[Paraguai] Não contem conosco!

Eles querem nossos corpos para serem cúmplices na militarização permanente dos territórios: aterrorizando, assassinando e destruindo em nome de uma falsa segurança que só beneficia o extrativismo e seu ciclo interminável e egoísta de destruição e exploração.
Não contem conosco.

Eles querem nossos corpos para a guerra e o serviço militar, enquanto nas casas e nas ruas nos matam de misoginia e machismo. Já basta!
Não contem conosco!

Querem nos usar como justificativa para os gastos militares estatais, baseados no medo que eles mesmos produzem, junto ao armamentismo desenfreado que enriquece máfias disfarçadas de autoridade. Não faremos parte disso.
Não contem conosco.

Chamamos à ação comunitária e solidária entre os povos contra a indústria armamentista — um negócio de ódio, morte, destruição e discriminação. A segurança promovida pelos Estados e pelo capitalismo é uma ficção que perpetua o monopólio da violência, alimentando permanentemente o negócio das armas, a opressão dos povos e a exploração dos territórios.

Na RAMALC (Rede Antimilitarista da América Latina e do Caribe), acreditamos que a segurança é uma vivência comunitária e empática, construída coletivamente em cada território que habitamos, de forma horizontal, em um diálogo sororo e alegre, como um exercício coletivo de ação direta.

Este e todos os 15 de maio são o Dia Internacional do Direito à Objeção de Consciência ao Serviço Militar — o direito de dizer NÃO a participar de guerras, conflitos, agressões e mortes. Em tempos de militarização e autoritarismo, não colaborar com a violência é um exercício indispensável de liberdade e solidariedade.

Declare-se objetor/a!

ARQUIVOS PARA BAIXAR: https://documentos.imagenacrata.org

ramalc.org

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

caminho mundo…
a treva negra
envolve tudo…

Luís Aranha

[Espanha] Barricada de Papel Nº79: Antiespecismo, uma luta pela vida e a justiça

Neste número de Barricada de Papel, Patricia Gutiérrez, ativista política, feminista e antiespecista, nos convida a questionar uma das opressões mais normalizadas de nosso dia a dia: o especismo. Através de uma reflexão pessoal e honesta, nos aproxima da discriminação sistemática que sofrem os animais não humanos pelo simples fato de não pertencer a nossa espécie.

Desde a exploração na alimentação e a experimentação até as resistências sociais e laborais que enfrenta o movimento antiespecista, Patricia põe sobre a mesa uma verdade incômoda: o sistema capitalista e patriarcal mercantiliza os corpos dos animais e perpetua seu sofrimento, ignorando seus direitos e sua capacidade de sentir.

O artigo nos fala também dos santuários de animais como espaços de resistência, onde se demonstra que outra forma de convivência é possível, baseada no respeito e na liberdade. E nos recorda que ser antiespecista é enfrentar a cada dia um sistema estrutural que legitima o uso e abuso dos demais animais, mas também é uma aposta pela justiça e a coerência em todas as nossas lutas.

Consulta o número completo aqui:

https://cgtandalucia.org/wp-content/uploads/2025/04/Barricada-de-papel-no-79-antiespecismo-1.pdf

Tradução > Sol de Abril

agência de notícias anarquistas-ana

Dentro do grilo
Um grito verde
Desfolha-se.

Paulo Ciriaco

Sob o governo Lula 3 os bancos nunca viram tanto dinheiro

No primeiro trimestre de 2025, terceiro ano do governo Lula 3, o Bradesco teve um lucro líquido de R$ 5,9 bilhões. Isso mesmo, em três meses quase 6 bilhões de lucro!!!

Bancos batem recordes de lucro

Em 2024, segundo ano do governo Lula 3, os 4 maiores bancos no Brasil (Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil) alcançaram um lucro líquido conjunto de R$ 114,1 bilhões.

Em 2023, no primeiro ano do governo Lula 3, os lucros líquidos dos quatro maiores bancos do Brasil totalizaram R$ 96,9 bilhões. 

Lula 3, “mãe dos bancos”?

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o homem que se autoproclama o “pai dos pobres”, mas que, na prática, tem se mostrado a verdadeira “mãe dos bancos”.

Resumindo

Muitos brasileiros ralam, recebem um mísero salário-mínimo de R$ 1.518,00, o que, para muitos, não é suficiente para cobrir as despesas básicas, como alimentação, moradia e transporte. E OS BANCOS FE$$$TEJAM!

CONTRA O ESTADO E O CAPITAL!

agência de notícias anarquistas-ana

Parada do trem –
Com o vendedor de flores
Vêm as borboletas.

Sôshi Nakajima

Quando o pensamento vira prisão: crítica anarquista à academização da vida

Sim, a teoria importa. Pensar é urgente. Mas pensar não é empilhar citações nem sacralizar bibliografias. Não é repetir jargões da cultura acadêmica para parecer inteligente. E, mais ainda: pensar nunca foi — nem deveria ser — privilégio da academia. A reflexão nasce do mundo, não das atas. A teoria se escreve com suor, tropeço e experimento. E, quando esquecemos isso, até o anarquismo se torna burocrático.

Há uma distorção em curso — e ela é grave: até o anarquismo tem supervalorizado a escolarização. Como se só fosse legítimo aquilo que já foi validado pela universidade. Como se só fosse anarquista quem fala difícil. Isso é o oposto do que se busca. Para ser anarquista, não é preciso ter diploma — é preciso ter disposição para viver sem amos. É preciso sentir na pele, e não apenas citar autores brilhantes. Quem constrói luta coletiva pode ser anarquista, mesmo sem nunca ter lido Bakunin.

A racionalidade acadêmica ocupou até os espaços libertários. Hoje, há quem exija referência para a raiva e bibliografia para a solidariedade. Teoriza-se tanto a prática que ela simplesmente não acontece. Fala-se de ação direta com vocabulário de defesa de tese. O que era para ser um corpo em movimento virou ritual de discurso e postura acadêmica.

É preciso dizer em alto e bom som: a teoria viva nasce da prática. Da tentativa, da contradição, da urgência de viver com coerência. E, sinceramente, está fazendo falta mais livro escrito por quem vive. Por quem tenta e erra. Por quem faz da vida seu laboratório. Queremos mais textos com calo, com gíria, com vísceras. Menos relatório, mais relato. Menos citação, mais chão.

