Chamada para a Semana Internacional de Solidariedade com Prisioneiros Anarquistas 2025

Convidamos você a realizar ações durante a Semana Internacional de Solidariedade com Prisioneiros Anarquistas, de 23 a 30 de agosto de 2025!
 
Contra a sociedade carcerária, rumo à conexão

Ao nos colocarmos diante do exterior de uma prisão, somos confrontados com a realidade crua da alienação e da separação. Um muro, uma cerca, torres de vigilância, câmeras de segurança, caixas de concreto e gaiolas de aço, tudo voltado a manter os acusados e os “culpados” separados do resto da sociedade. Conceitos de reabilitação e arrependimento, construídos a partir das ideologias dos Estados, servem para preservar e reforçar seu poder, congelar territórios em identidades nacionais fixas e punir tudo o que esteja fora de suas noções de legalidade, progresso, moralidade e valor capitalista.

A questão é que, quando estamos do lado de fora das paredes da prisão, percebemos que ela é uma construção tangível. É um muro, é concreto, é material. Aqueles que a mantêm funcionando são seres vivos… Sim, as prisões nos isolam, mas o fazem tanto quanto permitimos, tanto quanto as aceitamos. As paredes tornam-se fixas e permanentes para nós, aqui fora, no momento em que esquecemos e aceitamos a separação que elas impõem. Já aqueles dentro das caixas não podem esquecer, pois enfrentam diariamente a dura realidade da vida no interior. Enquanto existirem Estados, existirão prisões, e nos encontraremos dentro de seus muros.

É na preservação da memória que damos continuidade à luta e à vida de companheiros que morreram antes de nós; carregamos as ideias e ações daqueles separados por grades e concreto, criando continuidade e conexão nos atos incessantes de resistência que compõem uma vida em busca de liberdade. As prisões e as lutas que ocorrem dentro delas são uma contribuição constante para essa memória coletiva de resistência.

Seja nas entranhas de ditaduras totalitárias ou no coração da chamada “democracia social”, onde a violência estatal assume outro sabor, os Estados não medem esforços para apagar os focos de insubmissão e resistência. Até mesmo ter ideias que perfurem suas construções pode colocar alguém em sua mira, sob seu olhar, por vezes, aparentemente onipresente.

Reconhecemos a solidariedade em suas muitas formas, desde conexões e amizades até trocas de ideias e diálogo, passando por momentos compartilhados de ataque. Nossos companheiros permanecem não isolados, mas partes vivas e pulsantes de nossas lutas.

Em solidariedade com aqueles que atravessam clandestinamente os muros das fronteiras, os que estão fugindo, no exílio, nas câmaras de isolamento mais profundas, os que morreram em ação, os criminalizados.

Contra todas as prisões.
Escolhemos uma vida de tensão e insubordinação na busca por conexão.
Você não pode enterrar a força da vida!

solidarity.international

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

Semente livre,
O solo é de quem partilha—
Floresta cresce

Pedalante

[Itália] Pietro Gori, em defesa de Sante Caserio

Em 14 de agosto de 1865 nascia Pietro Gori. O que segue é extraído do escrito de Gori em defesa de Sante Caserio, guilhotinado em 16 de agosto de 1894.
 
Nasceu em Motta Visconti, alegre vilarejo da Lombardia, de uma boa família de trabalhadores. Muito cedo teve que enfrentar a luta pelo trabalho e pelo pão de cada dia. Por isso, resolveu abandonar a mãe que adorava e por quem era adorado, e lançar-se no mar tempestuoso da vida, no qual cada trabalhador se vê forçado a navegar continuamente. Deixou então Motta Visconti e abandonou também as ilusões místicas da infância, logo destruídas pelas duras realidades da vida. Em Milão, trabalhou como padeiro na padaria Tre Marie, onde trabalhou com zelo e incansavelmente; e ali se deparou mais diretamente com o terrível e legalizado sistema de exploração do trabalho pelos parasitas do capitalismo; constatou as injustiças sociais e a violência de uma classe que nada produz contra outra que, com seu sangue e suor, cria a riqueza de seus patrões e, como única recompensa por seus esforços, colhe miséria e desprezo.
 
Foi por isso que Sante Caserio se tornou anarquista.
 
Quando estive pela primeira vez em Milão, Sante Caserio já era um anarquista entusiasta, e ainda me recordo da profunda impressão que tive quando fomos apresentados. Estávamos em um comício de trabalhadores, e ele circulava distribuindo panfletos e jornais revolucionários.
 
A vida curtíssima deste jovem – tinha apenas 21 anos quando foi guilhotinado – foi repetidamente examinada através das lentes do despeito e do ódio, primeiro pelas polícias italiana e francesa, unidas, depois por uma multidão de impostores mentirosos: os jornalistas burgueses, pagos pelos conservadores da chamada “ordem” pública. Apesar disso, esses infelizes não puderam evitar chegar a uma conclusão: a certeza de que Sante Caserio era um trabalhador de caráter excelente. E até mesmo a Escola Criminal, tão contrária aos anarquistas, foi obrigada a reconhecer e afirmar que o jovem padeiro era um homem honesto por natureza.
 
Caserio, nos poucos momentos de lazer que tinha, ia distribuir entre os operários, perto da Câmara do Trabalho, panfletos e folhetos de literatura anarquista, junto com pãezinhos que comprava com suas economias na padaria onde trabalhava, “porque” – dizia – “seria um insulto dar a pessoas emagrecidas pela fome apenas papel impresso, sem nada com que saciar o estômago antes de ler; e porque assim elas eram mais capazes de compreender um pouco melhor o que liam”.
 
