[De 2005 a 2007, um estudante genebrino estava infiltrado entre grupos altermundialistas da parte do Cantão de Genebra e da Confederação. O “ex-espião” expõe os fatos.]
O homem era um espião à soldo dos Serviços de Informações genebrinos e Federais. Sua missão não consistia em se infiltrar em potenciais células terroristas, mas na organização altermundialistas Attac de Genebra. A partir dali ele deveria se enredar nos contatos de grupos mais “radicais”.
O encontro se realizou na estação Genève-Cornavin. Estava muito quente aquele dia. O ex-espião – vamos chamá-lo de Laurent – é um jovem desengonçado. Está de shorts, os cabelos ligeiramente bagunçados e uma barbicha.
“Estava no fim dos meus estudos no colégio, verão de 2005, se lembra Laurent. Um camarada de classe me perguntou se eu estaria disponível para trabalhar como informante para a polícia sobre os movimentos de extrema-esquerda”. Pouco depois, o jovem de aproximadamente 19 anos se encontra com um agente da “Célula de Informação” da polícia genebrina. Esta célula colaboraria estreitamente com o Serviço Federal de Análise e de Prevenção (SAP em francês), o atualmente Serviço de Informação da Confederação (SRC em francês).
Uma relação amistosa
Não obtivemos muito dele acerca do seu contato na polícia. O ex-espião recusa-se a divulgar o nome do velho quadro da Célula de Informação, explicando que ele não quer “entrar em conflito com a polícia”. Aliás, suas relações com ele continuam amigáveis. Ele o chama “Philippe”.
Seu primeiro encontro se desenvolveu “um pouco como num filme”, conta Laurent. “Nós demos uma volta no bairro na sua viatura. Philippe me explicou que ele estava trabalhando no meio da Attac de Genebra”. O policial lhe deu um telefone celular afim de facilitar as comunicações. Em seguida, eles se veriam a sós em três semanas. Laurent rapidamente se apercebeu que Attac não era em si o alvo da sua infiltração. “Ele se interessava sobretudo em recolher informações sobre as manifestações”, analisa Laurent. Como uma organização “aberta”, Attac constituía um meio de atingir esse objetivo. “Eu devia participar das reuniões do comitê como delegado d’Attac e me aproximar pouco a pouco dos grupos mais radicais”.
Sua carreira de espião começou por uma manifestação contra a Organização Mundial do Comércio (OMC) em outubro de 2005 em Genebra. Uma centena de organizações na Suíça e no estrangeiro apelaram à mobilização. Laurent participou das seções de preparação. Mesmo durante a manifestação, ele entrou em contato com a polícia. “Eles queriam saber o que estava acontecendo no meio da turba, por exemplo se tinha gente mascarada”, comenta. A manifestação se desenvolveu sem incidentes. E sem segredo: os processos-verbais das sessões de preparação são hoje ainda acessíveis via internet.
No WEF de Davos
Após uma longa pausa consagrada à escola de recrutas e às férias, Laurent volta aos seus afazeres em setembro de 2006. Philippe lhe apresentou uma nova pessoa de contato: Marc, um quadro que há muito trabalhava na central da SAP em Berna. Logo Marc tomaria o lugar de Philipe, que fora transferido para outra seção da polícia genebrina. Marc por sua vez deu um telefone celular ao espião.
Laurent ficou responsável então de seguir a mobilização contra o Fórum Econômico Mundial de Davos e o encontro do G8 em Heilignedamm, na Alemanha. Ele se lembra de duas organizações que interessavam particularmente as Informações Federais: o Revolutionärer Aufbau, de Zurique, e a rede de mobilização autônoma anti-G8 Dissent! Entre as pessoas ligadas à Dissent! se encontrava o militante genebrino Olivier de Marcellus. “Se tiveres a oportunidade de se aproximar, ele nos interessa”, lhe disse Philippe. Laurent em certas ocasiões pode lhe falar uma ou duas vezes, mas sem se tornar próximo de Olivier. Fora isso, Laurent tomou parte em dezembro de 2006 em uma reunião informativa da rede Dissent! num espaço autogestionado em Lausanne.
Próximo ao fim de 2006, Laurent também se encontrou no Reitschule em Berna, para uma reunião de preparação para a mobilização de Davos. Ele diz não se lembrar do conteúdo das discussões. “Eu entendo muito pouco o suíço-alemão”, justifica. Ele se lembra, no entanto, de ali ter enfim encontrado um representante do Revolutionärer Aufbau, e de ter reconhecido uma pessoa cuja descrição lhe havia sido passada pelo Serviço de Informação: “Eles me disseram que esse homem estava pronto a recorrer à ações violentas, contra os bens, mas também contra seres humanos”.
Não era o único espião
Para Laurent, uma certeza: haviam outros espiões além dele. “Os Serviços de Informação me mostraram os processos-verbais de reuniões e de convites às reuniões que eles não poderiam obter sem espiões”, assegura, sem apresentar alguma evidência. A missão seguinte levaria Laurent à Zurique. O grupo para uma Suíça sem Exército (GSSA) tinha feito um mailing para chamar os simpatizantes a um encontro em Davos, vestidos de clown [palhaços] com apetrechos militares, para ali semear a confusão. Em 26 de janeiro de 2007, Laurent participou de uma sessão de preparação no squatter Kalkbreite, em Zurique. Uma das pessoas presentes se lembrou dele: “disse: ouah, até tem gente que veio de Genebra!”.
Nesse encontro, Laurent entendeu que, no dia seguinte, o exército de clowns não seguiria pelo percurso autorizado para a manifestação, mas iria fazer diretamente um tampão em frente aos hotéis de luxo. Uma informação que foi rapidamente comunicada a Marc, o agente da SAP. Ao invés de dormir no hotel, como Marc lhe propôs, o espião preferiu passar a noite com os ativistas. No dia seguinte, ele estava entre os manifestantes do famoso exército de clowns que ocuparam Davos.
Internacional da Informação
No verão de 2007, Laurent viajou até Rostock para UN TRAIN SPECIAL EMMENANT com muitas centenas de pessoas de toda a Suíça. Ele estava na rota daquela que seria sua última missão. A toupeira passaria a noite no acampamento anti-G8. Marc se encontrava também em Rostock, mas num hotel. “Nós nos vimos duas vezes”, relata Laurent. Não sem complicações: o espião teve de inventar pretextos afim de não levantar suspeitas entre seus colegas d’Attac. “De toda forma, eu não tinha coisas de grande interesse para lhe contar. E também eu não estava muito motivado”. Rostock parecia ter acolhido na ocasião uma Internacional da Informação. “Ali haviam franceses, suíços, etc. Cada um com seus informantes”, afirma Laurent. Ele mesmo não entraria mais em contato com Marc.
Tradução > Tio TAZ
Fonte: agências de notícias internacionais
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!