A cultura acadêmica se tornou um problema sério. Já tem acadêmico que conceituou isso como “paralisia reflexiva”. Tem gente que fala tanto sobre mudar o mundo que não tem tempo de pegar numa enxada, reciclar numa feira, colar um lambe. Essa cultura em que as palavras não precisam ter conexão com as ações não nos serve. Não é antiautoritária — é decorativa.

Saberes não legitimados pela academia continuam sendo saberes. As sabedorias ancestrais e populares, muitas vezes oralizadas, pensam o mundo com o corpo. Negar isso é erguer muros onde caberiam fogueiras. É esquecer que há pensamento na ação de viver e na palavra que não precisa de assinatura. É cultuar um conhecimento moldado por estruturas hierárquicas, que só ganha valor se passar por bancas ou pelo crivo de avaliadores de revistas.

O anarquismo não precisa de papers. Precisa de corpo, de ação, de erro. Precisa de gente que arrisque, que escute o mundo fora dos muros acadêmicos. Pensar, sim — mas pensar como quem anda. Como quem dança. Como quem cai e levanta. Como quem não pede permissão para criar.

Se não rompemos com essa lógica, se não descolonizamos o pensamento anarquista da cultura acadêmica que o aprisiona, corremos o risco de nos tornar aquilo que juramos combater: uma elite do saber que fala de liberdade enquanto vive trancada em seminários.

O pensamento deve ser ferramenta, não ornamento. E o anarquismo, nunca precisou — nem precisa — da validação da cultura autoritária para existir. Antes de ser discurso, ele é vida em estado de insubmissão.

— Sementes Insubmissas

Sementes Insubmissas é um coletivo sem donxs, fronteiras ou chancela. Nasce do desejo de aprender além dos muros das instituições escolarizadoras, afirmando que saber não precisa de diploma para existir. Aqui, a teoria brota da prática, do corpo em movimento, do erro, do cuidado e da partilha.

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agência de notícias anarquistas-ana

lá se vão as garças
vão pairando sobre o rio
vão cheias de graça

Gustavo Felicíssimo

“Este Lula afirmando hoje no encontro com o Putin que precisa se unir na luta contra o terrorismo internacional. Se unir com quem? Com um regime neofascista?”

Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitando à Rússia, com reunião bilateral com Putin agendada para os próximos dias, resolvemos divulgar trechos de uma entrevista com a anarquista russa-brasileira Kristina Dunaeva bem antiga (foi realizada em novembro de 2004), mas que continua atual em diversos aspectos. Confira a seguir…
 
Agência de Notícias Anarquistas > Recentemente a Revista Exame soltou uma nota indicando que a Rússia é o 3° país com o maior número de bilionários do mundo, por outro lado, é um dos países mais corruptos do planeta. Curioso, não?
 
Kristina Dunaeva < Curiosíssimo!!! O que se passa agora na Rússia é a consolidação do monopólio de todos os poderes no Estado, ou seja, para um grupo restrito de pessoas, para a turma de Putin, que vem da ex-KGB – polícia secreta da URSS –, e que está reestruturando o poder ao redor de si. Assim, antigos membros da KGB se engajaram nas novas estruturas de poder de livre mercado criadas após a implosão do capitalismo de Estado soviético, ocupando altos cargos executivos de multinacionais, por exemplo. Recentemente, muitos bilionários vazaram do país, após acordos com o governo, com certeza. Um deles, que era dono de único canal da TV não federal, insistiu em ficar e agora está preso.
 
ANA > Vladimir Putin está no Brasil, se tivesse a oportunidade de falar com ele, o que falaria?
 
Kristina < Perguntaria, qual o objetivo da visita para o Brasil? Quais serão as negociatas? Putin vem para o Brasil negociar a venda de aviões caças militares Sukhoi. A aquisição será negociada pelo Ministério de Defesa brasileiro, representado pelo vice-presidente José Alencar que, antes de virar o ministro de defesa, visitou a Rússia. O vendedor, Ministério de Forças Armadas da Rússia, há 10 anos promove a guerra na Chechênia, é causador de genocídios, de atos de terrorismo estatal e mantém no poder o governo fascista do Putin. O Brasil, por sua vez, mensalmente fornece aos cidadãos russos toneladas de diferentes tipos de carne, devido ao nível precário da produção industrial de tal produto na Rússia e à hiperprodução e crescimento da indústria pecuária brasileira (curiosamente, o presidente da Sadia é ministro de Desenvolvimento do governo Lula).
 
Enquanto isso na Rússia: à custa dos povos da Chechênia e da Ingushetia, que estão sendo exterminados pelo exército russo com a cumplicidade silenciosa da maioria de pessoas da Rússia, Putin, alto membro da ex-KGB e atual FSB, foi “eleito” para governar mais quatro anos pelo povo rapidamente empobrecido, graças ao discurso nacionalista e totalitário e com o apoio da indústria bélica e petrolífera.
 
À primeira eleição de 1999 precederam as explosões de prédios residenciais em Moscou, o que serviu de pretexto para uma nova onda de genocídio na Chechênia. À última eleição de 2004 – a explosão no metrô de Moscou. Putin ganhou esta eleição no primeiro turno. Curiosamente, com os recordes de votação na Chechênia (89,65% e 92,6% dos votos em apoio) e na Ingushetia (91,09%). Enquanto isto na Sibéria, nas regiões de Krasnoiarsk e de Irkutsk, as eleições não rolaram (na Rússia voto não é obrigatório).
 
Putin ganhou a eleição prometendo que o governo russo realizará um programa social concreto e positivo em troca de apoio silencioso ao regime totalitário.
 
Em vez disso, o governo do Putin, junto ao Parlamento, completamente obediente, assinaram um pacote de leis antissociais que prevê a anulação de transporte gratuito para os aposentados, o cancelamento de distribuição gratuita de remédios para os doentes crônicos (por exemplo, para aqueles que sofrem de diabetes), a anulação de dotações estatais para os antigos presos  políticos, para os deficientes, inclusive para aqueles que sofreram de radiação em consequência da catástrofe de Chernobyl, a anulação de indexação de salários para aqueles que trabalham na região Setentrional da Rússia (costa do Oceano do Norte), a anulação de bolsas para os estudantes etc. Em alguns casos serão pagas dotações em dinheiro, só que se este dinheiro deverá sair dos orçamentos regionais que estão vazios, sem conseguir pagar os salários dos professores, médicos, funcionários estatais.
 
