Governo Lula 3 promove “Operação Atlas 2025”, o maior exercício militar do país em décadas

A Operação Atlas 2025 reúne mais de 30 mil militares das Forças Armadas Brasileiras em deslocamento estratégico para Boa Vista, capital de Roraima, entre setembro e outubro, em uma das maiores mobilizações militares recentes no país. O exercício envolve Exército, Marinha e Força Aérea em ações conjuntas para “reforçar a soberania nacional na região amazônica”, que faz fronteira com a Venezuela e a Guiana.

O planejamento da Operação Atlas começou em 30 de junho, com foco na coordenação de ações integradas, protocolos de comando e controle, além de rotas logísticas para o transporte de tropas e equipamentos.

Entre 27 de setembro e 11 de outubro ocorre a segunda fase, marcada pelo ápice do deslocamento estratégico, com concentração de meios militares em Manaus e Boa Vista. Nesse período, estão sendo movimentados blindados, viaturas, navios e aeronaves em um esforço logístico de grande porte.

Conforme divulgado pelo Ministério da Defesa, a operação utiliza modais terrestre, aéreo, marítimo e fluvial, reforçando a capacidade de mobilidade estratégica em um dos ambientes mais desafiadores do país.

Forças mobilizadas e equipamentos

O Exército Brasileiro desloca obuseiros M-109 A5, sistemas ASTROS de foguetes e mísseis, carros de combate Leopard 1A5, blindados Guarani 6×6 e mísseis anticarro Spike LR e MAX 1.2 AC, além de tropas de engenharia com pontes modulares.

A Marinha do Brasil participa com dois mil militares, mais de 100 viaturas especializadas, navios-patrulha fluviais e oito helicópteros, além do navio de desembarque Almirante Saboia, responsável por transportar viaturas da Brigada de Infantaria Paraquedista.

No ar, a Força Aérea emprega caças F-5EM/FM Tiger II, aeronaves A-29 Super Tucano, turboélices de ataque, aeronaves de transporte KC-390 Millennium, C-105 Amazonas, helicópteros H-60L e aeronaves AEW&C Guardião, ampliando a projeção de poder aéreo na região.

Execução e encerramento

Em paralelo ao deslocamento, a chamada Simulação Viva ocorre no Amazonas, Pará, Amapá e Roraima, testando a interoperabilidade entre as três forças. A última fase será realizada em outubro, com concentração das atividades no entorno de Boa Vista.

O exercício será encerrado no início de novembro, após a execução de manobras táticas integradas, emprego de munição real e desmobilização dos efetivos. A operação destaca a “importância da Amazônia como espaço estratégico de defesa, logística e mobilidade”.

Segundo comunicado oficial, a “Operação Atlas busca avaliar a prontidão das tropas e garantir a capacidade de atuação em um ambiente geopolítico de alta complexidade”. O Ministério da Defesa ressalta que a “manobra reforça a soberania brasileira e a proteção dos interesses nacionais”.

Fonte: agências de notícias

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sopra o vento
sento em silêncio
sentir é lento

Alexandre Brito

Rebelião popular no Nepal

Onda de protestos provocou a morte de pelo menos 25 pessoas. Jovens entraram em confronto com a polícia, além de incendiarem prédios governamentais e casas de ministros. Governo recuou em relação às redes sociais e instituiu toque de recolher.

Os protestos em massa no Nepal, e especialmente na capital, Katmandu, podem, segundo a mídia tradicional, ser resultado de um bloqueio das redes sociais, mas isso é apenas o pretexto. O estado nepalês é governado por um primeiro-ministro comunista, KP Sharma Oli, líder do Partido Comunista do Nepal (Marxista-Leninista Unificado – CPN-UML), em aliança com o Partido do Congresso Nepalês, de centro-esquerda. KP Sharma Oli renunciou após pelo menos 25 pessoas terem sido mortas pela polícia durante protestos.

A gestão do estado comunista

O país é caracterizado por profunda corrupção, nepotismo e pobreza, que afetam particularmente os jovens. Por isso, muitos se referem a uma revolta da “Geração Z”. Desde 2008, quando a monarquia foi abolida no Nepal, mais de 12 governos assumiram o poder.

A desigualdade social é um dos principais pontos de descontentamento dos jovens nepaleses que levaram milhares de pessoas às ruas. Os manifestantes acusam os governantes de usar fundos públicos em luxos, enquanto eles próprios lutam contra a pobreza todos os dias.

Os distúrbios já deixaram pelo menos 25 mortos e centenas de feridos e de pessoas detidas. Manifestantes invadiram e incendiaram o prédio do parlamento, dançando e entoando slogans enquanto as chamas se alastravam. O Supremo Tribunal também foi incendiado em Katmandu. Parte do Singha Durbar (um complexo de escritórios do governo) foi danificada pelo fogo, juntamente com outros prédios governamentais. Em outro incidente, manifestantes incendiaram escritórios do partido, incluindo o do Congresso Nepalês (o maior partido), a sede do Partido Comunista (onde os manifestantes retiraram e queimaram bandeiras) e outros escritórios do partido no poder em Katmandu e Janakpur.

Muitas residências de líderes políticos também foram alvos, incluindo a do Primeiro-Ministro, onde foram invadidas e incendiadas. A casa do Presidente Ram Chandra Paudel, em Katmandu, também foi incendiada, assim como a casa de Sher Bahadur Deuba (líder do Congresso Nepalês). A casa do ex-Primeiro-Ministro Jhalanath Khanal foi incendiada, e sua esposa, Rajyalaxmi Chitrakar, foi queimada viva, presa lá dentro. Ministros foram evacuados em helicópteros do Exército e levados para um quartel militar após o assalto às suas casas. Por fim, muitas outras casas de ministros e ex-primeiros-ministros também foram incendiadas.

Ataques incendiários também se espalharam para escritórios de mídia e delegacias de polícia.

Há relatos de ataques a ministros e políticos, como manifestantes rasgando roupas e perseguindo o ministro das Finanças pelas ruas e até dentro de um rio.

Apesar do fim da proibição das redes sociais, da renúncia do primeiro-ministro, da tomada de controle pelos militares e do aeroporto fechado, a agitação está aumentando.

“Todo cidadão do Nepal já estava farto do governo corrupto do Nepal. A raiva contra este governo vinha se acumulando há muitos meses, mas o chamado para este protesto foi muito espontâneo”, afirmou um ativista à imprensa local.

agência de notícias anarquistas-ana

Fábrica de nuvens:
operários moldam chuva
para lavar o ódio.

Liberto Herrera

[França] Duas escolas particulares de Caen são alvo de pichações antimilitaristas e anarquistas

Nesta semana, de volta às aulas, duas escolas particulares de Caen, França, que oferecem a opção “aula de defesa”, receberam uma visita.

A imprensa local noticiou pichações anarquistas na Institution Sainte-Marie, descobertas na manhã de segunda-feira (01/09), dia do retorno às aulas. Na fachada da escola (ensino fundamental e médio) podia-se ler as inscrições “Não às aulas de defesa” e “Nem deus nem mestre”. Mais adiante, na rua, também estava escrito “Abaixo todas as forças armadas”.

Outra instituição privada recebeu uma visita durante a semana, a Institution Saint-Joseph (jardim de infância, ensino fundamental e médio), que também oferece a opção “aula de defesa”, tendo sua fachada coberta com inscrições como “Não às aulas de defesa”, “Guerra à guerra” e “Nem deus nem mestre”. Desde o início do ano letivo de 2025, os alunos do ensino médio podem seguir um curso de “defesa” em uma turma de 29 alunos do 3º ano, em parceria com o exército francês.

O dispositivo pedagógico “classe de defesa” foi implementado pelo trinômio acadêmico composto pelo Ministério da Educação, as Forças Armadas e o Instituto de Altos Estudos de Defesa Nacional (Institut des Hautes Études de Défense National, IHEDN). Por iniciativa de uma instituição escolar, esse projeto permite que turmas do ensino fundamental e médio sejam patrocinadas por uma entidade do Ministério das Forças Armadas. O objetivo é contribuir para o desenvolvimento do espírito e do engajamento cidadão por meio de diversas ações: intercâmbios, atividades, encontros.”

