Da Indonésia ao Chile…
Uma proposta para a F.A.I./ F.R.I.
Uma publicação de membros encarcerados da Conspiração das Células do Fogo
Ouvimos a música do fogo que vem de longe. As palavras cheiram a pólvora. Do outro lado do mundo companheiro/as rebeldes incendeiam as noites e libertam lugares e momentos. Podemos ouvi-lo/as… Conspiram, planejam, atacam… Não temos de dizer mais nada, deixemos os nossos irmãos e irmãs falar por nós.
“Somos todo/as Conspiração das Células do Fogo. C.C.F. não é nem uma organização nem somente um grupo. Pelo contrário, é uma expressão antagonista de raiva e desprezo para com a autoridade e as suas estruturas. Para espalhar as C.C.F. precisas apenas de gasolina, fósforos e o desejo de lutar pela liberdade absoluta. Começamos a guerra contra a ordem existente.
O texto que se segue é dedicado à C.C.F. Mexicana e aos nossos irmãos e irmãs da F.A.I. um pouco por todo o mundo.
I) O vento sopra contra… da Indonésia ao Chile
Nestes meses antecedentes, de todos os cantos do planeta, cada vez mais mensagens explosivas de fogo e pólvora cruzam as fronteiras e os mares chegando-nos aqui, às prisões gregas, onde nos encontramos reféns, mas não derrotado/as.
Palavras misturadas com o fogo e que no seguimento das cinzas de bancos, edifícios governamentais, carros de polícia, laboratórios de nanotecnologia, antenas de satélite, carros de segurança privada e lojas de luxo, trazem uma promessa a amigo/as e uma ameaça ao inimigo. Trazem uma proposta viva da Federação Anarquista Informal (F.A.I.). Uma Frente Revolucionária Internacional (F.R.I.) encontra-se agora organizada na Itália, Inglaterra, Chile, México, Argentina, Rússia, Holanda, Peru, Bolívia, Indonésia, Austrália, Grécia…
Uma idéia que começou o seu périplo há dez anos atrás, partindo dos irmãos e irmãs da F.A.I. italiana, e que hoje se encontra mais forte do que nunca. A F.A.I. não é, definitivamente, um jogo teórico de palavras e símbolos inofensivos, mas sim uma idéia de viver de forma perigosa e anárquica com todos os nossos sentidos, sem tempo morto e desculpas covardes.
Muitas das vezes os textos que nos chegam às mãos, como o da F.A.I. italiana, o do/as companheiro/as ingleses da F.A.I. intitulado “Chuva e Fogo”, a declaração da F.A.I. russa, o apelo das 11 organizações anarquistas do México, e muitos mais, enchem-nos de uma sensação estranha. É essa sensação indescritível que sentimos quando indivíduos e grupos que não se conhecem chegam às mesmas conclusões e sentem os mesmos sentimentos exatamente na mesma altura.
Esse sentimento explode a cada palavra que destranca a próxima e desenha um caminho para uma revolta comum. É uma das poucas vezes em que não temos muito para dizer. A maior parte dos nossos pontos são cobertos pelo/as nosso/as companheiro/as. Mas não queremos encher o texto de uma série de cumprimentos.
Sabemos que temos trabalho a fazer e um caminho duro, com diversas batalhas, a percorrer. Agora queremos tornar-nos ainda mais perigosos, ainda mais substanciais, ainda mais anarquistas. É por isso que escrevemos bastante desde dentro das prisões, porque queremos atuar ainda mais.
II) Fazendo uma “tradução” dentro da tradução
A comunicação é a pedra chave de toda a nossa estrutura informal. Libertamos cada palavra como se de um convite a uma batalha contra a autoridade se tratasse. Queremos, em cada significado que imprimimos em papel, encontrar um caminho para que este passe da teoria e se transforme em prática. Somente através da prática é que todos os valores teóricos são testados. Contudo, cada palavra que usamos tem a sua origem histórica. Muitas das vezes as mesmas palavras expressam diferentes significados de país para país. A Federação Anarquista Informal (F.A.I.) consiste numa formação anarquista internacional entre indivíduos e células que falam diferentes linguagens, mas que, contudo, se tentam expressar através das suas ações, o seu desejo comum por uma revolução anarquista.