Outras medidas que prenunciam a consolidação do totalitarismo: a anulação das eleições diretas dos governadores (agora é o Putin que nomeia) e perseguição dos grandes partidos de “oposição” (comunista, por exemplo). Sou contra as eleições, muito mais contra o totalitarismo, e estas medidas servirão para que não rolem protestos e obstáculos durante as reformas do governo deste FDPutin!
 
ANA > É muito curiosa essa negociata belicosa e armamentista entre o governo brasileiro e russo. Mas não surpreende, já que uma das políticas do governo Lula é modernizar as Forças Armadas, e isso passa pela aquisição de armas, que eles dizem que é para defender a paz, a soberania nacional… uma grande hipocrisia!
 
Kristina < Tá foda. Este Lula afirmando hoje no encontro com o Putin que precisa se unir na luta contra o terrorismo internacional. Se unir com quem? Com um regime neofascista? Com os milicos, policiais?
 
ANA > Em que ponto está agora às mobilizações contra a guerra na Tchetchênia? Fale um pouco deste conflito…
 
Kristina < A cada semana em Moscou, São Petersburgo e algumas outras cidades acontecem os piquetes antimilitaristas. Quem organiza são as ONG’s de direitos humanos – que trabalham com presos políticos, vítimas do regime soviético e refugiados, anarquistas, indivíduos conscientes. Participei de alguns em Moscou, logo após a explosão da escola em Beslan. Numa das principais praças da cidade, no fim da tarde, foram acesas as velas, abertas as faixas com as inscrições contra a guerra, contra o genocídio dos chechenos promovido pelo exército russo e pelo Putin, contra o imperialismo, contra o terrorismo estatal que causou morte de centenas de crianças. Foram distribuídos panfletos e os participantes trocaram ideias com as pessoas que passavam na praça. Muitos passavam reto, sem levantar os olhos – o medo e a tensão em Moscou, capital do império russo, estão generalizados, muitos recusavam receber os panfletos, mas muitos conversavam.
 
Em Moscou, com as mesmas pessoas, participei da manifestação ultranazista organizada pelo governo e fiquei bem assustada. Fomos pra lá para ser uma gota contra no oceano da massa obediente – os participantes foram trazidos obrigatoriamente pelos sindicatos e universidades, e também pelos discursos dos governantes e figuras populares através das telas azuis dominadas pelo governo. Rapidamente distribuímos os panfletos no meio de bandeiras dos fascistas, das faixas com as citações de Putin, no meio dos carecas, de discursos que os notáveis gritavam do palco – que o inimigo está do lado de cada um, pode ser um vizinho, pode ser um amigo, quem não é russo é o inimigo, etc., – e aí estendemos uma faixa que estava escrito: “Todos somos reféns do terrorismo estatal”, aí nem passou 10 minutos – colaram os polícias falando que esta é uma manifestação em apoio ao governo, e não contra, e que não existe nenhum terrorismo estatal… Tudo isto no meio de vários provocadores, de pessoas surtando, nos acusando das recentes mortes de crianças; rasgaram a faixa, prenderam um companheiro e nós tivemos que sair juntos e ir bem longe para se dispersar e cada um pegar o metrô para seu lado.
 
Esta guerra é um mecanismo que o governo aciona assim que precisa justificar qualquer medida, qualquer passo, quando precisa eleger alguém como Putin. Na Rússia as informações sobre esta guerra são censuradas e ela serve de pretexto para a instalação de um regime fascista. O que acontece lá é o genocídio.
 
ANA > Você acha que hoje a “velha KGB” se confunde com a máfia russa, que é muito poderosa?
 
Kristina < É uma turma só que está no poder: que elegeu Putin, que faz a guerra, que apela a combater o terrorismo e explode a escola, os prédios, os metrôs…
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
e um vaga-lume
lanterneiro que riscou
um psiu de luz
 
Guimarães Rosa

Putin, o tiraninho queridinho da esquerda, da direita…

Vladimir Putin, o tiraninho autocrata que é o queridinho da esquerda, da direita e dos bilionários oligarcas europeus.

Bug mental na militância pro Putin, afinal seria Putin de esquerda ou de direita, para saber se apoio ou não? Se você se perguntou sobre isso, não entendeu porra nenhuma.

O Putin apenas faz o jogo que lhe interessa. Ele não é puramente ideológico, ele abraça Trump/Orbán/Bolsonaro e ao mesmo tempo Maduro/Ortega/Lula, e ainda dá propulsão nos sonhos imperialistas da população invadindo os países vizinhos.

É um mestre da política, se perpetua no poder com os métodos stalinistas, e se mantém no luxo e na riqueza capitalista abraçado com os bilionários oligarcas, seus fieis sócios na partilha do Estado russo. Um verdadeiro malabarista, o melhor de todos os tempos.

agência de notícias anarquistas-ana

Outono
Empoleirado num ramo seco
um corvo

Matsuo Bashô

[França] O anarquismo pragmático | Não contem conosco para fazer parte dos anarquistas esquerdistas

Desde as últimas eleições legislativas, temos assistido ao florescimento de uma noção de anarquismo pragmático, que seria um anarquismo mais moderno e que votaria à esquerda para impedir a extrema direita de chegar ao poder. Adeus ao parlamentarismo anarquista tradicional e bem-vindo ao mundo das pessoas responsáveis que cumprem seu dever de cidadãos colocando um voto na urna ou apertando um botão. Não discutiremos desta vez nosso abstencionismo recorrente, mas insistiremos na inconsistência da esquerda francesa, pela qual não temos qualquer responsabilidade nas guerras de egos e poder. Nossos inimigos frequentemente nos acusam de nos trancarmos em nossa torre de marfim e de que é muito fácil estar certo contra todos. No entanto, gostaríamos de dizer aos nossos detratores que a lei do trabalho e as ordens do presidente Macron são responsáveis pelo enfraquecimento da representação sindical nas empresas. E que Hollande [ex-Presidente da França] aumentou nossa idade de aposentadoria com Marisol Touraine. Que a esquerda está bem dividida e não precisa de nós para isso. Que a esquerda não é anticapitalista nem antimilitarista, ao contrário dos libertários. Que a esquerda pretende aumentar as despesas militares, etc. Que o antissemitismo borderline de Mélenchon não nos agrada; que flertar com os militantes trotskistas do seu ex-partido, a OCI, não nos entusiasma, tanto mais que muitos militantes “insubmissos” relatam uma certa violência nas relações dentro do movimento populista. Que seguir Glucksman [político francês] não nos convém, pois ele é muito social-democrata e segue os passos de Hollande. Que os ecologistas partidários são políticos que só aspiram ao poder. Que nos lembremos das trajetórias políticas de François de Rugy, Brice Lalonde… sem contar as travessuras de certos eleitos com comportamento sexista e abusador etc. Os ecologistas sempre foram os suplentes do PS [Partido Socialista]. E trabalhar com comunistas de um partido stalinista é fora de questão; decididamente, os libertários estão a milhas de distância dos microcosmos políticos. E é a estes últimos que devemos nos unir para fazer barreira à extrema direita.

