Em 9 de dezembro, aos 30 anos do seqüestro de Mumia Abu-Jamal pelas mãos da quadrilha policial da Filadélfia e sua incriminação pelo homicídio do policial Daniel Faulkner, algumas centenas de ativistas e artistas realizaram um ato de 8 horas em seu apoio, fora da Embaixada dos Estados Unidos na Cidade do México. Com muito amor para um homem livre que sempre teve a coragem de falar a verdade, enquanto ainda nas garras do inimigo, comemoramos o revés sofrido pela promotoria dessa cidade em seu esforço para assassiná-lo por meios legais e deixamos claro o nosso total repúdio à sua morte lenta na prisão ou qualquer atentado contra sua vida, uma vez que seja transferido para a população geral.
Alguns dos participantes no ato têm apoiado Mumia desde os anos 90 e foram presos e espancados por marchar por sua liberdade em dezembro de 1999. Muitos o conhecemos através de seus escritos que circularam na mídia livre, enquanto dezenas de participantes acabam de descobrir sua luta e do altíssimo preço que ele paga para ser coerente com seu compromisso com a libertação africana-americana e a transformação revolucionária do mundo. Em todo o caso, esperamos que tenha chegado a Mumia as vibrações energéticas e rebeldes que enviamos da Cidade do México. E também queremos que as autoridades nos Estados Unidos saibam que existem pessoas em todo o mundo que dizem NÃO! a seus crimes de Estado contra Mumia e também contra os presos políticos do MOVE, Leonard Peltier, Sundiata Acoli, Jalil Muntaqim, Herman Bell, Dr. Mutulu Shakur, Sekou Odinga, Marshall Eddie Conway, Albert Woodfox, Herman Wallace, Veronza Bowers, David Gilbert, Oscar López Rivera, os 5 cubanos, Daniel McGowan, Bradley Manning e dezenas de outros.
Nossa alegria por um possível passo a frente no caso de Mumia foi tingida pela raiva e dor que sentimos sobre o assassinato de Trinidad de la Cruz Crisóstomo, e o de Pedro Leyva dois meses antes – dois bravos companheiros com um compromisso total com a recuperação e defesa das terras nahuas em Xayakalan, Ostula, Michoacán. Responsabilizamos o governo dos Estados Unidos por suas mortes através do financiamento e treinamento de grupos policiais, militares e paramilitares que operam com impunidade no país.
Estamos honrados com a presença no ato de dois companheiros da família do preso político Alberto Patishtán, que esteve preso por 11 anos por lutar por uma vida digna para os povos indígenas de Chiapas e por ser a força motriz da organização do La Voz Del Amate e outros grupos dentro das prisões. A companheira Beatriz detalhou as muitas transferências do professor de uma prisão para outra, para impedir seu trabalho educativo, social e organizacional, incluindo a transferência mais recente à Guasave, em Sinaloa, a mais de 2.000 quilômetros de sua família. Juntamo-nos no esforço para conseguir que este companheiro, com um compromisso social inabalável, novamente volte a andar livre em suas próprias terras!
Também nos deu força a presença dos companheiros da Frente dos Povos em Defesa da Terra de San Salvador Atenco que chegaram com uma mensagem de solidariedade para Mumia Abu-Jamal: “A liberdade não tem cor, nem fronteiras e nem limites. Dá-nos coragem que mais um companheiro está na prisão porque quer que o futuro mude. Estamos com ele. Agradecemos sua solidariedade e hoje correspondemos a essa solidariedade…” Recordamos que o governo do México tentou submeter Ignacio Del Valle e Felipe Álvarez a uma morte lenta na prisão por 67 anos e meio e 112 anos e meio respectivamente, mas não puderam fazê-lo e tão pouco podiam romper seu espírito de luta. Felipe Alvarez disse que “como Frente dos Povos estamos comprometidos de continuar lutando depois de obter a nossa liberdade graças a todas as organizações nacionais e internacionais, a todas as pessoas, todos aqueles companheiros ativistas… e principalmente ao companheiro Mumia, que se encontra em cativeiro. Desde aqui levantamos uma saudação muito fraterna a ele como um lutador social para dizer apenas que vamos continuar a buscar sua liberdade. Zapata vive. A luta continua!”