É por isso que as traduções de textos e de comunicados que circulam pelos círculos da F.A.I. são de grande valor para que se tenha contato com as idéias de outros. Muitas das vezes, ainda assim, uma segunda “tradução” da tradução é necessária para poder explicar algumas palavras que têm diferentes significados de lugar para lugar.
Fazemos aqui uma primeira tentativa desta dupla tradução para assim clarificar qualquer confusão possível entre companheiro/as. A primeira indicação chegou-nos dos nossos irmãos e irmãs no Chile quando o/as companheiro/as das Columnas Antagonicas Incendiarias (Colunas Antagônicas Incendiárias) ao promoverem o diálogo através da ação, num comunicado em que assumiam a responsabilidade pelo incêndio do Banco Estado em Santiago, expressaram abertamente as suas reflexões relativamente ao uso da palavra revolução e do significado que nós, enquanto C.C.F., lhe damos.
A sua objeção baseia-se no fato de que normalmente para eles o significado de revolução identifica-se com um levantamento popular generalizado, que é composto através de um súbito despertar da consciência das massas. Essa revolução é normalmente invocada pelos marxistas e por alguns “anarquistas” que justificam o uso da violência revolucionária somente quando as condições sociais estejam desenvolvidas, descartando assim o significado de uma insurreição individual. Portanto, falar de tal revolução é como falar em nome das pessoas, algo que faz lembrar fortemente as vanguardas armadas e a percepção marxista, com a qual não temos relação.
Certamente é verdade que usamos com freqüência o significado de revolução nos nossos textos, tendo em consideração que para nós é evidente que ao falarmos repetidamente de anarquismo anti-socialista, de anarco-individualismo, da tensão de companheiro/as insurrecionistas e de um niilismo agressivo, seja apreensível o que significa para nós essa definição. Mas muitas das vezes as grandes distâncias, a falta de traduções, assim como o uso específico de cada palavra em cada local, levam à necessidade de sermos mais claros. Clarificamos, portanto, que de nenhuma maneira nos alimentos das ilusões de um vago despertar social futuro que se dê de um momento para o outro, nem de um levantamento popular com características anarquistas. Não temos confiança nas massas que, com a sua covardia e imobilidade, conservam este sistema autoritário. É por isso que não somos somente inimigos do estado, mas também dos valores sociais que o sustêm, que o justificam e que o reproduzem como uma relação social no seu interior. Mesmo os protestos sociais por melhores salários, pela segurança social, por mais direitos, são mobilizações com uma data de expiração, que nos levam de volta à passividade.
Acreditamos que cada pessoa deve ganhar consciência individualmente, se deve tornar consciente do crime que representa a existência de autoridade, abolindo-a do seu estilo de vida e ao mesmo tempo encontrando companheiro/as que ataquem a autoridade disseminada pelo estado. É por isso que acreditamos na luta minoritária anarquista e na nova guerrilha urbana anarquista.
Para além disso, o significado de revolução em si mesmo não significa libertação. Não nos esqueçamos que a ditadura dos partidos comunistas foi estabelecida, principalmente, através de revoluções. Não queremos nenhuma revolução que não seja uma revolução anarquista que abula todas as formas de autoridade. É por isso que de agora em diante, para que sejamos claros nos nossos textos e nas nossas ações, falaremos da revolução anarquista.
Outro mal-entendido que muitas das vezes acontece tem que ver com a nossa referência à luta armada. Sabemos que em alguns outros países, como por exemplo a Itália, o significado de luta armada refere-se à lógica da vanguarda armada própria de décadas anteriores.
