ser usado em ambientes musicais e políticos a partir dos anos 1950. Mas esses termos são adotados por uma razão, e seus significados originais continuam carregando importância: há uma veia radical inegável que atravessa o faça-você-mesma, nascida de: sua ênfase na ação e na prática; sua valorização da liberdade de expressão; seus vínculos com a produção material e cultural; e sua capacidade de borrar as fronteiras entre quem consome e quem produz.

Partindo das raízes domésticas do DIY como ponto de partida, fica evidente que esse núcleo de experimentação amadora ecoa em suas aplicações contemporâneas dentro do anarquismo e do punk. No entanto, esse cerne radical está sempre sob ataque do consumismo e do empreendedorismo, tensões que continuam a marcar a cultura punk influenciada pelo DIY e o ativismo anarquista.

Esta coletânea de ensaios de diversas partes do mundo é o segundo volume de uma série publicada pela Active Distribution, explorando diferentes aspectos da relação entre punk e anarquismo.

Editora: Active Distribution

Formato: Livro

Encadernação: Brochura

Páginas: 534

ISBN-13: 9781914567377

Preço: US$ 23,00

activedistributionshop.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Hora do almoço.
Pela porta, com os raios de sol,
As sombras do outono.

Chora

[Itália] A Resistência Anarquista na Ligúria: Ernesto Mora

Entrevista com Ernesto Mora, conhecido como “Sestri”
 
A entrevista a seguir foi realizada por Elio Fiori (partisan e militante da FAI) e Alfonso Nicolazzi (tipógrafo, Promosello Chivenda 1942 – Carrara 2005) como parte de uma pesquisa sobre os anarquistas na Resistência, promovida pelo Centro Studi Libertari/Archivio G. Pinelli e pelo Archivio Anna Kuliscioff de Milão, em preparação para o congresso realizado em 8 de abril de 1995 no Circolo De Amicis.
 
Ernesto Mora: Fui para as montanhas como voluntário, não porque fosse obrigado, e antes de ir, garanti que minha família tivesse o mínimo necessário. Claro, não havia abundância, mas o essencial estava garantido.
 
Entrevistador: Onde você estava no 8 de setembro [de 1943, data do armistício italiano]?
 
Ernesto Mora: Essa é uma história… Eu estava em Veneza, no fim de quase três anos embarcado. Tinha partido como “voluntário de serviço militar” em 1941, em um navio de apoio. Naquela época, qualquer embarcação era recrutada para vigilância costeira — havia uma a cada 9 milhas —, e de vez em quando alguma era afundada. A bordo, havia uma clara desigualdade de tratamento: nós, os marinheiros, éramos considerados militares, mas não tínhamos uniformes decentes, muito menos pagamento. Alguns recebiam, outros não. Começamos a reivindicar nossos direitos, o que me rendeu várias punições. Não era exatamente um “marinheiro modelo” — sempre na linha de frente das reclamações. Passei pelo CREM [Corpo dei Reali Equipaggi Marittimi] em Spezia e até pelo cárcere militar de San Francesco [em Parma], mas seria longo detalhar tudo.
Depois de alguns meses em Gênova, fui embarcado no Monreale, que fazia a rota Nápoles-Tripoli, e fiz três viagens. Depois, fomos para estaleiro em Taranto. Lá também havia desigualdades, e eu continuei sendo o “rebelde de plantão” — até deixei o cabelo crescer como forma de protesto contra a disciplina.
Em várias licenças, me envolvi em brigas com carabineiros e guardas de finança. Quando os relatórios chegaram ao meu navio, fui transferido para Spezia para um processo disciplinar. Mas o tribunal foi bombardeado no dia do julgamento, e nada aconteceu. Isso foi em 1942.
 
Entrevistador: Onde você estava quando veio a desmobilização [após o armistício]?
 
