A Prisão das 6 de La Suiza: A Máscara Caída do Estado Capitalista

Eis que se inicia o cumprimento da pena de reclusão das 6 de La Suiza. Essa condenação das sindicalistas não é um “erro judicial” ou excesso pontual. É a expressão nua da lógica do Estado-Capital: uma engrenagem projetada para esmagar quem ousa organizar-se contra a exploração. Quando trabalhadoras combativas são encarceradas por defenderem direitos básicos, enquanto fascistas desfilam impunes, revela-se o verdadeiro rosto da “justiça de classe”. O sistema não tolera ameaças à sua ordem — seja nas fábricas de Myanmar ou nas ruas de Xixón. A prisão é a resposta previsível de um regime que protege propriedade, não pessoas; lucro, não vida.

Esperar clemência do Estado — como o indulto em análise — é alimentar a mesma ilusão que sustenta o reformismo. O Capital jamais concede liberdade; apenas gerencia sua dosagem para evitar rebeliões. No contexto espanhol, a chamada “Lei da Mordaça”, mantida até por “governos progressistas”, comprova: o aparato estatal existe para criminalizar a dissidência e blindar as elites. Pedir gentileza aos carcereiros é negar que as cadeias foram construídas justamente para nos trancar. O anarquismo sabe: não há diálogo possível com quem lucra com nossas algemas.

A solução não está na súplica, mas na radicalização da luta. Se o Estado responde com prisões a greves e piquetes, nossa resposta deve ser multiplicar ações diretas, redes de apoio mútuo e greves selvagens. As vitórias, mesmo que pequenas, que vemos conquistadas por pressão externa e organização horizontal, mostram o caminho: só a combatividade fere o Capital. Paralisar produção, boicotar marcas, ocupar espaços e expor seus crimes são armas que ferem onde eles doem: no bolso e no controle.

Superar o Capital e o Estado exige construir outro mundo aqui e agora. Cada família apoiada após um terremoto, cada produto menstrual distribuído, cada manifestante protegido da repressão são atos de autogestão que corroem a necessidade do opressor. As 6 de La Suiza não precisam de piedade; precisam que transformemos sua cela em símbolo de insurreição global. Enquanto houver um preso político, nossa luta é por derrubar os muros das prisões — e os do sistema que as ergueu.

A liberdade não será concedida; será tomada pela solidariedade intransigente. Como gritam nas ruas:
Nem um passo atrás!
 
Liberto Herrera
 
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Árvores da infância –
E depois a monotonia verde
Dos canaviais…


Paulo Franchetti

[Reino Unido] Élisée Reclus: 5 níveis de prática socioecológica

Sua visão revolucionária convincente e realista mostra as condições prévias para um mundo liberado
 
~ John P. Clark ~
 
Élisée Reclus (1830-1905) foi um dos geógrafos mais destacados de seu tempo, uma figura importante do pensamento político anarquista e um revolucionário por toda a vida que desempenhou um papel ativo na Comuna de Paris e na Primeira Internacional. Para um pensador político do século XIX, seu compromisso permanente não apenas com a revolução social, mas também com a ecologia radical, o antipatriarcado e a igualdade da mulher, o antirracismo e o anticolonialismo, o antiespecismo e o bem-estar animal era extraordinário.
 
Reclus é famoso principalmente por sua Nouvelle Géographie Universelle, uma obra colossal de vinte volumes e dezoito mil páginas, considerada o maior feito individual na história da geografia. Reclus é amplamente reconhecido como o fundador do campo da geografia social. Sua última obra, L’Homme et la Terre, é uma ampla síntese de geografia, história, antropologia, filosofia e teoria social com 35.000 páginas, e constitui sua contribuição mais duradoura ao pensamento moderno. Ela começa com a afirmação de que “a Humanidade é a Natureza tomando consciência de si mesma”, e é uma ampla narrativa de toda a história da humanidade e da Terra, e de um destino planetário comum que se revela através de uma profunda compreensão do grande curso da geohistória.

A história de Reclus sobre a humanidade e a Terra tem duas dimensões. Uma é sua descrição do processo de autorrealização humana em interação dialética com a natureza. Ele mostra como o ambiente natural molda o desenvolvimento humano, ao mesmo tempo que a humanidade contribui para o desdobramento e florescimento do mundo natural. Ele mostra o conteúdo da geohistória como uma dialética entre as forças criativas da liberdade e as forças restritivas da dominação. Sua ideia de que todos os fenômenos da história contêm aspectos progressivos e regressivos, e que cada tendência deve ser analisada cuidadosamente, é um de seus conceitos mais influentes.
 
Reclus demonstra que o progresso histórico dependeu do crescimento da ajuda mútua (l’entr’aide) e da cooperação social, ideias que influenciaram enormemente seu colega mais jovem Kropotkin. Reclus argumenta que a plena autorrealização da humanidade-na-natureza dependerá de uma revolução social que incorpore as práticas mutualistas em uma sociedade livre, igualitária e anarco-comunista. Além disso, ele sustenta que o destino da Terra dependerá da capacidade da humanidade de estabelecer instituições e práticas sociais que expressem uma profunda preocupação com o mundo natural e com todos os seres vivos do planeta.
 
O outro lado da narrativa histórico-mundial de Reclus foca na longa história da dominação. Ele faz uma ampla crítica do Estado burocrático centralizado e do capitalismo industrial, mas não considera outras formas de dominação como esferas subordinadas. Ele foi um feminista radical e um veemente inimigo da dominação masculina, e um fervoroso opositor de todas as formas de racismo e da denigração eurocêntrica das culturas indígenas. Foi um dos primeiros críticos da devastação ecológica resultante da industrialização impiedosa e da racionalização tecnológica, e já na década de 1860 denunciou a destruição de florestas milenares. Além disso, foi um incansável defensor do vegetarianismo ético e do tratamento humano aos animais.
 
Reclus apresenta uma das visões revolucionárias mais convincentes, e possivelmente uma das mais realistas, das condições prévias para um mundo liberado de liberdade e solidariedade. Especificamente, ele analisa cinco níveis de prática social ecológica que devem ser abordados pelo movimento revolucionário.
 
1.    O primeiro nível é a comunidade primária (talvez uma espécie de grupo de afinidade) que é o foco da transformação pessoal, moral e psicológica. Em uma carta de 1895, ele diz que os anarquistas devem “trabalhar para se libertar pessoalmente de todas as ideias preconcebidas ou impostas, e gradualmente reunir ao seu redor amigos que vivam e ajam da mesma maneira. É passo a passo, através de pequenas associações afetuosas e inteligentes, que se formará a grande sociedade fraternal.” Todas essas qualidades (pequena escala, um ethos de amor onipresente e o fomento de uma inteligência ativa e comprometida) são necessárias para que tais associações cumpram sua função transformadora básica.
2.    O segundo nível de organização social, e o mais crucial politicamente para Reclus, era a comuna autônoma, que ele descreve em uma carta de 1871 como “ao mesmo tempo o triunfo da República Operária e a inauguração da Federação Comunal”. Ele estava convencido de que uma versão radicalizada das aspirações da Comuna de Paris (uma poderosa realidade no imaginário radical de sua época) deveria ser a principal forma de organização política. A comuna praticaria a democracia direta radical. O poder do povo poderia ser delegado, mas nunca meramente representado ou alienado da base. Para fins mais amplos, a comuna agiria em solidariedade com todas as outras comunas através da livre federação.
3.    O terceiro nível chave de organização social para Reclus, inspirado em seus muitos anos de engajamento na luta operária mundial, é o da Internacional dos Trabalhadores, que agiria democraticamente através de suas seções locais. Reclus acreditava que, para triunfar, a revolução deveria reunir as pessoas não apenas como membros da comunidade local, mas também ao nível de toda a humanidade, unida e mobilizada como trabalhadores e produtores. A Internacional também era uma força poderosa no imaginário social radical da época.
4.    O quarto nível de associação é a República Universal, que também será uma expressão global dos valores da comunidade humana e da solidariedade. Esta grande República (outra ideia que inspirou os revolucionários da época) deveria basear-se na livre federação de comunas autônomas em todo o planeta e em todos os níveis, do local ao regional, passando pelo mundial.
5.    O quinto nível: Reclus reconheceu que nossa comunidade é mais do que humana. Assim, reconheceu um quinto nível de associação, no qual expressamos nossa unidade e solidariedade com a Terra, e nosso senso de responsabilidade por toda a vida na Terra. É o nível de toda a Comunidade da Terra. Neste nível, já existe implicitamente uma unidade global na diversidade, mas devemos ser educados para perceber como nos encaixamos na grande interconexão de todos os seres e agir de acordo.
 