Daí que queiramos clarificar que de nenhuma forma acreditamos em vanguardas iluminadas nem na liderança “revolucionária”. Tudo o que fazemos, fazemo-lo primeiro que tudo para nós próprios. Através dos nossos ataques, comunicamos com outros companheiros, espalhamos os valores anarquistas, atacamos o sistema, negamos o papel da vítima e gozamos as nossas vidas através de mais selvagem e libertadora das suas versões.
Simultaneamente, queremos implantar um temor hostil ao inimigo, tornando clara a existência de uma guerra civil ininterrupta entre insubordinados e a autoridade. Procuramos aterrorizar os terroristas e fazer com o medo da vingança passe para o seu campo, para as suas mansões, parlamentos, ministérios e delegacias de polícia.
Tudo isto nos dá uma grande satisfação pessoal. É por isso que nos definimos como anarco-individualistas. Não gostamos de nenhum tipo de opinião que queira transformar a revolução anarquista de um modo de vida genuíno para uma missão militar com regras e líderes ao serviço do “bem-estar” geral da sociedade. Não nos sacrificaremos pelo “bem-estar” de uma sociedade que freqüentemente é pontapeada pelo patrão e ainda diz “obrigada”. Se através dos nossos discursos e ações provocamos questões libertadoras e dúvidas a algumas outras pessoas que põem em causa o estilo de vida moderno, isso será bom, primeiro que tudo, para elas próprias. Seria uma honra e dar-nos-ia uma grande alegria se nele/as encontrássemos futuro/as companheiro/as. E mesmo que assim não seja, nunca abandonaríamos, nem que fosse só por um momento, a batalha contra a autoridade e a nosso crítica anti-social, para que pudéssemos será apreciados por mais pessoas.
Existe, contudo, mais um parâmetro da crítica ao uso do termo “luta armada”. Uma crítica que nos chega principalmente dos nossos irmãos e irmãs da anarquia insurrecionista. A referência à luta armada pode ser facilmente mal interpretada como uma monomania, um fetichismo pelas armas, como uma hierarquia informal dos meios da luta anarquista que coloca a luta armada como a forma de ação suprema.
Nós nunca pomos no nosso discurso, como nas nossas ações, as formas de conflito com o sistema numa ordem hierárquica. Nunca acreditaríamos que uma ação depende do grau de violência que concentre para que se torna mais ou menos “anárquica”. Ao mesmo tempo, ainda assim, estamos absolutamente contra as separações por parte do/as anarquistas “tradicionais”, que defendem e justificam a ação violenta somente quando ela se expressa em massa numa manifestação, mas que a questionam e a desprezam quando é levada a cabo no escuro da noite por uma determinada minoria de companheiro/as. Também nunca concordaríamos com a estúpida separação que alguns “anarquistas” expressam em alguns países e que torna a violência anarquista aceitável somente quando é direcionada contra um alvo material, marginalizando e condenando, pelo contrário, a execução de um funcionário que faça parte do sistema, dando como desculpa o respeito pela vida humana. Para nós não existe respeito pela vida humana de um polícia, de um juiz, de um procurador, de um jornalista ou de um bufo.
Nesse sentido, quando usamos o termo “luta armada” enviamos, basicamente, também uma mensagem àquele/as anarquistas da velha guarda que, com a sua etologia, querem acabar com a beleza da ação anarquista selvagem e confiná-la a formas de protesto contra o sistema mais calmas e mais massificadas. Para nós um/a companheiro/a anarquista pode usar desde papel e caneta a uma kalashnikov e bombas contra a autoridade e a sua civilização.
Obviamente, por isso, hoje em dia apoiamos e promovemos qualquer ação que, da sua forma particular, ataque o sistema. Colagem de cartazes, publicações e blogs auto-geridos, manifestações militantes, sabotagem, ataques com pedras e tinta, expropriação de bancos, ataques à bomba, incendiamento de alvos estatais e econômicos, execuções de agentes da autoridade, são os instrumentos do nosso arsenal teórico-prático anarquista.
