Sou de uma família humilde, trabalhadora, de pais professores. Vivi até 22 anos de minha vida como a maioria de todos os jovens cubanos, no amparo do sistema, suas leis, sua história e educação. Até que acordei, pelo ano 2001, quando comecei a tomar consciência dos acontecimentos e fatos na minha vida e de um monte de gente com as mesmas condições. Eu queria entender por que muitos viviam cercados por tanta pobreza em um país que se gabava de dizer que aqui tudo estava bem e que os problemas eram mínimos, quando a realidade de muitos de nós, especialmente aqueles com pele escura, ficou tão danificada e afetada.
Para aqueles momentos, mostrava sinais de descontentamento e desacordo e o culminar de tudo isto foi quando conheci o movimento hip-hop. No meu primeiro show em 19 e 10 no Vedado, conheci várias pessoas que mais tarde se tornaram meus amigos e irmãos; percebi que havia me engatado e foi uma maneira de transmitir tudo o que tinha por dentro e tinha necessidade de dizer. O rap é um modo maravilhoso de expressão.
No começo, não me considerava apto a fazer o rap e procurei aqueles que defendiam esse gênero na minha área em Güines, de onde sou. Eu me envolvi com alguns meninos que se chamavam “Los Patriotas” (Os Patriotas). Eu lhes disse que escrevia rimas para rap, que tinha algumas coisas escritas. Pediram para vê-las e acabou que gostaram e começaram a cantar minhas músicas. Finalmente, em 2003, decidi que queria tentar fazer rap com minhas próprias canções, e “Los Patriotas” abriram o caminho para eu fazer isso com eles. Então eu comecei. Com o tempo, o projeto começou a chamar “Escuadrón Patriota” (Esquadrão Patriota).
Desde o início sempre senti que tínhamos que ser um projeto progressista, de combate crítico, protestando, porque nós éramos da mesma realidade de grande parte da sociedade que nos rodeava. Participamos de eventos, ganhamos festivais, fomos convidados a disputas de rimas e mantendo sempre um discurso de protesto e crítica social.
Em 2004, dois irmãos deixaram o grupo; seguimos e gravamos uma demo que foi chamada “Voces Clandestinas” (Vozes Clandestinas). Em 2005, o projeto Esquadrão Patriota é declarado “censurado” e expulso do apoio institucional, por cantar canções condenadas como “contra-revolucionárias”. Começa uma fase dura e difícil para o rap cubano e sua nova estrutura de discurso. Para o Esquadrão limitou-se à participação em muitos eventos, porque não é permitido fazer apresentações sem adesão como músico profissional em uma instituição aqui, portanto não o permitiam. Mas de vez em quando alguns irmãos que se atreviam a desafiar a ordem estabelecida convidavam o Esquadrão para as suas atividades. Durante este tempo, o outro último membro integrante do Esquadrão se separa e eu fiquei como o único MC do projeto.
A experiência dá-me a refletir e ajustar minha estratégia musical. Em 2008 gravei independentemente, exercendo o título “Esquadrão Patriota”. O álbum foi intitulado “Mi Testimonio” (Meu Testemunho), e continuei trabalhando no hip-hop, fazendo contribuições, participando de projetos como “La Comisión Depuradora” (A Comissão Depuradora), formando a plataforma para o meu último álbum, chamado “El Legado” (O Legado).
A missão do projeto Esquadrão Patriota é criar consciência entre as gerações, raças e grupos sociais. Carregar a responsabilidade de mudança social ou política da nossa ilha deve incluir a nossa perspectiva, a dos jovens, dos negros, de quem nos encontramos abrangidos pelo sistema.
Rauldel Collazo Pedroso
Fonte: Cuba Libertária, N˚19, março de 2011
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!