Essas aulas de “defesa e segurança global” (Défense et de Sécurité Globales, CDSG) são uma iniciativa do Estado de promover as forças de segurança entre os jovens. Na falta de restabelecer o serviço militar obrigatório ou ampliar o Serviço Nacional Universal (SNU), o Estado militariza as consciências, desde o ensino fundamental, com a multiplicação dessas aulas. Ao longo do ano, os alunos, cuja turma é patrocinada por um órgão do exército, são levados a encontrar militares, visitar instalações e integrar valores nacionais. Uma preparação ideológica de escolha para levar esses jovens a optar por ingressar no exército logo após o ensino fundamental ou médio.

Havia, na França, mais de 1.000 turmas desse tipo no primeiro trimestre de 2025. De acordo com o Ministério da Educação Nacional, “as CDSG são uma prioridade ministerial, cujo objetivo é, em curto prazo, dobrar o número e cobrir todo o território nacional”.

Em Caen, não são só os padres quem insere essa formação patriótica. O colégio Jean Monod também oferece a opção de aula de defesa aos seus alunos do 3º ano: “Esse projeto consiste em momentos de encontro e intercâmbio entre os alunos e os parceiros externos. Essa parceria pode ser feita com uma unidade militar (regimento do exército, base aérea ou naval, navio de guerra…), uma unidade da polícia militar (gendarmerie) ou ainda um agente de segurança (polícia civil, bombeiros, defesa civil, alfândega…). Este ano, os alunos do 3º ano trabalharam com a Escola Militar de Saumur e visitaram Saumur. Eles também mantiveram contato com o Quartier Lorges de Caen. No final do ano letivo, os alunos do 3º ano, que quisessem, visitaram todas as turmas do 4º ano para apresentar a “classe de defesa” aos seus colegas. A opção é oferecida a um grupo de 24 alunos de todas as turmas do 3º ano, e os alunos que participam se comprometem a frequentá-la durante todo o ano letivo. Além disso, como todas as opções, ela “rende” 10 pontos a mais no Brevet des Collèges (certificado de conclusão do ensino fundamental) se o aluno for “Aprovado” e 20 pontos se for “Aprovado com distinção”.

Fonte: https://trognon.info/Deux-ecoles-privees-caennaisses-visees-par-des-tags-anti-militaristes-et-708

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Viagem de anciões,
Cabelos brancos, bastões
– visita aos túmulos.

Matsuo Bashô

[Alemanha] Convergência e Feira do Livro Anarquista Berlim 2025

Convite para o ACABB 2025

07 a 09 de novembro de 2025

Mehringhof (Gneisenaustr. 2A, 10961 Berlim)

Se acompanhamos os acontecimentos mundiais com os olhos abertos, surge a pergunta: por que nós, anarquistas, nossas ideias e métodos, estamos tão socialmente irrelevantes neste momento da história?

As guerras em curso e a variedade de crises globais evidenciam cada vez mais a incapacidade dos que estão no poder de oferecer soluções reais. Se a melhor resposta deles é semear o medo e nos recrutar como carne de canhão e operadores de drones, então a situação atual exige respostas revolucionárias de baixo. O que temos a propor?

De 7 a 9 de novembro, queremos nos reunir no Mehringhof, em Kreuzberg (Berlim), para nos conhecer, compartilhar nossas diferentes realidades e trocar ideias. Nos reunimos não apenas para reagir aos novos fracassos do Estado e do sistema capitalista, mas também para desenvolver nossas próprias respostas de longo prazo e construir redes e estruturas resilientes, baseadas na ajuda mútua e na vida comunitária, bem como numa postura antiautoritária, não reformista e antagonista.

O encontro se entende como um espaço experimental de auto-organização, com a co-criação de todas as pessoas participantes. Como grupo que inicia a proposta, organizamos o espaço e um certo enquadramento (alimentação, pré-seleção de atividades, cronograma…), que pode então ser preenchido por todas que comparecerem. Haverá possibilidade de realizar várias atividades simultaneamente.

Se isso te interessa, te convidamos a trazer propostas em forma de palestras, discussões, oficinas, filmes e outras contribuições artísticas sobre os seguintes temas:

  • Guerra, genocídio e mobilização militar
  • Movimentos decoloniais (ex.: Palestina, Sudão, Congo)
  • Avanço da direita e fascistização social
  • Destruição da Terra
  • Crítica à tecnologia (ex.: IA e afins)
  • Autonomia em saúde
  • Feminismo (especialmente dinâmicas patriarcais no movimento anarquista)

Se houver outros temas próximos ao seu coração, também é possível trazê-los.

Todas estão convidadas a contribuir com suas experiências práticas em (auto-) organização. Contribuições históricas e teóricas também são bem-vindas, desde que se concentrem em alimentar a prática e fortalecer conexões com as lutas atuais.

Por um lado, buscamos facilitar a troca internacional e a circulação de saberes, então relatórios e desdobramentos de discussões de encontros anarquistas anteriores são fortemente encorajados. Haverá tradução entre alemão e inglês, e convidamos falantes de outros idiomas a se voluntariar como intérpretes também.

Por outro lado, com esta convergência, esperamos fortalecer as relações entre círculos e indivíduos anarquistas em Berlim, que felizmente são muitos, mas que muitas vezes existem lado a lado sem grande intercâmbio entre si.

Entre em contato caso você:

  • tenha propostas de atividades
  • possa traduzir durante o encontro
  • queira desenhar/criar um cartaz (seria bom ter vários)
  • possa oferecer lugar para dormir
  • queira apoiar de outras formas

Aqui estão os formulários para facilitar o envio da sua proposta: https://acabb.noblogs.org/participation/

Aguardamos suas contribuições. Por favor, compartilhe e traduza este chamado. Até breve!

Contato: acabbⒶriseup.net

Blog: acabb.noblogs.org

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

Perdida na noite.
Na trilha dos vaga-lumes
busco o meu caminho.

Zuleika dos Reis

Panorama do movimento libertário na França

Por Jean-Louis Phan-Van

Em que ponto está o movimento libertário na França? Vamos procurar dizê-lo, sem ideias-feitas.

Para começar, evoquemos as organizações específicas nacionais, começando pela mais antiga, a Fédération Anarchiste, que agrupa algumas centenas de militantes. Possui vários locais de acesso público entre os quais a famosa livraria ‘Publico’, local de passagem para camaradas estrangeiros, edita o mensário Le Monde Libertaire e gere a ‘Radio Libertaire’. Em seguida, existem duas organizações de tendência comunista libertária: a UCL (Union Communiste Libertaire) sem dúvida com um número de militantes semelhante, que edita também um jornal mensal, Alternative Libertaire.

Finalmente, existe a OCL (Organisation Communiste Libertaire), a mais pequena, apenas com algumas dezenas de militantes e que edita um mensário anarquista-comunista: Courant Alternatif.

Mas existem também grupos anarquistas não federados, que animam um local público ou uma publicação, de que são exemplos o Grupo Jules Durant, no Havre, ou a Biblioteca ‘Libertad’ em Paris.

É preciso também não esquecer os sindicatos CNT (Confédération National du Travail): a CNT-AIT, a CNT-F e a CNT-SO, que são mais ou menos anarquistas. Note-se, contudo, que só a CNT-SO se encontra realmente implantada num sector trabalhador, o da limpeza, onde conduz greves longas e duras. Há ainda outros sindicalistas libertários, que atuam mais frequentemente nos sindicatos SUD, mas também na CGT e alguns na FO.

Encontramos também libertários muito envolvidos na luta antifascista, sendo as nossas livrarias frequentemente alvos dos fascistas. E não esqueçamos a existência de Casse-rôles, jornal feminista e libertário, que já vai no nº 32.

Finalmente, no que toca ao ativismo dos libertários, eles estão presentes em todas as lutas ecologistas, que são numerosas. Assinala-se a presença de bandeiras negras ou vermelho-negras, ou ainda verdes, nas concentrações ou nas ZAD (Zone À Défendre – contra a instalação de indústrias agressivas do ambiente) que nascem conforme as lutas efémeras ou prolongadas, com a presença de ativistas jovens que correm de luta em luta.