Agora, o fato de usarmos o termo “luta armada” num grau mais elevado para assim quebraríamos o fetichismo da violência de baixa intensidade que é promovido pela tensão reformista da anarquia, leva a que nos confrontemos com os mal-entendidos que mencionamos anteriormente. Isso acontece porque não queremos ser definidos por associação à covardia de alguns e parecer algo que não somos. Daqui em diante pensamos em substituir a referência à luta armada ou pela explicação da sua polimorfia, ou pelo seu significado mais alargado de ação direta que inclui tudo o que queremos fazer.
III) A rede da F.A.I./ F.R.I.
Através de dezenas de células da F.A.I., existe uma substância, a substância de uma propaganda anarquista posta em prática. O aparecimento de cada vez mais células da F.A.I., da Indonésia ao Chile e da Inglaterra à Rússia, abre novas possibilidades de ação para a luta anarquista. A possibilidade de uma rede informal caótica de coordenação das células anarquistas é capaz de causar problemas sérios ao estável funcionamento do sistema. É uma ameaça a ter em conta que, contudo, não deve ser consumida em saudações mútuas e autênticas entre as várias células e os indivíduos que as compõem.
É importante dar o próximo passo. Já falamos dos nossos valores comuns. Acreditamos nos mesmos valores da ação direta, que se expressa no aqui e agora da luta anti-estatista, que se encontra com o criticismo anti-social e com a solidariedade anarquista internacional, que não reconhece fronteiras nem países. Para além disso, apoiamos e promovemos o aformalismo como a forma mais autêntica de organização anarquista. Finalmente, é claro que todo/as nós que apoiamos a F.A.I. partilhamos a mesma loucura, caminhando contra os nossos tempos, indiferentes sobre o preço a pagar, seja ele qual for. Esse preço é a contradição ensurdecedora de um/a revolucionário/a anarquista. Um/a revolucionário/a anarquista que ama a liberdade e a vida, é alguém que arrisca perder as duas, sendo preso/a ou morto/a pelas balas da polícia.
Mas esses momentos de ataque selvagem e rebelde contra a autoridade e contra os seus sujeitos merecem algo mais do que toda uma vida mergulhada em compromissos e abandono.
O fato é que tudo isto foi escrito anteriormente num diálogo público que se abriu entre os círculos da F.A.I./ F.R.I.. Assim, não é suficiente ter simplesmente uma arma nas mãos, tal como é a F.A.I., mas é importante também que a saibas usar.
IV) Fogo e Pólvora
Daqui em diante, falaremos sobre a nossa estratégia.
Primeiro que tudo, queremos dizer duas palavras sobre a proposta feita pelos nossos irmãos e irmãs da F.A.I. italiana no que se refere ao uso do símbolo das C.C.F pelos grupos da F.R.I., escrevendo na estrela anarquista o seu nome.
Para nós o nosso símbolo com as cinco setas apontadas à autoridade, simboliza, no seu centro, a significância da luta anarquista internacional que pode ter lugar nos cinco continentes do mundo. Para além disso, o diferente tamanho das setas expressa a polimorfia da ação anarquista e a diferente intensidade com que é expressa de cada vez.
Ao mesmo tempo, as cinco setas enfatizam a importância e o valor da F.A.I./ F.R.I., porque são como os cinco dedos de uma mão. Cada dedo pode, por si mesmo, vergar o inimigo, mas quando se juntam formam um punho que se inquebrantavelmente se levanta contra o sistema. A F.A.I./ F.R.I. é esse punho.
Da mesma forma, as setas apontadas ao centro simbolizam a fusão das forças subversivas, resultando na fissão e difusão dos nossos ataques contra a galé da civilização moderna. A estrela com o ´A` anarquista simboliza o nosso coração que pertence à revolução anarquista.
Assim, é para nós uma grande satisfação e orgulho ceder o nosso símbolo à F.A.I./ F.R.I. para que cada grupo ou célula da F.R.I. o possa usar livremente, pondo o seu nome sobre a estrela.
Em relação à estratégia da nossa luta, todo/as nós que apoiamos a F.A.I. não esperamos que as coisas aconteçam por si e que assim cheguemos à revolução anarquista. Preferimos ser os fatos que serão a preocupação do sistema.