Quando a polícia percebeu que Sante era um propagandista entusiasta – embora fosse extremamente tímido e modesto em sua forma de propaganda – começou a persegui-lo. Caserio começou dedicando-se à propaganda teórica, acreditando firmemente que o anarquismo fosse considerado como qualquer outro partido, forte e respeitado. Em vez disso, viu-se perseguido por suas ideias, condenado e aprisionado.
 
Trabalhava incansavelmente, para reservar-se o direito de criticar os burgueses por sua ociosidade, para chamá-los de parasitas – o que realmente são. A covarde implicância policial o expulsou do trabalho; e ele se convenceu ainda mais de que os poderosos e os ricos esperam tudo da submissão e da paciência do povo, a quem recompensam descaradamente dobrando contra ele a obra de espoliação e violência.
 
…Enquanto tanta sede de vingança e sangue inspirava a ação da burguesia – resultando na mais perigosa das provocações – um jovem, expulso de seu país por uma condenação estúpida e injusta, perseguido por todos os lados pela polícia, caminhava a pé pela estrada que vai de Cette a Lyon, meditativo, pensando nas injustiças de que fora vítima e, sobretudo, no sofrimento alheio…
 
Ele não tinha nenhum ressentimento pessoal contra Sadi Carnot; mas Carnot era o representante político da burguesia francesa, em nome da qual assinou o decreto de morte dos guilhotinados de Paris.
 
(Pietro Gori – “Em defesa de Sante Caserio”)
 
Fonte: https://collettivoanarchico.noblogs.org/post/2025/08/15/pietro-gori-in-difesa-di-sante-caserio/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Placa de “Proibido”…
No imponente poste de luz
xixi de cachorro.
 
Rogério Togashi

[Rússia] Putin proíbe ONG Repórteres Sem Fronteiras, declarada ‘indesejável’

O Ministério da Justiça russo declarou “indesejável” a presença da ONG de defesa da imprensa, Repórteres Sem Fronteiras (RSF), na Rússia – o que equivale, de fato, à sua proibição – em plena repressão de toda dissidência no país.

De acordo com uma lista oficial publicada no site deste ministério e consultada nesta quinta-feira (14/08) pela AFP, a RSF passa agora a fazer parte das organizações “estrangeiras cujas atividades são consideradas indesejáveis” em território russo.

Na Rússia, declarar uma organização como “indesejável” equivale, na prática, a proibir suas atividades, uma vez que expõe as pessoas que trabalham para ela ou a financiam a graves processos judiciais, incluindo penas de prisão.

Desde a ofensiva em grande escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, as autoridades russas intensificaram consideravelmente a repressão às vozes dissidentes, prendendo centenas de pessoas e proibindo dezenas de ONGs e veículos de comunicação.

RSF, com sede na França, denuncia regularmente essas violações à liberdade de expressão e presta assistência a jornalistas perseguidos na Rússia.

Em seu site, a ONG lamenta que “quase todos os meios de comunicação independentes” tenham sido proibidos na Rússia, bloqueados e/ou declarados “agentes estrangeiros ou organizações indesejáveis”.

Moscou elaborou pela primeira vez uma lista de organizações “indesejáveis” em 2015. Atualmente, ela inclui mais de 250 organismos, entre eles as ONGs Anistia Internacional, Greenpeace, além de vários veículos de comunicação.

Fonte: agências de notícias

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agência de notícias anarquistas-ana

dobrada mil vezes,
a acracia – entre folhas secas,
voa sem partir

Pedalante

Parte 2 | A Máquina de Moer Gente: O Terror de Estado no Brasil Império (1700-1900)

Se o sangue colonial, como citado em nosso artigo anterior, secou como cimento, o Império e a República Nascente fizeram dele tinta para escrever novas leis de extermínio. De 1700 a 1900, o Estado brasileiro — agora travestido de monarquia “civilizada” — não abandonou o terror: refinou-o. Cada massacre datado nesta era é um elo na corrente de um projeto genocida que atravessa reinados, impérios e repúblicas. A violência não é acidente: é o motor da dominação.
 
Recordamos, por exemplo, o massacre dos Botocudos (1808-1830), que fora ordenado pelo próprio Príncipe Regente D. João VI, o extermínio em Minas Gerais e Espírito Santo usou fome, varíola e fuzis para “limpar” terras para o café. Tribos inteiras viram seus filhos trucidados sob o decreto imperial que pagava por cabeça indígena cortada.
 
Já em 25 de outubro de 1820 ocorre o massacre do Rodeador: 91 camponeses sebastianistas degolados em Pernambuco por tropas do governo. Seu crime? Sonhar com um reino sem reis.
 
Em 25 de janeiro de 1835 se dá a sangrenta repressão dos Malês: Após a revolta negra em Salvador, o Estado fuzilou 70 africanos e deportou 500. Corpos foram arrastados por cavalos nas ruas — espetáculo de terror para as senzalas.
 
O mito da “transição pacífica” da colônia ao império é uma mentira ensopada em sangue. Na Cabanagem (1835-1840), no Pará, 30 mil caboclos, indígenas e negros foram caçados como animais por tropas do Império. Mataram 30% da população regional. Oficiais do governo registravam: “É preciso varrer esta raça“. Não houve independência para os de baixo: só trocaram o chicote de Lisboa pelo do Rio de Janeiro.
 
E quando a República chegou, em 1889, trouxe consigo o mesmo veneno. O Massacre de Canudos (1893-1897) já fermentava nos campos da Bahia: 25 mil sertanejos exterminados pelo Exército “moderno”. Mas isso é história para outro capítulo — fiquemos com os números até 1900: cada década deste século teve seu genocídio catalogado. A máquina de moer gente não parou; acelerou com novas tecnologias de morte e a mesma velha desculpa: “progresso“, “ordem“, “civilização“.
 