Reclus foi um revolucionário dedicado e comprometido que trabalhou incansavelmente pela transformação social revolucionária, pelo que sofreu encarceramento em pelo menos catorze prisões diferentes e passou muitos anos no exílio forçado. Era uma pessoa de extraordinária humildade, grande generosidade e amor e compaixão, não apenas por seus semelhantes, mas também por outros seres sencientes. Ele merece o reconhecimento (que nunca teria buscado) como um dos pensadores mais destacados da história do anarquismo. Sua obra sobre geografia social e temas afins, com mais de 25.000 páginas publicadas, é de longe a maior realização na história do pensamento social ecológico.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/05/elisee-reclus-5-levels-of-social-ecological-practice/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Oh cruel vendaval!
Um bando de pequenos pardais
agarra-se à relva.
 
Buson


[Espanha] 6 de La Suiza: Agressão intolerável ao sindicalismo combativo

Confirmaram-se os piores presságios: Lino Rubio Mayo, titular do Juizado Criminal nº 1 de Xixón (Gijón), emitiu ordem de prisão contra as seis sindicalistas de La Suiza para cumprir três anos de prisão. Age assim sabendo que há um pedido de indulto sobre a mesa do Governo, consciente ainda de que materializa uma injustiça manifesta e que lança um verdadeiro torpedo contra o direito da classe trabalhadora de se defender. Nunca acreditamos na justiça espanhola — suas sentenças sempre miram os mesmos. O naftalino de seus armários exala classismo. Enquanto pelas nossas ruas desfilam impunes ultradireitistas de todo tipo cantando bravatas fascistas ou incitando ódio, quem ousa discordar das injustiças acaba na prisão. Seja por cantar um rap crítico à monarquia, por reivindicar empregos em Cádiz, por protestar em Zaragoza contra a ultradireita ou por manifestar-se diante de um estabelecimento em defesa de uma trabalhadora assediada — mesmo com toda a documentação regular do protesto. As elites deste país não toleram qualquer contestação, e esta sentença é prova disso. Lembremos: a desproteção que vive a classe trabalhadora tem base numa infame Lei Mordaça que o “governo mais progressista do mundo” decidiu engolir sem questionar. Não vá uma chinelada no tornozelo da ordem estabelecida incomodar quem realmente governa: fundos abutres, empresários miseráveis, políticos racistas e machistas, juízes de toga carcomida e crucifixo na mesa… etc.

Da CGT, enviamos toda nossa solidariedade a essas seis trabalhadoras que suportam há anos a tortura insuportável imposta pelo juiz Lino Rubio Mayo desde o início deste processo delirante. E um abraço fraterno à CNT e aos grupos de apoio que realizaram um trabalho solidário colossal desde o começo. O Secretariado Permanente da CGT convoca todos nossos sindicatos e militantes a dar visibilidade à campanha pela Liberdade das 6 de La Suiza. Esta reivindicação precisa ecoar, pois o que está em jogo é a liberdade de expressão e a ação sindical. É preciso tornar a solidariedade ainda mais visível, diante da maior agressão ao sindicalismo dos últimos 30 anos.

Mas, mesmo após este golpe, que juízes, empresários e políticos não duvidem nem por um segundo: nos terão pela frente. Querem dividir a classe trabalhadora e atacar os humildes para encher seus bolsos. É o jogo de cartas marcadas do fascismo: dividir a sociedade, punir quem atrapalha sua ganância por um capitalismo predatório e desumano. Para eles, ser da classe trabalhadora, migrante, racializado, diverso, trans, solidário, inquilino, antifascista ou sindicalista é crime. Para nós, motivo de orgulho.

Viva a classe trabalhadora! Um abraço, companheiras de Xixón!
Fazer sindicalismo não é crime!
Liberdade para as 6 de La Suiza!

cgt.es

Tradução > Liberto

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uma pétala caída
que torna a seu ramo
ah! é uma borboleta

Arakida Moritake

Vaquinha para Myanmar: distribuição nas fábricas começa

Nos últimos meses, conseguimos arrecadar 20.000 euros nesta iniciativa, uma parte significativa dos quais foi contribuída pela Confederação Internacional do Trabalho (CIT). Após receber os primeiros 10.000 euros, a FGWM comprou produtos menstruais e começou a distribuí-los nas fábricas: 5 pacotes para cada uma das 5.000 trabalhadoras. Foi a FGWM que nos apresentou essa ideia inicialmente e pediu à FAU/ICL que a apoiasse.
 
Quando a arrecadação de fundos já estava em andamento, um forte terremoto atingiu Myanmar. Muitas casas e infraestruturas urbanas foram destruídas. Como resultado, decidimos ampliar a campanha para apoiar adicionalmente 200 famílias afetadas pelo terremoto. O objetivo era atender às suas necessidades imediatas, com baterias externas, lonas e mosquiteiros. Mais uma vez, foi a FGWM que nos disse o que era necessário e para que o dinheiro deveria ser arrecadado.
 
Estamos cientes da complexidade de enviar dinheiro para companheiros e companheiras no sudeste asiático, pois esse tipo de projeto sempre envolve hierarquias. Ao mesmo tempo, reconhecemos que grande parte da riqueza é acumulada no “Ocidente” graças à exploração de regiões empobrecidas e com salários muito baixos. Portanto, consideramos que temos a clara responsabilidade de organizar essa redistribuição. Mesmo que seja apenas uma pequena parte, tentamos dar um passo na direção certa.
 
Não fazemos caridade. Apoiamos a luta de nossas companheiras por dignidade. Também organizamos protestos em frente a lojas de marcas cujos produtos são fabricados em Myanmar, como Only, H&M, Zara, Hunkemöller, NewYorker, Lululemon e Adidas. Em casos de conflitos trabalhistas, entramos em contato com a direção das marcas e das fábricas em diferentes níveis. E, ocasionalmente, arrecadamos dinheiro.
 
Nossas companheiras precisam de apoio para continuar suas lutas. Juntas, já arrecadamos dinheiro para financiar casas seguras, ajudar famílias de quem perdeu o emprego por participar de protestos, pagar tratamentos médicos ou organizar workshops de capacitação para trabalhadores e trabalhadoras. Com nossa última arrecadação, fornecemos produtos menstruais, já que as trabalhadoras não podiam comprá-los e corriam o risco de contrair infecções ao usar retalhos de tecido das fábricas.
 
Ao mesmo tempo, os companheiros e companheiras da FAU e da FGWM se mobilizaram para garantir a disponibilidade gratuita de produtos menstruais nas fábricas, instalações sanitárias limpas e licenças menstruais. A fábrica Hang Kei, que produz para a Hunkemöller, reagiu e, desde maio de 2025, os banheiros são limpos regularmente, há absorventes na clínica da fábrica para todas que precisam, foram instalados aparelhos de ar-condicionado e há uma sala para mães que estão amamentando. É apenas uma das muitas fábricas que abordamos, mas é um começo!
 
Precisamos de mais companheiras que apoiem nossas ações conjuntas para exercer mais pressão sobre as marcas e os donos de fábricas em todo o mundo. Vale a pena.
 
Agradecemos a todas pelo apoio!
A solidariedade é nossa arma!
Ouse lutar, ouse vencer!
 
Site: fgwm-solidarity.org
Contato: asia@icl-cit.org Fonte: https://www.iclcit.org/es/6098/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
fim de tarde
depois do trovão
o silêncio é maior
 
Alice Ruiz

“Crise climática no Brasil e no mundo”| “Jornadas ANTI-COP30”

A crise ambiental no Brasil e no mundo não é de responsabilidade da maior parte da humanidade. Soluções ou slogans como “faça sua parte para um mundo melhor” escondem os verdadeiros responsáveis pelos eventos climáticos extremos e pela desigualdade e pobreza: O CAPITALISMO.
 