Aliás, Macron, Attal e companhia fizeram mais de escada do que de barreira ao RN [Reagrupamento Nacional].

Então, os anarquistas estão confinados a ver os trens passarem? Claro que não.

Para nós, o anarquismo pragmático tem outro sentido e outra prática. Quando vários horticultores, agricultores e criadores biológicos se juntam para criar uma quinta e um restaurante associativo, mesmo que nem todos sejam anarquistas, a iniciativa é anarquista. Quando um ex-funcionário público se reconverte em padeiro biológico e o seu forno solar é construído por estudantes de engenharia mecânica, a padaria pode não se chamar “a conquista do pão”, mas o espírito libertário está bem presente. Quando um centro cultural reúne uma biblioteca operária e juvenil, um centro documental, pintores, escultores e atores… para criações e exposições, isso se inscreve em um certo espírito libertário. Quando são ministrados cursos noturnos voluntários, quando as crianças são “orientadas” por animadores e professores libertários em atividades extracurriculares, etc., isso faz parte de uma concepção ampla e prática da pedagogia libertária. Quando festividades como o centenário da greve das sardinheiras em Douarnenez fazem sentido comum, ultrapassando as barreiras partidárias, isso também faz parte do espírito libertário combativo e memorial. Quando uma creche autogerenciada é criada com pais que doam seu tempo para reduzir custos e prestar serviços, essa é mais uma prática libertária em vigor.

Quando militantes se envolvem nas ZAD [Zonas A Defender), coletivos de luta contra o extrativismo, o enterramento de resíduos nucleares etc., muitos anarquistas estão presentes nessas lutas e lhes conferem um espírito autogestionário, mesmo que seja necessário manter a guarda alta para evitar a tomada do poder por certos protagonistas.

Quando 300 a 400 pessoas montam uma mercearia solidária e cooperativa, onde os associados doam seu tempo para fazer funcionar a estrutura sem funcionários permanentes, isso reforça nossas posições libertárias. Quando outra mercearia solidária faz um cadastro de idosos e deficientes que não podem se deslocar e recebem entregas, isso contribui para a ajuda mútua. Nas associações esportivas, libertários promovem o prazer do esporte longe das competições; nas associações culturais, um vento libertário sopra às vezes em lugares onde não se esperava.

Há mil e uma maneiras de dar vida à Ideia. Inúmeras experiências de SCOP [Sociedade Cooperativa e de Produção, um modelo de empresa democrática, NDT], de retomada do controle dos meios de produção, estão se ampliando. Não é preciso esperar pelo Grande Dia e muito menos pelos políticos, que sabemos que mais cedo ou mais tarde trairão. Vimos desfilar a esquerda plural no Primeiro de Maio de 2025 em Dunkerque para ressuscitar a ideia da nacionalização da ArcelorMittal, o que permitiria salvar os empregos e o aço francês. É novamente o país da fantasia. Por que essa esquerda política deixou fechar os altos fornos de Florange quando estava no poder com Hollande? Porque esses políticos têm facilidade em dizer que “as finanças são nossas inimigas” para captar os votos dos ingênuos, mas não deixa de ser verdade que os líderes da esquerda também são defensores do sistema capitalista. 

Os planos sociais se sucedem e a LVMH, multinacional que registra lucros superiores a 12 bilhões, pagou ao mesmo tempo três bilhões de dividendos ao seu principal acionista, Bernard Arnault, e demitiu 1.200 funcionários da sua subsidiária Moët Hennessy, principalmente por não substituir os funcionários que se aposentaram.

Portanto, os libertários não querem a vergonha nem a desonra de apoiar tal sistema. Se ser anarquista pragmático é votar nesse sistema injusto, não contem conosco para fazer parte dos anarquistas esquerdistas que só querem ficar na cola de políticos em busca de reconhecimento.

Ty Wi (GLJD)

Fonte: https://le-libertaire.net/lanarchisme-pragmatique/

Tradução > Accattone

agência de notícias anarquistas-ana

Maré outonal.
As ondas quebram na areia
Bem devagarinho.

Benedita Silva de Azevedo

[Uruguai] A esquerda é uma droga sistêmica

Por Raúl Zibechi | 07/05/2025

No Equador e na Bolívia, estão ficando evidentes as piores atitudes das esquerdas e dos progressismos. Em ambos os casos, trata-se de um desvio pragmático que substitui a ética pela ambição de poder e luxos, deixando de lado qualquer proposta programática e transformando a política em um mero exercício de acomodações personalistas para obter vantagens. Isso não é novidade, certamente, mas nos dois países mencionados, tudo já acontece sem a menor tentativa de disfarçar.

No Equador, os nove assembleístas do Pachakutik, partido de esquerda vinculado ao movimento indígena, assinaram um acordo com o governo de Daniel Noboa (classificado por essas correntes como ultradireitista) para lhe dar governabilidade, já que ele não tem maioria parlamentar. Eles declararam que agiram por “amor ao país”, mas escondem as prebendas que obtêm com essa atitude, que abre as portas para um governo antipopular, privatista e profundamente repressivo.

O partido de Rafael Correa não ficou atrás. Depois de firmar um acordo com a esquerda indígena e com o Pachakutik para apoiar Luisa González no segundo turno das recentes eleições, a candidata propôs ninguém menos que Jan Topic (outro ultradireitista) como futuro ministro do Interior, caso vencesse as eleições. Trapaças sobre trapaças, rasteiras por todos os lados, que só servem para desmoralizar as forças que se dizem de esquerda.