Ernesto Mora: Em Veneza. Meu navio estava em estaleiro, e eu já estava sob regime disciplinar. Quando o armistício foi anunciado, corri para a estação e peguei um trem para Milão. Em Verona, porém, o trem foi desviado para Tarvisio, e eu pulei para fora ao perceber que os alemães estavam selando os vagões para mandar todos à Alemanha. Peguei outro trem e, graças ao meu cabelo comprido e à ajuda de duas moças triestinas que faziam “a vida” no compartimento, consegui me disfarçar. Elas me deram um casaco, e eu cobri os olhos com o cabelo. Em Voghera e Tortona, tive que me esconder novamente — cheguei a pegar uma criança no colo para parecer inofensivo.
 
Entrevistador: Mas você era grande e forte…
 
Ernesto Mora: Sim, mas em certos momentos a gente se faz de pequeno! Em Gênova, quando estava perto da estação, umas mulheres me avisaram que a única forma de escapar era dizer “arbeit” [que estava indo trabalhar para a Todt, organização alemã que usava trabalho forçado]. Segui o conselho e, assim que pude, fugi para Sestri Levante, minha cidade. Mas não dava para ficar parado. Quando soube que “Zobizzi” [nome incerto] tinha dois mosquetes, fui buscá-los, e nós dois subimos para as montanhas. Lá, encontramos outros que já estavam organizados e formamos um grupo que depois se tornou parte da formação “Coduri” — nome em homenagem ao primeiro combatente morto na região, um marinheiro do sul.
 
Entrevistador: Você já era anarquista?
 
Ernesto Mora: Nem sabia o que significava. Lutei sem seguir ordens que não concordava, e por isso me chamavam de “anarquista” — principalmente os comunistas, que já selecionavam seus homens. Só depois da guerra entendi o que era. Conheci os anarquistas e, embora não concordasse totalmente (achava [Umberto] Marzocchi muito moderado), admirei suas ideias e coerência.
 
Entrevistador: Em quais ações você participou?
 
Ernesto Mora: Seria longo listar todas. Uma das mais intensas foi em Borgo Nuovo, onde emboscamos duas colunas alemãs descendo do passo do Bocco. A princípio, pensamos que fossem fascistas. Alertamos duas mulheres na estrada e então abrimos fogo. O terreno íngreme e o fator surpresa nos ajudaram. Na hora de recuar, meus companheiros fugiram para o bosque, mas eu tive que descer em direção ao comboio inimigo. Quando as balas passavam perto, eu caía fingindo estar morto; depois levantava e corria de novo. Acabei me escondendo em um mato de espinhos — nem sentiria as feridas, pois estava mais preocupado em recarregar minha arma, decidido a vender caro minha pele. Não me acharam, e quando cheguei ao povoado, já estavam me procurando como morto. Foi uma festa.
 
Entrevistador: Lembra de outro episódio marcante?
 
Ernesto Mora: Em agosto de 1944, um avião caiu no monte Pane, com uma bomba não detonada. Alguns companheiros tentaram abri-la para pegar explosivo, mas aqueciam-na com fogo — algo que eu desconfiava, pois ouvi dizer que era melhor usar água. Enquanto eu me protegia atrás de um celeiro, a bomba explodiu. O trinitrotolueno (TNT) se espalhou, mas a explosão feriu vários: um ficou com o rosto desfigurado, outro com os intestinos expostos. Fizemos curativos improvisados e os carregamos até Amborzasco, onde havia um hospital partisan. Foi uma subida dura, mas a vontade de salvá-los me deu força. No caminho, um civil bem-vestido — um refugiado com a família — nos ajudou a carregar um dos feridos.
 
Entrevistador: E o rastreamento [pelos nazifascistas]?
 
Ernesto Mora: Poucos dias depois do incidente da bomba, tivemos que recuar para Piacenza, até Cornolo, onde encontramos militantes de Giustizia e Libertà. Tínhamos que ter cuidado, pois havia rivalidades — principalmente por causa dos suprimentos aéreos: alguns grupos recebiam, outros não, criando atritos.
 