Este registro histórico (1700-1900) desmonta a farsa da evolução política brasileira. O terror não mudou de dono — mudou de farda. Se no século XVI os bandeirantes agiam por contratos reais, no XIX eram as Forças Armadas do Império que assinavam ordens de extermínio. O Estado no Brasil, seja monárquico ou republicano, mantém a mesma função: patrocinar o massacre para proteger a propriedade, o latifúndio e o poder branco. Enquanto houver um único alicerce erguido sobre ossadas, nossa memória será arma. Aos anarquistas cabe lembrar: só se destrói o monstro conhecendo suas entranhas. E elas continuam expostas, de 1500 a 1900 — e além.
 
Liberto Herrera.
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
As folhas secas
caem com a ventania
sobre o riacho
 
Antonio Malta Mitori

[Reino Unido] Feira Anarquista de Londres, Dia 20 de Setembro

Estamos muito animados em anunciar que a Feira Anarquista de Londres deste ano será no The Graffiti Tunnel abaixo da estação Waterloo!!

Um apoiador anônimo arranjou esse espaço incrível para nós.

Vocês podem esperar encontrar todos os principais autores, campanhas, workshops, debates, comidas e músicas dos últimos anos, mas desta vez ainda melhor e maior.

Nosso objetivo é espalhar uma conscientização sobre o anarquismo de maneira mais ampla. Em tempos tão sombrios e perigosos, o anarquismo se mostra mais poderoso e importante do que nunca.

Anarquismo?

Um dos fatos mais legais sobre o anarquismo, que também o torna difícil de definir, é que é uma ideologia com diferentes tipos de interpretações e possui certa fluidez. No entanto, é um consenso que a prática da anarquia é sobre tentar minimizar a coerção, a dominação e a hierarquia no mundo. O capitalismo e o estado (formados por governos, tribunais, polícias, etc.) são sistemas que fundamentam a manutenção dessa dominação, instituições que anarquistas odeiam. Os anarquistas também lutam contra toda forma de desigualdade e opressão social, como o sexismo, o racismo, o capacitismo e a homofobia.

Muitos anarquistas gostam de falar sobre a anarquia como um movimento de evolução constante, sem uma finalidade cravada, mas sim como um esforço contínuo por emancipação. Uma jornada sem um destino determinado.

História

A primeira Feira de Londres aconteceu em um centro autônomo no bairro de Wapping em dezembro de 1981. Meia dúzia de anarquistas espalharam suas mercadorias pelo local e como quase ninguém apareceu, eles começaram um torneio de sinuca que deu tão certo que todos saíram do local dizendo “precisamos repetir ano que vem”, e eles repetiram.

Se tornou então um evento regular que crescia a cada ano e inspirou outras feiras do livro por todo Reino Unido e pelo mundo. A Feira Anarquista de Londres atrai milhares de participantes com centenas de ouvintes, workshops e debates com incontáveis possibilidades para trocar entre si e estabelecer conexões.

Nos últimos anos a Feira Anarquista de Londres aconteceu em:

2023 – Richmix – Freedom – LARC – 41º feira anarquista de Whitechapel.  ARQUIVO

2022 – Instituto Bishopsgate – Freedom – Galeria de Whitechapel – Toynbee Hall

2021 – Conway Hall e Red Lion Square Gardens

2020 – Online (Em razão da pandemia da Covid-19. Essa foi a maior feira do livro digital do mundo.)

Creche

A feira anarquista vai mais uma vez oferecer serviços de creche durante o dia com profissionais qualificados e um cronograma de eventos para as crianças.

Este é um serviço gratuito.

Fale conosco.

Nosso email é o anarchistbookfairlodon no riseup.net para quaisquer dúvidas. Por favor, entendam que somos todos voluntários e o email não é verificado diariamente.

anarchistbookfair.london

Tradução > Orlando/acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

A ética anarquista:
não pisar na sombra
do próximo.

Liberto Herrera

[Alemanha] Chamada para defender Sündi e Hambi

A Megamáquina estende seus espetos devastadores em todas as direções: para o fundo do oceano, outros planetas e as últimas áreas selvagens remanescentes na Terra. Há muitos lugares onde é possível resistir a uma cultura suicida que, se não for impedida, não cessará até que todas as formas de vida conhecidas sejam consumidas por uma expansão tecnológica desenfreada. Um desses lugares é a Renânia, na chamada Alemanha, coração industrial e extrativista da Europa.

Localizada entre Aachen e Colônia, a mina de carvão de Hambach é a maior da Europa, e cresce a cada dia. Operada pela mega-corporação RWE, essa cratera tóxica fornece eletricidade para fábricas de armas próximas, emite quantidades incalculáveis de dióxido de carbono e engole florestas e vilarejos inteiros. Dificilmente se encontra uma imagem mais clara da expansão da civilização.

Barrando o crescimento da mina está a “Sündi”, uma pequena área florestal ocupada no outono de 2024, desde então uma zona de resistência contra o capitalismo e o Estado. A RWE devastou a Sündi no último inverno, derrubando a maioria de suas árvores, embora a ocupação em si ainda não tenha sido desalojada.

O deserto não conseguiu se expandir como esperado desde então, mas agora não pode mais esperar. Uma tentativa de desocupação da Sündi parece provável neste outono. A temporada de cortes começa em 1º de outubro.

Saiba que nossos sinais já foram acesos. Você está convidado a vir de longe para a Sündi em setembro e outubro, e juntar-se à resistência aqui. Ou à Floresta de Hambach, nas proximidades, ocupada desde 2012 e ainda hoje uma zona autônoma. Esta região já foi um foco de lutas contra o poder em todas as suas formas. Que volte a ser assim, e que respondamos com fogo e sedição àqueles que desejam ver esses habitats obliterados.

