De 20 a 22 de maio aconteceu nas dependências da Barbuda a 4ª edição da Feira do Livro Anarquista de Lisboa. Para além da divulgação das idéias anarquistas a partir dos livros e das publicações ali presentes, cumpriu o objetivo de levar a debate idéias e análises sobre questões “que assaltam a vida em tempos de guerra social” tal como é referido no manifesto de apresentação da Feira.
A noite de sexta-feira (20), lua cheia à vista e com cheirinho de verão, convidou a ocupar a praça, e assim, ao redobrado prazer de rever o/as companheiro/as juntou-se o relato do mês de ocupação da “ES.COL.A” através de dois interventores, da desocupação violenta de que foram alvo, da luta que continua. A 10 de maio, no Porto, a antiga escola do Alto da Fontinha, ocupada um mês antes, após cinco anos de desativação, foi violentamente desocupada e com sete ocupantes detidos. Um projeto educativo para as crianças do bairro estava a ser implementado no momento. Uma iniciativa antiautoritária que incomodou o poder. Esse seria aliás o único motivo que poderia levar a que um edifício abandonado e totalmente degradado durante tanto tempo ao ser recuperado e posto à serviço da comunidade fosse violentamente desocupado e emparedado. Neste momento luta-se. E foi essa forma de luta que levantou mais questões… mas também a constatação de como durante um mês foi uma fonte de inspiração, um exemplo de autonomia e de luta contra a gentrificação.
Gentrificação. Este foi um tema presente ao longo dos três dias do evento, especialmente no domingo, através da exibição do excelente documentário “Império St. Pauli”, que aborda os vários aspectos da gentrificação e as formas de luta adotadas contra ela, num bairro de Hamburgo, na Alemanha.
No sábado (21) foi abordado o tema do “Desenvolvimento” através dos seus efeitos nefastos, caso do TGV (Trem de Alta Velocidade), ou da gentrificação resultante de outros planos, particularmente nas cidades. Um debate a continuar, já que as formas de travar esse desenvolvimento e de se passar ao ataque são vários.
As recentes manifestações massivas de descontentamento nas ruas, na Espanha e em Portugal, convocadas por diversos movimentos sociais, foram alvo de atenção e motivo de discussões múltiplas no domingo (22). Refletiu-se, em seguida, sobre os caminhos que poderão levar a uma ruptura com o Estado e com a economia, procurando os pontos de confluência entre eles.
A repressão policial no 1º Maio anticapitalista e anti-autoritário de Setubal suscitou, como seria de esperar, uma análise viva e amplamente participativa que abordou, entre outras coisas, as questões da comunicação e da intervenção social anarquista assim como a luta contra toda a autoridade. Em particular o fascismo, travestido ele de que forma estiver.
Foi dado destaque ao recrudescimento dos ataques da extrema-direita em toda a Europa, seja pela cobertura dada pela polícia, em muitos casos, seja devido à conjuntura econômica, pois potencia o recrudescimento da xenofobia. Em particular, o caso da Grécia, tendo sido transmitido o apelo à solidariedade internacional feito por companheiro/as gregos em luta contra uma brutal repressão estatal e a perseguição dos imigrantes. Neonazis, juntamente com a polícia, têm vindo a atacar okupas do centro de Atenas, levando companheiro/as a uma situação em que é preciso defendê-los contra o perigo de perder a própria vida, contra a brutalidade policial e a barbárie fascista Também o número de imigrantes assassinados tem vindo a aumentar. Neste ano e nos dias que se seguiram à greve geral de 11 de maio dezenas de imigrantes foram seriamente feridos e um imigrante foi morto, em pogrons (linchamentos) realizados em vários bairros da capital grega.
A saborosa comida vegan, os momentos de poesia surrealista, a simpatia do coletivo que nos acolheu, os livros e revistas que nos animam ali tão perto, os exemplos de luta e de resistência, ficarão na memória de todo/as. As afinidades que resultam, a compreensão de outros pontos de vista, o reforço da auto-organização, a quebra do isolamento, a alegria de sermos mais e mais a cada ano que passa, a descoberta, a criatividade, a desmontagem do machismo ainda presente, constituem recordações já, motivos redobrados para se começar a pensar na próxima edição desta outra forma de luta. Anarquista.
Emília Cerqueira
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!