por Mumia Abu-Jamal
Enquanto o movimento Ocupa Wall Street ganha força e inspira protestos do mesmo tipo em muitas partes do mundo, os defensores do chamado Tea Party (Partido do Chá) acusam os ativistas de ser “transgressores da lei”, “radicais” e até mesmo “anti-americanos” – ao contrário deles, naturalmente.
Imagina-se que o propósito de tais comentários é diferenciá-los não só deles, mas também dos norte-americanos que originalmente tornaram o termo Tea Party¹ parte da história. Em sua versão, as do original Festa do Chá foram pessoas amigáveis, respeitosas da lei, que nada mais se envolveram em um pequeno desacordo patriótico.
Na verdade, isto não é precisamente o que aconteceu.
O recém falecido historiador Howard Zinn, em sua obra de valor inestimável A Outra História dos Estados Unidos: 1492- até o Presente², fala do Motim do Chá como um grande evento, não só de rebeldia, mas de banditismo. Imagine o valor econômico das grandes caixas de chá importado, saqueadas e atiradas ao mar no Porto de Boston. A propriedade dos comerciantes locais foi destruída. Por quê? Porque os norte-americanos se enfureceram quando os britânicos aumentaram os impostos e teriam de pagar preços elevados por algo que consideravam como um produto de primeira necessidade. Claro, ficaram satisfeitos por tirar sarro dos britânicos também.
O governo britânico respondeu a esta provocação com a aprovação das Leis Coercitivas do Parlamento. Fecharam o Porto de Boston, dissolveram o governo colonial local e enviaram tropas para a cidade, efetivamente estabelecendo a lei marcial (Zinn 67).
Vejamos… qual grupo contemporâneo se parece mais como seus antepassados norte-americanos? O Tea Party ou o movimento Ocupa Wall Street?
E para que não se perca a lição mais importante, as mulheres também tiveram um papel crucial nos protestos anti-coloniais. Abigail Adams, esposa de John Adams, escreveu sobre uma “Celebração do Café”, organizada por cerca de 100 mulheres que, irritadas com o alto preço do café em uma loja em Boston, marcharam até o armazém e exigiram que o comerciante “mesquinho” entregasse as chaves. Quando ele se recusou, Abigail Adams escreve:
“Uma delas agarrou seu pescoço e o tirou de um dos caminhões. Como as mulheres não deram moleza, deu-lhes as chaves. Então elas voltaram ao caminhão e o tiraram. Em seguida, abriram a loja, pegaram o café, colocaram-no em seus baús e se foram. Uma multidão de homens ficou ali, sem palavras, observando em silêncio toda a operação” (Zinn 110).
Transgressores da lei? Radicais? Anti-americanos?
Não há dúvida de que violaram as leis, porque durante a era colonial, a lei da Inglaterra regia tudo. Eram radicais? Provavelmente. Eram anti-americanos? Destruíram a propriedade privada. Vendo que os ricos ficaram mais ricos, saquearam seus armazéns.
A mim isto soa muito americano.
Do corredor da morte, sou Mumia Abu-Jamal.
Quarta-feira, 19 de outubro de 2011
[1] Cabe destacar que o Tea Party agora é conhecido como um partido político ou um movimento, mas o Tea Party original foi uma Festa do Chá ou, na realidade, um Motim do Chá.
[2] A Peoples History of the United States: 1492-Present, Perennial Classics: 2003.
agência de notícias anarquistas-ana
entre flores velhas
o som da abelha
treme flores novas…
Luiz Gustavo Pires
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!