Sem concessões à expansão industrial!

Por anarquia e alta traição!

hambacherforst.org

Tradução > Contrafatual

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agência de notícias anarquistas-ana

canta bem-te-vi
sol por todo o lado
natureza sorri

Carlos Seabra

[Rio de Janeiro-RJ] Simpósio “Anarquismo e Educação: Experiências históricas e desafios atuais”

É com grande satisfação que anunciamos o Simpósio “Anarquismo e Educação: Experiências históricas e desafios atuais”, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (PROPED/UERJ), que acontecerá nos dias 13 e 14 de outubro de 2025, segunda e terça-feira, respectivamente, das 14h30 às 18h.

O evento busca promover um espaço de reflexão crítica e troca de experiências em torno da relação entre anarquismo e educação, destacando suas múltiplas expressões históricas e os desafios atuais que atravessam práticas pedagógicas, movimentos sociais e lutas por emancipação.

A escolha da data de encerramento – 14 de outubro – marca, simbolicamente, os 116 anos da execução de Francisco Ferrer y Guardia, educador catalão e fundador da Escola Moderna, figura central no pensamento libertário sobre a educação. Longe de ser um assunto distante para os socialistas libertários do Brasil, a sua morte foi sentida e mobilizações foram realizadas em contestação ao acontecido. O legado e as postulações formuladas por Ferrer y Guardia não cessam de inspirar e provocar reflexões em torno de uma pedagogia e de uma sociedade ancorada em princípios libertários.

Contamos com a sua presença!

>> Mais infoshttps://www.instagram.com/anarquismo_e_educacao/

Agência de notícias anarquistas-ana

Manhã de inverno,
ouço calado
o vento gelado.

Fabiano Vidal

[Chile] Santiago: Quase um ano desde que a vida nos golpeou. Texto em memória de nossxs companheirxs e no marco do Agosto Negro

Quase um ano já se passou desde que a vida nos atingiu onde mais dói. Perdemos nosso queridíssimo amigo e companheiro Luciano Balboa, também conhecido como o Lupi. O irmão deixou este mundo em um acidente de trânsito, pouco depois de que os esbirros lhe devolvessem a liberdade noturna. A notícia chegou rapidamente àqueles que amaram o Lupi, dilacerando nossos corações. Custava acreditar que uma notícia tão horrível fosse real. Mas era. Nosso companheiro havia partido rumo à memória eterna, onde descansam nossxs companheirxs que dedicaram sua vida ao enfrentamento.
 
Lembranças que carregaremos para sempre: a motivação de fazer as coisas bem, a constante disposição para o aprendizado e novos métodos de sabotagem — fosse em ações diretas ou na expropriação.
 
Poucos dias depois, também nos deixou o companheiro anarquista Luciano Pitronello, que nos ensinou o verdadeiro significado da palavra convicção. A tristeza parecia ter vindo para ficar — e como não? Apenas 13 dias após a partida do Lupi, nos deixou a companheira e amiga Belén, que desde muito jovem se posicionou como anarquista antiautoritária. Sempre com mãos solidárias e dispostas, ela apoiou diversas instâncias da luta anárquica. Muitas são as lembranças que vêm à nossa mente — dúvidas, arrependimentos, emoções diversas que nos atormentaram a nós que conhecemos de perto essxs companheirxs.
 
Alguns dxs companheirxs chegaram a se conhecer entre si, como a Belén com o Tortu, e o Lupi com a Belén. Porque a confrontação uniu nossxs caídxs. Não os esqueceremos e eles viverão para sempre na luta contra a autoridade e pela libertação total. Porque agosto é negro como nosso coração e como a pólvora.
 
Não esquecemos tampouco de Alonso Verdejo, que foi covardemente assassinado na romaria em 8 de setembro — exatamente um mês após o irmão Lupi.
 
Abraçamos a cada uma das individualidades que hoje sentem a dor e as lembranças vividas com cada um dxs nossxs irmãs que já partiram — nossxs irmãs, pessoas de coração nobre, solidárixs, que se foram sem pedir nada em troca, mas continuam vivxs em todos os corações antiautoritários, espalhando suas ideias como o fogo que atenta contra o progresso.
 
Companheirxs caídxs presentes, agora e sempre no fogo da revolta.
 
LBDL
 
Fonte: https://es-contrainfo.espiv.net/2025/08/04/santiago-chile-a-casi-un-ano-que-nos-golpeo-la-vida-texto-en-memoria-de-nuestrxs-companerxs-y-en-el-marco-del-agosto-negro/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Sertão nordestino —
mandacaru solitário
enfeita a paisagem.
 
Renata Paccola

Parte 1 | Sangue como Cimento: O Terror de Estado na Forja do Brasil Colonial

O Brasil não nasceu — foi esquartejado à força. Desde os primeiros golpes do machado colonizador, o Estado revelou sua verdadeira face: um monstro devorador de povos, erguido sobre ossadas. Os massacres que mancharam este solo, e aqui, nesta primeira parte, nos limitaremos até por volta do ano de 1700, não foram “excessos” da colonização, mas seu método fundamental. Cada chacina foi um ato político: o Estado colonial, braço armado da Coroa e da Igreja, demonstrava aos explorados que a resistência seria afogada em sangue. O terror não era falha do sistema; era o sistema funcionando.

