A Tunísia revolucionária e anarquista

Pergunta > Você pode se apresentar?

 

Resposta < Eu me chamo Azyz A., tenho 28 anos, ativista tunisiano, semi-escritor e engenheiro de dados.

Pergunta > Como você participou da revolução? O que te parece mais interessante hoje?

Resposta < Desde os 17 anos, eu me encontro apoiando continuamente às lutas sociais, desde que organizei uma greve na escola que me valeu uma prisão e três dias de tortura brutal. Desde então, eu tento estar em todas as greves, selvagens ou planejadas, de trabalhadores ou de estudantes, o que me permitiu construir uma certa experiência e de ter uma vasta rede de conhecimentos. Quando os eventos começaram em Sidi Bouzid (iniciaram-se numa vila de Sidi Bouzid) eu me pus num primeiro momento a divulgar informações pela internet, informações recolhidas de pessoas que eu conheço, muitos deles sindicalistas. O fato de eu ser ativo na internet (eu tinha co-organizado os protestos contra a censura da web com outros blogueiros e cyberativistas, baseados num modelo aproximado de TAZ, o que me concedeu certa notoriedade) permitiu a muitos seguir o curso dos eventos, e me permitiu em um primeiro momento fazer a propaganda anti-governamental, e num segundo momento, organizar as manifestações em Tunis de 25 de dezembro de 2010, e aquela do Puis com Slim Amamou. A gente teve a idéia de forçar idéias nos canais do Anonymous para incitá-los a fazer uma operação especial na Tunísia, o que aconteceu. Detido em 6 de janeiro de 2011 no Ministério do Interior, preso em 10 de janeiro de 2011 por 5 anos, fui liberado por Ben Ali na noite de 13 de janeiro de 2011, e me pus a participar ativamente no apelo da greve geral de 14 de janeiro de 2011 e na manifestação do dia seguinte. Depois, eu mudei o discurso mostrando meu apoio ao movimento libertário e à autogestão como um modo desejável de sociedade. Continuei fazendo o mesmo trabalho. O que me parece mais importante e interessante hoje, é conhecer em detalhes as condições sociais do povo tunisiano, de fazer um trabalho de base com os trabalhadores e marginalizados para começar a aplicar as experiências de autogestão e atacar o capitalismo nascente, de fazer os estudos sócio-políticos, antropológicos e culturais revolucionários, e de pensar novas soluções mais ligadas à realidade. E também me parece importante trabalhar com todos os revolucionários de toda abordagem, trocando idéias, fazendo o mesmo trabalho em todo lugar.

Pergunta > Qual é a situação econômica e política na Tunísia, um ano após a saída de Ben Ali?

Resposta < A situação econômica está fundamentalmente à mesma, um Estado fiscal, semi-feudal no setor da agricultura, as oligarquias nacionais partilhando os grandes setores de artesanato e de empreendimentos (centralizando, porque é claro que toda produção é destinada para vender no exterior), o setor industrial é “arrendado” ou abandonado pelos capitalistas ocidentais. A situação política tende a uma partidocracia que procura uma reformulação da democracia burguesa representativa.

Pergunta > Quais são seus medos com relação à evolução da sociedade e da eleição do governo Nahdha?

Resposta < Eu temo justamente que a ignorância se instale de maneira fundamental. A política é aplicada segundo o modelo comportamental dos Hooligans, ao passo que a produção é desconsiderada. O “mendiguismo” que se torna mais e mais a base dos protestos (solução fácil para os partidos que não podem subir ao poder) reconforta o apego ao Estado grande e supremo fornecedor de soluções de vida. É importante implicar as pessoas para que elas recuperem seus direitos no lugar de mendigá-los. Quanto ao governo Nahdha, ele não suscita nada de especial para mim, visto que já todos os partidos são economicamente liberais e fundamentalmente autoritários. O Nahdha, por sua continuação da política de “atuação pela colonização” não tocará aos “privilégios burgueses”, bem ao contrário, os protegerá para ter sua boa aceitação, e dos Estados ocidentais, e das oligarquias monetárias tunisianas.

Pergunta > Ainda há lutas sociais, sindicais na Tunísia? Quais são as perspectivas para um movimento anarquista ou sindical revolucionário?

Resposta < As lutas sociais não se findaram, elas estão acontecendo e se repetindo sem um objetivo preciso, para além de si mesmas e a utilização pelos partidos desses protestos para fins políticos, e por outros, para fins de “show de miséria”. Contudo há lugares onde a luta é mais organizada e radical, como em Gafsa ou Manzel Bouazyene, ou Jeneniana. Para estes que são do sindical, o problema é na ruptura orgânica entre “sindicalistas de base” e “sindicalistas oficiais”, ruptura que desapareceu de 8 de janeiro de 2011 até 27 de janeiro de 2011 e que tornou depois. Os sindicalistas de base não têm nenhuma influencia sobre seus superiores, o contrário não é verdade, contudo. Eles vêm fazendo um bom trabalho, mas o movimento obreiro atualmente sonda as pequenas demandas sem tocar a fundo os problemas. Acho que são tempos de se juntar aos operários, de trabalhar com eles, de formar uma rede de sindicalistas de base capazes de levar ao verdadeiro problema da exploração.

Pergunta > Quais são seus projetos militantes?

Resposta < Os principais, efetivamente, são três projetos: um de caráter intelectual que comporta um jornal humorístico antiautoritário, o trabalho com novos jovens músicos para criar uma música contestatória popular (no sentido real do termo), o trabalho de pesquisa e de estudos via um centro de estudos sociais. O segundo projeto é o de participar da instauração da primeira experiência autogestionária baseada em fábricas e nos campos. A terceira é o estabelecimento de um grupo “anti-salaf” que terá como primeira tarefa se manifestar e fazer o “show da existência”, a cada vez que os salafs se manifestarem para fazer os seus shows de existência. Esses são meus projetos para o ano 2012 e acredito que vão avançar.

Tradução > Tio TAZ

agência de notícias anarquistas-ana

Por trás da cortina,

o passarinho não vê

que aguardo o seu canto.

Henrique Pimenta