Além disto, tem-se notado de há certo tempo para cá algum investimento de anarquistas na compra ou aluguer de lojas em diversas cidades da França, como aconteceu em Lyon, Metz, Saint-Nazaire, Marseille, Laon, Paris, Rennes, Lorient, etc. Existem também dois CIRA (Centre International de Recherches sur l’Anarchisme) no país: em Marseille e Limoges. Outras bibliotecas ‘anarcas’ ou centros de arquivos também existem, como acontece em Toulouse (CRAS) ou em Montpellier (Ascaso-Durruti).

A presença de uma influência anarquista na França é também detectável através da edição livreira que, nos últimos anos, registrou uma evolução notável e visível. Existem diversos editores: os Ateliers de Création Libertaire, Acratie, L’Échappée, Nada, Éditions Libertaires, Noir et Rouge, etc., cujos livros se podem encontrar em quase todas as livrarias da França. A isto deve ainda acrescentar-se a edição de autores anarquistas antigos ou contemporâneos pelas casas editoras clássicas.

Um último indicador – mas apenas referente a Paris – é a manifestação autónoma dos libertários em cada Primeiro de Maio, que junta sempre cerca de mil manifestantes, e às vezes mais, conforme os temas da atualidade.

Em conclusão, podemos dizer que os anarquistas mantêm-se sempre presentes, embora dispersos por várias capelinhas, geralmente locais. São hoje claramente menos federados nacionalmente mas estão presentes em todos os movimentos sociais que sacodem regularmente a sociedade francesa e cujas reivindicações sociais e a democracia direta só podem agradar-nos.

Fonte: https://aideiablog.wordpress.com/2025/09/06/panorama-do-movimento-libertario-em-franca-por-jean-louis-phan-van/

agência de notícias anarquistas-ana

noite gelada –
a criança ajeita o gato
nos pés descalços

Rosa Clement

[Itália] Vamos deter o genocídio em Gaza | Vamos bloquear a guerra | Vamos parar com tudo

Os poderosos e os governos querem transformar o mundo em uma grande extensão de escombros e mortos. Todos estão de olho em Gaza porque Gaza representa o mundo. Porque o que vemos hoje na Palestina mostra claramente até onde a máquina militar do Estado e do capital pode chegar para afirmar seu domínio, varrendo populações inteiras.

Por isso, a Federação Anarquista Livornesa apoiará iniciativas de greve imediata e mobilização cidadã que venham a ser realizadas caso a Global Sumud Flottilla seja impedida de levar sua carga de ajuda alimentar e humanitária a Gaza.

Somente com a luta unitária e auto-organizada, autônoma de burocracias sindicais e secretarias de partido, podemos alcançar objetivos concretos na oposição à guerra e na solidariedade internacional.

Federação Anarquista Livornesa

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

sol e margaridas
conversa clara
na janela da sala

Alonso Alvarez

[Espanha] Barcelona: Evento solidário com anarquistas da Indonésia

CSOA La Revoltosa
c/Rogent 82 (M: Clot)

Sexta-feira, 12 de setembro

19h30

Em uma nova onda de revoltas, após dias de marchas, distúrbios e ataques a símbolos do poder político no arquipélago dominado pelo Estado da Indonésia, xs companheirxs da Hitam Palang Anarkis (Cruz Negra Anarquista) nos enviam um apelo urgente à solidariedade.

O governo e sua polícia, com o apoio de seus lacaios na imprensa, iniciaram uma caçada anti-anarquista, responsabilizando e, consequentemente, perseguindo companheirxs do território pelos eventos ocorridos recentemente.

Especificamente, solicita-se apoio financeiro para cobrir despesas e custos dos companheirxs que foram presos ou que, apontados pelo Estado, tiveram que seguir o caminho da clandestinidade.

QUE A SOLIDARIEDADE ANARQUISTA ULTRAPASSE AS FRONTEIRAS

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Longe um trinado.
O rouxinol não sabe
que te consola.

Jorge Luis Borges

[EUA] Zines não são um crime!: Libertem Des Revol

Chamada para apoiar Des Revol em Dallas-Fort Worth, TX. Para mais informações, siga os links.

Des Revol, tatuador, pessoa não-branca anarquista, imigrante e uma pessoa querida por todos, está atualmente enfrentando acusações graves relacionadas a um caso maior de repressão política em Dallas-Fort Worth, Texas. Mas Des não é apenas uma vítima de perseguição política fabricada: ele é um artista e amigo amado, que adora experimentar novas receitas veganas, mergulhar em livros, olhar para filhotes de gambás (e às vezes acolhê-los temporariamente) e passar tempo com pessoas queridas. Como vegano de longa data, dedicado à libertação animal, a solidariedade com não-humanos aparece em grande parte da arte de Des, incluindo suas representações divertidas de guaxinins, gatos e outros bichos. Essa solidariedade profunda se estende a tudo: Des é um irmão, filho e amigo amoroso; um sonhador de espírito livre que cuida de todos e de tudo ao seu redor. Agora, preso em uma penitenciária federal, Des continua praticando solidariedade ao desenhar ilustrações para que outros detentos enviem às suas famílias.

Des faz um pozole vegano incrível. A primeira vez que o conheci, ele estava cozinhando na cozinha e literalmente explodiu pimenta vermelha em todo o apartamento novinho em folha, kkk!

– Kourtney

Des fez minhas cinco primeiras tatuagens. Ele é o único artista em quem confio, por seu jeito acolhedor e tranquilo. Sempre se lembrava de mim, apesar da agenda cheia. A cada sessão, tínhamos conversas leves, quase sempre sobre o amor dele por gambás, haha. É uma das melhores pessoas que já conheci. Minha mãe também foi tatuada por ele. Ele sempre foi uma inspiração para nós.

– Emma Grace

Quando conheci Des, estávamos num lugar que parecia o meio do nada. Mas sua presença era calorosa, gentil e aberta. O sorriso dele iluminava o ambiente, tão forte que ainda consigo senti-lo. Lembro da sua bondade, que se expressava de várias formas, oferecendo tatuagens belíssimas com paciência e cuidado, compartilhando risadas, histórias e sua arte. E sempre ouvindo com presença real. Quando penso na expressão “guardar espaço”, lembro de Des. É um dos seus muitos dons. Sentar ao lado dele era como receber um abraço quente.

– Sayyida

Eu só quero todos os gatinhos e donuts veganos.

– Des

Contexto

Em 4 de julho de 2025, cerca de uma dúzia de pessoas se reuniu do lado de fora do ICE Prairieland Detention Center, em Alvarado (Texas), para um protesto barulhento em solidariedade com imigrantes e detidos do ICE. Em algum momento, teria ocorrido uma altercação, após a qual um policial alegou ter sofrido um ferimento leve. Dez pessoas foram presas, e a polícia estadual e federal os acusou de terrorismo e tentativa de homicídio. Desde então, outras sete pessoas foram presas em conexão com o caso. A polícia também passou a aterrorizar amigos e familiares dos detidos, executando mandados de invasão sem aviso, realizando batidas domiciliares e intensificando a vigilância.

Des não estava nesse protesto. Em 6 de julho, após receber uma ligação de sua esposa da prisão (uma das dez presas inicialmente), ele foi seguido e preso pelo FBI em Denton, Texas, sob o pretexto inicial de uma infração de trânsito. Depois, foi acusado de adulteração de provas e obstrução de justiça relacionadas aos réus de Prairieland. A acusação se baseou em uma caixa de zines que ele supostamente transportava em sua caminhonete, zines que poderiam ser encontrados em qualquer casa coletiva ou infoshop. Des foi detido brevemente na Cadeia do Condado de Johnson, mas logo transferido para a prisão federal FMC Fort Worth.

Ele também está sob custódia do ICE e foi publicamente alvo de ataques e exposição nas redes sociais, tanto por fascistas conhecidos quanto pelo próprio ICE. Logo após sua prisão, o FBI fez uma invasão brutal e intimidadora de nove horas em sua casa. A polícia confiscou desde eletrônicos até adesivos e mais zines.