Vejam o genocídio indígena! Os Caetés trucidados em 1556 por “vingar” a morte de um bispo canibal — hipocrisia sagrada! — foram apenas o ensaio. A “guerra justa”, doutrina perversa abençoada por teólogos e reis, transformou o extermínio em política de Estado. Tupinambás, Guaianases, milhares de povos livres: caíam sob o fogo cruzado dos canhões e das cruzes. Entre 1500 e 1700, mais de mil povos foram reduzidos a 260. Isto não é tragédia; é projeto. O Estado, com sua máquina de moer corpos, limpou o terreno, como até hoje o faz, para o saque.

E os negros escravizados? Palmares grita a resposta. Quando Zumbi ergueu a liberdade nas serras, o Estado contratou bandidos — os bandeirantes — para esmagar o quilombo em 1694. O massacre foi meticuloso: crianças, velhos, guerreiros, todos convertidos em “lição” para quem ousasse sonhar com autonomia. Nas senzalas, a violência era rotina: revolta no Engenho Santana? 40 corpos pendurados como bandeiras do terror. O Estado não “combatia o crime”; fabricava o medo para manter a engrenagem da exploração.

Até os colonos pobres sentiram o punho de ferro. Cunhaú e Uruaçu (1645) provam: quando camponeses e indígenas se misturavam sob o mesmo teto de resistência, o Estado agiu com ferocidade calculada. 150 mortos em igrejas — degolados como animais — por suspeita de solidariedade aos holandeses. Não importava a bandeira: importava esmagar qualquer núcleo de autonomia popular. O poder, seja português ou flamengo, sempre escolheu o massacre como pedagogia.

Este pequeno recorte histórico lança luz para desnudar a mentira fundacional do Brasil: o Estado nunca foi “protetor”. Foi e é um carcereiro, um algoz, um incendiário de esperanças. Sua “ordem” nasceu do genocídio indígena, da tortura africana, do terror aplicado como agente de amálgama social. Enquanto os poderosos erguiam igrejas com o ouro roubado, o sangue dos massacres secava no chão como cimento. Reconhecer esta história não é nostalgia — é armar o espírito. A única resposta à violência de Estado, ontem e hoje, é a organização horizontal, a desobediência radical e a luta por um território sem amos, sem massacres, sem o espectro do Leviatã colonial que ainda nos assombra.

Liberto Herrera.

agência de notícias anarquistas-ana

O vaga-lume à noite
acende sua luz.
Pisca-pisca.

Aprendiz

[Rússia] Arrecadação de Fundos para o Trabalho Jurídico do Caso Tyumen contra anarquistas e antifascistas em setembro

Por mais de um ano, o julgamento do caso Tyumen vem sendo conduzido pelo Tribunal Militar do Distrito Central em Yekaterinburg. Os réus — anarquistas e antifascistas — foram detidos em 2022 e submetidos a torturas brutais. Desde então, houve 30 audiências judiciais. Cada uma delas é um passo numa longa batalha para proteger as vidas e os futuros das pessoas que ousaram resistir.

Em junho, conseguimos arrecadar 48.000 rublos (cerca de 500 euros). Agradecemos a todos que contribuíram — sua solidariedade mantém isso funcionando.

Por que Estamos Pedindo Ajuda Agora

Neste momento, nossas fontes de arrecadação de fundos estão vazias. Não temos como pagar os advogados em setembro ou nos meses seguintes.

Precisamos arrecadar 450.000 rublos (cerca de 4.700 euros) até o final de agosto. Esse valor cobrirá o trabalho de cinco advogados durante um mês — comparecimentos ao tribunal, viagens a centros de detenção, hospedagem e tudo o mais que envolve a defesa de pessoas em um caso tão sério.

O dinheiro será destinado diretamente à defesa de Danil Chertykov, Nikita Oleynik, Deniz Aydin, Yuri Neznamov e Roman Paklin. Sem advogados, eles ficam sozinhos para enfrentar um dos sistemas judiciais mais severos da Europa.

O Que Aconteceu

Entre 30 de agosto e 1º de setembro de 2022, seis pessoas foram presas em Surgut, Yekaterinburg e Tyumen. Durante a detenção, elas foram torturadas com choques elétricos, afogamento simulado, espancamentos e ameaças de violência sexual.

Confissões foram obtidas sob tortura e usadas como base para acusações de terrorismo. Depois, as penas ficaram ainda mais severas.

Apesar da documentação médica comprovando a tortura, nenhuma investigação foi aberta. Um dos réus, Kirill Brik, concordou em cooperar com os investigadores e foi condenado a oito anos de prisão. Os outros continuam a sustentar sua inocência.

O caso de Roman Paklin foi separado do grupo principal e reaberto. Ele e os outros enfrentam penas de 15 a 30 anos. Nikita Oleynik, considerado o “organizador” do grupo, pode ser condenado à prisão perpétua.

Pelo Que Estamos Pagando

Nossa equipe jurídica é composta por cinco advogados experientes, todos vindos de diferentes cidades. Seu trabalho é exigente — eles comparecem a todas as audiências, se reúnem com os réus detidos e preparam estratégias jurídicas detalhadas sob pressão constante. Eles estão fazendo todo o possível para proteger nossos amigos. Mas não podem continuar sem apoio.

Como Doar

Online através da plataforma Zaodno (doações em rublos):

https://storage.googleapis.com/kldscp/zaodno.org/r?id=recMU32x6hl3BcS7M

Cartões bancários:

Sberbank: 2202 2053 4798 5951 — Anastasia Tinkoff: 2200 7004 6271 3131 — Matvey Inclua “assistência jurídica” como descrição do pagamento.

