Entrevista com o artista Santiago Sierra acerca da sua última obra, a instalação itinerante “No Global Tour”.
Fale sobre o “No Global Tour”…
Agora o teremos no Artium de Vitoria. Também há um NO (NÃO) de mármore, que fizemos em Carrara. É um NÃO bem grande, feito na mesma furna onde trabalhava Michelangelo, toda coberta com vaselina… de uma forma insinuante, digamos. E deste eu gosto especialmente porque quando se vai a Carrara – que sai no filme a principio – se vêem as montanhas, e o que não faltam são virgens e santinhos. Acontece que Carrara é uma cidade com militância anarquista importante, especialmente entre os trabalhadores. E existem monumentos nas ruas destacados a figuras anarquistas, algo que nunca vi. Me dava esse sentimento: esta gente fazendo santos e eu de certo modo trabalhando um pouco dentro e fora do sistema. Me senti muito confortável fazendo este segundo NÃO. Se observar minha carreira, eu sempre busquei situações para ilustrar o desastre visualmente. Ter feito todo este trabalho de escritor, creio que para dizer algo e em uma só palavra, deixando um NÃO itinerante, que continua como um projeto ao mesmo tempo em que eu possa mantê-lo. Vamos tentar chegar o mais longe possível. Temos trabalhado como loucos e deixamos de fazer outras coisas. Mas eu sinto como se eu tivesse feito uma obra-prima. Apenas esqueça que há filme, esqueça tudo: pense na imagem do NÃO no meio do Madison Square (Nova York) e eu já sou feliz!
Há um momento no filme que um trabalhador italiano diz “o ‘não’ é a linguagem da criança”…
Bem, isso dizia Calvo Garcia, não? Que era o primeiro sinal da inteligência da criança, – dizer não – porque isso significava ser autoconsciente… Eu não sei como explicar, mas eu acho que quando quer dizer “não” está querendo dizer algo. Até então está apenas balbuciando.
Gostei muito que tenha dito não ao Prêmio Nacional de Artes Plásticas (novembro de 2010) e também da carta expressando a rejeição…
Bem, eu não acho que eles sejam alguém para premiar-me. Isso em primeiro lugar. Sinto-me desvalorizado, creio que há um “rolo”, por parte dos governos em geral, em uma política de prêmios constante para os artistas, que promovem a docilidade; te sugam o prestígio e te deixam seco [risos]. Ao artista que é dado um prêmio tão importante faz terminar sua carreira, faz um papel ridículo, em uma notícia apertando as mãos das autoridades; e a verdade é que não me vejo nesse papel. Não posso chegar e cumprimentar as pessoas que detesto.
Isto está de acordo com o que foi e deve continuar a ser a tradição histórica de artistas críticos ao poder…
De fato é surpreendente o bom relacionamento que parece ter. Sim, existem núcleos de pessoas que continuam dando muito la tabarra, mas geralmente mostram a mídia que o artista é um homem com um laço que faz muito bem genuflexões. É uma imagem desastrosa que tem feito muito mal ao próprio artista. A mim às vezes envergonha dizer que sou artista, porque você é associado a uma série de coisas que não têm nada a ver.
Depois de recusar o prêmio, que repercussões têm notado?
Tenho tido muitos elogios, fiquei espantado. Teve grande impacto fora da Espanha; apesar de não sair muito, o boca a boca funcionou. E não, eu realmente sinto falta dos trinta mil… [risos]. Deu-me qualquer tentação e me arrepender, mas… o dinheiro é para ser ganho, não me agrada assim, desta forma. Tenho feito muitas coisas: poderia fazer uma exposição para o Deutsche Bank, poderia fazer muitas coisas surpreendentes… Mas não receber por nada – simplesmente para ir e mostrar a minha adesão ao regime, não.
O artista ao criar tem uma pretensão. Qual é a sua?
Colocar em galerias ou museus, que são os centros onde os líderes vão gastar seu tempo de ócio, coisas que não querem ver lá. É como o meu karma, sempre tento fazer isso: tudo o que não pode ser feito, virar o jogo. Ou às vezes, por uma questão estratégica, me interessa mostrar-me cômodo e não criar problemas para vender fotografias, que é do que eu vivo. Mas normalmente minha intenção quando eu vou a uma galeria… Este, por exemplo, [aponta para uma foto] é uma galeria de Bucareste. É uma sala gigante com 300 mulheres pedindo esmolas.
Qual é o sentido último de trabalho de um artista?
Acredito que a tarefa de qualquer profissão deve ser trabalhar para o bem comum. Isso em termos de desejo. Em termos de realidade minha função é… talvez decorar as casas de pessoas com dinheiro. No final tudo acaba posto na casa de quem paga a foto. Somos como decoradores de interiores, com pretensões a algo mais, ou coloca-nos nesse papel da sociedade atualmente.
Filme:
› http://www.youtube.com/watch?v=WUvJCUFb_tE&feature=player_embedded
Mais infos:
› http://www.noglobaltour.com/
Fonte: Jornal CNT nº 378 – maio de 2011
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!