Nós, enquanto anarquistas, entendemos que a 30ª Conferência do Clima (COP-30), que ocorrerá em Belém em novembro, é uma farsa feita por quem causa a crise ambiental e social. Qualquer “solução” a ser apresentada na COP jamais será uma solução verdadeira.
 
Capitalismo “verde”, mercado de créditos de carbono, bioeconomia… tudo isso é uma cilada pois não toca na raiz do problema: o capitalismo é um sistema que depende da superexploração da natureza e dos corpos humanos para obter lucro para alguns. 
 
Alternativas de mundo? Temos! Os povos das águas, das várzeas, das florestas, dos campos e das periferias urbanas se levantam e apontam caminhos para a superação da crise. 
 
Caminhos esses baseados no senso de comunidade, na horizontalidade e na autogestão, princípios historicamente ligados ao anarquismo.
 
Ia JORNADA INTERNACIONAL ANARQUISTA DA AMAZÔNIA/BRASIL
“Jornadas ANTI-COP30”

Data: 10 a 21 de novembro de 2025
Local: Belém / PA / Brasil

 
<< Mais infos >>

Centro de Cultura Libertária da Amazônia – CCLA
Rua Bruno de Menezes (antiga General Gurjão) 301 – Bairro Campina – Belém do Pará.
cclamazonia@gmail.com
cclamazonia.noblogs.org
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Ao virar a esquina,
Saindo de trás do prédio –
A lua cheia.
 
Paulo Franchetti

[Itália] Sudão. O silêncio sobre o genocídio

No Sudão, a guerra continua na indiferença da maior parte dos movimentos contra guerras e rearmamento em escala global. Em nosso país, salvo pequenas exceções, parece que ninguém se importa com o pior genocídio deste século.
 
A guerra pelo poder e pelo controle dos recursos, iniciada entre as facções de Al-Burhan e Hemetti, já causou mais de 150 mil mortes e forçou o deslocamento ou exílio de mais de 14 milhões de pessoas.
 
É provável que o país caminhe para uma balcanização substancial. Limpeza étnica, estupros e massacres são práticas de ambas as facções, que disputam o controle do território.
 
Hoje, o Sudão vive a pior crise humanitária do planeta. A morte por fome e sede é uma realidade explicitamente declarada pela ONU, que não tem recursos para impedir que milhões de pessoas — principalmente crianças e idosos — morram de inanição.
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
em zigue-zague
mosquitos-pólvora pairam
final de tarde
 
Marcos Amorim

[Espanha] “Las 6 de la Suiza” são mandadas para a prisão

Em 9 de julho, Lino Rubio Mayo, juiz chefe do Tribunal Penal nº 1 de Xixón, emitiu uma ordem de prisão imediata para as seis sindicalistas (cinco mulheres e um homem) da CNT que participaram do conflito trabalhista com a confeitaria La Suiza, pela qual foram condenadas a três anos e meio de prisão, além de pagar multas pesadas e uma responsabilidade civil muito alta.
 
Diante da ordem de prisão emitida pelo juiz, as sindicalistas se apresentaram voluntariamente na prisão de Villabona (Centro Penitenciário de Astúrias) e tramitaram sua admissão. Elas têm anos de sentença pela frente, a menos que o governo decida indultá-las.
 
O caso começou quando uma trabalhadora, que agora é uma das condenadas, foi até o sindicato CNT Xixon para denunciar os abusos que estava sofrendo no trabalho. Diante da recusa do empregador, a CNT organizou protestos de rua que levaram a uma onda de repressão contra os participantes e terminaram com uma sentença que soma 21 anos de prisão.
 
A condenação é uma afronta aos direitos fundamentais da classe trabalhadora e criminaliza ações tão comuns quanto desfraldar uma faixa e distribuir panfletos.
 
#6DeLaSuiza #HacerSindicalismoNoEsDelito
#NoEstaisSolas #RespondemosUnidas #ParemosLaRepresión
 
6 DE LA SUIZA LIBERDADE!
FAZER SINDICALISMO NÃO É DELITO
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Sozinho na casa.
Lá fora o canto das cigarras.
Ah se não fossem elas…
 
Anibal Beça
 

[Reino Unido] “Voltemo-nos belos nós mesmos”: Élisée Reclus sobre vegetarianismo, anarquismo e violência colonial

O grande geógrafo e teórico do comunismo anarquista fez parte de um círculo radical que abordou uma ampla gama de questões sociais, desde capitalismo e colonialismo até amor livre e direitos animais
 
~ Spencer Beswick ~
 
Em seu clássico ensaio “Sobre o Vegetarianismo” (1901), Élisée Reclus escreveu uma defesa comovente desta prática como uma necessidade ética e estética, com potencial para acabar com a violência colonial ao transformar a relação da humanidade com o mundo.
 
O anarquismo de Reclus buscava “fazer de nossa existência a mais bela possível e em harmonia, na medida do possível, com as condições estéticas de nosso entorno”. Isso inclui nossa relação com os animais. Reclus condenou matadouros, assim como a exibição e consumo de animais mortos, por considerá-los feios e violentos. Essas exibições perturbadoras entrelaçam-se à vida cotidiana de modo que só pode anestesiar nossos sentidos e diminuir a beleza de nossas vidas. Como a cicatriz antiestética de uma barragem de concreto que bloqueia um rio, o abate e consumo de animais obstruem o potencial de uma vida bem vivida. Reclus clamou pelo fim da violência contra animais e, em seu lugar, propôs reconhecê-los como “companheiros de trabalho respeitados, ou simplesmente como companheiros na alegria da vida e na amizade”.
 
A violência contra animais estava intimamente ligada à violência do colonialismo. O massacre de povos colonizados era justificado por sua redução desumanizadora ao nível de animais. Reclus argumentava que o tratamento brutal de animais no próprio país permitia a violência colonial global através de uma “relação direta de causa e efeito”, pois “o abate do primeiro facilita o assassinato do segundo” e “fazer cães despedaçarem uma raposa ensina um cavalheiro a fazer seus homens perseguirem chineses fugitivos”. Se os europeus aprendessem a se relacionar eticamente com animais em casa, sustentava ele, a prática da violência colonial no exterior seria desestabilizada. O vegetarianismo transformaria a relação da humanidade com o mundo de modo a excluir toda violência e exploração direcionada tanto a humanos quanto a não humanos.
 
Embora o argumento possa ser atraente, hoje soa um tanto vazio aos nossos ouvidos. O exército israelense, por exemplo, usa sua autoproclamada fama de “exército mais vegano do mundo” como prova de sua suposta dedicação à paz, brandindo o veganismo como escudo para justificar sua violência contra palestinos considerados “atrasados” (em parte porque não são veganos). Alguns ativistas acrescentam assim o veganwashing ao greenwashing e pinkwashing como justificativas “progressistas” do colonialismo. Do nosso ponto de vista no século XXI, parece claro que Reclus foi excessivamente otimista ao acreditar que o fim da exploração animal acabaria com a violência colonial.
 
Contudo, o apelo de Reclus por uma vida ética e bela, livre da exploração de humanos e não humanos, mantém sua força. Ele nos lembra a importância do que alguns veganarquistas chamam de libertação total: desmantelar todas as formas interconectadas de opressão e dominação que degradam humanos, animais e o mundo natural. Para terminar com as palavras de Reclus: “A feiura nas pessoas, nos atos, na vida, na Natureza que nos rodeia, é nosso pior inimigo. Voltemo-nos belos nós mesmos e deixemos que nossa vida seja bela”.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/05/let-us-become-beautiful-ourselves-elisee-reclus-on-vegetarianism-anarchism-and-colonial-violence/
 
Tradução > Liberto
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Voar sempre, cansa –
por isso ela corre
em passo de dança
 
Eugénia Tabosa

[Espanha] Campanha para a anulação da sentença de Francisco Ferrer i Guardia

Desde Memória Libertária a CGT, em reconhecimento de nosso querido mestre e fundador da Escola Moderna Francesc Ferrer i Guardia, chamamos à adesão da campanha pela anulação de seu conselho de guerra e posterior execução: 
 
Ferrer i Guardia sempre em nossa Memória, seu legado educativo, pedagógico e racionalista, perdura no tempo e em nossos corações.
 
1909
 
Francisco Ferrer Guardia, pedagogo e livre pensador comprometido com a renovação social e educativa, foi vítima de uma das grandes injustiças da história contemporânea da Catalunha e do Estado espanhol.  
 