Embora Des não esteja sendo processado junto aos outros réus de Prairieland, suas acusações estão ligadas às deles. Ele é citado em todas as acusações dos outros como suposto responsável por adulteração de provas, e o estado incluiu uma foto da caixa de zines como prova. Mas o processo dele será separado, e ele pode ser o único réu em risco direto de deportação pelo ICE.

De fato, Des não corre apenas o risco de uma longa sentença em prisão federal, o que já seria grave o suficiente. Mesmo que seja solto, ele corre perigo de ser sequestrado pelo ICE e/ou atacado por fascistas.

A forma como o governo federal está enquadrando o caso deve nos preocupar a todos. Trata-se de uma tentativa mal disfarçada de criminalizar a resistência, seja em atos ou em ideias. A criminalização da dissidência, junto da solidariedade e até de simples pensamentos, significa que todos estamos em risco de prisão ou coisa pior, à medida que o estado tenta impor um poder autoritário. Resistir, inclusive por meio de zines, não é crime.

Escreva para Des

Daniel Rolando Sanchez Estrada

\#95099-511

FMC Fort Worth

Federal Medical Center

PO Box 15330

Fort Worth, Texas 76119

EUA

Lembrete: Des está em prisão preventiva. NÃO mencione nada sobre o caso ou as acusações.

Recursos para libertação de Des

Instagram: @free-des-revol, @dfwsupportcommittee

Bottons “Zines Are Not a Crime” (2,5″): https://archive.org/details/not-a-crime-buttons

Zine “Free Des” (1 página): https://archive.org/details/free-des-zine

Fonte: https://itsgoingdown.org/zines-are-not-a-crime-free-des-revol/

Tradução > Contrafatual

agência de notícias anarquistas-ana

minha sombra
com pernas mais longas
não me afasta

André Duhaime

[Chile] Canal Anarco no YouTube: Escupamos La Historia

D e s c r i ç ã o

Em Escupamos La Historia (Cuspamos na História), vamos falar sobre Anarquismo, história mapuche e também história das lutas operárias. Tudo a partir de um olhar crítico e irreverente. Faremos análises de acontecimentos históricos que talvez não tenham nos contado na escola ou que o Estado e a Igreja esconderam com o objetivo de nos manter replicando seu sistema violento de escravidão e opressão. Vamos nos mergulhar em ideias profundas a partir das quais questionaremos tudo ao nosso redor: a existência do poder, da autoridade, do patriarcado, do patriotismo, do racismo, da competição, da homofobia e tudo aquilo que o sistema, por meio de múltiplos canais, nos impôs como comportamentos normais.

Mari mari kom pu che (mapuzungun: Olá a todas as pessoas), dou as boas-vindas a todos e todas a este canal.

Inscreva-se e ative o sininho para se manter atualizado(a) sobre cada vídeo.

>> Acesse o canal aqui:

youtube.com/@EscupamosLaHistoria/

agência de notícias anarquistas-ana  

Fogueira na rua –
o medo vira cinza,
risos no escuro.

Liberto Herrera

[Alemanha] SMASH CRUISESHIT – Conferência Anti-Cruzeiros

De sexta a domingo, de 12 a 14 de setembro, o porto de Hamburgo sediará os “Cruise Days”, caracterizados por um greenwashing [“lavagem verde”] sem limites. Neste contexto, estamos organizando um programa de eventos de três dias que combina sessões informativas, ações de protesto e encontros de networking. O objetivo é mobilizar um público amplo e elaborar em conjunto estratégias concretas contra a indústria de cruzeiros.

Sexta-feira, 12 de setembro de 2025 – Encontro de rede contra navios de cruzeiro

Começaremos com um encontro de rede aberto, que oferecerá a todos os interessados a oportunidade de trocar ideias, estabelecer contatos e formular os primeiros planos de ação. A participação é gratuita; inscrições para grupos interessados, ONGs etc. em smashcruiseshit@riseup.net

Sábado, 13 de setembro de 2025 – Dia de conferência aberta ao público

O dia central da conferência é totalmente aberto ao público e será realizado nas instalações da AStA Hamburg. Endereço: Von-Melle-Park 5; sala 0029. Neste dia, será oferecido um workshop, várias palestras e um espaço para painéis de discussão que abordarão os impactos ecológicos, sociais e econômicos dos navios de cruzeiro. O programa, incluindo horários exatos e alocação de salas, pode ser encontrado aqui e em nosso site https://kreuzfahrt.nirgendwo.info/smashcruiseshit2025/

Programa

12h: Iniciativa contra os cruzeiros – O lado sombrio da indústria de cruzeiros

13h30: Zeit.Fläche – Uma história crítica dos cruzeiros

15h: Intervalo

16h: TKKG – Protestar, sim, mas como?

18h: Nabu – Indústria de cruzeiros e impacto local

Domingo, 14 de setembro de 2025 – Dia de protesto

No último dia, encerramos os dias de ação com um protesto colorido e acessível. O objetivo é enviar um forte sinal contra a indústria de cruzeiros e os “Cruise Days” associados a ela. O protesto é dirigido a um público amplo e convida todos a participarem ativamente. Encontro para pessoas interessadas no sábado, no âmbito do dia de conferência pública.

Convidamos cordialmente todos os interessados a participarem desses três dias, a se informarem, a discutirem e a se mobilizarem juntos. Mais informações, atualizações e a inscrição oficial podem ser encontradas em nosso site https://kreuzfahrt.nirgendwo.info/smashcruiseshit2025/ e no endereço de e-mail mencionado. Esperamos ansiosamente por uma cooperação engajada e por enviar juntos um forte sinal contra a exploração humana e ambiental e pelo fim da indústria de cruzeiros marítimos.

kreuzfahrt.nirgendwo.info

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agência de notícias anarquistas-ana

na verde colina
bem mais que o fruto me apraz
a flor pequenina

Antônio Gonçalves Hudson

[Espanha] Um partido antiestatista?

Leio em certo meio alternativo de esquerda, por assim dizer para que nos entendamos, uma coluna que defende a criação de um partido antiestatista (isso sim, matizando em seguida que “…ou anticapitalista”). Para fortalecer sua proposta, recorre à história mencionando o Partido Sindicalista, que foi fundado pelo bom do Ángel Pestaña e que creio que teve uma breve continuidade nos anos da chamada Transacción (perdão, queria dizer “Transição”). Para quem não saiba, Pestaña foi um anarcossindicalista que em seus anos na CNT, junto a outros militantes, criticava todo “aventureirismo revolucionário” e considerava que era necessária uma preparação durante um tempo antes de chegar ao comunismo libertário. Pode-se dizer que sua decisão final de criar um partido, com o qual ele mesmo chegou a ser deputado, supunha uma continuação de sua visão com a participação aberta no sistema parlamentar e, a priori, sem renunciar à revolução social. Alguns dirão que isso não o diferenciava muito de socialistas ou comunistas, com o fracasso reiterado da via estatista para transformar a sociedade, e teremos que lhes dar razão. Mas, voltemos a essa proposta atual de criar um partido antiestatista. De saída, de algum modo agradece-se o lançar uma crítica ao Estado (ao autoritarismo) em uns tempos em que a esquerda em seu conjunto o identifica uma e outra vez de maneira pueril com os serviços públicos (e, vamos chamá-lo pelo seu nome, com o assistencialismo). Para outro espaço, deixaremos a aprofundação em uns serviços “públicos”, autogeridos pelos próprios trabalhadores (especialistas na matéria) a serviço do conjunto da sociedade, que não se equiparam a serviços estatais (burocratizados, centralizados e hierarquizados, cuja ineptitude estamos vendo uma e outra vez nas diversas crises sistêmicas, neste verão infernal são os malditos incêndios).