Na Bolívia, há pouco a acrescentar ao teatro do absurdo protagonizado por Evo Morales e pelo presidente Luis Arce, ambos do mesmo partido. Rafael Bautista resumiu isso claramente em um artigo recente: “Por trás de todas as ofertas de ‘salvar a Bolívia’, não há nenhuma salvação, apenas a vantagem proporcionada por uma situação criada para dar continuidade espúria ao mesmo círculo vicioso de um sistema e uma cultura política esgotados (que ainda pretendem preservar aqueles que veem o poder político apenas como um bem patrimonial).”

O pensador boliviano acrescenta que “nos 14 anos do ‘governo da mudança’, também se manteve o prebendalismo e o corporativismo dirigente para empoderar setores por pura conveniência política.” Sem diferenças programáticas, a disputa entre Morales e Arce se reduz a uma bruta e simples luta por poder pessoal, onde os caudilhos substituem propostas políticas por ambições individuais.

É a isso que a esquerda no continente foi reduzida: ambições de caudilhos e pequenos grupos para pegar as migalhas que caem da mesa do banquete neoliberal. Os povos ficam de fora dessa especulação das elites progressistas e só aparecem como recurso para derrotar o adversário. Porque já não conseguem disfarçar com palavras a crise ética que os envolve sem remédio.

O mais triste é que não há o menor sinal de autocrítica, que os líderes persistem no engano, seguindo um caminho que leva ao desastre sem consultar ninguém, a não ser sua própria sombra. Separar a ética da política foi o mesmo que se entregar ao mais cruel pragmatismo, onde se destacam as ambições pessoais. Nada mais.

Devemos entender que a esquerda é coisa do passado. Não podemos continuar presos à ideia absurda, desmentida mil vezes pelos fatos, de que existe uma contradição direita-esquerda, porque são exatamente a mesma coisa. As supostas diferenças são apenas um teatro, um show, para manter a população e os movimentos pendurados em um dilema inexistente.

O fim das esquerdas anda de mãos dadas com a crise do Ocidente, onde elas nasceram, e com as mudanças sísmicas e traumáticas do sistema-mundo, que não trazem nenhuma melhoria para os povos, mas apenas para as elites que já estão se acomodando diante das transformações que virão.

Mas, acima de tudo, devemos entender que os políticos de esquerda são parte das elites, dos de cima, que aprenderam a manipular os modos dos de baixo para enganá-los melhor. As mentiras demorarão um tempo para serem descobertas pela população que os apoia, mas não serão eternas, por mais danosas que sejam.

Uma última questão: o capitalismo não se sustentaria se não existisse a tal “esquerda”. O sistema precisa dela, assim como precisa de drogas para facilitar a dominação, porque é assim que controlam os desejos populares e suas organizações. Em suma, a esquerda é uma droga sistêmica.

Fonte: https://desinformemonos.org/la-izquierda-es-una-droga-sistemica/

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Nas águas do mar
Águas-vivas flutuam
Tranqüilamente …

Miranda

Comunicado: 1ª Jornada Internacional Anarquista da Amazônia/Brasil | “Jornadas ANTI-COP”

Prezadas companheiras e prezados companheiros,

Como lembrete, e para aquelxs que possam estar interessadxs em se juntar a nós em nossa luta, a COP30 está sendo organizada em nossa cidade este ano, e ficaremos felizes em receber todxs xs ativistas libertárixs que queiram participar de atividades de protesto e denúncia da mais hipócrita das cúpulas destinadas a nos proteger das desgraças criadas pelos próprios organizadores do evento.

Teremos prazer em recebê-lxs e envolvê-lxs nos protestos planejados que estão sendo preparados no momento.

Agradecemos qualquer ajuda material que vocês possam nos fornecer (equipamentos de informática, áudio ou vídeo, por exemplo) e esperamos encontrar todxs que queiram se juntar a nós na luta que promete ser particularmente acirrada nas terras devastadas pelo agronegócio na Amazônia.

Além disso, ajudar-nos pode ser feito (e muito) compartilhando para todos os seus contatos libertários estas informações. Isso pode nos permitir conseguir levantar um verdadeiro bloco anarquista durante os dias de protestos que Belém vai conhecer durante a COP30.

Visto que os nossos povos amazônicos já estão mobilizados contra as leis que o governador do Pará tentou implementar contra eles, esperamos que a militância do Brasil como um todo e vindo dos outros países e continentes se faça presente conosco.

Para realizar isso, vamos hospedar, de modo militante, em nossas casas xs companheirxs oriundxs de fora do Pará. Para nos avisar da sua vinda, é só nos enviar uma mensagem eletrônica neste endereço: cclamazonia@gmail.com, indicando as datas de permanência em Belém e eventuais informações específicas a respeito das necessidades de hospedagem.

Em seguida, retomaremos contato para acertar os detalhes e confirmar a possibilidade de alojamento militante.

Ia JORNADA INTERNACIONAL ANARQUISTA DA AMAZÔNIA/BRASIL
“Jornadas ANTI-COP”

Data: 10 a 21 de novembro de 2025
Local: Belém / PA / Brasil


Vocês devem pensar em ter:
Uma rede
Um mosquiteiro
Repelente para mosquitos
Protetor solar
Um adaptador de tomada UE/EUA/Brasil

* Obs: em um outro chamado, pedimos um valor para a estadia dxs companheirxs. Após uma revisão dessa proposta, decidimos alojar de maneira solidária (gratuita) xs companheirxs que vão se juntar à nos nessa jornada.

Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA
Rua Bruno de Menezes (antiga General Gurjão) 301 – Bairro Campina – Belém do Pará.
cclamazonia@gmail.com
cclamazonia.noblogs.org

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agência de notícias anarquistas-ana

No frescor da sombra
Caldo pelos cotovelos —
Manga madura

Neiva Pavesi

[Finlândia] Vídeo | Principais aspectos da perseguição à comunidade LGBTQIA+ russa

Esta apresentação explora a situação atual da comunidade LGBTQIA+ na Rússia e destaca os desafios contínuos que ela enfrenta. Também inclui estatísticas de novembro de 2024, oferecendo uma visão geral do processo de refúgio para requerentes russos LGBTQIA+ na Finlândia, incluindo diretrizes gerais do procedimento oficial, a situação real e as dificuldades encontradas pelos requerentes.

Gravado no festival “Father Frost Against Putin” em 11 de janeiro de 2025.