Nacho del Valle disse: “Mumia é um exemplo de dignidade. É um exemplo de integridade. Hoje cumpre 30 anos. Que tempo precisei para dizer 30 anos? Três segundos. Dois segundos. Trinta anos dessa consciência indomável. Quando estávamos na prisão, recebemos seus cumprimentos. Nós não o conhecíamos… Alguém me disse. Este homem desde lá está lutando. Isso significa que ele não conhece a prisão, apesar de estar trancado nessas masmorras imundas. A liberdade está na consciência. Está no amor que têm para os outros… Companheiros, nós sabemos o que é a repressão… É verdade que temos medo, porque o medo faz parte da nossa existência. Mas esse medo que nos marca a consciência é diferente do medo que nos torna servil, que se torna escravo desse grande poder… Aqui no nosso México estamos vivendo as atrocidades mais horríveis do ser humano e isso não podemos contar em números. Mais de 50.000 mortos em nosso país. Mais que em uma guerra de confronto militar. Como é possível? Bem, embora possa parecer que somos poucos, aqui está o melhor deste país, o melhor da consciência que tem que fabricar essa esperança. Temos que construir desde aqui essa esperança de liberdade que queremos para os nossos irmãos que lutam… Sabemos que esta repressão é dirigida principalmente e seletivamente aos ativistas sociais, aos que dizem “Já basta!”, mas que não tem que nos assustar… Somos milhares, somos milhões de corações, consciências que clamam a liberdade desse homem que nos marca essa completude de consciência e de liberdade, e dignidade acima de tudo. Sabemos que não o dobraram, apesar de passados 30 anos e temos que lutar… Mumia vive! A luta continua! Presos políticos, liberdade!”
A Otra Cultura apresentou uma performance que destacou a história de Mumia com os Panteras Negras e criou várias instalações, incluindo uma em memória ao bebê Life África, que morreu pisoteado pela polícia da Filadélfia em 1976; seus pais são Janine e Phil África dos “9 do MOVE”, que permanecem atrás das grades por 33 anos por defender a vida em todas suas formas.
Os rappers, grupos de reggae e cantores e canções de protesto tocaram com entusiasmo e alta qualidade musical. Graças à Mexikan Sound System, ARH Al Intifadah, Jorge Salinas, MC Xozulu, La Outra Acústica, Youalli, Van-T, Nehualyome Dub, Lírika Podrida, o Indio Sin Dios Sangre Maíz, Luna Negra, Ollin Roots, e os Dub Riders de Reggae AmbulanT Sonidero Cultural Sin Fronteras, o evento teve um ritmo rápido e canções com letra de luta, desde “Corrido de Gabino Barrera” até “No voto y no me callo” (Não voto e não me calo”), “Alta Resistência”, “Sata Massagana”, “Libertad a Mumia Abu-Jamal” (Liberdade a Mumia Abu-Jamal) e “Wirikuta”, entre muitas mais.
Desde que deixou a prisão, a companheira Edith Rosales, ex-presa política de Atenco e demandante contra a impunidade pela tortura sexual que ocorreu ali em 4 de maio de 2006, sempre esteve presente nos atos em apoio à Mumia. Em sua mensagem, nos lembra que “Os prisioneiros políticos não permanecerão calados… Mumia, um jornalista, segue denunciando mesmo ainda estando nas masmorras. É parte de sua luta. E é muito respeitável, companheiros, porque não se imagina que trabalho custa escrever lá dentro, que trabalho custa coordenar as idéias. Devemos seguir lutando por ele. Todos os presos políticos devem sair dessas masmorras”.
O companheiro da Cruz Negra Anarquista disse: “Mais uma vez estamos aqui, em frente à esta embaixada que representa o império que massacra e assassina as pessoas em todo o mundo. Mais uma vez estamos aqui para exigir a libertação do ativista revolucionário Mumia Abu-Jamal. Agora foi posta abaixo a pena de morte graças à solidariedade internacional. E é bonito ver a boa energia aqui hoje e saber que esta solidariedade segue para removê-lo da prisão. Temos que tirar os presos políticos no México também, como Alberto Patishtán e os presos do La Voz de Amate, que fizeram uma greve de fome há mais de um mês. De sua cela, Mumia continuou a denunciar o sistema prisional dos Estados Unidos, as prisões de um mecanismo de controle de uma classe sobre outra… cheio de ódio e racismo, um mecanismo usado para punir aqueles que se rebelam… Lutamos por Mumia e todos os presos deste país e do mundo. Presos na rua!