Entrevistador: O que você fez depois da Libertação?
 
Ernesto Mora: Percebi que as injustiças não acabaram com o fascismo. Tive sorte de ser autônomo — era bom pescador —, mas outros sofreram. Certa vez, enfrentei o diretor da FIT [indústria metalúrgica] para exigir emprego para um companheiro necessitado. Em 1946, eu mesmo entrei na FIT.
As diferenças com outros partigiani apareceram com o tempo. Antes de 1960, em um encontro em Varese Ligure para resolver conflitos entre a IV e a VI brigada, quase houve uma briga por causa da mentalidade autoritária dos comunistas da ANPI, que usavam a Resistência para ascensão política. Eu e outros não aceitávamos essa submissão — até hoje rejeito essa mentalidade de rebanho.
 
Entrevistador: Quando foi tirada sua foto [como partisan]?
 
Ernesto Mora: No inverno de 1944.
 
Entrevistador: Mas vocês estavam de calças curtas…
 
Ernesto Mora: Sim, quase todos usávamos calças curtas. Um dia, um fotógrafo veio até nós. Mandamos ele voltar para pegar a câmera, e assim foi tirada a foto.
 
Fonte: https://centrostudilibertari.it/it/resistenza-ernesto-mora
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
no mesmo banco
dois velhos silenciam
no parque deserto
 
Carol Lebel

[México] Manifestação anti-homenagem contra Fidel Herrera Beltran

TOMEMOS AS RUAS

ANTI-HOMENAGEM PÓSTUMA CONTRA FIDEL HERRERA BELTRAN

Em 11 de maio de 2025 o Congresso do Estado de Veracruz realizou uma homenagem fúnebre a um dos repressores, narcogovernadores e ditadores democráticos mais odiados de nossa história local: o priísta (membro do PRI) Fidel Herrera Beltrán. Durante seu mandato Veracruz se converteu em uma fossa clandestina gigante, desaparecidos, perseguidos, executados, sequestros perpetrados pela polícia, paramilitarismo, narco, roubos, desvio de recursos e uma encarniçada perseguição de lutadores sociais, estendendo seu legado de terror até o mandato do também priísta Javier Duarte que continuou com as lições sobre terrorismo de estado de seu mestre. É óbvio que como qualquer um que toma o poder, enriqueceu brutalmente a uma cúpula governante e empresarial que fez com que o progresso capitalista se estendesse ainda mais pela região, despojando terras, contaminando e saqueando rios e mares, gerando extrativismo, mantendo a mineração e o fracking e um longo etecetera.

Para a cidadania foi um grande governador e símbolo do progresso, para nós um a mais no poder, mas um muito doente. É por isso que fazemos um chamado a todas as pessoas com memória e com raiva a esta marcha/anti-homenagem póstuma contra Fidel Herrera Beltrán e qualquer personagem no poder seja do PRI, PAN, PRD, MORENA ou como quer que se apresente o opressor de turno.

DATA E HORA: 15 DE MAIO 2025 / 10h00

LOCAL: PARQUE LOS TECAJETES (XALAPA, VERACRUZ)

OS ASSASSINOS DO POVO NÃO SE CELEBRAM, SE REPUDIAM!!

RECUPEREMOS AS RUAS COMO FORMA DE LUTA SUBVERSIVA!!

CONTRA TODO ESTADO E CAPITAL!!

AUTO-ORGANIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE CONTRA A REPRESSÃO!!

NÃO À MILITARIZAÇÃO CAMUFLADA!!

NADIA VERA E RUBÉN ESPINOZA PRESENTES!!

ACAB

– EL DESCONTENTO SOCIAL –

Fonte: https://es-contrainfo.espiv.net/2025/05/13/estado-mexicano-manifestacion-anti-homenaje-contra-fidel-herrera-beltran/

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Depois de tapar
O buraco do tatu,
A colheita do café.

Shûfûshi Ôkuma