Menciona-se também no texto como exemplo, além do histórico Partido Sindicalista, uma força política atual no Chile chamada Izquierda Libertária. Pesquiso um pouco e, efetivamente, trata-se de uma aposta de participação nas instituições para tentar chegar a algo parecido ao comunismo libertário. Vivemos tempos confusos, para não dizer abertamente falsificadores, nos quais o libertário se identifica com os partidários do capitalismo mais desumanizado, enquanto conceitos como comunismo ou socialismo evocam os regimes mais autoritários. Assim, “comunismo libertário” viria a ser para muitos iletrados um oximoro, mas não, é um belo ideal de raiz histórica, com todas as dificuldades para ser levado à prática (e, pela via estatista, permita-me duvidar ainda mais). Os anarquistas clássicos já advertiram do desastre em que ia desembocar usar meios autoritários e as consequências atuais, já antecipou também algum lúcido ácrata, são que grande parte das pessoas odeie o termo “comunismo”. Propõe-se-nos agora, mais uma vez, criar uma força política parlamentar em crítica aberta aos dois demônios do anarquismo (Estado e capitalismo) com o objetivo de desmantelá-los desde dentro do próprio sistema (embora, olho, sempre digo que dentro do sistema estamos todos em aberta tensão com ele). Ou seja, entendo, trata-se de conseguir ter poder suficiente para transferir o poder, político e econômico, ao conjunto da sociedade em vias da desejada autogestão. Isto é possível? Houve algum indício disso na história?

Teríamos que deixar de lado proclamações do tipo “o poder conquista seus conquistadores” (embora tenhamos experiências históricas suficientes para pensar que é assim), suponhamos que um grupo de pessoas honestas assuma esse papel para participar nas instituições, o sistema permitiria realmente essas mudanças radicais? O movimento 15M, com sua evolução posterior descentralizadora com as assembleias de bairros, é o melhor exemplo de uma via para transformar a sociedade a partir de baixo. As próprias dificuldades intrínsecas, junto à criação do Podemos [partido], com seus Círculos supostamente horizontais finalmente esvaziados e sucumbidos à hierarquia, e suas itinerantes estratégias eleitorais, anulou em grande medida o movimento autogerido. Dir-nos-ão que a elite podemita recolhia uma tradição marxista autoritária, que não havia autênticos anarquistas, esses super-humanos capazes de conduzir a sociedade pelo rumo verdadeiro (sim, é sarcasmo e autocrítica). Eu não possuo todas as respostas e, como disse no início e sem estar de acordo de modo algum, seja bem-vinda toda proposta honesta para tentar superar um sistema baseado no poder e no benefício de uma minoria com infinidade de seres humanos sofrendo no planeta. Não sou fanático de nenhum tipo, sempre digo que cada um com o que fizer individualmente em época eleitoral, mas já me parece ir longe demais (nada novo, por outra parte) criar algo como um partido libertário (isso sim parece uma aberta contradição nos termos). À margem de purismos, a via creio que é muito clara para quem quiser empreendê-la, trabalhar na sociedade a partir de baixo de modo horizontal, solidário e propiciando a autogestão. Palavra de ácrata com, de forma paradoxal ou não, forte tendência niilista e individualista.

Juan Cáspar

Fonte: https://exabruptospoliticos.wordpress.com/2025/08/23/un-partido-antiestatista/    

Tradução > Liberto

agência de notícias anarquistas-ana

Manhã inspira
balaio de ideias.
Só fruta verde.

Masatoshi Shiraishi

Uma Autocrítica Anarquista

por Aliança Trans Proletária*

Este texto é fruto do mal-estar que temos sentido no meio anarquista. Ele não é direcionado a nenhuma organização em particular, assim como não deve ser tomado como se fôssemos militantes puros, isentos de erros e portadores da razão. Muito pelo contrário, é a investigação das condições de possibilidade dos nossos erros o que nos conduziu a escrever este texto. A nossa pretensão é sair do Grande Inverno no qual nos encontramos.

7 de Setembro: Grito dos Excluídos

Sejamos diretos: enquanto o Grito dos Excluídos se consolidou como um rito a ser realizado majoritariamente por organizações que querem dizer que fazem algo sem fazer, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), vinculado ao Partido Comunista Revolucionário (PCR), decidiu fazer-se escutar de fato o grito dos excluídos: conhecido pelas ocupações que realiza, esse movimento social iniciou 18 ocupações em 15 Estados diferentes – 3 desses Estados respondendo com bastante brutalidade – neste 7 de setembro.

O Grito dos Excluídos, para quem não conhece, é um conjunto de manifestações populares que ocorrem no Brasil desde 1995. Essas manifestações ocorrem no dia 7 de setembro. Para esclarecer: quando afirmamos que ele se tornou um rito, queremos dizer que talvez nos falte uma ponderação sobre a efetividade da sua realização, qual o saldo, seja positivo ou negativo, temos tirado dele. A sua ritualização, enquanto sinônimo de algo meramente repetido anualmente, não significa que as organizações e movimentos sociais que o compõem provocaram intencionalmente essa ritualização. É bem mais provável que o façam sem se dar conta, o que é bastante preocupante.

Enquanto Esquerda e enquanto pretensa alternativa política ao capitalismo, devemos verificar se os efeitos de nossas ações têm sido produtivos. Isto inclui analisar em que medida nossas ações não seriam, na verdade, meras reações aos refluxos do Capital em vez de uma proposição política que afirme a realização de um outro mundo – impossível, cabe dizer, ao imaginário instituído pelo Capital. Poderíamos nos perguntar e investigar em que medida o Grito dos Excluídos não se tornou um mero ato de agregação de organizações, indivíduos e movimentos sociais, algo mais de ordem quantitativa do que qualitativa. O que queremos ao nos juntarmos no Grito dos Excluídos? Segundo um companheiro especifista: “nós vamos ao Grito dos Excluídos para disputar”. O que, exatamente, ele não soube dizer. Talvez o disse mais por chavão do que por uma compreensão da realidade concreta do proletariado.

Independentemente da discordância ideológica que possamos ter com o MLB e o PCR, concordamos no que diz respeito à luta por moradia. Na data de hoje, durante o Grito dos Excluídos, que ocorria na rua Uruguaiana, fomos interpelados pela notícia de que a ocupação Luisa Mahin – Palestina Livre, que se iniciou hoje, estava sob ataque policial a mando do atual prefeito Eduardo Paes e do governador Cláudio Castro (PL).

Para quem não sofre de amnésia – ou desonestidade política –, o Eduardo Paes é conhecido por remover famílias de suas casas, um ato que por si só já é violento. Afinal de contas, fere um direito básico, que é aquele referente à moradia. Nada novo sob o céu cada vez mais poluído no capitalismo, o que não significa que não encontremos motivo para tentar respirar e tomar os céus. Mas talvez a amnésia – para sermos bem caridosos e esperançosos naquilo que há de possivelmente melhor no meio militante anarquista – tenha afetado inclusive companheiros e companheiras que presenciaram e combateram os desalojamentos e as suas tentativas durante mandatos anteriores do Eduardo Paes: durante o Grito dos Excluídos, a ocupação Luisa Mahin sofria um ataque e os seus gritos eram abafados pela ritualização do Grito dos Excluídos, ocasionando, desta forma, um espantoso ensurdecimento diante do grito dos excluídos e excluídas a não muitos metros de distância do ato. Ensurdecimento este resultante de uma falência múltipla dos órgãos ou, melhor dizendo, das organizações anarquistas, cuja hemiplegia já é perceptível há algum tempo, embora negada por essas mesmas organizações.

Especulação Imobiliária e Novo Ataque do Estado

Na última quarta-feira, dia 3 de setembro, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou a constitucionalidade do absurdo projeto de lei N° 40/2025, proposta pelo governador Cláudio Castro. O projeto prevê a venda de 48 imóveis estaduais. Na sua lista incluem prédios históricos, terrenos, áreas desativadas da segurança pública e até uma ilha. Um exemplo é a possível perda do imóvel que serve de sede para o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, localizado na rua da Carioca, no Centro. Rodrigo Amorim (União), atual presidente da CCJ, quer que a Aldeia Maracanã seja incluída no projeto. Não é nenhuma surpresa esse desejo dele, posto que ele já ameaçou diversas vezes a Aldeia ao passear com seus capangas em torno do território, numa tentativa de amedrontar os integrantes da Aldeia. O Capital não poupará esforços para que esse projeto siga como um trator sobre os movimentos sociais e os corpos daquelas e daqueles que lutam por moradia.

