La Marmite [caldeirão] é uma cantina autogestionada, bio e vegetariana, que organiza refeições coletivas. Montada pelo grupo de Chambéry da Federação Anarquista francófona. La Marmite tem por objetivo pôr em ação a autogestão em torno de um projeto concreto e, na organização das refeições, desenvolver outras relações entre os indivíduos.
Baseada nos princípios de igualdade, solidariedade, responsabilização, reapropriação do espaço público e auto-organização. Ele é um meio de se desenvolver na prática autogestionária, de confrontar os funcionamentos logo de princípio, e de mostrar que essas alternativas são possíveis.
A autogestão
La Marmite é um projeto autogerido pelos membros do grupo FA de Chambéry. Isso significa que no grupo organizador, não há chefe, nem responsável designado, mas sim uma organização coletiva e uma responsabilização individual. Nós praticamos a rotação de tarefas, não há especialização, mesmo se houverem competências diversas, e cabe a cada membro do grupo propor coisas, se engajar no projeto. Tarefas não faltam: logística, informação, ligações com os produtores ou cooperativas, gestão… as decisões são tomadas coletivamente e os mandatos controláveis, limitados e revogáveis podem ser concedidos para tarefas precisas.
As refeições são preparadas coletivamente. Lá onde nós intervimos, nós propomos às pessoas participar à preparação, limpeza, na organização da cantina. Na La Marmite, não se separam aquelas pessoas que comem, aqueles/as que servem e aqueles/as que lavam os pratos! Ao contrário, cada um/uma é convidado/a a se engajar em todos os níveis de organização das refeições, solicitando uma atitude ativa, responsável, num contexto de associação livre, voluntária e pontual com o grupo organizador.
Refeição vegetariana, biológica e local
Preocupando-nos com a ecologia e a qualidade de nossa alimentação, nós colocamos em questão todo o sistema de produção (agro-indústria) e de distribuição (supermercados) de produtos alimentares. Na La Marmite nós privilegiamos então os produtos sadios (produtos não geneticamente modificados, com certificação biológica ou não, produtos sem pesticidas nem fertilizantes sintéticos). Nós escolhemos também, na medida do possível, buscar nos produtores locais. Encorajar ainda curtas distâncias, é também por em questão as longas distâncias pelas quais passa a comida, conseqüência de uma produção organizada para maximizar os lucros em detrimento dos trabalhadores e do meio ambiente.
Quanto ao consumo de carne, não é preciso dizer que nós a denunciamos, principalmente por causa das condições da criação e de abate infligidas aos animais. La Marmite é, então, vegetariana. No mais, nós permitimos que vegetarianos ou não participem das refeições… Uma alimentação de qualidade é hoje reservada às populações favorecidas, o que é conseqüência da generalização dos produtos industriais, baixa renda, e do aumento geral dos preços dos produtos alimentícios. Com La Marmite, nós queremos possibilitar a todos e todas se beneficiarem duma alimentação de qualidade, sã e equilibrada.
Reapropriar-se do espaço público
La Marmite é uma cantina móvel que se instala em lugares públicos, e principalmente na rua. É uma marcha de reapropriação temporária de um espaço hoje sobre controle de segurança e submetido ao reinado da mercadoria e do comércio. Hoje as ruas de nossas cidades são dedicadas ao comércio, ao consumo. Nada mais se faz que comprar. Esses e essas que não tem possibilidade ou são refratários a isso são então excluídos/as pela ordem de segurança (como os jovens dos bairros populares, os abandonados, os sem-teto…). A polícia patrulha, caça os desviantes e suspeitos, controla as identidades, as câmeras de vigilância normalizam os comportamentos. No fim, a mercadoria ocupa quase que inteiramente o espaço, sendo praticamente a única coisa disponível nas ruas. Instalar-se na rua, e ali organizar uma refeição coletiva, é se reapropriar de um espaço que nos é tomado todo dia, para transformá-lo num momento de convívio e de experimentação.
Preço livre
A refeição da La Marmite tem o preço livre: cada um/uma dá o que quer ou o que pode, segundo seus meios. Esse princípio dá a possibilidade a quem quer que seja de vir comer, contribuindo com o que desejar, de 0 ao infinito. Não é que seja gratuito, porque o trabalho e a qualidade da refeição proposta tem um custo, que nós assumimos pelo autofinanciamento, mas nós não recusamos uma refeição a qualquer um que não possa pagar. O preço livre permite igualmente refletir sobre o valor disso que consumimos, e de ali incluir além do custo dos produtos (preço de retorno), o prazer que se teve. O suporte que se dá a iniciativa… É tudo simplesmente não pagar por reflexo, mas se responsabilizar por uma participação financeira livremente escolhida. Isso nos faz reaprender a estimar por nós mesmos o valor de uma refeição e do trabalho autogestionado que a tornou possível.
Para finalizar…
La Marmite é assim um projeto de múltiplas faces que contém a maior parte das idéias e práticas que nos são caras: liberdade, igualdade, solidariedade, autogestão, respeito aos outros, ao meio ambiente, convivência, auto-produção, não-desenvolvimento, reapropriação dos espaços, dos saberes e das técnicas. É uma prática concreta de anticapitalismo, é pôr em prática as idéias anarquistas. La Marmite quer igualmente poder estar presente nos espaços de mobilização social, para apoiar um movimento em ação, para difundir e transmitir as idéias e as práticas.
Mais infos:
Vídeo:
› http://www.dailymotion.com/video/xd5jxk_la-marmite-cantine-autogeree-une-pr_news?start=2#from=embed
Tradução > Tio TAZ
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!