Em 1909, no contexto da Semana Trágica, foi acusado sem provas consistentes e julgado em um processo cheio de irregularidades. Apesar da falta absoluta de garantias judiciais, Ferrer i Guardia foi condenado à morte e fuzilado no castelo de Montjuic“.
 
Sua execução provocou uma onda de indignação internacional e pôs em evidência a repressão contra as ideias progressistas e a liberdade de pensamento. Hoje, mais de um século depois, persiste a necessidade moral e política de reconhecer a injustiça cometida e restituir o bom nome de um homem que lutou por uma educação laica, livre e igualitária.
 
>> Mais infos, adesõesjusticiaperferrer.org
 
Tradução > Sol de Abril
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
Um homem caminha
cabisbaixo e só:
perdeu o que não tinha
 
Eugénia Tabosa

[Chile] Quinze anos da minha detenção. Juan Aliste Vega

É preciso saber experimentar a liberdade para sermos livres, é preciso libertar-se para poder fazer a experiência da liberdade…” (Ai ferri corti)
 
Já se passaram quinze anos —julho de 2010— fui capturado pela Interpol na cidade de Buenos Aires. Usando informações fornecidas pelas existências mais servis, cruzaram fronteiras e fizeram de nossas vidas um espetáculo produtivo para sustentar as instituições de repressão aguda. São especialistas em formar milícias, em subjugar e sequestrar; buscam conhecer o limite do corpo e da convicção. São especialistas em negociar com personalidades destruídas por sua própria traição, são treinados em práticas ditatoriais, repressivas e imperiais que se estendem por tempos históricos e espaços geográficos.
 
Isso não é uma história pessoal, nem sobre personagens de uma história; não há aqui pretensão de ser referência ou arrogante, de forma alguma. Porque não se trata de nós, mas sim deles, do poder e dos poderosos, e de como há alguns e algumas de nós que não encarnamos a derrota e perseveramos em ações porque não caímos na dicotomia de que o militar e o civil —ou a ditadura e a democracia— são coisas distintas.
 
São, certamente, a continuidade da ordem: uma torna possível a outra e a outra a consolida, estabilizando a conquista obtida. Também não nos acomodamos na derrota moral, vivemos a partir da ideia obstinada de desobediência, não nos permitimos a derrota, a rebeldia está aí latente, não nos convenceram. Seguimos tentando e pensando, com um pequeno traço de impotência e tristeza, que não se limita nem por um segundo a ruminar sobre o que foi feito e não deveria ter sido feito ou o que está errado nas ações que persistem. Não nos despojaram da possibilidade de pensar a realidade e o presente, nem da pretensão de agir sobre ele.
 
É assim que dou conta da pulsação das minhas convicções, desta pequena caminhada consequente como subversivo, sempre a partir do antagonismo e em confronto permanente com um inimigo que transcende conjunturas.
 
É um percurso que começa com a decisão da luta militante contra a ditadura, contra cada um dos poderosos de plantão, suas diferentes administrações de poder, e desde a “transição” até sua democracia policialesca e hipócrita. Sempre, sempre, inimigo do Estado! Na militância ou na autonomia, na organização ou nas afinidades, na palavra e na ação.
 
A intenção não é apresentar-me como exemplo de uma experiência extraordinária e irrealizável; pelo contrário, se esta leitura permitir aprender que sempre se pode combater os poderosos, não de um pódio ou lugar inatingível, nunca de um passado arrogante. Falo e escrevo de um caminho ininterrupto que pertence a todxs que, donos de nossas vidas, nos sentimos livres e dispostos a seguir confrontando o poder e seus sustentadores de misérias.
 
Confirmo meu pequeno traço de impotência e tristeza, não é justo silenciá-lo nem inoportuno declará-lo. Neste caminho de luta, quase 28 anos da minha vida transcorreram na prisão; fui testemunha de seus diferentes formatos, mudanças, e também da “categorização” de plantão. Fui tachado de delinquente “comum”, prisioneiro político e terrorista, entre outros epítetos que, com maior ou menor acerto, falam a linguagem do poder. Transitei por diferentes prisões em território dominado pelo estado chileno e argentino. Resisti a regimes disciplinares de alta ou máxima segurança, isolamento, incomunicabilidade; resisti a situações complexas e vivi dor.
 
Uma vida de batalha contra o dia a dia, contra os absurdos do planeta prisão. Um caminho difícil, às vezes lento e outras vertiginoso; distante do mito e da moda passageira da rebeldia.
 
Não foi uma decisão passageira, foi com convicção, uma decisão de vida, real. Porque procurei, contra a corrente, traçar um rumo a partir da consequência, oferecer pequenos grãos de areia à convicção inquebrantável de luta, à minha e à de outrxs.
 
Sobre a passagem pela tortura, não pretendo falar nem escrever… só devo sintetizar que foi-se um pedaço da minha vida, e não ter entregado nada ao inimigo segue como tesouro que acompanha cada passo. Não delatei ante os agentes da democracia treinados na ditadura; nem na primeira, nem na segunda, nem na terceira vez. Reivindico, ainda, as/os muitxs que resistiram dentro de si mesmxs e não sucumbiram à delação, em contexto de tortura ou não. A história precisou dissolver estas histórias em justificativas absurdas como parte da retórica da paz.
 
Compor a figura de super-homens e heroínas que resistem aos embates é um delírio conformista. A delação, em qualquer contexto, significa hoje e significou antes lançar companheirxs à tortura, à morte ou à prisão; minar os projetos, e viver para sempre consigo mesmx.
 
Esta cumplicidade abracei, esta paz entre nós e guerra contra aqueles, a solidariedade e o desencanto, o punho cerrado, o sorriso contagiante dos acertos e as lágrimas tatuadas da dor e da morte. Mas sempre a tranquilidade.
 
Os anos mais intensos desta caminhada sem volta eu viveria novamente por inteiro nesta ou em qualquer outra vida.
 
Nada disso ignora a autocrítica, como um espelho de si mesmo, sem deixar de aprender-contribuindo, não abandonar ao esquecimento cômodo as razões por uma forma de vida que reconhece como motor de sua ação a miséria, o capitalismo, a predação e o caminhar alienante do consumo. Pequenas razões que num mundo de poderosos são mais que válidas, não só para resistir, mas são urgência de passos diretos ao confronto.
 
Não são ideias em disputa, é saber-se conscientemente livre e defender o oxigênio da liberdade, é ser donx real de nossas vidas e pulsos… Não só a partir de questionar, odiar ou criticar, menos ainda quando o leque do poder oferece uma variedade de atalhos conscientes ou inconscientes para nos manter oprimidos, institucionaliza a resistência e fixa válvulas de escape que conservam intocável o bem-estar do opressor.
 
Nesta realidade constante em que a memória se armazena num computador e a tecnologia torna tudo mais surreal e inatingível. Simulação de um cenário onde tudo se deu por perdido, já que supostamente não resta nada por escrever, nada por viver nem criar. Impera a obsessão de nutrir esta nova forma de dominação, com uma inteligência artificial que subjuga o corpo e o rosto da revolução a peças de uma história antiga, relegadas ao museu. Quando basta apenas um segundo para abrir os olhos e ver a tristeza nos rostos, ver meninas e meninos que já não o são, ver droga como alimento, ver essa violência econômica na qual uns poucos têm recursos para toda sua casta, geração após geração, às custas de muitxs outrxs.
 
Basta um segundo para ver que a forma de vida promovida, incrustada, vendida, elogiada e defendida pelos poderosos, apresenta-se como única maneira de viver. É uma merda!
 
Não há receitas ou atalhos no confronto direto, só temos as ferramentas do combate subversivo, antagônico e permanente contra o Estado. Temos a autocrítica constante a partir da aprendizagem e da prática.
 
Temos a humildade de saber-nos matéria disposta na luta, considerando cada um/a, com suas capacidades e vontades, em igualdade de condições, nenhum ato em detrimento de outro, nenhuma ação invalida outra, nenhum indivíduo idealizado acima de si mesmo. Unidos desde o instante em que tomamos posição, nesta caminhada sem volta de emancipação.
 