Os gritos de excluídos e excluídas não foram escutados – ou foram, mas ignorados – por outros excluídos, ou que assim se afirmam. Atitude essa que não nos surpreende, mas não deixa de nos causar frustração e tristeza. Claro que, aqui, não estamos “cobrando” que certos segmentos do movimento social e da militância anarquista façam um trabalho para além do que se propõem. Compreendemos as dificuldades presentes na execução das tarefas. As violências do Estado não nos surpreendem, mas sim as que cometemos contra nós mesmos, seja por omissão e silêncio, seja por punitivismo. Apesar das críticas à cultura do cancelamento bastante presentes entre nós, temos observado indivíduos que se ocupam de queimar uns aos outros mediante qualquer situação de discordância ou questionamento referente a decisões tomadas pelas organizações que compõem. Este texto mesmo, muito provavelmente, será lido com o intuito de encontrar de quem é a sua autoria, tratando como secundária ou suspendendo a autocrítica nele presente. Percebam: autocrítica, pois não nos colocamos fora da crítica apresentada. A atitude punitivista e reativa, sim, deveria nos surpreender, pois não reflete em nada os princípios que direcionam nossa luta. Portanto, o mínimo que esperamos é uma coesão entre aquilo que defendemos e aquilo que praticamos. A crítica deve servir para identificar os limites de determinada posição e superá-la, não para simplesmente negá-la. Isso seria ingênuo e confortável demais.

Façamos um trabalho para além do que nos propomos – e nem entraremos na discussão de se as organizações existentes ao menos cumprem ou tentam cumprir aquilo ao que se propõem, o que talvez fosse motivo para um outro texto. Mas, se não estivermos de fato juntos, se não nos preocuparmos uns com os outros, se não exercermos o apoio mútuo, então o que queremos dizer quando empregamos o termo “solidariedade”? A preocupação parece, portanto, ser mais da ordem da linguagem do que de ordem prática e política – não que a linguagem seja dispensável, mas a anulação da prática em prol do emprego de determinados termos por mera convenção é totalmente ineficiente, do ponto de vista político, que é o que nos importa. “Solidariedade” se tornou sinônimo de uma preocupação circunscrita por uma certa afinidade que não a de classe, mas sim pelo círculo de pessoas e coletivos que nos são “próximas”, isto é, que concordam com tudo que digamos. Veja, isto não significa uma defesa de “frentes populares” sem qualquer critério de adesão exceto o apelo a um populismo – o qual, cabe dizer, reforça uma dinâmica interclassista e prejudicial à luta contra o Capital, já que implica na sua conciliação necessariamente –, mas sim uma defesa da solidariedade de classe que se faça verdadeira, não apenas o título de uma nota ou postagem – isto quando há uma nota ou postagem, no melhor dos cenários.

O desalojamento da ocupação Luisa Mahin será a regra, caso não tomemos nenhuma providência coletiva. Não será nenhuma gestão do Estado à Esquerda do capital que impedirá que isso ocorra. Mas também não será a nossa seletividade de solidariedade o que provocará qualquer mudança significativa nessa realidade desgraçada.

Reiteramos: independentemente da discordância ideológica que tenhamos com o MLB e o PCR, a nossa defesa da classe trabalhadora é intransigente e é a ela que nos direcionamos quando pontuamos a falha política das organizações anarquistas – em especial, já que somos militantes anarquistas – em ignorar o que acontecia paralelamente ao Grito dos Excluídos. Sabemos dos problemas existentes no PCR. Contudo, como afirmamos, não é numa defesa da linha ideológica do PCR o que estamos argumentando a favor, mas sim numa defesa do proletariado desalojado, das famílias compostas por mulheres, crianças e idosos que foram espancadas pela polícia militar. Também sabemos dos problemas existentes nas organizações anarquistas no território dominado pelo Estado do Rio de Janeiro e como que muitos desses problemas simplesmente são empurrados para debaixo do tapete por uma condescendência do autoproclamado “movimento libertário”, abafando qualquer possibilidade de autocrítica. Não é somente o Estado o que nos inviabiliza a luta social: há desvios autoritários entre nós anarquistas que nos imobilizam, nos colocando para hibernar no Grande Inverno do neoliberalismo. Quando foi que nos permitimos uma equivalência com os partidos socialdemocratas – não importando quão revolucionários se proclamem – e sindicalistas conciliadores de classe que se ocupam única e exclusivamente de montar seus palanques eleitorais repletos de promessas falsas que direcionam a um futuro inalcançável através da democracia burguesa? Talvez a disputa à qual o companheiro especifista se referiu pudesse se concretizar nessa ação solidária.

Em que medida as organizações não têm se preocupado única e exclusivamente com a sua perpetuação, ignorando, assim, o motivo de existirem? Uma organização que se preze eficiente tem que compreender a finitude da sua existência. Se ela existe para combater um mal, a sua preocupação também deve ser em fazer-se desnecessária. Quando ela perde isso de vista, ela também deixa de se preocupar com a eficiência das suas ações e se ocupa de se manter, ainda que de maneira marginalizada. É preciso dizer que a marginalização parece ser confortável para algumas organizações anarquistas. Isso as isenta de assumirem grandes responsabilidades coletivas. A força de uma organização se encontra no reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que não pode coincidir com uma postura vitimista ou melancólica de lamento. Se “juntos somos mais fortes” e esse estar junto não tem nos fornecido forças, não tem nos potencializado, talvez não estejamos realmente juntos, mas apenas agregados num ambiente.

Certo é que, às vésperas da primavera, nós, militantes anarquistas preocupados com uma ação coesa, não pretendemos nos manter nessa glacialização.

A Aliança Trans Proletária (ATP), como o próprio indica, é uma aliança entre pessoas trans proletárias que afirma que as relações sociais de poder dos gêneros, raças, sexualidades, nações, geracionais etc. são precisamente formas particulares de relações de classe.

Fonte: https://transanarquismo.noblogs.org/post/2025/09/07/uma-autocritica-anarquista/

agência de notícias anarquistas-ana

outro assobio
escuto os passarinhos
sem dar um pio

Ricardo Silvestrin

[EUA] Entrevista com Pearson Bolt: “A anarquia é uma rica tapeçaria de vozes, perspectivas e tradições.”

Você poderia compartilhar um pouco mais sobre seu trabalho de organização e mídia?

Sim, olá! Meu nome é Pearson Bolt (ele/elu). Sou escritor, professor, pai, queer e anarquista, entre muitas outras coisas maravilhosas. Atualmente, faço muito trabalho de organização sindical com a AAUP (Associação Americana de Professores Universitários) e trabalho de ajuda mútua com a MADR (Ajuda Mútua em Situações de Desastre). Também reativamos um grupo do Food Not Bombs (Comida, e Não Bombas) em nossa comunidade local no centro-oeste. No que diz respeito ao trabalho na mídia, eu costumava apresentar um podcast chamado Coffee with Comrades (Café com Camaradas), que você pode encontrar em qualquer lugar onde se ouve podcasts. Também estou constantemente escrevendo. Tenho alguns livros de poesia publicados pela Rebel Hearts Publishing e estou sempre trabalhando em um romance de fantasia que (espero) verá a luz do dia em algum momento no futuro.

Como você descreveria suas opiniões/orientação política e por quê? Você tem influência de algum/a/e teórico/a/que ou movimento?

Como eu disse, sou anarquista. Quando observo com sobriedade as ramificações materiais dos sistemas hierárquicos do mundo atual, sou tomado por um desejo irresistível não apenas de derrubá-los, mas de construir alternativas mais criativas, solidárias e centradas no ser humano. O poder é uma força corrosiva no mundo quando é acumulado para benefício próprio. Quando compartilhado, porém, o poder pode ser emancipador e transformar vidas. Sempre nutri uma forte repulsa pela injustiça e uma curiosidade constante que busca a verdade, não importa aonde ela me leve. Como regra geral, acho que as pessoas agem da melhor maneira possível, dadas as circunstâncias em que se encontram. Se construirmos um mundo que incentive e recompense a compaixão, a solidariedade, a justiça e a libertação, em vez da misantropia, do individualismo implacável, da corrupção e das prisões, então a humanidade estará muito mais propensa a buscar maneiras de viver, pensar e ser que estejam em harmonia com este planeta e com todos os seres vivos que o habitam.

