O Monolito da Memória
Após um ano de celebrações, em 18 de Junho, culminam-se os eventos do centenário da fundação da Confederação Nacional do Trabalho (CNT), com a colocação de um monólito em memória às centenas de milhares de membros do movimento libertário que deram suas vidas pela liberdade e revolução social, e que caíram sob as balas genocidas do latrofascio franquista. E não se pode colocar no lugar mais representativo do que na Fossar de la Pedrera do Cemitério de Montjuïc, onde milhares de pessoas sofreram o holocausto do franquismo.
Era necessário que um monumento recordasse as vítimas libertárias. Porque elas perderam duas vezes a guerra civil. Perderam-na no campo de batalha. E perderam no campo da história, condenadas a quarenta anos de repressão em todos os sentidos, e a quase tantos outros de ostracismo, que não deixa de ser uma outra maneira de matar. Porque apesar de no pelotão de fuzilamento as vítimas do franquismo serem todas iguais, para alguns interesses políticos, o melhor é distinguir as vítimas, recuperar algumas e esquecer outras, distorcer a história e, assim, enterrar com eles a memória.
Desde que o 1º de abril de 1939 foi decretado, a partir de Burgos, o fim oficial da Guerra Civil Espanhola, e as tropas rebeldes de Franco pisaram pela primeira vez com suas botas assassinas em Madri, para os libertários, havia apenas um caminho de duplo sentido: lutar contra o fascismo em vigor e nunca esquecer o passado e os militantes que deram suas vidas pela liberdade e um mundo melhor e mais justo. Seus esforços a muitos lhes custaram a vida.
Depois de uma “transição” que não foi senão a continuidade do regime de Franco, onde até mesmo as organizações que sofreram repressão franquista não hesitaram em voltar a enterrar seus militantes por algumas vantagens insignificantes, o movimento libertário entendeu que tinha que continuar com o caminho que lhe legaram seus predecessores. Não dobrar-se para o sistema e lutar pelo que consideramos justo.
Agora que certos pactos da transição expiraram, abrindo as covas de vergonha que demonstra a criminalidade genocida do franquismo e o silêncio cúmplice de alguns que são chamados democratas, temos de continuar no esforço de recuperar a memória libertária.
O ato de 18 de junho em Barcelona – na inauguração deste monólito elaborado por Juan Jose Novella, onde os galhos de um cipreste são de aço fazem crescer e estender a idéia – servirá não apenas como o ponto culminante dos atos do centenário da CNT. É continuar a recuperação da nossa memória e história; é uma homenagem a todos aqueles que perderam sua vida pela liberdade. E uma homenagem a todos aqueles que ainda vivem, que sobreviveram ao holocausto espanhol de Franco, e com suas lições e experiências nos deixam com a melhor medicina: a história como o primeiro pilar de luta para a sociedade que virá.
O monumento
Nas imagens do monumento se vislumbram as palavras: aos homens e mulheres da CNT… Juanjo Novella, escultor Basco com uma sensibilidade especial para as questões da memória, criou uma escultura forte, preparada para resistir aos elementos e ao tempo e, ainda assim, complexa e delicada, que aponta para cima, para os ideais do melhor que tivemos e perdemos na organização: todos os lutadores e lutadoras pela liberdade e pela revolução social, mortos por assim serem. A memória requerida por parte dos que compartilhamos e queremos continuar o caminho.
A escultura é um cipreste truncado que simboliza um desejo de marcação e dignificação aos mortos enterrados anonimamente. Desta maneira estabelecemos um marco onde o cipreste seccionado, com todo seu simbolismo, é o principal protagonista. Uma marca no pequeno espaço aberto limitado por ciprestes que define uma pequena praça, na Fosera. Esta escultura é inspirada nas colunas que saúdam o acesso pedestre à área e nos cipreste, colunas vegetais.
A verticalidade da escultura, assim como sua presença, refere-se às colunas e ciprestes do ambiente.
A escultura se integra sem impacto negativo sobre o enclave. A presença da peça é adequada ao lugar, com uma ocupação ajustada e sem estridências expressivas.
Há um grau de transparência que vai enfatizar o interesse ao cerceamento e experiência de uma visão além. Isso também permite uma presença mínima na praça, permitindo perceber o mesmo sem oclusão. A instalação permite manter a rotina e o tráfego.
As dimensões são de escala humana, em conseqüência a referência da escultura não será sobrecarregada por sua monumentalidade, mas para o alcance humano.
Tem buscado austeridade e simplicidade nas formas, correspondendo ao espírito pretendido e expressado pela CNT.
Juanjo Novella, escultor
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Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!