Esta é a estratégia da luta anarquista minoritária. Até agora essa é uma luta que normalmente se encontra fragmentada e muitas das vezes é isolada e limitada às fronteiras nacionais de qualquer país.
Uma importante exceção são os apelos internacionais à ação que são levadas a cabo por iniciativa do/as nosso/as companheiro/as. Fizemos um apelo do gênero durante o período do primeiro julgamento contra as C.C.F. e apercebemo-nos, com uma imensa alegria, que a semente da solidariedade encontrou um terreno fértil nas terras da Argentina, Itália, Rússia, Chile, Grécia, Indonésia, Espanha, Inglaterra, México, Austrália, Alemanha, Polônia, Áustria, Holanda, etc.
Sabemos agora que a rede da F.A.I./ F.R.I. pode promover qualitativamente uma idéia desse tipo. Além disso, a substância da F.A.I. encontra-se no coração do desenvolvimento de um diálogo anarquista através das ações. Tal como foi escrito e bastante bem apontado pelo/as companheiro/as italiano/as da F.A.I., os ataques anarquistas nunca pararam, mas se estiverem unidos a uma rede informal internacional baseada no apoio mútuo, tornam-se mais visíveis e mais violentos ao mesmo tempo que se estendem a outros lugares e que as suas possibilidades revolucionárias se multiplicam.
É nesse sentido que fazemos a nossa proposta. Pensamos que um diálogo de ação entre as células da F.A.I. deve, de tempos a tempos, procurar um tratamento temático comum. Mais especificamente, quando uma célula da F.A.I./ F.R.I. ataca um alvo pode, ao mesmo tempo, através do comunicado que servirá para assumir a sua responsabilidade, abrir um diálogo com as outras células. Por exemplo, vamos supor que alguns/algumas companheiro/as na Inglaterra escolhem atacar as câmeras de vídeo-vigilância que se encontram nas ruas ou os meios de controle e vigilância no geral. Se ele/as quiserem, através do seu comunicado, podem levantar a questão sobre as câmeras e sobre o controle tecnológico da nossa vida, analisá-la, apresentar as suas posições e propor à rede da F.R.I. que outras células tratem do mesmo tema. Obviamente, o resto das células e dos indivíduos (quem assim quiser) poderão levar a cabo ações equivalentes, i.e. ataques a lojas que vendam câmeras e sistemas de segurança, laboratórios de ADN, câmeras nas ruas, companhias de segurança, etc. Os comunicados que se seguirão não concordarão em absoluto com o primeiro comunicado que basicamente apelou à ação específica. Mas é assim que se encontra a substância de um diálogo de ação, quando as células, um pouco por todo o mundo, atacarem um alvo comum (i.e. câmeras de vídeo-vigilância) e ao mesmo tempo abrirem um debate de reflexão sobre essa matéria. Porque todas as discordâncias, concordâncias, objeções, análises, colocações, desenvolvem a nossa consciência enquanto indivíduos anarquistas, passo a passo. Seguramente, estas discussões que se seguem a uma tal prática, não têm nada que ver com o atraso de um velho anarquismo que se satisfaz ao consumir toda a sua “militância” em conversas teóricas volúveis em anfiteatros e a beber de um inofensivo estilo de vida anarquista alternativo.
A F.A.I./ F.R.I. não se atrasa ao esperar na fila por uma próxima revolta social ou por uma próxima crise social. Toma o discurso e a ação nas suas mãos porque é aqui e agora o momento. Os temas a que nos podemos agarrar e que sejam a causa de ações da F.A.I. são ilimitados. Existe o militarismo – o exército, o nacionalismo – o fascismo, o controle tecnológico – os sistemas de vigilância, a polícia – a opressão, o espetáculo – os jornalistas, a destruição da natureza – a civilização, a exploração econômica – os bancos, a solidariedade anarquista – as prisões, e dezenas de outros temas que nos tornam inimigo/as declarado/as deste mundo.