Apresentação de Alex (Aleksandr) Nesterov – ativista LGBTQIA+ e de direitos humanos, defensor contra a guerra, fotógrafo e designer. Solicitante de asilo na Finlândia, Alex é membro ativo da QA:FI (Queer Asylum: Finland) e da Comunidade Democrática de Pessoas de Língua Russa na Finlândia. Ele esperou mais de 29 meses por uma decisão do Migri (Serviço de Imigração da Finlândia) e recebeu asilo após o festival.

>> Veja o vídeo aquihttps://www.youtube.com/watch?v=REOO3JRZSYA

Fonte: https://avtonom.org/en/news/key-aspects-persecution-russian-lgbtqia-community

Tradução > acervo trans-anarquista

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enamoradas…
as nuvens cinzentas
apagam o sol…

Rodrigo de Souza Leão

[Rússia] Apresentação do livro “Anarquismo e Filosofia da Educação. Experiência Pós-Soviética” em Yerevan

Em 11 de maio, às 20h, Maria Rakhmaninova, editora da Akrateia, PhD em Filosofia, fará uma apresentação de seu livro “Anarquismo e Filosofia da Educação. Experiência Pós-Soviética” em Yerevan, no espaço Мама джан (Spendiaryan 5).

O livro é a primeira coleção de entrevistas com educadores libertários no espaço pós-soviético e oferece ao leitor um panorama das experiências de várias práticas educacionais, desde a pedagogia da primeira infância até a educação universitária. Graças às muitas obras traduzidas que apareceram em russo nos últimos anos, não é segredo hoje que a tradição da educação anarquista tem uma extensa geografia, um rico corpo teórico e uma história impressionante. Em muitas regiões do mundo, esse campo do pensamento e da prática social vem sendo desenvolvido há muito tempo e de forma intensa. Para o mundo pós-soviético, esta tentativa de resumir a experiência contemporânea da educação libertária é a primeira. O livro explora as trajetórias de sua formação nos contextos tensos dos mundos pós-soviéticos e as possíveis direções para pesquisas futuras.

A coleção estará disponível para compra na reunião.

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Cigarras em coro
Ecoam no cemitério
Quebrando o silêncio.

Neide Rocha Portugal

Contra todas as igrejas | Poema anticlerical

Por Carlos Pereira Junior

Contra todas as igrejas

Nenhuma igreja me dirá o que pensar, / como viver, sentir e existir. / Nenhum papa, pastor ou embusteiro / me reduzirá a rebanho, / ou me porá de joelhos. / Pois não não acredito em metafísicas, / nas mentiras de um livro santo / e na sua moral duvidosa. / Repúdio a ideia de salvação, / hierarquias e ordem divina. / Contra a ilusão de vida eterna, / sou carne, mundo, finitude, / devir e imanência. / Não tentem ditar o que pode minha consciência.

. . .

Poema anticlerical

Alguma coisa morta / ainda se move / dentro de nós / através de toda metafísica. / Alguma coisa fedida, / podre e sagrada / ainda nos define a consciência da vida / como um suposto fato além matéria, / do mundo e da alegria Dionisíaca. / Nada é mais repugnante / que esta ilusão divina / que ainda sustenta o poder de estado, papas, pompas e hipocrisias.

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Ao fim da fogueira
Apenas cinco cachorros
Dormindo ao redor.

Miyoko Namikata

Sobre o Comunitarismo Ácrata 2

A adoção de um programa mínimo comum de construção de um sistema tecnológico básico de obtenção de autonomia relativa (o que poderia ser denominado de Programa “Pró Comum”) por parte dos entes comunitaristas ácratas, em todos os níveis, é algo altamente desejável, por se configurar em uma meta e desafio unívoco que por isto mesmo comporta o potencial de mobilizar conjuntamente as energias dos entes diversos das redes em torno da concretização ágil de estruturas de sustentabilidade fundamentais para a sua consolidação inicial e posteriores desenvolvimentos. Tal sistema tecnológico, para ser minimamente sustentável, deveria abranger todo um conjunto de necessidades básicas prioritárias, tais como água, energia e alimento, perfazendo todo um ciclo completo e fechado que permita a retroalimentação conjunta dos estágios produtivos da cadeia, de forma que os subprodutos de um estágio sirvam de matéria prima para outro estágio, e assim sucessivamente, até que se configure um circuito fechado, minimizando as perdas do processo. O tipo de engenho básico clássico que atende a estas características é a conhecida articulação em um mesmo circuito de equipamentos de horta artesanal – ou conjunto de cultivos por germinação, no caso de insuficiência de espaço, com sistemas de captação de águas das chuvas (ou de poços artesanais) e de filtragem/reaproveitamento naturais de água servida e equipamentos de compostagem e de biodigestores; de forma que a água servida naturalmente filtrada/reaproveitada, aliada aos produtos dos processos de compostagem, além de prover o consumo humano e/ou animal (no caso das águas pluviais ou de poços naturalmente filtradas), possam também servir de insumos para a produção artesanal de hortaliças (no caso das águas servidas naturalmente filtradas e dos produtos dos processos de compostagem), ao passo que os subprodutos destas, por sua vez, se prestam a suprir os precedentes sistemas de reaproveitamento de água e equipamentos de compostagem, bem como estes também suprem equipamentos de biodigestores, que fornecem energia de fonte biológica para, inclusive, fazer funcionar engenhos outros possivelmente necessários para incrementar o funcionamento do circuito.

