Atenas, defendendo a dignidade
Desde as 16h30 as pessoas começaram a chegar a Praça Syntagma, para a manifestação das 17h. Aos poucos, as pessoas de todos os bairros de Atenas, bem como membros das assembléias de bairros e coletivos foram chegando ao centro, marchando ou caminhando. O Regime tinha fechado todas as estações do centro. Isso não impediu que mais de 500.000 pessoas permanecessem durante toda a tarde e à noite protestando contra a barbárie que nos tem reservada a Soberania se não resistirmos a seus planos.
É uma das poucas vezes que o número de participantes numa manifestação é extremamente difícil de calcular. O povo ateniense entupiu todo o centro de uma cidade de aproximadamente 5 milhões de pessoas. As praças de Syntagma, Omonia e Monastiraki, assim como todas as ruas do centro de Atenas foram palco de uma e ao mesmo tempo de muitas manifestações, de numerosas frentes e pontos de enfrentamentos contra as hediondas tropas de choque. Foi tanta a quantidade de pessoas que tomaram as ruas de Atenas, foi tanta raiva contra o Regime e contra tudo o que estão nos impondo, que por pouco não se esgotaram os gases lacrimogêneos e os perigosos produtos químicos utilizados pela Polícia em cada manifestação. A Polícia usou balas de borracha contra os manifestantes, especialmente contra os anarquistas ocupantes da Faculdade de Direito. Note-se que de acordo com várias testemunhas, entre os policiais gregos havia vários reforços dos regimes totalitários da União Européia.
Um pouco depois das 17h30, começaram os primeiros confrontos na parte superior da Praça Syntagma, próximo ao Parlamento. Naquele momento a praça estava lotada e as três avenidas que enlaçam para a outra praça do centro, a de Omonia, estavam cheias de manifestantes de toda Atenas. A onda de manifestantes havia chegado até a Praça de Monastiraki, a 15 minutos a pé das duas praças mencionados acima.
Ao mesmo tempo, desde a Faculdade de Direito ocupada um bloco de anarquistas tentou deixar o prédio da universidade para ir a Praça Syntagma, mas recebeu uma carga por parte de dois esquadrões da Polícia. É que na Democracia se pode manifestar livremente…
Os conflitos e enfrentamentos entre numerosos e diversos grupos de manifestantes e as chamadas tropas de choque se espalharam literalmente por todo o centro da cidade. A Polícia não podia fazer frente contra os lutadores que não retrocediam, ou se o faziam, não se dispersavam, mas retornavam para onde estavam antes da carga policial, com uma persistência que tem poucos precedentes na história do movimento social neste país. Aos poucos, a Polícia foi “empurrando” os manifestantes enfurecidos, tentando evacuar a Praça Syntagma e expulsar as pessoas do centro da cidade, para que os 330 deputados do Parlamento votassem as novas medidas penosas e que os meios de desinformação falavam de uns 100 homens encapuzados que conseguiram atrapalhar uma pequena manifestação pacífica… No entanto, as mentiras acabaram. Começou a marcha para todos esses parasitas e seus capangas.
Houve muitas vezes que os manifestantes re-ocuparam a praça ou parte dela. Desde as 17h30 até as primeiras horas da madrugada, por quase todo o centro de Atenas estavam acontecendo verdadeiras batalhas campais. As pessoas estavam determinadas a ficar, não retroceder, a não se render, metafórica e literalmente. Pode ser que nem todos estivessem “na primeira fila”, pode ser que a manifestação tivesse sido mais ameaçadora para o Regime se alguns grupos de manifestantes não tivesse começado tão cedo os incidentes (deixamos essa discussão para outro momento), no entanto, quando queimaram os bancos do centro as pessoas aplaudiram e gritaram slogans contra o governo, os Bancos e o podre sistema capitalista. Além disso, houve ataques a jornalistas de meios de desinformação e se lançaram foguetes a outros que estavam filmando desde os telhados de edifícios altos. O prefeito de Atenas via o que acontecia na manifestação desde o centro de operações da Polícia…
Os meios de desinformação ficaram igualmente espantados como seus amos. Não tendo nenhuma outra música em seu repertório de propaganda que “os incêndios de edifícios, que podiam ser perigosos”, eles se esqueceram dos “100 encapuzados que se infiltram entre os manifestantes pacíficos”. O que aconteceu superou-os. Não esperavam uma manifestação de meio milhão de pessoas em uma só cidade, permanecendo nas ruas, erguendo barricadas e lutando por mais de 6 horas contra a barbárie da Ditadura. Falsificaram os fatos e se olvidaram que quase todos os edifícios queimados eram sucursais de bancos, grandes lojas de departamento ou de artigos de luxo, empresas multinacionais (por exemplo, a Starbucks, que foi mencionado como… um mero café). Apontamos o ataque e incêndio da sucursal central do banco Alpha, cujo edifício foi no século XIX o primeiro banco na Grécia, construído pelas lojas maçônicas européias e cujo os proprietários há algumas semanas anunciaram as medidas de austeridade, pedindo a eliminação do salário mínimo, e que um de seus maiores acionistas é Mánesis, o proprietário da “Aciaria Grega”.
Poucas horas depois de estar escrevendo estas linhas ainda há focos de resistência e confrontos estão ocorrendo em várias frentes. Citamos o ataque à Delegacia de Polícia no bairro de Exarchia, a tentativa de ocupação da Prefeitura de Atenas que foi reprimida e o ataque a um clube da polícia de Atenas e de tentativas de ataque ou ocupação de vários prédios do governo.
Ilha de Corfu: Ataques incendiários contra os escritórios de dois deputados locais.
Ilha de Rodas: Centenas de manifestantes ocuparam a Prefeitura da capital da ilha.
Chania, Creta: manifestação de mais de 4.000 pessoas. Bancos foram queimados, caixas eletrônicos e a Prefeitura da cidade. A manifestação acabou no edifício ocupado da Administração local.
Vólos, Tessália: A manifestação reuniu 4.000 pessoas e terminou na Prefeitura, onde muitos manifestantes passaram a ocupá-la. Enquanto a ocupação estava em andamento, um incêndio estalou no porão da Prefeitura. Obviamente se trata de uma ação provocada pela Autoridade, que viu seu “castelo” ocupado e não hesitou em incendiá-lo.
Houve confrontos com a Polícia perto dos escritórios do partido no poder Pasok. Também se incendiou uma agência bancária Eurobank, foram destruídos vários supermercados e grandes empresas. À noite, um grande grupo de manifestantes entrou na Agência Tributária local e destruiu os arquivos.
Kavala: Ocupação do prédio da Administração da província, como em muitas cidades gregas. Infelizmente, a ocupação durou pouco.
Estamos vivenciando o alvorecer de uma nova era. Hoje, domingo, 12 de fevereiro, tivemos um dos capítulos mais marcantes na história da resistência do povo contra a barbárie, o totalitarismo, o fascismo, o Poder e o Capital, e pela liberdade e dignidade. O dilema “submissão ou revolução” é mais atual e urgente do que nunca, não só para aqueles que vivem no território do Estado grego, mas todos os seres humanos neste planeta que aspiram a viver em liberdade. Tudo começa agora.
Logo haverá mais informações sobre as manifestações e ocupações em outras cidades gregas e mais detalhes, fotos e vídeos da manifestação em Atenas.
Vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=6MCsrO6fMJM
http://www.youtube.com/watch?v=aToAHGIAYvM
agência de notícias anarquistas-ana
pestade repentina.
O cheiro de terra molhada
invadindo as narinas.
José Carlos de Souza
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!