Claro que cada célula, antes de declarar uma proposta de ação internacional, deve incluir as estratégias e tornar as suas posições claras. É por isso que é especialmente importante que no diálogo que quisermos abrir, apresentemos o que pensamos sobre cada tema para assim compreendermos os seus diferentes conteúdos. Os anarquistas mais tradicionais geralmente expressam, através dos seus ataques, a sua oposição ao estado e ao capital, enquanto que nós como parte integrante de uma tendência anti-social e anarco-individualista expressamos, através do incêndio ou da explosão de um banco, para além da nossa raiva contra o estado, também o nosso desprezo para com uma sociedade que enquanto chora devido à crise econômica, ao mesmo tempo alimenta os bancos e se endivida através de empréstimos e de cartões de crédito, hipotecando a sua vida.
Para nós a F.A.I./ F.R.I. é uma nova anarquia que nasce de uma superação da anarquia tradicional e dos seus procedimentos burocráticos.
Esta proposta de ataques internacionalmente coordenados relacionados com um tema específico torna as sabotagens da F.A.I./ F.R.I. mais fortes e efetivas. Imaginem que dentro de um mês, por exemplo, trinta diferente empresas de segurança privada são incendiadas e explodidas em diferentes países. Seguramente, essa seria uma mensagem forte dada aos polícias privados e ao mundo da propriedade.
É claro que devemos ter em mente que a autoridade escuta e lê todos os nossos comunicados-apelos. Não devemos ser apanhados desprevenidos e é por isso que devemos ter cuidado com a forma como uma ação da F.A.I./ F.R.I. é levada a cabo. Por exemplo, se um alvo específico é apontado, como poderiam ser as companhias farmacêuticas, é possível, especialmente nos países onde a F.A.I. tem uma presença e uma ação forte, que a polícia possa estar atenta a alvos possíveis, querendo deter o/as companheiro/as que preparem o ataque.
É, por isso mesmo, importante que os alvos especializados sejam atingidos individualmente ou possam estar incluídos num tema mais amplo, i.e. os ataques contras as companhias farmacêuticas podem estar incluídos no tema relacionado com a nossa oposição à ciência que aliena a vida.
È claro que a maioria dos temas e os alvos equivalentes (i.e. bancos, delegacias policiais, escritórios governamentais, igrejas, veículos de jornalistas, fascistas, etc.) são tão caóticos que se torna impossível estarem protegidos pelos guardas da autoridade.
Daí querermos enfatizar que foi escrito antes que a F.A.I./ F.R.I. é uma rede de células e indivíduos anarquistas informal que atuam no anonimato. A coordenação que propomos (tal como foi proposta pelo/as nosso/as companheiro/as da F.A.I. no passado) não suprime de nenhuma forma a autonomia da cada célula. As ações coordenadas internacionalmente não monopolizam as características da F.A.I.. As células continuarão a atuar autonomamente e somente quando o quiserem e se assim o decidirem, organizarão e participarão num apelo internacional.
Consideramos, também, que é bastante importante neste diálogo de ação que, para além dos indivíduos e das células da F.A.I., também participem anarquistas presos que apóiem a proposta da F.R.I.. É uma forma de qualquer um/a de nós que esteja preso/a e que por isso sinta falta de desfrutar da ação direta, permanecer ativo/a e “cúmplice” da revolução anarquista.
Para o final deixamos um convite que queremos endereçar aos nossos irmãos e irmãs um pouco por todo o mundo. Falamos de incidentes que cremos que podem constituir um apelo dinâmico para a ativação da F.A.I./ F.R.I.. O primeiro é uma notícia bastante desagradável que nos chega da Indonésia e que entristece os nossos pensamentos de forma ilimitada. É sobre a detenção de três companheiros (um quarto conseguiu fugir e é procurado) depois de um ataque incendiário a um banco. Os três companheiros tinham, de acordo com a polícia, na sua posse um comunicado da F.A.I./ Indonésia que expressava a sua guerra contra o estado, assim como a sua solidariedade com o/as anarquistas preso/as um pouco por todo o mundo.