A companheira Hilda falou da necessidade de lutar contra a militarização do país e pelo aparecimento com vida dos desaparecidos do país. Também falou da ameaça que as autonomias indígenas representam para o capitalismo e convidou a todos para participar de uma marcha-caminhada em solidariedade às companheiras e companheiros triquis, deslocados do Município Autônomo de San Juan Copala, desde Huajuapan de León até o Zocalo da cidade de Oaxaca, no próximo dia 19 de dezembro.
Foi lida uma análise da privatização dos presídios no México feito por Tania e Miguel, que diz que a grande maioria das pessoas em prisões no México é de “jovens pobres, que na maioria dos casos, estão lá por roubo menores de cinco mil pesos, ou que permanecem reféns por não poder pagar o resgate que, nestas circunstâncias, é chamado de “fiança”… A privatização das prisões deve alertar-nos, já que sua essência é que as grandes empresas lucrem com a população privada de liberdade e façam da justiça um negócio… Como a própria prisão é um negócio, é necessário mantê-las em sua capacidade máxima, o que necessariamente implica em ter um fluxo constante de pessoas cativas…”
Também foi lida uma mensagem de Nodo Solidale, que disse, em parte: “Entre as muitas tarefas que temos que dar-nos como um movimento social, está a de nunca esquecer os nossos prisioneiros, nenhum. Menos ainda os que, dia a dia, se pronunciam com sua palavra e seu exemplo, como Mumia Abu-Jamal, no corredor da morte nos Estados Unidos, ou Alberto Patishtán Gómez no México… Sigamos tecendo organização, construindo alianças, buscando caminhos em nome de Mumia, de Alberto, dos Mapuches detidos no Chile, dos 5000 palestinos detidos em prisões de Israel, dos anarquistas perseguidos em todo Estado, dos árabes rebeldes no Egito, Tunísia e Líbia e das mulheres como Rosa Díaz López, em Chiapas, que desde as prisões se atrevem a denunciar as injustiças que sofrem e que vêem. Devemos nos fortalecer e crescer também em nome de um mundo que já não terá prisões, porque já não haverá ricos se enriquecendo e pobres castigados”.
Cabe destacar que em 9 de dezembro também houve marchas, manifestações e eventos em outras partes do mundo, incluindo um grande evento no Constitution Center na Filadélfia, com música, dança e debate, enquanto a gangue para-policial de motociclistas Centurions gritavam lemas de ódio. No evento, palestrantes lembraram ao promotor Seth Williams de sua obrigação de promover a imediata libertação de Mumia Abu-Jamal. Perguntou-se: Se a Suprema Corte declarou inconstitucional a sentença de morte, por que se considera que o mesmo juiz, o mesmo promotor e os mesmos jurados não violaram seus direitos constitucionais ao colocá-lo culpado de homicídio? E se alegou: Durante 30 anos Mumia Abu-Jamal foi submetido a uma punição cruel e incomum de isolamento, agora reconhecido por um grande número de psicólogos e defensores dos direitos humanos como uma forma de tortura e, portanto, merece a libertação imediata com compensação por tempo cumprido em prisão.
Por toda parte, a luta segue, agora renovada, para levar Mumia Abu-Jamal para casa.
Amig@s de Mumia do México
Áudios e fotos:
agência de notícias anarquistas-ana
Virada do morro:
Ipê e seu grito amarelo
perpendicular.
Eolo Yberê Libera
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!
Um puta exemplo! E que se foda o Estado espanhol e do mundo todo!
artes mais que necessári(A)!
Eu queria levar minha banquinha de materiais, esse semestre tudo que tenho é com a temática Edson Passeti - tenho…
Edmir, amente de Lula, acredita que por criticar o molusco automaticamente se apoia bolsonaro. Triste limitação...