Transferências internacionais:

Visa/Mastercard: 4714 2400 6071 9631
Número da conta: 1242080003805236
BIC: 124012
Titular do cartão: Nikita Vorozhko

Dados bancários completos:

Banco intermediário: The Bank of New York Mellon, SWIFT: IRVTUS3N
Banco correspondente: Kookmin Bank, Seul, SWIFT: CZNBKRSE
Banco beneficiário: BAKAI BANK, Bishkek, SWIFT: BAKAKG22
Número da conta no Kookmin Bank: 8B28USD01421:09

Doações em criptomoedas:

BTC: bc1qqdwjqd4umnc74e95hgek85aj55wws3c4wrwa33
ETH: 0xF9EB840b76786C783c515dc8EBe3071Dc937D8f7
USDT (Tether): TRWZm6iBMdD4epTnLquvYmTQeyRXsX8q9R

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Agradecemos por estar conosco. Com a sua ajuda, foi possível apoiar essas defesas legais por quase três anos. Ainda acreditamos que é possível mostrar a verdade no tribunal. Mas sem advogados, sem recursos, não podemos fazer isso.

A solidariedade é a nossa arma!

Fonte: https://avtonom.org/en/news/fundraising-lawyers-work-tyumen-case-against-anarchists-and-anti-fascists-september  

Tradução > transanark/acervo trans-anarquista

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Conselho de ervas daninhas –
ninguém as controla,
mas curam o solo.

Liberto Herrera

Indústria da Morte-Repressão | Presidente Lula e presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, concordaram em aumentar a cooperação em vários setores, incluindo defesa e indústria de defesa


• Recentemente em visita ao Brasil, o presidente Prabowo Subianto declarou que ele e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva concordaram que os dois países colaborariam no desenvolvimento de tecnologia relacionada a mísseis e sistemas submarinos.
 
• Em uma reunião bilateral entre os governos indonésio e brasileiro, liderada pelo presidente Prabowo e pelo presidente Lula, os dois países concordaram em aumentar a cooperação em vários setores, incluindo economia, comércio, agricultura, educação, defesa e indústria de defesa.
 
Sistemas de mísseis e submarino
 
“Nossas Forças Armadas têm utilizado extensivamente os equipamentos e produtos de defesa do seu país, e queremos continuar essa cooperação por meio da produção conjunta e da transferência de tecnologia. Também queremos aumentar os exercícios militares conjuntos e a colaboração tecnológica em sistemas de mísseis e submarinos”, disse o presidente Prabowo durante um pronunciamento conjunto com o presidente Lula no Palácio do Planalto, em Brasília, na quarta-feira (9 de julho).
 
A coletiva de imprensa conjunta encerrou a visita de Estado do presidente Prabowo ao Palácio do Planalto, resumindo os resultados do encontro bilateral entre o presidente Prabowo e o presidente Lula.
 
Na declaração conjunta, o presidente Prabowo também enfatizou que a Indonésia implementará imediatamente o Acordo de Cooperação de Defesa (DCA) entre a Indonésia e o Brasil, que foi ratificado em lei em 30 de setembro de 2024.
 
Alguns dos equipamentos de defesa fabricados no Brasil atualmente utilizados pela Indonésia incluem o caça tático EMB-314 Super Tucano e o veículo lançador de foguetes Astros II MK6.
 
Quem é Prabowo Subianto?
 
Prabowo Subianto, 72 anos, assumiu a presidência da Indonésia em outubro de 2024. Ex-general das Forças Armadas, Prabowo é conhecido por seu perfil nacionalista e por adotar uma linha política conservadora. Desde que tomou posse, ele vem defendendo medidas que fortalecem a presença dos militares no governo. Passado sinistro: O ex-general militar foi acusado de abusos de direitos humanos e crimes de guerra durante os dias sombrios do regime de Suharto, general do exército que governou a Indonésia com mão de ferro durante mais de três décadas. Em um dos eventos mais marcantes de sua ditadura, Suharto ordenou a brutal invasão do Timor-Leste, em 1975, na qual morreram, segundo grupos de direitos humanos, cerca de 200 mil timorenses. Na década de 1980, Prabowo participou de várias missões com uma unidade de forças especiais combatendo separatistas em Timor-Leste. Testemunhas o acusam de cometer atrocidades tanto lá quanto em Papua.
 
Fonte: agências de notícias
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Desobediência civil –
formigas carregam folhas
maiores que seus corpos.
 
Liberto Herrera

[EUA] Two Cheers For Anarchism (Dois Vivas para o Anarquismo):  Seis Textos Fáceis sobre Autonomia, Dignidade e Trabalho Significativo e Lazer 

James C. Scott (Autor); Tun Myint (Prefácio) 

James Scott nos ensinou o que há de errado em ter uma visão estatal. Agora, em seu livro mais acessível e pessoal, o aclamado cientista social defende a visão anarquista. Inspirado pela crença anarquista fundamental nas possibilidades da cooperação voluntária sem hierarquia, Two Cheers for Anarchism (Dois Vivas para o Anarquismo) é uma defesa envolvente, animada e muitas vezes muito engraçada da visão anarquista — que oferece uma perspectiva única e poderosa sobre tudo, desde as interações sociais e políticas cotidianas até protestos em massa e revoluções. Com uma variedade de histórias e exemplos marcantes, o livro fala sobre uma visão anarquista que valoriza o conhecimento local, o bom senso e a criatividade das pessoas comuns. Isso resulta em uma espécie de manual sobre o anarquismo construtivo, que nos desafia a repensar o valor da hierarquia na vida pública e privada, desde escolas e locais de trabalho até casas de repouso e o próprio governo.

Começando com o que Scott chama de “a lei da calistenia anarquista”, um argumento a favor da violação da lei inspirado em uma faixa de pedestres da Alemanha Oriental, cada capítulo se inicia com uma história que captura uma verdade anarquista essencial. Ao contar essas histórias, Scott enfoca uma ampla variedade de assuntos: desordem pública e tumultos, deserção, caça ilegal, sabedoria popular, produção em linha de montagem, globalização, pequena burguesia, testes escolares, áreas de lazer e a prática da explicação histórica.