Acrescente-se a este circuito de produção básica (que poderíamos chamar de “Circuito Básico de Produção”) uma tecnologia de relações econômicas comunitárias – a qual denominaremos de tecido “Ponto Com Nós” -, que se caracterizaria simplesmente pela associação de entes de redes comunitaristas ácratas de todos os níveis em torno de redes de trocas diretas (não intermediadas por nenhum tipo de moeda) de produtos por produtos, produtos por serviços e/ou serviços por serviços. A única regra regulando as relações de trocas nestes tecidos sociais seria a do “ponto único”: isso significa que todas as entidades que os integram, ao oferecerem algum produto e/ou serviço para o tecido e efetuarem uma transação de troca, obteriam um ponto de crédito que lhes permitiria continuar integrando as relações de trocas, porém, mesmo que qualquer ente ofereça vários produtos e/ou serviços e realize várias transações, só poderá obter apenas um ponto de crédito, ou seja, a pontuação máxima permitida é sempre um ponto, que se renova a cada nova oferta de produtos e/ou serviços e/ou a cada nova transação, e que permite continuar integrando o tecido, e assim celebrar qualquer tipo, número ou quantidade de trocas, ilimitadamente, contanto que livremente acordadas entre as partes (o “fiador” de toda e qualquer “negociação” deverá ser sempre a confiança mútua entre as partes e qualquer desacordo ou descontentamento em relação a alguma transação teria na “okara” da rede o fórum apropriado para a busca por uma resolução). Porém, caso algum ente ultrapasse um período de tempo mínimo sem oferecer nenhum produto e/ou serviço – que seria um período pré-estipulado pelo tecido social como sendo um prazo limite de inatividade (para o que pensamos que seis meses seja um prazo razoável) – então, isto acarretaria a anulação de seu ponto de crédito, e seu consequente afastamento do tecido por um período de tempo equivalente ao período em que ficou inativo (salvo se houver uma justificativa aceitável para a inatividade).

Com esta tecnologia de relações econômicas comunitárias – o tecido “Ponto Com Nós”, associada ao “Circuito Básico de Produção”, se completaria o programa mínimo comum (“Pró Comum”), de modo que, por um lado, haveria a previsão da construção de estruturas de produção que abrangessem um conjunto mínimo de necessidades básicas prioritárias, enquanto por outro lado haveria a previsão da construção de tecidos sociais de relações econômicas de trocas diretas que permitiriam assim multiplicar e fortalecer as capacidades de sobrevivência das redes comunitaristas ácratas, por facultarem a todas o acesso franco a produtos e serviços que atendam a outras necessidades diversas não garantidas de imediato por seus circuitos de produção, mas possivelmente atendidas em graus e diversidades tanto maiores quanto maiores forem os “tecidos” assim constituídos.  

Trecho do “Manifesto Anarquista Ácrata”, de autoria de Vantiê Clínio Carvalho de Oliveira.

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Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/04/23/sobre-o-comunitarismo-acrata-1/

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uiva à noiva nua
minguante e cheia
ri-se e flutua…

Goulart Gomes

Para Além das Datas Simbólicas – Romper a Bolha Militante

Sabemos, ou deveríamos saber, que o anarquismo não se resume apenas a bandeiras erguidas em datas históricas ou discursos inflamados em praças públicas.

A essência anarquista está na ruptura diária com as estruturas de opressão, na construção de relações horizontais que subvertam a lógica do capital e do Estado. Por mais que o Primeiro de Maio simbolize a resistência operária, reduzir a luta libertária a manifestações pontuais é perpetuar uma armadilha: a de confinar a revolução a gestos simbólicos, enquanto o sistema segue intacto em sua capacidade de reproduzir injustiças. Se queremos que o anarquismo volte a ser uma força transformadora, é preciso transbordar os círculos militantes e enraizar práticas libertárias no cotidiano, atingindo quem vive sob o peso alienante do “trabalho-morto” e da vida controlada.

A potência do anarquismo sempre esteve em sua capacidade de questionar não apenas o Estado ou o patrão, mas a própria organização da vida. Isso exige ir além dos palanques eventuais e ocupar os espaços invisíveis do dia a dia: os lares, os bairros, os locais de trabalho. Quando uma vizinhança se organiza para criar uma horta comunitária, quando trabalhadores improvisam redes de apoio mútuo para enfrentar demissões, ou quando mulheres compartilham saberes sobre autocuidado e autonomia corporal, ali está o germe da anarquia. São gestos que desmontam a dependência do poder hierárquico e revelam que outra sociabilidade é possível — uma que não depende de datas no calendário para existir.

O desafio, dessa forma, é romper a bolha militante. Muitas vezes, o discurso anarquista torna-se hermético, restrito a quem já domina suas bandeiras e jargões. Para dialogar com o “indivíduo médio”, é preciso traduzir a crítica anticapitalista em linguagens acessíveis, vinculadas às urgências concretas. Como convencer alguém sobre a necessidade de autogestão se não mostrarmos como ela pode resolver problemas imediatos, como a falta de creches ou o preço abusivo do aluguel? A propaganda pela ação, tão cara ao anarquismo clássico, só ganha sentido quando as pessoas veem na prática que a solidariedade direta é mais eficaz que a espera por políticas estatais.

Não se trata de abandonar as grandes mobilizações, mas de compreender que a revolução é um processo contínuo, alimentado por microações cotidianas. O Estado e o capital mantêm seu domínio não apenas pela repressão, mas pela naturalização de relações autoritárias em todos os âmbitos — da família ao local de trabalho. Combater isso demanda que o anarquismo infiltre-se nas brechas do ordinário: nas conversas de bar, nas assembleias de condomínio, nas redes sociais. É nos pequenos atos — como organizar um mutirão para consertar um posto de saúde abandonado ou questionar o machismo em um churrasco de família — que se mina a legitimidade das estruturas de poder.

Se o anarquismo deseja ser ameaçador, precisa deixar de ser visto como uma utopia distante e tornar-se uma prática palpável. Isso exige coragem para ocupar espaços considerados “apolíticos” e transformá-los em trincheiras de luta. Enquanto nos limitarmos a atos simbólicos, o sistema seguirá nos tolerando como folclore rebelde. Mas se transbordarmos para o cotidiano, mostrando que a autogestão, o apoio mútuo e a ação direta resolvem problemas reais, seremos perigosos. Afinal, nenhum poder sobrevive quando o povo descobre que não precisa dele para viver — e viver com dignidade.

Liberto Herrera

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2025/05/05/onde-estao-os-anarquistas/

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Atrás do portão
um latido afoito
chegamos junto com a noite

Winston

[EUA] Prêmio Klee Benally Earth Protector Anunciado

Novo Prêmio para Melhor Cineasta Indígena Anunciado

Os povos indígenas estão entre os mais afetados pela mineração de urânio e pela indústria nuclear em geral. No entanto, até agora, apenas alguns cineastas indígenas abordaram essa questão. Por isso, o International Uranium Film Festival anuncia um prêmio especial para estimular a produção de filmes indígenas sobre energia nuclear, armas nucleares, resíduos nucleares, mineração de urânio e suas consequências.