Nesta nova soma de 15 anos de prisão até hoje, despojo-me de toda arrogância e agradeço aos meus amados porque também é e tem sido a prisão deles. Olho para elxs com admiração, passou-se tempo, a todxs nos foi-se um pedaço da vida. Fomos capazes de estar juntxs nas fases ruins e piores, nunca faltou um sorriso nem um carinho, faltou de tudo, menos amor e certeza: somos amor em guerra!
 
Com meus próximos e afins reafirmo-me, companheirxs, são aqueles que me conhecem e que sem dúvida saberão dar conta de meus atos de forma muito melhor. Obrigado pela consequência misturada com ternura…
 
Cumplicidade incondicional com aquelxs que persistem no confronto direto, com xs fugitivos e os corações negros da fértil subversão. Um piscar de olhos revolucionário nesta cumplicidade que espero seguir sustentando, assim como quando me couber de qualquer outro lado/lugar, mesmo que seja um centímetro fora do muro, não me trema a mão nem a convicção para continuar sendo uma contribuição, sendo o que sou nesta caminhada maravilhosa da subversão…
 
Estas letras buscam ser um pouco mais que uma saudação de cortesia. Vamos juntos em cumplicidade de luta contra o Estado e em posição de luta dentro da prisão.
 
Reivindico o método e a organização horizontal, um fazer em contexto de confronto, que aglutina a vivência de luta, a atualiza e a divulga (sem propósitos acadêmicos nem de palestras em algum bar).
 
Aposto para que flua a experiência junto ao entusiasmo, que isso permita cada vez mais certeza e precisão na mira contra os poderosos, aspiro a que os métodos sejam compartilhados, abrindo a possibilidade de ação, que os meios e capacidades sejam postos em prática, deixar para trás o “artesanal”, considerar os erros neste aprender fazendo.
 
Recolho a acumulação transversal da caminhada de quem, anteriormente, percorreu um caminho de luta e desenrolou uma ação revolucionária contra o poder, contra quem o sustenta e contra suas instituições. Assimilo acontecimentos de diferentes territórios, desde o Wallmapu e sua resistência ancestral, passando pelas expressões de guerrilha urbana e sua ação contra os poderosos.
 
O para quê, ou os objetivos, serão parte do impulso de quem tomar posição e decisão de luta neste presente e suas realidades.
 
A exigência dentro de uma realidade dinâmica e suas particularidades requer criatividade e inventividade, uma aprendizagem constante e em movimento, dedicação, persistência, convicção e mais convicção, requer de nós: amor entre os nossos e ódio para aqueles.
 
Matéria e objetivos há por todos os cantos desta sociedade capitalista podre e cada ação está logo ali na esquina.
 
Aos quinze anos da minha detenção quis derramar estas palavras. Uma crítica à autocrítica como simplificação política que invalida a tentativa revolucionária. Nossa realidade tem sido tremenda, e também o tem sido nossa resistência.
 
Memória, resistência e subversão!!
 
Juan Aliste Vega — Julho de 2025
 
Fonte: https://lazarzamora.cl/a-quince-anos-de-mi-detencion-juan-aliste-vega/
 
Tradução > Liberto
 
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https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2019/10/25/prisoes-chilenas-comunicado-do-companheiro-juan-aliste-vega/
 
agência de notícias anarquistas-ana
 
Cresci com gorjeios
sobre a jabuticabeira
entre os sabiás.
 
Urhacy Faustino

[Grécia] Distribuição de alimentos a pessoas sem-teto no porto do Pireu, Atenas

Em tempos de crise, pobreza, exploração de classe extrema e empobrecimento, não podemos esquecer e estender a mão da solidariedade a um dos grupos sociais mais vulneráveis na sociedade, os sem-teto.

Pessoas que, por diversas razões, se encontram marginalizadas e vivem nas ruas das grandes cidades, constantemente expostas e desprotegidas. Pessoas que estão fora do radar da assistência social e dos orçamentos estatais. Pessoas invisíveis que devemos tornar visíveis, não em termos de caridade, mas de solidariedade real que vise cobrir suas necessidades básicas, como alimentação e moradia.

Nós, com nossos pequenos esforços e recursos próprios, distribuiremos alimentos cozidos para moradores de rua na área do Pireu toda semana durante o próximo período.

TUDO O QUE TEMOS É UM AO OUTRO

ORGANIZE-SE NO ROUVIKONAS

Grupo Anarquista Rouvikonas – Setor do Pireu

>> Mais fotoshttps://rouvikonas.gr/archives/37550

agência de notícias anarquistas-ana

Quase escondida
entre a casca e o tronco
teia de aranha.

Rodrigo de Almeida Siqueira

[Chile] Palavras da companheira anarquista Mónica Caballero

Uma vez escutei que a vida íntima não teria que se misturar com a política, ou seja, que dentro do ideal o que fizermos de forma individual e/ou coletiva para destruir a hegemonia do poder teria que ficar separado de nossas relações com os seres que amamos, como poderia ser, nossos pais, amantes, filhos, etc. À medida que passam os anos, este tipo de afirmação cada vez me parece mais distante da minha realidade e da forma na qual entendo e pretendo levar a política.
 
Não vejo outra forma de construir e entender o que fazer político se não é com a necessária e nutritiva mistura de todas as arestas que confluem o desenvolvimento de cada indivíduo.
 
Neste sentido, misturando a vida íntima com “a política”, o que poderia ser mais íntimo que a dor ante a perda de alguém que saiu de tuas entranhas? Poderia existir uma dor maior que essa? Essa dor, talvez indescritível para os que não a viveram, Luisa Toledo a sofreu em cada um dos assassinatos de seus três filhos, e levou em seu coração até seu último pulsar.
 
Nessa imensa dor se transformou o amor que conseguiu forjar algumas das fundações para que muitos se levantassem contra os que enriquecem às custas da perpetuação do domínio.
 
Por isto, entre muitas outras coisas, Luisa Toledo é a mãe resiliente de Rafael, Pablo e Eduardo, e também é a companheira de dezenas de manifestações, é a voz firme e apaixonada capaz de entregar uma clara mensagem contra os poderosos, é quem se levantava solidarizando-se com os presos… Luisa Toledo foi, e sempre será parte da construção de toda uma ou várias gerações de jovens combatentes.
 
Com estas palavras aproveito para enviar uma afetuosa saudação à família Vergara Toledo.
 
Mónica Caballero S.
presa anarquista
inverno 2025
 
Tradução > Sol de Abril
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
A noite flutua
e as rosas dormem mimosas
aos beijos da lua.
 
Humberto del Maestro

Chamado para a 3ª Feira Anarquista da Baixada Santista

No dia 27 de julho de 2025, domingo, às 17 horas, a Cinemateca de Santos vai exibir o documentário “Alter Nativa” (Brasil, 2012), sobre a Feira Anarquista de São Paulo, além de outros vídeos curtos.
 
O evento contará ainda com um debate com membros do Núcleo de Estudos Libertários Carlo Aldegheri (NELCA), Biblioteca Terra Livre (BTL) e Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS-SP). Essa atividade será um chamado geral para a realização da 3ª Feira Anarquista da Baixada Santista, que acontecerá em setembro!
 
Data: 27 de julho de 2025 (Domingo), às 17 horas.
Local: Cinemateca de Santos
Endereço: Rua Min. Xavier de Toledo, 42, Campo Grande, Santos(SP)
 
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agência de notícias anarquistas-ana
 
chuva torrencial
sob a laje de concreto
um casal de pardais
 
Jorge Lescano

[Reino Unido] Élisée Reclus – Comunardo, geógrafo, vegetariano

Em 4 de julho de 1905, o anarquista francês Élisée Reclus morreu em Torhout, próximo a Bruges (Bélgica).
 
~ Maurice Schuhmann ~
 
Reclus, que dá nome a uma rua de Paris que conduz à Torre Eiffel, foi um dos propagandistas anarquistas mais conhecidos da França e, simultaneamente, um dos geógrafos mais importantes do país. Sua [Nouvelle] Géographie Universelle, escrita entre 1876 e 1894, é considerada um clássico fundacional da área, assim como sua obra póstuma L’Homme et la Terre.
 