Longe de ser um manifesto dogmático, Two Cheers for Anarchism celebra a confiança anarquista na criatividade e no discernimento das pessoas que são livres para exercer suas capacidades criativas e morais.

“Um dos cientistas sociais mais lidos do mundo” (New York Times) oferece seu livro mais pessoal e acessível — uma celebração de como pessoas comuns podem resistir à opressão e à injustiça.

Editora: Princeton University Press
Formato: Livro
Encadernação: brochura
Páginas: 208
Lançamento: 10 de junho de 2025
ISBN-13: 9780691271781
US$ 17,95
press.princeton.edu

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Uma quaresmeira
roxeia o cerrado.
Dói um coração.

Onofra

[Espanha] Falemos sobre ditaduras

Pois é, temos que falar sobre ditaduras, já que a confusão atual (não sei se chamar de “pós-moderna”) chega a limites que beiram a falta de oxigenação cerebral. Como é possível que a facistada, com total desfaçatez, tenha agora púlpitos de audiência notável (temo que por um público de natureza acrítica e pouco ou nada dotado intelectualmente) onde afirmam que o militar golpista genocida Franco não foi uma ditadura? Onde garantem que o que houve na verdade foi algo como um “regime de autoridade” – como diz então um ácrata de tendência niilista, verdadeiro amante da liberdade: maldita seja a autoridade!

Como parece que voltamos à idade pré-escolar, façamos uma definição rápida de regime ditatorial: aquele em que o poder se concentra em um único sujeito ou grupo reduzido (ou seja, uma centralização exacerbada), onde as liberdades elementais (expressão, associação, política em geral…) não existem e onde, consequentemente, a dissidência é reprimida e não há pluralidade. Haverá ditaduras mais ou menos cruéis – embora todas o sejam já só por arrebatar das pessoas sua capacidade de escolha em todos os níveis da vida –, e haverá idiotas que gostem de ditaduras ou as considerem necessárias, mas concordaremos pelo menos nessa explicação superficial.

Antes de continuar, esclarecerei duas coisas.

Primeiro: mesmo à margem da minha lúcida condição libertária, considero evidente que de um regime autoritário não pode derivar nada novo, como sempre insistiram anarquistas e como creio que a história demonstrou – só da liberdade pode surgir a liberdade (creio que a bom entendedor, meia palavra basta; e para uma concepção complexa de liberdade, ligada ao social, já ocupamos outros espaços).

Segundo: denunciar com força todas e cada uma das ditaduras, não importa o disfarce que tenham, não me converte em defensor de um Estado democrático (talvez um oximoro), nem da democracia representativa, nem dessa fantasia teórica da “separação de poderes”, nem de nenhuma dessas características que frequentemente se apresentam como se fossem um fim em si mesmo de um sistema altamente benevolente (que, obviamente, não desfrutamos). Denunciar todas as ditaduras – que não queremos sofrer – me converte simplesmente em defensor desses mínimos mencionados: liberdades elementais e pluralidade (isso, claro, com todas as dificuldades de exercê-las num sistema de aparência democrática, mas onde o poder político e econômico segue estando em poucas mãos).

Portanto – e que valha também este esclarecimento para aqueles imbecis que nos acusam, os que não votamos, de pouco menos que favorecer uma ditadura –, votar ou não votar (dois atos que podem ser lúcidos ou idiotas, e não entraremos em detalhes) corresponde precisamente à livre decisão das pessoas nesse sistema de mínimos.

Voltemos à facistada antes de abordar outros tipos de ditaduras. A direita (e não só a chamada ultradireita, se é que há diferença), e não temo generalizar, por mais que agora se rotule de liberal, jamais condenou com força a ditadura franquista. Repulsivos ex-dirigentes, com cargos políticos de alta relevância como Aznar ou Esperanza Aguirre, apresentam-na hoje como não tão autoritária e repressiva, e até com elementos positivos.

Mais ainda: com total iniquidade e sem vergonha (nada novo, pois há outros com esse discurso há tempos), esses elementos de direita afirmam que há um domínio historiográfico “progre” ou diretamente socialcomunista, de modo que sua narrativa dos fatos constitui não só a verdade, mas a “autêntica rebeldia” ante o autoritarismo que a esquerda representa. Claro, são falsidades repetidas que apresentam supostos fatos de forma extremamente simplista, dirigidas a mentes pouco dotadas intelectualmente – às quais não se pode pedir grandes complicações –, sem relação alguma com metodologia historiográfica. Isto é, deixemos claro, grande parte do problema neste país indescritível.

Entretanto, o gosto por ditaduras não corresponde só ao campo conservador ou reacionário. Na verdade, seguir mantendo certos mitos sobre regimes inequivocamente autoritários, construídos em torno desse “bem para a humanidade” que é o socialismo, tem uma dupla faceta perversa.

Primeiro: perpetua a ilusão sobre vias estatais (vias autoritárias, que justificam meios em nome de um fim benevolente) para transformações sociais que nunca chegaram (se por mudança social entendemos, claro, bem-estar econômico e maior capacidade de escolha das pessoas em todos os âmbitos da vida).

Segundo: o evidente fracasso desses regimes socialistas – cuja fase intermediária era uma ditadura – alimenta o campo direitista e nos obriga a um processo histórico de estúpida comparação entre regimes autoritários (com nuances sobre seu grau totalitário, também expresso de forma simplista e muitas vezes falsa), na qual não precisamos entrar.

