Nascida em Cambridge (Massachussets) em 1980, nos Estados Unidos, o Comida Sim Bombas Não (Food Not Bombs, em inglês) é a criação de Keith McHenry e sete outros ativistas. “Nós viemos do Clamshell Alliance”, disse McHenry, que estava “tentando fechar as portas da Central Nuclear Seabrook. Em sua maioria o grupo era composto por anarquistas, mas havia também Quakers e o Red Clams que era socialista”.
Com raízes numa variedade de causas sociais, não é de se surpreender que McHenry descreva o projeto FNB como essencialmente “a asa alimentícia de um movimento que engloba música antiautoritária, arte, rádio livre, zines, okupas, troca de seringas, bicicleta e liberação da maconha, infoshops, redes de computadores, organização autônoma descentralizada não-hierárquica, decisões por consenso e o compartilhamento de uma filosofia de tolerância, prazer e liberdade de expressão”.
Fazendo uma ligação do problema dos sem-teto com a questão do catastrófico militarismo, o objetivo de McHenry é endereçar “a agenda inumana do governo a níveis pessoais e internacionais” como um caminho de se começar um debate a nível nacional. Ele trabalha visando este objetivo não somente com comprometimento e paixão, mas também com criatividade… freqüentemente diante da repressão policial massiva. Recentemente falei com McHenry.
Mickey Z > Porque você acha que o FNB permaneceu ativo enquanto outros grupos radicais desapareceram?
Keith McHenry < Acho que o FNB está ativo até hoje porque podemos ver claramente os resultados; as pessoas se transformam quando vêem que podem coletar comida, compartilhar as refeições e os alimentos, e ao mesmo tempo ter um impacto direto sobre a vida das pessoas. Outro aspecto que promove a sua longevidade pode ser encontrado em nosso princípio de não ter nenhum líder, encorajando cada grupo a um próprio esforço de tomar decisões através do consenso. O/as voluntário/as não sentem que estão sendo obrigados a fazer alguma coisa e também não sentem que tem alguém no escritório sendo pago enquanto ele/as fazem o trabalho. Ele/as têm uma responsabilidade pessoal para fazer o FNB acontecer. Outra razão de estarmos continuamente crescendo após 30 anos é o fato dos problemas políticos, econômicos e ambientais, ao redor dos quais começamos a nos organizar, estarem ainda mais terríveis hoje do que estavam em 1980. Muito/as voluntário/as também sabem que organizando um FNB local ele/as podem apoiar uma grande variedade de ações e vêem nisto como sendo uma das ações mais positivas que podem tomar. Nosso modelo é muito simples, baseado em nossos três princípios e sete passos para se começar um grupo; então é fácil as pessoas se organizarem e verem os resultados imediatamente.
MZ > Onde está o FNB hoje? E o que te deixa mais empolgado sobre isto?
KM < O FNB continua a crescer – grupos começando em novas comunidades, além das atividades aumentarem nas cidades que já tem o FNB. O movimento está florescendo nos países de língua inglesa, castelhana e russa, assim como também em outras regiões. As okupas do Casas Sim Prisões Não estão começando novamente nos Estados Unidos, e, com a crise da execução hipotecária, estamos começando a alcançar a população estadunidense em geral com o que uma vez era pensado como sendo idéias um tanto radicais sobre seus direitos à comida, moradia e outras necessidades. Muitos grupos também estão acrescentando em seus trabalhos os jardins comunitários do Comidas Sim Gramados Não, Mercado Realmente Grátis (Really Really Free Markets), Bicicletas Sim Bombas Não, e muitos outros projetos que desenvolvem com os grupos do FNB. Estamos também buscando por uma maior comunicação entre-grupos, visando a organização de dias, semanas e meses de ações globais. Estamos também bastante ocupados com o trabalho de descobrir informações sobre os métodos que estão sendo utilizados pela Intelligence Community para acabar com nosso trabalho.
MZ > A repressão policial parece não ter fim…
KM < Temos um processo federal pendente ao 11º Tribunal de Circuito de Apelações em Atlanta defendendo nosso direito de livre expressão que emergiu das prisões por compartilhar refeições veganas em Orlando, Flórida. O/as voluntário/as dos FNB por todo os Estados Unidos continuam a resistir contra as tentativas de acabar com suas refeições. Concord (Califórnia), Flagstaff (Arizona) e Ann Arbor (Michigan) foram as últimas cidades em que a polícia tentou por um fim às nossas refeições, propaganda e literatura. Nosso/as voluntário/as resistem em cada cidade e as autoridades cederam. Temos também um punhado de voluntário/as preso/as em Minsk (Bielorrússia) acusado/as de atacar com bombas incendiárias a embaixada russa, além de vário/as prisioneiro/as nos Estados Unidos com o/as quais estamos fazendo campanhas para libertá-lo/as.
