por Imprensa Marginal
Durante o mês de fevereiro aconteceu a 12ª edição do Fevereiro Antifascista em São Paulo (SP), organizado pelo Movimento Anarcopunk de São Paulo. Trata-se de uma atividade que surgiu a partir de 2000, após o assassinato de Edson Neris, que foi assassinado a chutes e golpes de soco inglês por dezenas de skinheads pelo simples fato de ser homossexual. Na época, este ato de extrema violência homofóbica gerou mobilizações de repúdio de diversas entidades LGBT e de defesa dos direitos humanos e, também, de agrupações anarcopunks e libertárias. É a partir deste ano que começa a ser anualmente organizada esta Jornada Antifascista, que se inicia como uma manifestação para, nos anos seguintes, tornar-se um mês de atividades culturais e políticas sobre a questão. Durante todos estes anos foram organizadas uma série de atividades envolvendo atos públicos, panfletagens, debates, palestras, exposições, apresentação de bandas, exibições de vídeos e sobretudo a denúncia das ações intolerantes praticadas por grupos nazifascistas e skinheads. Todas essas atividades sempre foram organizadas com o apoio de diversos grupos e movimentos sociais.
A primeira atividade da jornada aconteceu no dia 11 de fevereiro, com um debate no Sindicato dos Advogados sobre antifascismo e perspectivas atuais de luta.
Cada um dos participantes pode trazer para a discussão ângulos de atuação bem diferentes, mostrando que este combate pode se dar de formas diversas e complementares. Abriram o debate os integrantes do Coletivo Anarcopunk Diversidade, traçando o histórico de atuação antifascista ligada ao Movimento Anarcopunk desde o início da década de 90, fazendo um balanço geral e detalhado do que foi feito até hoje e pensando nas características da atualidade tanto no que se refere aos grupos nazifascistas, quanto as estratégias de combate que tem sido utilizadas. Milton Barbosa, do MNU (Movimento Negro Unificado), trouxe ao debate algumas das suas experiências e reflexões sobre o combate ao racismo, contribuindo com sua já longa trajetória de luta no movimento negro. Para fechar, a advogada Iolanda Mendonça, envolvida diretamente nas questões LGBT e de direito homoafetivo, trouxe para a discussão suas experiências em relação a questões legais e institucionais, abordando legislação e temas relacionados. Enfim, pontos de vista bastante diversos sobre todas essas questões.
Depois do debate os anarcopunks se reuniram para o ato chamado pelo Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, e participaram junto as diversas entidades do movimento negro, LGBT, sindical e estudantil na ocupação do Shopping Higienópolis, em protesto contra o racismo e a higienização social que persistem em nossa sociedade¹.
O sábado (18) seguinte foi um dia cheio de atividades na região da Lapa. Logo pela manhã, por volta das 11 horas, aconteceu uma panfletagem antifascista em frente à Estação da Lapa, com presença de várias pessoas que apareceram por lá pra participar e contribuir. Pela primeira vez foi exposto o novo Mural Antifascista, desta vez em versão impressa em lona e com denúncias de todos os casos de agressão e atuação fascista que ocorreram durante o ano passado.
Durante a tarde, depois de uma partida de futebol entre o time do Autonomos FC e um time formado por anarcopunks, libertários e antifascistas, se iniciou na Casa Mafalda a palestra com o companheiro Zorel, anarcopunk e historiador de Sorocaba (SP). A palestra teve como temática “A origem do racismo”, e contextualizou historicamente alguns dos conceitos, pensamentos, ideologias e mitos que embasaram e propiciaram o surgimento do racismo no mundo, aprofundando esta questão de forma muito interessante. Logo depois da palestra tocaram as bandas No Order (Sorocaba), Tranca Rua, Revolta Popular, Discrepante e Regicidas. Durante o evento também rolou distribuição de materiais antifascistas e zines na banquinha do MAP (SP), e também estava presente a banquinha da Imprensa Marginal, com muitos livros anarquistas e também livretos publicados pela própria editora/distro. Durante todo o dia bastante gente colou e participou das atividades.
No dia 25 de fevereiro foi programada uma panfletagem na Praça Ramos de Azevedo, centro da cidade, com faixas, exposição do novo mural antifascista e microfone aberto para denúncias. Foram distribuídos centenas de panfletos falando sobre a atual situação dos casos de racismo, homofobia e intolerância na cidade, e diversas pessoas que por ali passavam pararam para conversar a respeito. Ainda aconteceu um pequeno sarau, com participação de punks e companheiros libertários, que recitaram poesias, deram suas ideias e fizeram denúncias no microfone. O ato terminou por volta das 15 horas, aos gritos de “Fascistas, não passarão!”.
A última atividade da jornada, no dia 03 de março, foi um evento de continuidade da parceria criada com a EMEI Guia Lopes desde o recente caso de pichação de uma frase de caráter neonazista nos muros da escola, que culminou em uma manifestação de pintura do muro com as crianças e professores no fim do ano passado.
Com presença de muitos pais, mães e crianças, a atividade contou com a exibição do vídeo “Construindo um Mundo Colorido”, que foi produzido pela Anarco.Filmes durante a manifestação na escola e apresentação das professoras e da diretora sobre as experiências de educação e combate ao racismo que tem sido desenvolvidas com as crianças da EMEI. Foram feitos relatos sobre as práticas pedagógicas que tem sido usadas, de forma a abordar a questão da diversidade étnica, racial, sexual, de gênero, etc. Como construir uma infância livre de racismo? As experiências que surgiram durante a conversa trouxeram importantes apontamentos neste sentido. Aconteceu ainda uma performance de uma das professoras, que relembrou o caso do assassinato do índio Galdino Jesus dos Santos, que foi queimado vivo por 5 jovens de classe média de Brasília (DF) em 1997.
As atividades como um todo da Jornada Antifascista deste ano foram muito positivas e contaram com o apoio e presença de diversas pessoas seja participando dos debates e palestras, seja panfletando, recitando poesias antifascistas, dando sua ideia… Novos contatos foram feitos, e velhos contatos foram fortificados. Neste meio tempo aconteceram também algumas provocações de grupos nazifascistas às atividades, como a colagem de um cartaz com a imagem de Mussolini em frente ao Sindicato dos Advogados na madrugada que antecedeu o debate que foi feito ali, e, nesta última atividade, novas pichações neonazistas na porta da escola. Mas sem que isso nos intimide, seguimos adiante construindo novas parcerias, fortificando a luta em busca de um mundo livre de fascismo, homofobia, racismo e machismo!
Arriba los que luchan!
Vídeos:
[1] http://www.youtube.com/watch?v=Y9vHl-OPkys&feature=player_embedded
Avante!
Obrigado, Mateus!
Incrível texto. O Nestor não conhecia. Bravo!!
Tradução ruim para o título... No texto - se não nesse, no livro - ele faz uma distinção entre shit…
tmj compas! e que essa luta se reflita no bra$sil tbm!