Nascido em 15 de março de 1830 em Sainte-Foy-la-Grande (França), Jacques Élisée Reclus estudou em diversos lugares, incluindo Berlim no início da década de 1850, onde conheceu a obra de Max Stirner e estudou geologia. Foi também nesse período que entrou em contato pela primeira vez com ideias anarquistas, que moldariam profundamente seu pensamento e às quais ele contribuiria significativamente. Mais tarde, tornou-se cofundador da seção francesa da Primeira Internacional e manteve contatos com figuras como Mikhail Bakunin.
 
Quando a Comuna de Paris eclodiu, recusou um cargo político que lhe foi oferecido e participou ativamente na defesa militar do experimento social. Após o esmagamento da Comuna, foi exilado para a Nova Caledônia, como muitos de seus camaradas – incluindo Louise Michel, com quem mais tarde daria palestras. O exílio não o quebrou; pelo contrário.
 
Após retornar à Europa, cofundou na Suíça o jornal anarquista Le Révolté (1879–1885). Entre seus colaboradores estavam Piotr Kropotkin, que escreveu artigos importantes para a publicação, e Jean Grave. O jornal foi uma das publicações anarquistas mais influentes da Europa da época.
 
Foi também nesse período que Reclus tornou-se vegetariano por razões éticas. A partir de então, defendeu esse modo de vida – uma tarefa nada fácil, especialmente na França, onde estilos de vida vegetarianos ou veganos permaneceram marginalizados, mesmo em círculos anarquistas. Suas observações geográficas e sua afinidade com o naturismo fazem com que, às vezes, seja considerado – ao lado de Kropotkin – precursor do ecoanarquismo moderno.
 
Devido a suas pesquisas e postura decididamente antinacionalista, o pedagogo espanhol Francisco Ferrer entrou em contato com ele. Ferrer pediu que Reclus escrevesse livros de geografia para suas recém-fundadas Escolas Modernas. Eram manuais explicitamente antinacionalistas, livres do veneno chauvinista que caracterizava a maioria dos livros didáticos da época.
 
Por fim, Reclus estabeleceu-se na Bélgica. Em 1894, participou da fundação de uma universidade livre, a Université Nouvelle. Viveu e trabalhou no país vizinho da França até sua morte.
 
Fonte: https://freedomnews.org.uk/2025/07/04/elisee-reclus-communard-geographer-vegetarian/
 
Tradução > Liberto
 
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Manhã gelada —
Duas borboletas azuis
voam pelo jardim.
 
Guin Ga Eden

[EUA] “Anarquismo Significa Que Você Deveria Ser Livre.” Sobre a Literatura da Libertação

Ed Simon analisa a vida de Alexander Berkman, Anarquista, Aspirante a assassino e Luigi Mangione do século XIX

Por Ed Simon | 27/01/2025

Vestindo um terno cinza e uma gravata branca comprados na loja de departamentos Kaufmann Brothers e com um crachá com o pseudônimo “Simon Bachman”, aparentemente um agente de empregos de Nova York, o anarquista russo Alexander Berkman, de 25 anos, estava do lado de fora do Chronicle-Telegraph Building, em Pittsburgh, em um dia quente de verão de 1892. Ele estava esperando que o industrial Henry Clay Frick, presidente da recém-consolidada Carnegie Steel Corporation, voltasse de seu baralho cotidiano no Duquesne Club.

No bolso de Berkman havia um revólver calibre 38, de cano curto. No outro, um punhal de 30 centímetros. “A história do mundo está do meu lado”, murmurou o anarquista Kirilov, de Fyodor Dostoevsky, em Demônios, e sem dúvida Berkman compartilhava de sentimentos semelhantes.

Porém, Kirilov queria morrer pela irmandade dos homens, enquanto Berkman acreditava que tinha de matar pela mesma. O estudioso e franzino Berkman estava tão nervoso que esbarrou desajeitadamente em Frick quando o primeiro saiu do elevador, quase deixando cair seu revólver.

Assassinato não era algo natural para o estudioso Berkman, que argumentaria em seu livro Prison Memoirs of an Anarchist (Memórias de um anarquista na prisão), de 1912, que “a desumanidade do homem para com o homem não é a última palavra. A verdade é mais profunda. É a escravidão econômica… que transformou a humanidade em lobos e ovelhas”. O anarquista queria fazer de Frick um exemplo por causa da escravidão econômica. E assim o fez, de certa forma.

O anarquismo conta com uma variedade vertiginosa de vertentes. Anarco-comunismo, anarco-sindicalismo, anarco-coletivismo; mutualismo, individualismo, ilegalismo. Certamente estão comprometidas com a práxis – como o exemplo de Berkman deve mostrar – e os anarquistas tiveram sua parcela de sucesso político de curta duração, desde os poucos e inebriantes meses da Comuna de Paris em 1871 até a Makhnovshchina no sul da Ucrânia após a Primeira Guerra Mundial, a Chiapas contemporânea dos Zapatistas e os revolucionários Curdos em Rojava.

No entanto, em comparação com seus companheiros e adversários, os Marxistas-Leninistas, que no auge de seu poder governaram mais de um terço do globo, o anarquismo – pelo menos no mundo moderno – raramente foi tentado. Portanto, é necessário um certo impulso imaginativo, uma sensibilidade lírica, uma perspectiva literária.

Enquanto o comunista encontra a salvação no estado e o capitalista na corporação, o anarquista entende que a libertação é proporcionada por amigos e vizinhos, familiares e companheiros. Seja violento ou pacifista, “o anarquismo significa que você deveria ser livre”, escreve Berkman em seu charmoso título ABC do Anarchism, “que ninguém deveria escravizá-lo, mandar em você, roubá-lo ou impor-se a você”.

Some-se a isso o francês barbudo Pierre-Joseph Proudhon com sua invocação de que “propriedade privada é roubo”, Peter Kropotkin, que parece tanto um velho crente russo quanto um revolucionário profetizando que “neste exato instante os tiranos da terra morderão a poeira”, Mikhail Bakunin, que bradava com energia demoníaca que “a paixão pela destruição é uma paixão criativa”, a oradora lituano-americana Emma Goldman – amante de Berkman e uma teórica muito mais influente – dizendo que “se não posso dançar, não é minha revolução”.

O marxismo é uma ideologia para economistas, mas o anarquismo é para poetas – uma retórica estrondosa e denunciadora, escoriante e profana. Até mesmo Berkman sabia dizer uma frase, embora não com perfeita elegância – “Se o seu objetivo é garantir a liberdade, você deve aprender a viver sem autoridade” (um sentimento que não aproximou os anarquistas nem dos comunistas nem dos capitalistas).

Como indica o ódio de Berkman pela autoridade, os marxistas podem desprezar os capitalistas e os capitalistas o estado, mas o anarquismo possui a sabedoria de detestar ambos. Fiel à doutrina da “propaganda pelo ato”, no entanto, Berkman queria ir além da teoria e escrever seus poemas com uma arma.

Como Berkman estava preocupado com a possibilidade de perder sua coragem, ele não esperou que a recepcionista fizesse a falsa pergunta sobre “Simon Bachman”. Em vez disso, Berkman invadiu o escritório onde Frick estava sentado em uma cadeira de capitão de bordo vermelha, apontou o revólver e disparou. A bala ficou alojada no ombro de Frick.

Berkman disparou novamente, dessa vez atingindo o pescoço do alvo. Ao tentar dar o tiro fatal, Berkman foi agarrado por um assistente; os dois duelaram sobre a pesada mesa de carvalho e a arma disparou, quase quebrando o vidro da luminária de latão.

Do corredor, os funcionários viam as silhuetas da briga através das janelas foscas. Muitos chegaram bem a tempo de ver Berkman esfaquear Frick duas vezes na perna. Um ajudante do xerife tirou Berkman do meio do tumulto e, anos depois, ele se lembrou do rosto “cinza-acinzentado” de Frick e de como sua “barba preta…[estava] coberta de vermelho”.

Três tiros representaram um ato ínfimo de violência naquele verão. Menos de duas semanas antes, os Pinkertons abriram fogo contra trabalhadores siderúrgicos em greve em Homestead sob a ordem de Frick. Sete homens morreram. Se alguém merecia uma bala de um anarquista, esse alguém era Frick, mas Berkman esperava incitar uma revolução. Nesse aspecto, ele obviamente fracassou.