O segundo incidente tem que ver com dois casos de perseguição judicial que terão lugar no Chile. Falamos da perseguição feita ao companheiro Luciano Tortuga, que ficou gravemente ferido quando o mecanismo explosivo que carregava para colocar num banco explodiu. Os seus ferimentos feriram os nossos corações e o nosso amor pela anarquia acompanhá-lo-á em cada dificuldade que se apresente. Ao mesmo tempo, no dia 28 de novembro, cinco anarquistas vão a julgamento (Francisco Solar, Mónica Caballero, Felipe Guera, Omar Hermosilla, Carlos Rivero), acusados de ação subversiva. Alguns/algumas dele/as foram detido/as anteriormente devido ao conhecido “caso bombas”, que é uma referência da estratégia opressiva do estado do Chile contra os anarquistas. Este/as companheiro/as são nosso irmãos e irmãs mesmo que nunca tivéssemos visto o seu rosto, mas conhecendo os seus textos e as suas idéias percebemos que a sua mente e o seu coração dançam num mesmo ritmo de liberdade e de revolução anarquista.
Acreditamos que a questão da solidariedade anarquista internacional e da libertação do/as companheiro/as, é uma dos valores mais firmes e uma das prioridades estratégicas dos anarquistas de ação. É por isso que nós, a C.C.F. do período da F.A.I., convidamos todos os indivíduos e células da F.A.I./ F.R.I. a não deixarem os nossos irmãos e irmãs na Indonésia e no Chile sozinhos/as. Existem palavras que acompanham lindamente o fogo e pólvora, enviando um cumprimento e um sinal de solidariedade aos/às companheiro/as preso/as. Cada golpe contra as estruturas do estado e da sua sociedade e é um gesto factual de amizade para com aquele/as que estão ausentes das noites de fogo e que se encontram preso/as em alguma cela. Nesta ação específica de solidariedade anarquista internacional da F.A.I./ F.R.I., consideramos que cada símbolo da autoridade (bancos, companhias de seguro, delegacias policiais, tribunais, prisões, concessionários de automóveis de luxo, escritórios governamentais, câmeras, etc.) como uma maravilhosa oportunidade para ser destruído. O/as companheiro/as perseguidos na Indonésia e no Chile são acusado/as de diferentes ações entre ele/as, é por isso que o polimorfismo dos golpes em diferentes alvos é uma indicação de uma frente unida da nova guerrilha urbana anarquista e da nova anarquia. Para além disso, desta forma a organização desta ação fica facilitada, já que se facilita a escolha autônoma do alvo a atacar por cada célula correspondente e a preparação da F.A.I./ F.R.I. é testada na prática. Simultaneamente, é para os polícias impossível identificar os nossos planos, já que são caóticos e estão disseminados pelas metrópoles do mundo como um vírus de desordem e destruição. É claro, todo/as o/as companheiro/as devem despertar e não devemos subestimar o opositor.
Organizando o caos tornamo-nos mais perigosos. A F.A.I./ F.R.I. é hoje em dia a nova esperança para a estruturação de uma Internacional Anarquista Negra, para espalhar globalmente a sabotagem e a ação direta. Por isso mesmo propomos o fumo das destruições, fogos e explosões, viajar do Chile à Indonésia, transmitindo a visão da F.A.I. sobre oceanos e continentes.
Membros presos da Conspiração das Células do Fogo
Domingo, 4 de Dezembro de 2011.
Tradução > PM
agência de notícias anarquistas-ana
o véu da cascata
nesta noite de luar
finas gotas frias
José Marins
Porque não é indicado o /a tradutor/a?
Isso é (i)responsabilidade deste sítio, não da A.N.A.
http://www.pt.indymedia.org/conteudo/newswire/6352
Olá! pois…coincidência?
Opa, creio que há outros textos sem esta informação. O blog possui mais de um editor, mas já foi informado a todos.
Olá, o erro foi corrigido!
obrigada!