Para lembrar e homenagear o músico, dançarino tradicional, artista, cineasta e anarquista indígena Diné (Navajo) Klee Benally, que faleceu aos 48 anos em 30 de dezembro de 2023, no Arizona, o prêmio recebe o nome de “Klee Benally Earth Protector Award”.

Klee é originário de Black Mesa e dedicou quase toda a sua vida às linhas de frente das lutas pela proteção das terras sagradas indígenas. Ele se destacou especialmente na defesa contra a mineração de urânio e pela limpeza das mais de 500 minas de urânio abandonadas que continuam a contaminar o território da Nação Navajo. Em seu último livro, “No Spiritual Surrender: Indigenous Anarchy in Defense of the Sacred”, ele escreve: “Se a história é escrita pelos conquistadores, ela será reescrita por aqueles que se recusam a ser conquistados.”

O “Klee Benally Earth Protector Award” oferece um prêmio em dinheiro de US$ 1.000, doado por um coletivo de indivíduos de base. Ele será entregue pela primeira vez no próximo Window Rock International Uranium Film Festival, no Museu da Nação Navajo, nos dias 13 e 14 de novembro de 2025.

Cineastas e produtores estão convidados a enviar seus filmes para o International Uranium Film Festival para concorrer ao prêmio e para exibição no Window Rock. O prazo para envio dos filmes é 17 de agosto de 2025.

Contato

International Uranium Film Festival
orbert Suchanek & Márcia Gomes de Oliveiranorbert.suchanek@uraniumfilmfestival.org
uraniofestival@gmail.com
uraniumfilmfestival.org

Tradução > Contrafatual

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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/04/08/eua-klee-benally-anarquista-defensor-da-terra-e-musico-dine-que-escreveu-um-livro-sobre-a-anarquia-indigena-morre-aos-48-anos/

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2024/03/01/eua-lancamento-sem-rendicao-espiritual-anarquia-indigena-em-defesa-do-sagrado-de-klee-benally/

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portas batendo
fugindo da chuva
o vento

Alonso Alvarez

[EUA] Novo livro sobre a fundação da Anarchist Black Cross

Se você ainda não viu, não deixe de adquirir uma cópia deste novo livro sobre a história e a fundação da ABC.

Sombras na Luta pela Igualdade: A História da Anarchist Red Cross

De Cop City aos oleodutos de Dakota e da Jane’s Revenge a inúmeras lutas ao redor do mundo, organizadores anarquistas continuam sendo implacavelmente perseguidos pelo Estado hoje, como já eram há mais de um século.

Sombras na Luta pela Igualdade é o relato em primeira pessoa de Boris Yelensky, ativista da Anarchist Red Cross (mais tarde Anarchist Black Cross), durante o movimento revolucionário russo de 1905 a 1917 e a subsequente repressão leninista/stalinista.

Escrito com grande humildade e compaixão, Yelensky recorda seus cinquenta anos de incansável organização para ajudar vítimas da opressão e da injustiça estatal, começando com um retrato vívido da história do movimento revolucionário russo e do papel crucial desempenhado pelos anarquistas. Em seguida, ele apresenta a rica história da Anarchist Red Cross, desde a Revolução até seu assentamento nos EUA, onde dedicou sua vida e seu livro “aos Lutadores pela Liberdade, Humanismo e Justiça, e àqueles que se empenharam em ajudá-los aplicando o princípio da ajuda mútua.”

Ao explicar por que uma organização anarquista de apoio se tornou necessária, Yelensky chama atenção para um aspecto negligenciado da história revolucionária: o boicote e a discriminação praticados por muitos social-democratas contra seus companheiros de prisão e dentro das organizações de apoio externas. Das vastas somas arrecadadas em todo o mundo, desde os tempos czaristas até a década de 1950 (quando o livro foi escrito), muito pouco chegou aos prisioneiros anarquistas.

Com material recém-traduzido e mais de uma dúzia de belas ilustrações de N.O. Bonzo, esta deslumbrante edição de Sombras na Luta pela Igualdade pretende inspirar a continuidade da solidariedade e do apoio aos que estão encarcerados na luta por liberdade, humanismo e justiça.

Sobre os Contribuidores

Boris Yelensky (1889–1974) foi um propagandista anarquista russo que participou da Revolução Russa de 1905. Devido à repressão czarista, foi forçado a fugir do país em 1907, estabelecendo-se posteriormente nos EUA. Ajudou a fundar os núcleos de Filadélfia e Chicago da Anarchist Red Cross. Yelensky retornou à Rússia para participar da Revolução de 1917, mas, com a ascensão de Lenin e o aumento da repressão contra os anarquistas, foi obrigado a deixar novamente seu país natal, fixando-se definitivamente nos EUA. Lá, continuou a apoiar prisioneiros anarquistas através do seu trabalho no Alexander Berkman Aid Fund, uma seção da Anarchist Red Cross. Por mais de cinquenta anos, foi uma figura importante no Free Society Group de Chicago e ativo na Anarchist Red Cross.

Matthew Hart é educador e ativista trabalhista da região metropolitana de Los Angeles. Seu envolvimento no movimento político começou com o Whittier Food Not Bombs e o movimento antiglobalização em meados da década de 1990. Em 1998, ajudou a fundar o núcleo de Los Angeles da Anarchist Black Cross. Ao longo dos anos, realizou extensas pesquisas e arquivamentos sobre a história da Anarchist Black Cross. Hart passou várias décadas no movimento trabalhista como ativista de base e membro de equipe, e atualmente leciona cursos de estudos trabalhistas no Los Angeles Trade Technical College.

N.O. Bonzo é ilustrador, gravurista e muralista anarquista baseado em Portland, Oregon. É ilustrador de Mutual Aid: An Illuminated Factor of Evolution e criador de Off with Their Heads: An Antifascist Coloring Book for Adults of All Ages; Beneath the Pavement the Garden: An Anarchist Coloring Book for All Ages; e The Beautiful Idea.

Autor: Boris Yelensky,

Edição: Matthew Hart,

Ilustrações: N.O. Bonzo

ISBN: 9798887440873

Publicação: 22/04/2025

Formato: Brochura

Tamanho: 5 x 8 polegadas (aproximadamente 12,7 x 20,3 cm)

Páginas: 160

Preço: US$ 19,95

pmpress.org

Tradução > Contrafatual

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Eu limpo meus óculos
mas vejo que me enganei.
É lua nublada.

Neide Rocha Portugal