MZ > Com o que mais você está passando a palavra adiante?
KM < Estou ocupado com um novo livro sobre o FNB chamado Cooking for Peace. Vendemos ao menos 8.000 cópias de nosso primeiro livro, Food Not Bombs, em setembro. Estou em turnê neste outono assando pão em um forno solar e dando palestras nas universidades. Cada vez mais cresce o número de pessoas procurando por assistência alimentícia e moradia, além de pessoas ansiosas para estarem envolvidas com o movimento. Mais do que nunca o FNB está sendo necessário, com o preço da comida e a fome crescendo, e mais e mais pessoas desempregadas e sem lugar para morar enquanto milhões estão sendo gastos com o militarismo.
MZ > Você realmente está na lista do Departamento de Estado dos Estados Unidos como uma das 100 pessoas mais perigosas?
KH < Eu soube que estava registrado entre as 100 pessoas mais perigosas na lista do Departamento de Estado dos Estados Unidos através de diversos repórteres que ficaram chocados quando viram que eu estava distribuindo comida nas manifestações contra a Organização Mundial do Comércio em Cancun, 2003. Com certeza estou tendo muitos problemas que provavelmente estão sendo organizados pelas autoridades.
MZ > Você estudou pintura muitos anos atrás na Universidade de Boston. O que você faz hoje para nutrir o teu lado criativo?
KM < Eu ainda continuo desenhando e pintando freqüentemente. Eu nunca saio sem o meu caderno e os materiais de desenho. Meus desenhos consistem basicamente de paisagens que faço no próprio local ou aquarelas sobre um futuro que estou lutando para criar. Uma destas pinturas está colocada na página inicial do website do FNB. Outro esforço criativo é a jardinagem; Eu nado quase todos os dias, e amo pedalar. Nos dois últimos anos, estou fazendo pão num forno solar. Estou também gostando muito de escrever o Cooking for Peace.
MZ > Quais são os próximos planos, os teus e do FNB? Como os leitores podem aprender mais, se envolver?
KM < Uma vez terminado meu novo livro, pretendo passar mais tempo com as jardinagens e também me esforçar para viver no meu pequeno pedaço de terra em Taos, Novo México. No inverno ainda pretendo dar palestras em universidades e apoiar os grupos locais do FNB. Ultimamente tenho focado bastante no fortalecimento dos grupos de Washington D.C. pois descobri – quando estava fazendo pão solar no lado de fora da Casa Branca dois verões atrás – que podemos alcançar pessoas do mundo inteiro com nossas idéias e que há uma sub-cultura muito excitante que está crescendo cada vez mais.
O FNB está planejando organizar um encontro em cada continente para discutir sobre a construção de uma rede mais forte e uma melhor coordenação e comunicação entre grupos. Estamos também preparando uma resposta ao contínuo colapso da economia, do sistema político e do meio ambiente. Os grupos estão iniciando novos jardins do Comidas Sim Gramados Não, organizando mais apresentações e protestos. Outros estão coletando alimentos não-perecíveis e suprimentos para complementar a comida que já coletaram. Outros grupos estão fornecendo refeições em ações contra a mineração, desflorestamento, abuso dos direitos civis de imigrantes, ciganos, sem terras e povos indígenas. Estamos também participando em manifestações contra o Banco Mundial, acordos comerciais e outras formas de exploração econômica. Grupos locais também estão ativamente apoiando os esforços para por um fim à crueldade contra os animais e estão trabalhando para diminuir as causas da mudança climática. E em nossa lista de problemas as seguintes tarefas podem ser encontradas: acabar com a produção industrial de animais e o controle da Monsanto sobre nossa comida e os efeitos danosos de suas sementes geneticamente projetadas. E o FNB continua com sua luta para acabar com as guerras, que desperdiçam os nossos recursos com o militarismo.
Você está convidado para ajudar. Precisamos de todo/as o/as voluntário/as possíveis. Você pode se juntar a um grupo ativo ou se você verificar que não estamos presente em sua comunidade você pode começar um grupo local do FNB. Visite nosso site e procure seu grupo local. Você também pode clicar sobre o “Começar um FNB” e baixar os folhetos e outras informações. Mande um e-mail para nós no menu@foodnotbombs.net caso você tenha alguma dúvida. Nós também ficaríamos felizes de falar com você. Ligue para nós no 1-800-884-1136. Você pode fazer doações para o FNB através do programa Dollar for Peace.
Mais infos:
› http://www.foodnotbombs.net/
Tradução > Marcelo Yokoi
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!