Uma multidão provocadora se reuniu na Fifth Avenue quando Berkman foi levado pela polícia, algo surpreendente em uma cidade onde Frick era amplamente odiado. Talvez eles estivessem apenas com raiva pelo fato de Berkman ter perdido. Se Frick tivesse sangrado em seu fino tapete oriental, talvez Alexander Berkman tivesse sido um Luigi Mangione do século XIX.

Antes que o vilão du jour do status quo fosse antifa, ou os Islâmicos, os comunistas ou os Marxistas-Leninistas, era o anarquista estrangeiro, de bigode, que jogava bombas. De acordo com a imprensa sensacionalista norteamericana, os anarquistas eram habitantes de rathskellers alemães que construíam bombas ou imigrantes italianos que estocavam armas, emigrantes siberianos que perfuravam trilhos de trem e sindicalistas de Chicago que incendiavam fábricas.

Não que a violência política fosse ficção, como demonstra o exemplo de Berkman. Acrescente a isso o assassinato do presidente William McKinley em 1901, o atentado a bomba contra o senador Thomas W. Hardwick, da Geórgia, em 1919, e o atentado a bomba em Wall Street em 1920, que tirou quarenta vidas.

Em resposta, ou melhor, usando a violência como desculpa, o Procurador Geral A. Mitchell Palmer iniciou as operações violentas que levariam seu nome, nas quais milhares de americanos foram presos e deportados, principalmente judeus e italianos. Berkman e Goldman estavam entre os exilados, destinados à recém-formada União Soviética, onde os bolcheviques não eram mais receptivos à política anti-hierárquica do que os capitalistas.

Em uma manhã fria de dezembro de 1919, Goldman e Berkman se amontoaram no convés do S.S. Buford enquanto a Estátua da Liberdade parecia cada vez menor, com o navio indo em direção à Rússia.

Esse foi o primeiro Red Scare dos Estados Unidos, quando suspeitos de serem anarquistas, socialistas, Marxistas e sindicalistas eram frequentemente processados e perseguidos com pouca justificativa. Esse foi o triste destino de Lazarus Averbuch, um emigrante Russo-Judeu de dezenove anos de idade, morto a tiros pelo chefe de polícia de Chicago em 1908 por ter ousado bater à porta do chefe de polícia (parece que o jovem apenas pensou que deveria pegar uma “carta de bom caráter” das autoridades, como o Czar esperava que os judeus fizessem).

Para encobrir a realidade do assassinato de Averbuch, a polícia e a imprensa antissemitas transformaram esse jovem sobrevivente do pogrom em um terrorista. Mais tarde, Averbuch foi homenageado no livro The Lazarus Project (O Projeto Lazarus), do escritor Bósnio-Americano Aleksandr Hemon, uma metaficção e um elogio, em que ele descreve como “os Estados Unidos estavam obcecados pelo anarquismo… oradores patrióticos se manifestavam contra os perigos pecaminosos da imigração desenfreada, contra os ataques à liberdade Americana e ao Cristianismo”.

Outro equívoco da justiça ocorreu doze anos depois, quando os anarquistas italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram executados por um assassinato em Massachusetts, do qual foram posteriormente inocentados. Sacco e Vanzetti se tornaram mártires do anarquismo e do sentimento pró-imigração (meu próprio avô italiano ajudou a arrecadar dinheiro em sua defesa), com John Dos Passos escrevendo como, após a cadeira elétrica, “suas vozes sopram de volta… cantando uma música / para estourar os tímpanos… Faça um poema disso, se tiver coragem!”

O terrorista niilista de um homem é o romântico combatente da liberdade de outro, e assim tem sido na literatura daqueles que foram esmagados pelo sistema e que se lançam em uma violência justa. William Godwin, o romancista inglês do século XVIII, nunca usou a palavra “anarquismo”, mas foi considerado um precursor por causa de seu romance antiaristocrático Caleb Williams, ou pelo tratado em que declarou que “Nenhum homem deve invadir minha província, nem eu a dele”.

Leo Tolstoy, que apesar de ser um conde, elaborou uma síntese do Cristianismo e do anarquismo, embora uma leitura superficial dos evangelhos demonstre que isso parece já ter sido feito por Cristo. Tolstói pregava que “não somos filhos de alguma pátria… mas somos filhos de Deus”, pois os “Anarquistas estão certos em tudo”.

George Orwell era um inglês, às vezes anarquista e às vezes socialista, que lutou com os republicanos na Guerra Civil Espanhola, apenas para aprender que as balas stalinistas destinadas aos fascistas, na maioria das vezes, atingiam seus camaradas, uma importante educação política, escrevendo em Homage to Catalonia que, independentemente do partidarismo, “quando vejo um trabalhador de carne e osso em conflito com seu inimigo natural, o policial, não preciso me perguntar de que lado estou”.

A teoria e o jornalismo podem ser úteis, mas o gênero vanguardista para imaginar um mundo diferente, contrário e alternativo é a ficção científica. A ficção especulativa é tanto o gênero mais radical quanto o mais reacionário, um laboratório para experimentar arranjos sociais alternativos. Para cada companheiro de viagem fascista como Robert Heinlein ou o reacionário Orson Scott Card, há um Samuel Delany, uma Octavia Butler, uma Ursula K. Le Guin – a fonte tanto da revolução quanto de seu oposto.

A série “The Culture Series”, do romancista escocês Iain M. Bank, com seu relato de uma civilização galáctica pós-escassez; Walkaway, do filósofo canadense Corey Doctorow, em que sobreviventes pós-apocalípticos constroem uma sociedade baseada na prosperidade humana; The Dispossessed: An Ambiguous Utopia (Os Despossuídos), de Le Guin, em que uma sociedade interestelar é anarco-sindicalista. Ao invés de um cenário infernal cyberpunk ou de um cenário de saúde pós-nuclear destruído, de um apocalipse zumbi ou de um pesadelo capitalista digital, a ficção científica anarquista fornece o léxico para um futuro mais esperançoso.

Butler, que não se descreve como anarquista, explora temas semelhantes em Parable of the Sower (Parábola do Semeador). Escrita em 1993, Parable of the Sower e sua sequência prevêem um distante e distópico 2024. A adolescente Lauren Oya Olamina vive em uma Califórnia devastada pelo crime e por incêndios florestais; os Estados Unidos estão prestes a eleger um fascista cujo lema é “Make America Great Again”.

Nesse estado Hobbesiano, a hiperempatia de Lauren alimenta uma nova ideologia chamada Earthseed, dedicada à solidariedade. Como os meios tradicionais de estruturar uma comunidade falharam, ela e seus vizinhos precisam forjar a sua própria comunidade. “Percebo que não sei muito”, escreve ela. “Nenhum de nós sabe muito. Mas todos nós podemos aprender mais. Então, podemos ensinar uns aos outros.”

A essência da coisa toda – nenhum de nós sabe muito; podemos ensinar uns aos outros. Não se trata de um pistoleiro solitário galopando pela paisagem devastada ou de um mercenário corporativo perseguindo um inimigo, mas de Lauren que organiza sua comunidade à medida que eles partem. Não o rifle de Pinkerton ou o revólver de Berkman, mas a mão de seu vizinho.

O antropólogo radical David Graeber, que com a perspicácia de um poeta da Madison Avenue cunhou o lema da #Occupy “Nós somos os 99%”, escreveu em “Are You Anarchist? The Answer May Surprise You!” (Você é Anarquista? A Resposta Pode te Surpreender!) que, embora “Muitas pessoas pareçam pensar que os anarquistas são defensores da violência, do caos e da destruição”, eles são, na maioria das vezes, “simplesmente pessoas que acreditam que os seres humanos são capazes de se comportar de maneira razoável sem precisarem ser forçados a isso”.

Quando se trata de ajuda externa, a Califórnia de Butler é indistinguível da real, onde sua casa pode pegar fogo, mas os hotéis lhe hospedarão (com desconto), ou onde verbas federais podem ajudar na reconstrução (pelo menos até 20 de janeiro). Em sua essência, o que a literatura do anarquismo sempre pressupôs é que não podemos contar com o estado e que não podemos contar com os oligarcas – mas não estamos sozinhos. Temos uns aos outros, o que é mais do que suficiente.

Fonte: https://lithub.com/anarchism-means-that-you-should-be-free-on-the-literature-of-liberation/

Tradução > acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Frio leve de outono…
A passarada se recolhe
antes do pôr-do-sol!