A anarquia é uma rica tapeçaria de vozes, perspectivas e tradições. Não existe uma concepção monolítica do que a anarquia deve ser ou significar. Isso torna a anarquia única nos espaços de esquerda, já que muitas tradições radicais de esquerda tendem a traçar sua linhagem ideológica até uma pessoa específica ou um pequeno grupo de pessoas. Gosto de pensar no anarquismo como esporos fúngicos, propagando-se e transformando os resíduos mortos do mundo em algo novo e belo. Como tal, há muitos teóricos ou filósofos que me vêm à mente. Mas, para fins de conversa, listarei alguns dos meus favoritos antiautoritários: Albert Camus, Ursula K. Le Guin, Gilles Deluze, Robin Wall Kimmerer, Francisco Ferrer, Carla Joy Bergman, Paulo Freire, bell hooks, etc. Dito isso, muitas vezes procuro meus amigos e companheiros em busca de inspiração e conhecimento, pois a melhor análise para os dias de hoje é frequentemente forjada no cadinho da luta mútua pela emancipação universal.

Em quais projetos anarquistas (incluindo seu podcast) você participou e como foi essa experiência? Quais experiências você considerou significativas e produtivas, e por quê?

Nossa, são tantas que nem consigo contar. Sempre acho estranho e um pouco presunçoso “exibir” toda a minha credibilidade anarquista nas ruas, mencionando todos os diferentes encontros, mobilizações, projetos e comunidades que frequentei (além disso, há vários que simplesmente não devo relatar publicamente aqui). Mas fico mais do que feliz em falar sobre as experiências que foram pessoalmente significativas e produtivas, na esperança de que elas possam ressoar em outras pessoas e inspirar ações, análises ou a construção de comunidades.

A grande experiência que me vem à mente é o MADR. Tendo crescido na Flórida, éramos constantemente assolados pelo horror dos furacões. A magnitude da destruição pode ser aterrorizante de se ver no silêncio após a passagem do furacão. Mas uma das coisas que o MADR faz é organizar ajuda para as pessoas afetadas pelos furacões. Como eu mesmo precisei de ajuda quando era jovem, senti-me atraído por esse trabalho. Poucas coisas são tão gratificantes e enriquecedoras quanto ouvir as necessidades das pessoas e ajudar a atendê-las com um pequeno grupo de companheiros. Também acho a ideia de “solidariedade, não caridade” especialmente edificante.

Qual foi a ação ou projeto mais recente do qual você participou e como foi essa experiência?

Bem… para ser sincere, tem sido bastante decepcionante.

O estado de Ohio aprovou recentemente uma legislação abertamente fascista que visa privar professores e alunos de seus direitos e dar poder à direita reacionária para perseguir professores com assédio e possível demissão, sob o pretexto de um projeto de lei do Senado “anti-woke” e “anti-DEI”. A administração da nossa universidade tem sido (na melhor das hipóteses) totalmente covarde ou (na pior das hipóteses) ativamente cúmplice diante desses acontecimentos, optando por se curvar ao estado em vez de proteger nosso corpo docente e nossa comunidade estudantil.

Eu me envolvi com o grupo Food Not Bombs (Comida, Não Bombas) de Orlando, Flórida, quando tinha 15 ou 16 anos, logo depois que a polícia prendeu alguns companheiros do FNB por compartilhar comida com moradores de rua sem permissão. A desumanidade de tal ato me chocou e me levou às ruas. O FNB continuou seu bom trabalho, desafiando as autoridades e escolhendo a convicção moral em vez da legislação mesquinha do estado. As fileiras da filial cresceram. A repressão da polícia saiu pela culatra de forma espetacular, fortalecendo a filial e criando um verdadeiro senso de solidariedade entre pessoas com casa e em situação de rua daquela comunidade. Embora a justificativa da administração para isso seja: “Oh, temos que seguir a lei, caso contrário perderemos nosso financiamento”, qualquer pessoa com dois neurônios funcionando sabe que isso é apenas uma desculpa conveniente para abdicar de qualquer responsabilidade pela proteção da vida, educação e interesses de pesquisa dos professores e alunos no campus. Além disso, a administração não está apenas “cumprindo” a lei. Ela está se apressando para cumprir e, em muitos casos, excedendo o cumprimento da lei para apaziguar o Conselho de Curadores, que é composto por conservadores idiotas nomeados para seus cargos pelo governador conservador de Ohio. Junte isso a um ano de negociações incrivelmente difíceis, enquanto tentávamos elaborar um novo CBA (acordo coletivo de trabalho) com a administração, e o resultado foi… um ano bastante adverso!

Para ser sincero, oscilo entre a raiva e a desilusão. Embora tenha sido encorajador ver muitos dos meus colegas e camaradas unirem-se à causa dos direitos dos professores e dos estudantes, simplesmente não éramos suficientes. Na imaginação popular dos liberais e outros idiotas de direita, a universidade é um bastião da ideologia esquerdista. Como alguém que leciona há mais de uma década no sistema universitário público dos Estados Unidos, eu ficaria feliz em desmistificar essa noção tola e insípida para qualquer um dos seus leitores, mas acho que estaria apenas pregando para convertidos. A realidade, como todos sabemos, é que o “ensino superior” há muito foi capturado pela classe capitalista e é usado não como uma instituição de exploração, educação e crescimento, mas como uma ferramenta para explorar impiedosamente as pessoas com mensalidades altíssimas. Digo tudo isso para enfatizar que não existe uma grande conspiração marxista na academia. Na verdade, a universidade é composta principalmente por liberais e progressistas bem-intencionados que muitas vezes carecem de uma análise crítica real do capitalismo. Embora isso esteja mudando à medida que mais e mais pessoas — de todas as classes sociais — se radicalizam pelas contradições atuais de nossos tempos contemporâneos, simplesmente não éramos suficientes para impedir o estado de aprovar essa lei incrivelmente impopular, muito menos para impedir a administração de ceder covardemente.


Então, é. Não tão bom.

Que conselho você daria para novos anarquistas ou para aqueles que estão em dúvida se querem se envolver?

Não gostaria de terminar com um comentário negativo, então vou pegar emprestada uma ideia dos camaradas da CrimethInc. “Para mudar tudo”, diz seu elogiado tratado anarquista, “comece em qualquer lugar”. Acho que muitas vezes esquecemos que o anarquismo não é apenas uma ideologia política. A beleza disso, na minha opinião, é que a anarquia nos pede para repensar nossa relação com todos os seres (humanos e não humanos) e nos entender como semelhantes. A anarquia é um convite para derrubar muros, como observou Ursula K. Le Guin em Os Despossuídos, e derrubar hierarquias sociais. O patriarcado, a cisheteronormatividade, a supremacia branca, o colonialismo, o capacitismo, o etarismo e uma série de outras hierarquias sociais invadem nossas vidas, de forma generalizada e muitas vezes devastadora. Mas é nossa obrigação moral, como anarquistas, lutar contra essas estruturas onde quer que elas apareçam e derrubá-las antes que possam cuspir veneno em nossos olhos e nos roubar a capacidade de ver um amanhã mais brilhante surgindo no horizonte.

Fonte: https://debatemebro.substack.com/p/interview-with-pearson-bolt

Tradução > transanark/acervo trans-anarquista

agência de notícias anarquistas-ana

Paira no ar por um instante
A figura de um menino,
Saltitante.

Sérgio Sanches

[Reino Unido] Pré-venda: “Anarquia em Alifuru: A História das Sociedades Sem Estado nas Ilhas Maluku”, de Bima Satria Putra

Nos vastos mares das Ilhas Maluku encontra-se uma história esquecida: não de reis e sultões, mas de pessoas que viveram sem eles.