Condenar ditaduras socialistas não supõe alimentar as de caráter direitista; muito pelo contrário: nos fazem aprender com a história, olhar adiante e, a partir de um contexto aceitavelmente livre, aprofundar a liberdade e tentar superar um sistema onde poucos acaparram os recursos (outra forma de dominação). Ninguém disse que seria fácil.

Juan Cáspar

Fonte: https://acracia.org/hablemos-de-dictaduras/ 

Tradução > Liberto

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Com jeito voyeur
da soleira da janela
um pombo me espia.

Anibal Beça

Grande dia de solidariedade ao povo resistente da Palestina, com ações em toda a geografia grega

No domingo, 10 de agosto, milhares de pessoas foram às ruas, em ilhas e destinos turísticos, realizando todos os tipos de ações em portos, praias, praças, com concentrações, marchas e bandeiras palestinas e faixas de solidariedade ao povo palestino.

Com vigor, energia e participação em massa dos cidadãos nos chamados da Marcha para Gaza e de muitos coletivos, palavras de ordem foram gritadas e ouvidas contra o genocídio do povo palestino em Gaza, a ocupação e a exclusão pelo Estado assassino de Israel. É por isso que muitos slogans de boicote a Israel e a turistas israelenses indesejados. Assim como contra o governo e o Estado gregos, entre aqueles mais dispostos a cooperar com um Estado genocida, bem como com os EUA e a OTAN, e, portanto, cúmplices dos crimes em massa cometidos na Palestina.

Após o dia 10 de agosto, o movimento de solidariedade na Palestina e as guerras dos governantes emerge ainda mais forte e mostra que, além de Estados, governos e instituições autoritárias, os cidadãos de baixo podem se mobilizar e se mobilizam, e além da solidariedade, eles estão praticamente mostrando o caminho da resistência às guerras dos governantes.

agência de notícias anarquistas-ana

Escudo de papel:
as leis são frágeis diante
de um poema em brasa.

Liberto Herrera

[EUA] A primeira edição da Foghorn Mag está no ar!

A primeira edição da Foghorn Mag está no ar! É uma bela e envolvente coleção de 16 páginas com tutoriais, reflexões, histórias, arte, crime, conselhos, perguntas, conexões. Custa US$ 6 + envio. Toda a arrecadação cobre os custos de impressão. Escreva para foghornmag@riseup.net para adquirir um exemplar, saber sobre preços por atacado, sugerir espaços radicais que possam querer distribuir a revista ou enviar contribuições para a próxima edição. Do nosso casebre para o seu.

FOGHORN MAG

Um registro anarquista da vida marginal, publicado exclusivamente em versão impressa, duas vezes por ano, nos solstícios.

Uma revista impressa semestral sobre o habitar anarquista. Um lar & jardim rebelde. Um sopro ardente de vida, animando a bela ideia do anarquismo em nossas vidas domésticas cotidianas.

Para os ocupas, ermitões fora da rede, defensores da terra, habitantes das florestas, andarilhos, esquisitos comunitários e todos que vivem fora dos limites, além do alcance dos proprietários, do condado, do Estado.

Queremos suas reflexões amorosas e analíticas sobre a labuta rural; tutoriais práticos de construção e sistemas para modos de vida não normativos; fotografias; entrevistas; devaneios; narrativas; e mais.

Compartilhe as lágrimas que você chora pelo que deseja e pelo que poderia ser: uma vida que valha a pena cultivar entre as ervas daninhas e os escombros.

Fonte: https://kolektiva.social/@FoghornMag

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Vento gélido
E o cachorro se enrosca
A cada sopro.

Moduan Matus

[Espanha] Notícias catastróficas para os macacos de cauda longa e para o fim da experimentação animal

Os macacos de cauda longa são os primatas mais “utilizados” nos laboratórios de todo o mundo (mais de 100.000 por ano). A grande maioria deles não é “criada”, mas sim sequestrada em suas casas no Vietnã, Camboja ou Maurício e enviada para esse destino cruel.

Este “comércio” atroz é uma das principais razões pelas quais os macacos de cauda longa foram declarados em perigo de extinção em 2022. Apesar disso e das inúmeras evidências do tráfico ilegal desses animais, as maiores empresas de experimentação animal continuam aumentando seus lucros e o massacre dos macacos de cauda longa.

Uma das principais empresas envolvidas nesse negócio cruel é a Charles River Laboratories, a maior empresa de experimentação animal do mundo, que anunciou ontem (05/08) que, nos últimos três meses, lucrou mais de US$ 1 bilhão com a tortura e o massacre de milhões de animais.

De passagem, aproveitaram para anunciar que foi encerrada a investigação sobre o seu papel no tráfico ilegal de macacos de cauda longa e que as autoridades lhes vão “devolver” os mil macacos que tinham importado ilegalmente em 2023 para que também os possam massacrar¹.

Na Espanha, a Charles River Laboratories recebe anualmente centenas de milhões de dinheiro público de instituições como o CSIC para perpetuar seu negócio inútil e atroz.

Além disso, também são proprietários do maior centro de distribuição e experimentação de primatas da Europa, Camarney SL. Um lugar miserável que, graças à permissividade da Gencat, Agriculturacat e Mitecogob, já é responsável pela tortura e assassinato de mais de 40.000 macacos de cauda longa.

A experimentação animal não é ciência nem salva vidas, é um negócio inútil, atroz e devastador que não pode continuar existindo.

www.abolicion-viviseccion.org

[1] https://peta.org/action/action-alerts/1000-endangered-monkeys/

agência de notícias anarquistas-ana

a chuva cai forte
e os ruídos que sobem
corroem meus olvidos

Thiago de Melo Barbosa