Irene Fuke

[Nova Zelândia] Repreensão e Resistência: O Protesto de Te Pāti Māori, o Abstencionismo e o Caminho para a Soberania Indígena

Em novembro de 2024, o Parlamento da Nova Zelândia tornou-se palco de um ato histórico de desafio quando parlamentares do Te Pāti Māori realizaram uma haka durante a primeira leitura do projeto de lei sobre os Princípios do Tratado. Esse protesto cultural, que resultou em severas suspensões, reacendeu debates sobre a legitimidade das instituições coloniais e a eficácia da participação indígena dentro delas. Esta análise examina o incidente sob duas perspectivas: a estratégia comparativa do abstencionismo (como a utilizada pelo Sinn Féin) e uma crítica anarcocomunista ao poder estatal. Ambas convergem em uma questão central: Te Pāti Māori deveria rejeitar o engajamento parlamentar para priorizar a soberania indígena e formas alternativas de governança?

O Projeto dos Princípios do Tratado: Continuidade Colonial e Resistência

O projeto de lei, apresentado pelo Partido ACT, buscava redefinir os princípios fundamentais do Tratado de Waitangi, o acordo de 1840 entre chefes Māori e a Coroa Britânica. Críticos argumentaram que o projeto desmantelava décadas de avanços nos direitos Māori, substituindo a parceria e a autodeterminação por uma visão homogeneizada de “cidadania igualitária”. A proposta gerou indignação nacional, culminando em um hīkoi (marcha de protesto) de nove dias que reuniu mais de 42 mil pessoas em Wellington, uma das maiores manifestações da história da Nova Zelândia.

Durante a primeira leitura do projeto, parlamentares do Te Pāti Māori realizaram a haka “Ka Mate”, uma dança tradicional Māori que simboliza resistência. A deputada Hana-Rawhiti Maipi-Clarke rasgou uma cópia do projeto, chamando-o de traição aos direitos indígenas. O presidente da Casa considerou o protesto “gravemente desordeiro”, suspendendo os co-líderes Rawiri Waititi e Debbie Ngarewa-Packer por 21 dias e Maipi-Clarke por sete dias, as punições mais severas já aplicadas a parlamentares em exercício.

Decoro Parlamentar vs. Tikanga Māori: Choque de Mundos

O protesto evidenciou as tensões entre as regras parlamentares e o tikanga Māori (costumes Māori). Enquanto o Parlamento impõe normas rígidas de procedimento, a expressão política Māori valoriza tradições orais, debates comunitários e atos simbólicos como a haka. Críticos condenaram as suspensões como formas de silenciamento da voz indígena, revelando desigualdades sistêmicas dentro de uma instituição colonial.

Helmut Modlik, diretor executivo da iwi Ngāti Toa, defendeu a haka como uma expressão legítima de dissidência, argumentando que o Parlamento só existe porque os chefes Māori permitiram sua criação. Da mesma forma, Waititi afirmou que haka e waiata (canções) são inseparáveis do discurso político Māori. Ainda assim, o Comitê de Privilégios classificou o protesto como “intimidador”, revelando a recusa do Estado em acomodar formas indígenas de resistência.

Abstencionismo: O Legado do Sinn Féin e a Crítica Anarcocomunista

O episódio reacende a questão da viabilidade do abstencionismo, estratégia usada historicamente pelo Sinn Féin, que recusava assentos no Parlamento britânico como forma de rejeição à autoridade inglesa sobre a Irlanda do Norte e afirmação da soberania irlandesa. Para o Te Pāti Māori, essa abordagem poderia simbolizar a rejeição de um sistema colonial que marginaliza os direitos Māori.

Sob a ótica anarcocomunista, os sistemas parlamentares são inerentemente opressores, servindo aos interesses do capital e da colonização. Pensadores como Rudolf Rocker e François Dumartheray sustentavam que instituições estatais cooptam a dissidência, sendo necessário construir estruturas alternativas baseadas em ajuda mútua e democracia direta. O protesto do Te Pāti Māori revela os limites de buscar justiça dentro de um arcabouço construído para manter hierarquias coloniais.

Críticos do abstencionismo alertam para os riscos de se abrir mão de uma influência política arduamente conquistada. Abandonar o Parlamento significaria renunciar à defesa legislativa direta, potencialmente deixando os direitos Māori ainda mais expostos a propostas como a dos Princípios do Tratado. A ausência no debate nacional também pode marginalizar perspectivas indígenas e enfraquecer alianças. Além disso, o abstencionismo pode ser mal interpretado por eleitores não-Māori, parecendo divisivo em vez de uma escolha ética e política, dificultando a construção de solidariedades interétnicas. Embora o poder simbólico da recusa seja inegável, suas consequências práticas, sobretudo num sistema em que a representação Māori é frágil, exigem reflexão cuidadosa.

Entretanto, defensores do abstencionismo argumentam que recusar o engajamento parlamentar é um ato radical e necessário de soberania. Rejeitar a participação em instituições que suprimem a expressão indígena, como a punição à haka do Te Pāti Māori, desafia a legitimidade de um sistema colonial hostil aos direitos Māori. Essa postura se alinha com a luta mais ampla pela autodeterminação Māori, evitando os compromissos impostos pela política colonial, que frequentemente dilui as demandas indígenas em reformas moderadas. Ademais, o abstencionismo pode impulsionar a mobilização de base, como ocorreu com o Sinn Féin na Irlanda do Norte, cuja recusa em legitimar o domínio britânico fortaleceu o apoio popular. A teoria anarcocomunista reforça essa via, ao propor a criação de instituições autônomas lideradas por Māori, como sistemas educacionais e de saúde geridos por iwi, fora do controle estatal. Essas estruturas de poder dual resistem à assimilação e materializam a soberania indígena na prática, enraizadas no tikanga Māori, e não em hierarquias coloniais.

Construindo Alternativas: Poder Dual e Autonomia Indígena

O pensamento anarcocomunista enfatiza o poder dual, a construção de sistemas autônomos paralelos ao Estado. Em Aotearoa, isso converge com as tradições Māori de governança por hapū (sub-tribos) e iwi (tribos), que priorizam o bem-estar coletivo em oposição ao individualismo liberal.

Fortalecendo estruturas autônomas nas áreas de educação, saúde e manejo ambiental lideradas por Māori, comunidades podem recuperar sua autonomia e resistir à assimilação. Esses esforços espelham a estratégia do Sinn Féin de construir instituições alternativas, demonstrando que a libertação não está em reformar sistemas opressores, mas em superá-los.

Conclusão

O protesto do Te Pāti Māori e a resposta punitiva que provocou expõem as bases coloniais do sistema parlamentar da Nova Zelândia. O abstencionismo surge como uma estratégia potente, não apenas como rejeição simbólica das instituições coloniais, mas como afirmação radical da soberania indígena. Embora críticos alertem para riscos como perda de influência legislativa e incompreensão pública, os limites da participação em um sistema desenhado para marginalizar vozes Māori não podem ser ignorados.

Ao se retirar do Parlamento, o Te Pāti Māori poderia redirecionar suas energias para construir estruturas de poder dual, educação, saúde e governança lideradas por Māori e baseadas no tikanga, priorizando a autonomia em vez da assimilação. Isso fortalece comunidades Māori contra a cooptação estatal, permitindo que retomem o controle de seus destinos.

Os riscos percebidos de marginalização empalidecem diante do potencial de cultivar, desde a base, uma soberania indígena real. A verdadeira libertação não reside em buscar validação de sistemas opressores, mas em criar alternativas que incorporem valores Māori. O abstencionismo, portanto, não é rendição, é um ato revolucionário de recusa, uma declaração de que os Māori não mais legitimarão a ordem colonial. Ao adotar esse caminho, o Te Pāti Māori pode inspirar um movimento transformador, demonstrando que o futuro de Aotearoa não está em reformar instituições falidas, mas em construir algo novo.

Fonte: https://awsm4u.noblogs.org/post/2025/05/17/rebuke-and-resistance-te-pati-maoris-protest-abstentionism-and-the-path-to-indigenous-sovereignty/  

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Na fria vidraça,
pinta colorida imagem —
Borboleta de inverno.

Alberto Murata