Anarquia em Alifuru resgata as histórias das sociedades sem Estado do leste da Indonésia, revelando um mundo no qual a autoridade política era conquistada, não herdada, e as comunidades prosperavam por meio do consenso, em vez do comando. A partir de antigos relatos de viagem europeus, folclore oral e antropologia anarquista, Bima Satria Putra nos convida a entrar em um reino onde o poder era compartilhado e a hierarquia era opcional. Esta obra inovadora inverte o roteiro da historiografia indonésia convencional. Em vez de se concentrar em sultanatos como Ternate e Tidore, explora o Mundo Alifuru: um mosaico vibrante de sociedades insulares descentralizadas que escolheram a autonomia no lugar da submissão. Com relatos vívidos de deliberações comunitárias e liderança igualitária, Putra ilustra como essas sociedades resistiram tanto à construção do Estado islâmico quanto à conquista colonial europeia, se recusando serem governadas.

Anarchy in Alifuru é uma meditação sobre a liberdade e o desejo humano de viver sem dominação. Para os leitores de James C. Scott e David Graeber, este livro oferece um poderoso testemunho da engenhosidade de sociedades tanto descartadas como primitivas. Em um mundo cada vez mais moldado pelo poder centralizado, a história dos Alifuru nos lembra que outra forma de organizar a vida não só já existiu, como prosperou.

Bio: Bima Satria Putra é escritor, pesquisador e tradutor. Tem interesse no estudo de história, antropologia e ecologia. Entre suas obras estão: Perang yang Tidak Akan Kita Menangkan: Anarkisme & Sindikalisme dalam Pergerakan Kolonial hingga Revolusi Indonesia (1908-1948) [A guerra que não vamos vencer: anarquismo e sindicalismo, do Movimento Colonial até a Revolução Indonésia] e Dayak Mardaheka: Sejarah Masyarakat Tanpa Negara di Pedalaman Kalimantan [Dayak Mardaheka: história de uma sociedade sem Estado no interior de Kalimantan]. Atualmente, ele está realizando pesquisa sobre o Projeto Tribos do Fogo e continua comprometido com a escrita enquanto cumpre pena de 15 anos de prisão.

Informações para pedidos no Reino Unido (enviar email para encomendas internacionais) Disponível direto na Minor Compositions (no Reino Unido) pelo preço especial de £10.

Pré-encomendas do livro em agosto e setembro de 2025. Quem fizer a pré-encomenda direto à Minor Compositions receberá uma versão especial do livro sem código de barras. 50% dos lucros das vendas do livro serão destinados ao apoio a companheiros anarquistas presos na Indonésia.

Você também pode baixar aqui: Anarchy in Alifuru (https://archive.org/details/anarchy-in-alifuru).

136 pages, 5.5 x 8.5, paperback
UK: £16/ US: $21
ISBN 978-1-57027-395-7

O lançamento do livro no mercado será em 1º de fevereiro de 2026

minorcompositions.info

Tradução > CF Puig

agência de notícias anarquistas-ana

Vento invernal:
canção nos galhos desnudos
traz a chuva aos olhos

O Livreiro

Observatório Ecopolítica. Ano XI, N° 154, Agosto, 2025.

Neste número: 

  • COP30 Brasil-Amazônia: uníssono 
  • Um passeio…
  • Brazil ou Brasil, tanto faz
  • A cobiça geral: financiamento climático (isso não é um pecado)
  • Qual oposição? sustentabilidade e protagonismo dos povos da Amazônia, do Brasil
  • Radar

COP30 Brasil-Amazônia: uníssono 

A COP30 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas ocorrerá entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém do Pará. O Brasil foi escolhido como o país sede do evento em dezembro de 2023, durante a COP28, em Dubai. Todavia, apenas em agosto de 2025, a três meses do início da Conferência das Partes, as buscas cibernéticas sobre a COP30 dispararam entre os internautas brasileiros, crescendo 440%, conforme dados divulgados pela Google. Em sua maioria, os curiosos tardios estão ou vivem no estado do Pará.

Alguém, que acompanhe as notícias e decisões acerca da Conferência, pode supor que o aumento das buscas por COP30 se vincule à ênfase midiática nos exorbitantes valores da hotelaria paraense, alvo de queixas das delegações de países pobres e de brasileiros que pretendem viajar a Belém no período do evento, e razão pelo qual certos países-membros chegaram a solicitar à ONU a transferência da cidade-sede. Mas esse tema aparece somente como o sétimo mais procurado. Tampouco foi a fugaz proibição de alimentos tradicionais da Amazônia brasileira — como o açaí, o tacacá e a maniçoba — dos menus oficiais da COP30 pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), sob justificativa sanitária de “risco de contaminação”. Em geral, a maioria dos brasileiros que lançou no buscador da Google “COP30” cruzou o nome do evento com perguntas como: ‘o que é COP30?’, ‘qual o significado de COP?’ ou ‘quando vai acontecer?’.

>> Para ler o informativo na íntegra, clique aqui:

agência de notícias anarquistas-ana

O brilho do salto
do peixe na cascata,
lâmina de prata.

Luiz Bacellar

Comunicado de solidariedade da Persaudaraan Pekerja Anarko Sindicalis (PPAS-AIT) sobre a resistência popular na Indonésia em agosto e setembro de 2025

5 de setembro de 2025

Dedicamos este comunicado de solidariedade àqueles que foram assassinados pelo Estado: Affan Kurniawan, Andika Lutfi Falah, Iko Juliant Junior, Muhammad Akbar Basri, Rheza Sendy Pratama, Rusdamdiansyah, Saiful Akbar, Sarina Wati, Septinus Sesa e Sumari. Que seus nomes sejam eternos e nunca sejam reduzidos a meros números.

A ilusão da representação popular através do parlamento entrou em colapso. A DPR [Câmara dos Representantes da República da Indonésia], com suas mãos temerárias, forja incessantemente políticas que destroem a população, ao mesmo tempo em que aprofunda o abismo da desigualdade social. Enquanto cada vez mais de nós sofremos a condenação de viver sob o sofrimento e a exploração do Estado e do capitalismo, a DPR revela sua verdadeira natureza como parasitas, vivendo do suor do povo, recebendo salários obscenos com nossos impostos, somas inimagináveis para a imensa maioria.

A polícia, da mesma forma, revelou-se nada mais do que os cães de guarda das elites dominantes e do Estado, respondendo à legítima raiva popular com brutalidade crua. O assassinato do entregador de mototáxi Affan Kurniawan em 28 de agosto de 2025 (uma faísca lançada na caixa de madeira de uma fúria há muito acesa pelo Estado) foi respondido não com justiça, mas com cassetetes, punhos, gás lacrimogêneo e balas, deixando corpos mortos e mutilados em questão de dias.

O envio da polícia e do exército, armados com seu arsenal de armas e violência, aproxima o Estado da repressão fascista. Ao mesmo tempo, o Estado busca monopolizar a “verdade”, atacando a liberdade de imprensa e restringindo as redes sociais que divulgam notícias sobre a raiva popular e a podridão do Estado e de suas elites. Essa repressão é seguida por prisões arbitrárias de ativistas rotulados como provocadores da raiva do povo, pela detenção de centenas de manifestantes e pelo desaparecimento de dezenas de pessoas cujo paradeiro é desconhecido.

Por meio deste comunicado, a PPAS condena veementemente cada instrumento de repressão estatal. Choramos, honramos e nos enfurecemos por todos aqueles que foram mortos pelo Estado durante os levantes de 25 de agosto a 3 de setembro de 2025. Permanecemos firmes em solidariedade com as vítimas de prisões arbitrárias e com todos os desaparecidos.

Por tudo isso, a PPAS levanta a voz e pede justiça, exigindo:

1. Retirar do Parlamento seu falso mandato representativo;

2. Fim das prisões forçadas de ativistas e manifestantes;

3. Liberdade para aqueles que estão presos;

4. Devolução dos companheiros desaparecidos;

5. Retirada do financiamento policial e militar e desarmamento;

6. Esmagamento do fascismo estatal em todas as suas formas de repressão.

Que a justiça seja devolvida àqueles a quem é devida. Exijamos o impossível! Porque, no final, restam apenas dois caminhos: o da vitória dos oprimidos e explorados sob o Estado e o capitalismo ou o caminho do triunfo do fascismo.

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